sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O combate ao crime do colarinho branco

É na intersecção entre o dinheiro e a política que encontramos a maior fraqueza da democracia brasileira. O financiamento das campanhas, a apropriação do Estado por interesses privados, a porta giratória governo-setor privado. As privatizações, a gestão dos fundos públicos, os "consultores", a captura das agências reguladoras, um BC independente da política, mas submisso ao mercado.

Ecos da Satiagraha, a operação classificada por alguns como tresloucada, ameaça aos direitos individuais, germes de um Estado Totalitário. Vamos lá, no Estadão de hoje...

E-mails de assessor de Dantas podem ir para STF
Segundo Ministério Público, 14 CDs apreendidos pela PF apontam para autoridades e políticos

Fausto Macedo

O Ministério Público Federal em São Paulo requereu envio à Procuradoria-Geral da República da vasta coleção de CDs com e-mails encontrados em poder do executivo Roberto Figueiredo do Amaral, ex-consultor do banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. O Ministério Público avalia que o conteúdo das mensagens aponta para autoridades, servidores e políticos que detêm foro privilegiado perante tribunais superiores.

São milhares de e-mails armazenados em 14 CDs que foram recolhidos na residência de Amaral durante operação realizada pela Polícia Federal em 16 de dezembro, por ordem do juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Essa investigação é desdobramento da Operação Satiagraha.

A troca de correspondência aponta para ex-ministros, empresários, lobistas e políticos intensamente empenhados no processo de privatização das teles. O auge da comunicação pessoal de Amaral, agora sob apuração, se deu entre os anos de 1999 e 2002.

O executivo, durante cerca de 20 anos, integrou a direção da empreiteira Andrade Gutierez. Entre 2000 e 2005 ele trabalhou como consultor do banqueiro Daniel Dantas. Amaral caiu na malha da Satiagraha - investigação da PF sobre suposta ligação de Dantas com crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

O procurador da República Rodrigo de Grandis, acusador de Dantas, denunciou Amaral por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O procurador sustenta que o executivo foi contratado por Dantas para prestar assessoria em assuntos sensíveis do Grupo Opportunity.

A PF abriu os arquivos de Amaral e identificou o que suspeita ser a pista para casos de tráfico de influência em diferentes níveis de governo. Há citação a um deputado que teria exigido dinheiro do banqueiro. A maior parte das mensagens do executivo é trocada com políticos tucanos, indica a investigação da PF.

Ao requerer a remessa da mídia apreendida com o executivo para a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, Rodrigo de Grandis assinala que “as conversações eletrônicas travadas entre Daniel Dantas e Roberto Amaral descrevem situações que ensejam apuração independente e específica acerca de diversas pessoas que atualmente ostentam foro por prerrogativa de função”.

FORO PRIVILEGIADO

Tais autoridades só poderiam ser eventualmente investigadas mediante autorização expressa do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.

O procurador De Grandis recomendou à Justiça Federal que encaminhe os CDs de Amaral para a Procuradoria-Geral da República “para as providências que entender cabíveis”.

O criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende Amaral, rebate as acusações que pesam contra o executivo e assegura que não há ilegalidade nos e-mails. “Os autos estão sob segredo de Justiça”, asseverou o advogado, que confirmou a apreensão dos CDs. “O dr. Roberto Amaral jamais praticou qualquer ato ilícito. Asseguro que tudo o que foi apreendido não tipifica nenhuma conduta ilícita, apenas troca de consultoria empresarial.”

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