terça-feira, 11 de agosto de 2009

Notícias da Crise




No primeiro post do blog, citei a minuta inicial da Conferência sobre a Crise da ONU, realizada em junho último. Foi meio bombardeada, inclusive com um aceno brasileiro nesse sentido, pois ainda que a filosofia política dela fosse correta, partindo de diagnósticos sensatos e chegando a orientações bem sinalizadas, concretamente, na realidade negociadora dos Estados, era muito ambiciosa, em linguagem mais solta, às vezes retórica, com propostas controversas. Dificilmente algo assim iria para a frente. Os países ricos iam detoná-la e a ONU sairia perdendo. Depois as coisas se ajeitaram e até que terminaram bastante bem. Os trabalhos na ONU prosseguirão e é bom que seja assim, pois essa crise mundial vai longe, como Dani Rodrik argumenta mais abaixo. Um dia, quem sabe, a Assembléia-Geral das Nações Unidas, o G-192, reunirá Chefes de Estado, Chanceleres e Ministros das Finanças em suas dependências. Triste é imaginar que tipo de destruição será necessária para que isso ocorra.

Copiei naquele mesmo post trechos também do discurso de abertura do Padre Miguel D´Escoto, nicaraguense, Presidente da Assembléia-Geral das Nações Unidas, esse simpático amigo da foto acima. É looongo, exagerado, às vezes repetitivo, mas aponta na direção correta, ele sabe que as soluções para os atuais impasses estão muito além do que vem sendo hoje discutido. São muito belas algumas passagens. Vivemos uma crise que se manifesta sob múltiplas formas: financeira, econômica, ambiental, energética, de segurança alimentar, uma crise de governança, uma crise do próprio sistema político mundial. Não há liderança, não há idéias consensuais, as negociações internacionais ficam na superfície, o aperto leva a um cada um por si perigoso. O Padre faz um apelo ao entendimento entre os homens, as nações, a humanidade. Simpatizo com ele, mas sua liderança política não foi suficiente. Infelizmente, ele não falava aos povos, mas a representantes dos Estados.

De qualquer forma, é bom transmitir suas palavras, fico satisfeito em poder fazer isso nesse blog. Também noto que tivemos avanços na política financeira internacional, no discurso e nas práticas, mas ainda limitados, aquém do que é necessário. Vamos trabalhar nisso. Encha o copo meio cheio.

Dani Rodrik escreveu em junho parágrafos que acho que vale a pena transcrever.

"History teaches that global economic order is difficult to establish and maintain in the absence of a dominant economic power. The interwar period, which suffered from a similar crisis of leadership, produced not only a collapse of globalization, but a devastating armed conflict on a global scale.

So the stakes in righting the world economy could not be higher. Mismanage the process, and the consequences could be unimaginable.
Unfortunately, many of the solutions on offer are either too timid or demand too much of a global leadership that is in short supply.

The conundrum of global reform is that the proposals that go far enough, such as establishing a global financial regulator, are wildly unrealistic, while those that are realistic, such as reform of the IMF, fall far short of what is needed.

What we need is a vision of globalization that is fully cognizant of its limits. We can start with a simple principle: We should strive not for maximum openness in trade and finance, but for levels of openness that leave ample room for the pursuit of domestic social and economic objectives in rich and poor countries alike. In effect, the best way to save globalization is to not push it too far."

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