Reportagem sobre o carry trade, na página C8 do Valor de hoje. A matéria é até razoável, com boas análises e constatações sobre o tipo de dólar que está entrando no Brasil, sobre um carry trade mais fraco no mundo, mas ainda importante, o crescimento nas reservas de diversos emergentes, o diferencial de juros entre eles e os emissores de moeda reserva, etc... Aliás, só uma constatação: os países mais ricos, com déficits e dívidas maiores, têm taxas de juros lá embaixo. É o privilégio de poderem se endividar na própria moeda, de serem os centros da finança global. Isso vai mudar com o tempo, espero.
Mas o que queria destacar são algumas pérolas ao final da matéria.
Marcio Garcia, da PUC-RJ, conhecido repetidor de platitudes, mas que não consta que já tenha se tornado consultor, financista, ou administrador de recursos de terceiros: "No entender de Garcia, o país terá que conviver com o câmbio apreciado, dado o nível de gastos do governo. A política de metas de inflação impede que ele baixe mais os juros, argumenta." Fantástica argumentação. Quer dizer que o câmbio está apreciado porque teremos um déficit nominal de, sei lá, uns 2%. Alguém por favor junte A com B. E então a política de metas de inflação impede uma baixa nos juros. Mas... há algum risco de inflação? O Chile tem metas e está com juro quase zero. A Inglaterra tem metas e está inclusive imprimindo dinheiro. A Nova Zelândia tem metas e opera com juro de 2,5%. O México também, se não me engano, e lá o juro tá 4,5%. Nominal, tá? O juro real desses países deve ser negativo.
Bom, enfim, nocaute no primeiro assalto, passemos ao glorioso John Welch, ou seria John Wealth, economista do Itaú Unibanco International Wealth Management. "Uma alternativa para conter a valorização do real seria abrir mais as importações, reduzindo tarifas". "Ampliar a conversibilidade do real poderia também ajudar."
Aí fico com dó, especialmente da primeira afirmação. Ela é verdadeira em si, lógico, se aumentar o déficit comercial o câmbio pode, vejam bem, pode, a depender da conta capital, se desvalorizar. Mas é uma estupidez dizer isso, não? Poxa, são 23hs e tenho preguiça. Outro dia escrevo sobre a recessão global, a disputa por mercados de exportação, as negociações na OMC, os acordos bilaterais e regionais, a questão do emprego e da renda no Brasil, do desenvolvimento tecnológico, industrial, etc...
Sobre a conversibilidade do real, reconheço tratar-se de tema mais técnico, que exigiria mais. Mas assim, de primeira, creio que mais conversibilidade agora acarretaria valorização, não o contrário. A conversibilidade plena daria ainda mais garantias de fuga aos aplicadores, que se sentiriam ainda mais à vontade para passearem por aqui em busca de retornos polpudos e seguros. Pérsio Arida, que ajudou a montar as regras do jogo e se tornou milionário no governo anterior, andou escrevendo sobre essa imprudência em meados de 2004, sei lá.
Por fim, nosso amigo do Itaú Unibanco até fala algo que dá uma discussão mais legal. Ele diz que a apreciação do real é estrutural, parte de um processo maior de crescimento das economias emergentes e de exportação de capital dos EUA para o mundo. É uma meia-verdade, e as meias-verdades são mais difíceis de questionar. Já sondei esse caminho e prometo voltar depois. Mas estou cansado. Agora não vai rolar.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
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