Ontem pedalei por todo o Eixão de Brasília, da Asa Norte até a Asa Sul. Acho que são uns 30km, quase tudo plano, debaixo do sol punk da seca. Gosto de andar de bicicleta. Seria bom se pudesse ir pedalando ao trabalho, mas como faria isso de terno?
Enfim, escrevo isso a propósito da ciclovia inaugurada em SP. Parece que funcionará apenas nos finais-de-semana. Excelente iniciativa da Prefeitura. Espero que seja ampliada. Bicicletas são um ótimo meio de transporte para distâncias pequenas. Caso a coisa avance, com novas ciclovias, "estacionamentos de bicicletas" e integração com metrô e ônibus, seria realmente positivo. Tornaria SP mais humana, menos agressiva, menos poluída, mais saudável. Além de diminuir o trânsito e baratear a vida dos ciclistas.
Bom, diferentemente de Bsb, SP é cheia de morros, subidas e descidas, isso prejudica. Aliás, em Bsb, por incrível que pareça, não há ciclovias. E o transporte público é lamentável, para dizer o mínimo.
Escrevendo isso reparo que ainda não cornetei sobre a estrutura urbana do Distrito Federal. Nem cheguei perto de falar sobre o Plano Piloto, o Lago, as cidades-satélite, o transporte, a especulação imobiliária e, principalmente, os trabalhos dos grandes pensadores e artistas daqui, incluindo Vladimir de Carvalho, o Rossellini do Sertão, na definição de Glauber. Também ainda não comentei nada sobre urbanismo em SP. Na real, os Planos Diretores de SP e do DF vêm sendo gradualmente detonados. Enfim, depois escrevo sobre isso.
Por enquanto, para não me dizerem que só fico na corneta, apenas registro que a ciclovia de SP é um bom começo.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
O debate do pré-sal se intensifica
Poxa, como vinha antevendo, profeta do óbvio que sou, aumentam de intensidade os debates sobre o Pré-Sal. A FSP de hoje publicou um especial sobre isso. Vou colocar só a introdução, mas indico que há outras matérias. Bom, amanhã deve ser a cerimônia de lançamento, vamos aguardar para ver a presença do pessoal, críticas, elogios, enfim, a bola tá rolando e vai ser muito interessante acompanhar esse jogo.
"Governo Lula dá viés social e nacionalista ao pré-sal
Modelo de exploração das novas reservas de petróleo põe fim ao sistema privatizante adotado no governo de Fernando Henrique Cardoso
Com estardalhaço, o governo federal anuncia amanhã as suas propostas para a exploração das reservas de petróleo na chamada camada do pré-sal. Estima-se que essa nova fronteira exploratória, a até 7 km de profundidade na costa brasileira, tenha potencial para mais do que dobrar as reservas de petróleo do país, torná-lo ator fundamental no mercado energético global e gerar receitas capazes de mudar o patamar de desenvolvimento nacional.
As propostas, que serão enviadas ao Congresso, preveem a criação de uma estatal petrolífera e um fundo para a educação, o combate à pobreza e a inovação tecnológica. As páginas seguintes discutem as principais questões do pré-sal.
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Classificado de "passaporte para o futuro", o novo modelo de exploração de petróleo no país foi desenhado num viés nacionalista, pronto para se encaixar ao discurso de campanha da candidata do presidente Lula à sua sucessão, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Sai de cena o sistema "privatizante" adotado no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso e entra em vigor, uma vez aprovado pelo Congresso, um modelo petista estatizante e tido como estratégico, baseado num tripé:
1) Criação de uma estatal do setor petrolífero; 2) fortalecimento da Petrobras; e 3) montagem de um fundo com a renda do petróleo para investir na educação, no combate à pobreza e na inovação tecnológica.
O aspecto político e estratégico também definiu a Petrobras como a grande vitoriosa no novo modelo. Contestada internamente no início dos estudos, a estatal virou o jogo e saiu como a futura operadora única do pré-sal e dona de pelo menos 30% dos consórcios que irão explorar as reservas.
A decisão levou as petrolíferas internacionais a criticarem reservadamente o sistema, classificando-o de nova versão do monopólio do petróleo no país -flexibilizado por FHC com a abertura da exploração e na comercialização do setor a empresas privadas nacionais e estrangeiras.
Debatida e elaborada dentro do governo há mais de um ano, a nova Lei do Petróleo será divulgada amanhã debaixo de outras duas críticas: falta de transparência na sua elaboração e divulgação de um "propalado" risco zero posto em dúvidas por especialistas.
Ao longo de 14 meses, período de funcionamento da comissão interministerial criada por Lula para mudar a legislação do setor, o governo discutiu praticamente sozinho as mudanças, deixando governadores e empresários de fora.
Além disso, refutou os questionamentos de que superestimou o potencial das reservas para justificar seu discurso de que o pré-sal é um "bilhete premiado". Nesta reta final, o anúncio de dois poços secos perfurados por empresas estrangeiras reacendeu as dúvidas sobre o "risco zero" das novas reservas, argumento usado para justificar a mudança.
Apesar das dúvidas lançadas por especialistas, ninguém contesta a importância do pré-sal. Nas previsões mais pessimistas do governo, as reservas na região, que vai do litoral de Santa Catarina ao do Espírito Santo, devem ficar entre 30 bilhões e 40 bilhões de barris, muito acima das atuais, de 14 bilhões de barris.
Os mais otimistas falam em reservas de 80 bilhões a 100 bilhões. O governo trabalhou com o primeiro número como teto e desenvolveu a maior parte dos seus cenários com uma reserva de 50 bilhões de barris, suficiente para colocar o país entre os maiores produtores de petróleo do mundo.
A despeito dos ataques nessa reta final, o governo espera que o novo marco regulatório do petróleo seja aprovado pelo Congresso e conte com o apoio da população. Motivo: foi elaborado dentro do conceito de incentivar a indústria nacional e investir em dois setores considerados estratégicos: educação e inovação tecnológica.
Além disso, argumentam assessores presidenciais, o modelo do governo Lula não prioriza o curto prazo, e, sim, o médio e o longo prazos, numa estratégia para administrar a riqueza do pré-sal e garantir que ela seja revertida para a população.
Esses assessores lembram que seria muito mais vantajoso para Lula manter o sistema de concessões criado por FHC e seguir com os leilões do pré-sal, o que renderia uma receita elevada imediata aos cofres públicos. Afinal, no modelo atual, ganha o campo quem pagar mais pela concessão.
Lula preferiu cancelar os leilões e desenhar novas regras, pelas quais ficam com os campos do pré-sal as empresas que entregarem à União a maior parte do óleo extraído. Um sistema que começará a render grandes recursos ao governo apenas quando o pré-sal entrar em escala comercial -o que deve ficar para depois de 2015.
Esse argumento é usado pelos governistas para rebater o discurso da oposição de que o novo marco regulatório do setor se resume a uma "plataforma eleitoral" para eleger a ministra Dilma no próximo ano.
Os assessores de Lula não escondem, porém, que desejam destacar as diferenças entre os dois modelos na campanha eleitoral de 2010. O tucano é mais liberal e aberto ao capital estrangeiro; o petista privilegia a Petrobras e mantém sob controle da União o gerenciamento da nova riqueza."
"Governo Lula dá viés social e nacionalista ao pré-sal
Modelo de exploração das novas reservas de petróleo põe fim ao sistema privatizante adotado no governo de Fernando Henrique Cardoso
Com estardalhaço, o governo federal anuncia amanhã as suas propostas para a exploração das reservas de petróleo na chamada camada do pré-sal. Estima-se que essa nova fronteira exploratória, a até 7 km de profundidade na costa brasileira, tenha potencial para mais do que dobrar as reservas de petróleo do país, torná-lo ator fundamental no mercado energético global e gerar receitas capazes de mudar o patamar de desenvolvimento nacional.
As propostas, que serão enviadas ao Congresso, preveem a criação de uma estatal petrolífera e um fundo para a educação, o combate à pobreza e a inovação tecnológica. As páginas seguintes discutem as principais questões do pré-sal.
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Classificado de "passaporte para o futuro", o novo modelo de exploração de petróleo no país foi desenhado num viés nacionalista, pronto para se encaixar ao discurso de campanha da candidata do presidente Lula à sua sucessão, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Sai de cena o sistema "privatizante" adotado no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso e entra em vigor, uma vez aprovado pelo Congresso, um modelo petista estatizante e tido como estratégico, baseado num tripé:
1) Criação de uma estatal do setor petrolífero; 2) fortalecimento da Petrobras; e 3) montagem de um fundo com a renda do petróleo para investir na educação, no combate à pobreza e na inovação tecnológica.
O aspecto político e estratégico também definiu a Petrobras como a grande vitoriosa no novo modelo. Contestada internamente no início dos estudos, a estatal virou o jogo e saiu como a futura operadora única do pré-sal e dona de pelo menos 30% dos consórcios que irão explorar as reservas.
A decisão levou as petrolíferas internacionais a criticarem reservadamente o sistema, classificando-o de nova versão do monopólio do petróleo no país -flexibilizado por FHC com a abertura da exploração e na comercialização do setor a empresas privadas nacionais e estrangeiras.
Debatida e elaborada dentro do governo há mais de um ano, a nova Lei do Petróleo será divulgada amanhã debaixo de outras duas críticas: falta de transparência na sua elaboração e divulgação de um "propalado" risco zero posto em dúvidas por especialistas.
Ao longo de 14 meses, período de funcionamento da comissão interministerial criada por Lula para mudar a legislação do setor, o governo discutiu praticamente sozinho as mudanças, deixando governadores e empresários de fora.
Além disso, refutou os questionamentos de que superestimou o potencial das reservas para justificar seu discurso de que o pré-sal é um "bilhete premiado". Nesta reta final, o anúncio de dois poços secos perfurados por empresas estrangeiras reacendeu as dúvidas sobre o "risco zero" das novas reservas, argumento usado para justificar a mudança.
Apesar das dúvidas lançadas por especialistas, ninguém contesta a importância do pré-sal. Nas previsões mais pessimistas do governo, as reservas na região, que vai do litoral de Santa Catarina ao do Espírito Santo, devem ficar entre 30 bilhões e 40 bilhões de barris, muito acima das atuais, de 14 bilhões de barris.
Os mais otimistas falam em reservas de 80 bilhões a 100 bilhões. O governo trabalhou com o primeiro número como teto e desenvolveu a maior parte dos seus cenários com uma reserva de 50 bilhões de barris, suficiente para colocar o país entre os maiores produtores de petróleo do mundo.
A despeito dos ataques nessa reta final, o governo espera que o novo marco regulatório do petróleo seja aprovado pelo Congresso e conte com o apoio da população. Motivo: foi elaborado dentro do conceito de incentivar a indústria nacional e investir em dois setores considerados estratégicos: educação e inovação tecnológica.
Além disso, argumentam assessores presidenciais, o modelo do governo Lula não prioriza o curto prazo, e, sim, o médio e o longo prazos, numa estratégia para administrar a riqueza do pré-sal e garantir que ela seja revertida para a população.
Esses assessores lembram que seria muito mais vantajoso para Lula manter o sistema de concessões criado por FHC e seguir com os leilões do pré-sal, o que renderia uma receita elevada imediata aos cofres públicos. Afinal, no modelo atual, ganha o campo quem pagar mais pela concessão.
Lula preferiu cancelar os leilões e desenhar novas regras, pelas quais ficam com os campos do pré-sal as empresas que entregarem à União a maior parte do óleo extraído. Um sistema que começará a render grandes recursos ao governo apenas quando o pré-sal entrar em escala comercial -o que deve ficar para depois de 2015.
Esse argumento é usado pelos governistas para rebater o discurso da oposição de que o novo marco regulatório do setor se resume a uma "plataforma eleitoral" para eleger a ministra Dilma no próximo ano.
Os assessores de Lula não escondem, porém, que desejam destacar as diferenças entre os dois modelos na campanha eleitoral de 2010. O tucano é mais liberal e aberto ao capital estrangeiro; o petista privilegia a Petrobras e mantém sob controle da União o gerenciamento da nova riqueza."
Adendo ao COPOM
Talvez tenha pegado um pouco pesado na parte sobre agências regulatórias. Elas não são, por definição, capturadas por interesses privados. Sobre o próprio BC, talvez veja alguma injustiça, pois há funcionários de carreira excepcionais, homens públicos, de Estado, que conhecem o assunto e trabalham com seriedade num órgão central. Por fim, colocar o BC sob o vai e vem da política, sei lá, como feudos de um Sarney, um Pallocci, um Tasso, um Bornhausen (um de cada partido...), realmente seria o pior dos mundos. Aí eu prefiro até a ilusão do reino da técnica. Se for para entregar a administração da moeda ao PMDB, putz, aí é melhor parar tudo. Chamem de volta as raposas, eu prefiro. Com o Banco Central não se brinca.
Mas o fato é que a captura acontece. E vejam só que curioso: se o Meirelles sair candidato, choverão críticas, como já está acontecendo. Mas quando o Mario Torós for trabalhar na banca privada, e aí, como fica? Dois pesos e duas medidas.
Talvez esteja sendo exigente demais, não sei... só na corneta, às vezes eu mesmo me canso um pouco.
Mas o fato é que a captura acontece. E vejam só que curioso: se o Meirelles sair candidato, choverão críticas, como já está acontecendo. Mas quando o Mario Torós for trabalhar na banca privada, e aí, como fica? Dois pesos e duas medidas.
Talvez esteja sendo exigente demais, não sei... só na corneta, às vezes eu mesmo me canso um pouco.
COPOM
Sobre o COPOM dessa semana, eu até tenho um pouco de preguiça de falar. Reportagem no Estadão de hoje ouve apenas o pessoal do mercado financeiro. Fiquei muito surpreso ao ver que eles não querem mais quedas, impressionante. Alguns pedem uma pausa para avaliar melhor a situação. Um ou outro afirma, contrariando fatos, dados, números, tabelas, gráficos, estudos, relatórios, modelos e projeções, que há um problema fiscal, que a demanda irá crescer demais, que isso assusta e pode fazer a inflação voltar. Figuras mais delirantes já chegam a dizer que até 2011 não devemos ter mudanças. Falam como se esgrimissem uma verdadeira ciência, são cheios de certezas. Um último ponto curioso é aquele que coloca que a ata passada do COPOM indicou o fim do ciclo de baixa, que não houve nenhuma sinalização em contrário e que é importante o COPOM não pregar surpresas no mercado. Se entendi bem, a coisa deve ser combinada direitinho, senão não vale.
Realmente, esse povo é brilhante.
Os últimos números da inflação mostram novas quedas. Não há problema no setor externo. Tampouco na posição fiscal. O mundo vive a mais grave crise desde a Grande Depressão. Nossa taxa de juros real é a 3a maior do mundo. O câmbio tem se valorizado com operações de arbitragem. O crédito é apenas 43% do PIB. Precisamos aumentar a taxa de investimentos, públicos e privados. Precisamos crescer. Produzir. Exportar.
Estimativas de meados de 2008 indicavam que 1% de aumento nos juros nos custava uns R$ 13 bilhões anuais, ou seja, o orçamento do Bolsa Família. Os juros são direcionados para os credores da dívida, cujo grosso se concentra em 20 ou 30 mil famílias. O Bolsa Família vai para cerca de 11 milhões de lares, creio, atingindo mais de 40 milhões de pessoas.
E ainda dizem que é importante um BC "independente", "técnico", pois assim ficaria longe de influências políticas. Porra, como despolitizar a administração da moeda? Do valor do dinheiro? Do preço do câmbio? São decisões com ganhadores e perdedores. A própria idéia de que o único objetivo de um BC deve ser a estabilidade de preços, utilizando um único instrumento, que são os juros de curto prazo, é política. Por que não mira o nível de emprego? Por que não mira a formação de bolhas em determinados ativos? Quem disse que o hiato do produto é um conceito consagrado, científico? Como medi-lo? Cade o modelito furado?
A idéia de um BC independente é um pouco como as agências reguladoras. Retira-se o poder de um governo eleito pelo voto sobre determinada esfera de atuação. A democracia fica de lado para supostamente se privilegiar o reino da técnica, dos experts. Só que os técnicos, os experts, são capturados pelo setor privado. É de lá que eles vêm, é com eles que conversam, é para lá que eles irão.
Mas, enfim, o BC vai manter os juros onde estão. Que novidade. Depois de iniciar a subida da taxa em meados de abril de 2008, num movimento realmente brilhante, o BC viu a crise explodir em setembro e só começou a baixar os juros se não me engano em dezembro, ou mesmo janeiro. Demorou 4 meses para se convencer. Seria fácil fazer as contas e ver quantos bilhões de reais a mais foram pagos em juros da dívida. Mais difícil é saber quantos quebram por não honrarem financiamentos, quantos são demitidos, quanto o câmbio valoriza, etc... Porém há muita gente que diz que isso não existe, que o BC é técnico e despolitizado, que deve mirar apenas a inflação, que há risco de descontrole fiscal, que o hiato do produto da segunda hipotenusa cartesiana derivada da integralização de curvas equidistantes justifica que tenhamos a 3a maior taxa de juros real do mundo.
Sem mais sobre o COPOM, aguardarei em silêncio o veredito, tranquilo. A taxa real ao menos não está nem perto de 10%. Ficarei me divertindo com as reportagens que sairão em jornais e TVs dos grandes grupos tentando dar uma aparência de seriedade, de prudência, de responsabilidade, do reino da técnica, a decisões que são políticas, meramente políticas e que, como tais, derivam para a incerteza que requer bom senso, um pouco de arte. Menas para os arrogantes que afirmam falar em nome de uma suposta ciência, de um modelo consagrado, os arautos do totalitarismo liberal de mercado.
Realmente, esse povo é brilhante.
Os últimos números da inflação mostram novas quedas. Não há problema no setor externo. Tampouco na posição fiscal. O mundo vive a mais grave crise desde a Grande Depressão. Nossa taxa de juros real é a 3a maior do mundo. O câmbio tem se valorizado com operações de arbitragem. O crédito é apenas 43% do PIB. Precisamos aumentar a taxa de investimentos, públicos e privados. Precisamos crescer. Produzir. Exportar.
Estimativas de meados de 2008 indicavam que 1% de aumento nos juros nos custava uns R$ 13 bilhões anuais, ou seja, o orçamento do Bolsa Família. Os juros são direcionados para os credores da dívida, cujo grosso se concentra em 20 ou 30 mil famílias. O Bolsa Família vai para cerca de 11 milhões de lares, creio, atingindo mais de 40 milhões de pessoas.
E ainda dizem que é importante um BC "independente", "técnico", pois assim ficaria longe de influências políticas. Porra, como despolitizar a administração da moeda? Do valor do dinheiro? Do preço do câmbio? São decisões com ganhadores e perdedores. A própria idéia de que o único objetivo de um BC deve ser a estabilidade de preços, utilizando um único instrumento, que são os juros de curto prazo, é política. Por que não mira o nível de emprego? Por que não mira a formação de bolhas em determinados ativos? Quem disse que o hiato do produto é um conceito consagrado, científico? Como medi-lo? Cade o modelito furado?
A idéia de um BC independente é um pouco como as agências reguladoras. Retira-se o poder de um governo eleito pelo voto sobre determinada esfera de atuação. A democracia fica de lado para supostamente se privilegiar o reino da técnica, dos experts. Só que os técnicos, os experts, são capturados pelo setor privado. É de lá que eles vêm, é com eles que conversam, é para lá que eles irão.
Mas, enfim, o BC vai manter os juros onde estão. Que novidade. Depois de iniciar a subida da taxa em meados de abril de 2008, num movimento realmente brilhante, o BC viu a crise explodir em setembro e só começou a baixar os juros se não me engano em dezembro, ou mesmo janeiro. Demorou 4 meses para se convencer. Seria fácil fazer as contas e ver quantos bilhões de reais a mais foram pagos em juros da dívida. Mais difícil é saber quantos quebram por não honrarem financiamentos, quantos são demitidos, quanto o câmbio valoriza, etc... Porém há muita gente que diz que isso não existe, que o BC é técnico e despolitizado, que deve mirar apenas a inflação, que há risco de descontrole fiscal, que o hiato do produto da segunda hipotenusa cartesiana derivada da integralização de curvas equidistantes justifica que tenhamos a 3a maior taxa de juros real do mundo.
Sem mais sobre o COPOM, aguardarei em silêncio o veredito, tranquilo. A taxa real ao menos não está nem perto de 10%. Ficarei me divertindo com as reportagens que sairão em jornais e TVs dos grandes grupos tentando dar uma aparência de seriedade, de prudência, de responsabilidade, do reino da técnica, a decisões que são políticas, meramente políticas e que, como tais, derivam para a incerteza que requer bom senso, um pouco de arte. Menas para os arrogantes que afirmam falar em nome de uma suposta ciência, de um modelo consagrado, os arautos do totalitarismo liberal de mercado.
O Brasil e a crise
No Estadão de hoje, reportagem boa sobre o Brasil superando a marolinha. Bom, o jornal apenas ouve personagens do mundo ortodoxo-mercadista, mas até que a matéria está razoável. É como eu já disse em posts anteriores: a crise desbaratou certezas, destruiu consensos, acabou aquela história da lição de casa, dos modelitos prontos, dos "analistas de mercado" e das agências de risco dizendo o que devíamos fazer. Alguns deles, o próprio Ilan do Itaú, tem se destacado com análises mais sóbrias, ponderadas, e não com os chiliques tradicionais sobre "descontrole fiscal" e "risco político" nas eleições. Aliás, mais tarde talvez fale sobre o COPOM da próxima semana.
Detalhe que os países menos atingidos pela crise, Brasil, Canadá e Austrália, tinham sistemas financeiros bem regulados. E na China e na Índia, desnecessário recordar, os sistemas financeiros são estatais.
Talvez seja covardia incluir o Eichengreen no meio desse povo. Nosso amigo Barry é um craque da economia política internacional. Para quem tem dúvida, leia o "The Fading Dollar" na Foreign Affairs de setembro/outubro 09. Acabou de sair. O cara é um mestre. O Rogoff também é bom.
Detalhe que os países menos atingidos pela crise, Brasil, Canadá e Austrália, tinham sistemas financeiros bem regulados. E na China e na Índia, desnecessário recordar, os sistemas financeiros são estatais.
Talvez seja covardia incluir o Eichengreen no meio desse povo. Nosso amigo Barry é um craque da economia política internacional. Para quem tem dúvida, leia o "The Fading Dollar" na Foreign Affairs de setembro/outubro 09. Acabou de sair. O cara é um mestre. O Rogoff também é bom.
Democracia e políticas sociais
No Estadão de ontem: PSDB quer abandonar crítica a projetos de Lula; Estratégia é dar 'visão positiva' sobre programas sociais e esquecer discurso da 'porta de saída'
Pois é, o PSDB descobriu o Brasil. Genial a conclusão. O PSDB, ou ao menos parte dele, tinha dificuldade de entender a democracia. Parece que agora entendeu.
Políticas em benefício dos mais pobres não são compra de votos. É apenas o correto, o que deve ser feito. O grande problema do Brasil não é a falta de segurança para o capital estrangeiro, ou infra-estrutura para exportar commodities ou mesmo o nível dos impostos (que, como se sabe, são proporcionalmente mais pesados sobre os mais pobres).
O grande problema do Brasil é termos a enorme maioria da população vivendo em condições muito abaixo do razoável. Então é evidente que essa enorme massa, vendo chegar a ela benefícios, políticas públicas, políticas sociais, e etcétera, vai votar naquele que faz isso. Não tem nada de errado.
SE UM GOVERNANTE EXECUTA POLÍTICAS QUE BENEFICIAM OS MAIS POBRES, VAI RECEBER OS VOTOS DELES.
Qual é o problema com isso? Será que é preciso desenhar?
Aaaa, já sei, virão então os sábios de Higienópolis e falarão que isso é assistencialismo barato, que assim os pobres ficarão preguiçosos e não vão querer trabalhar, etc... Estão dizendo que é pior para eles isso, vejam só que bons samaritanos. Não apenas desejam manter os pobres na miséria como querem lhes ditar como devem se comportar. É ruim receber crédito subsidiado para a casa própria. Recursos mínimos em troca de manter os filhos na escola. O aumento do salário mínimo é irresponsabilidade fiscal (mas nenhuma linha sobre o peso dos juros). E a lista é longa...
A democracia tem mesmo esse problema: o governante é obrigado a governar para os pobres, senão ele não é eleito, vejam só que coisa dramática.
Tem gente que nunca vai conseguir se acostumar com isso. Lamento. Que bom que parte do PSDB acordou para a realidade democrática. Eu fico feliz. Assim teremos um debate mais razoável em 2010 e o país poderá prosseguir na trajetória do desenvolvimento, ou seja, proporcionar condições mais dignas, e oportunidades, à imensa massa de cidadãos que hoje ainda se encontra excluída do desfrute das riquezas que o Brasil produz. Somos um país rico. Mas o povo é miserável. Não dá para prosseguir assim.
Um cidadão, um voto. Viva a democracia.
Há duzentos mil motivos para criticar o Governo Lula. Mas não por ter ampliado algumas políticas que o próprio PSDB criou. E não por ter criado outras, como a política de reforço do salário mínimo. Qual é o problema com isso?
Pois é, o PSDB descobriu o Brasil. Genial a conclusão. O PSDB, ou ao menos parte dele, tinha dificuldade de entender a democracia. Parece que agora entendeu.
Políticas em benefício dos mais pobres não são compra de votos. É apenas o correto, o que deve ser feito. O grande problema do Brasil não é a falta de segurança para o capital estrangeiro, ou infra-estrutura para exportar commodities ou mesmo o nível dos impostos (que, como se sabe, são proporcionalmente mais pesados sobre os mais pobres).
O grande problema do Brasil é termos a enorme maioria da população vivendo em condições muito abaixo do razoável. Então é evidente que essa enorme massa, vendo chegar a ela benefícios, políticas públicas, políticas sociais, e etcétera, vai votar naquele que faz isso. Não tem nada de errado.
SE UM GOVERNANTE EXECUTA POLÍTICAS QUE BENEFICIAM OS MAIS POBRES, VAI RECEBER OS VOTOS DELES.
Qual é o problema com isso? Será que é preciso desenhar?
Aaaa, já sei, virão então os sábios de Higienópolis e falarão que isso é assistencialismo barato, que assim os pobres ficarão preguiçosos e não vão querer trabalhar, etc... Estão dizendo que é pior para eles isso, vejam só que bons samaritanos. Não apenas desejam manter os pobres na miséria como querem lhes ditar como devem se comportar. É ruim receber crédito subsidiado para a casa própria. Recursos mínimos em troca de manter os filhos na escola. O aumento do salário mínimo é irresponsabilidade fiscal (mas nenhuma linha sobre o peso dos juros). E a lista é longa...
A democracia tem mesmo esse problema: o governante é obrigado a governar para os pobres, senão ele não é eleito, vejam só que coisa dramática.
Tem gente que nunca vai conseguir se acostumar com isso. Lamento. Que bom que parte do PSDB acordou para a realidade democrática. Eu fico feliz. Assim teremos um debate mais razoável em 2010 e o país poderá prosseguir na trajetória do desenvolvimento, ou seja, proporcionar condições mais dignas, e oportunidades, à imensa massa de cidadãos que hoje ainda se encontra excluída do desfrute das riquezas que o Brasil produz. Somos um país rico. Mas o povo é miserável. Não dá para prosseguir assim.
Um cidadão, um voto. Viva a democracia.
Há duzentos mil motivos para criticar o Governo Lula. Mas não por ter ampliado algumas políticas que o próprio PSDB criou. E não por ter criado outras, como a política de reforço do salário mínimo. Qual é o problema com isso?
domingo, 30 de agosto de 2009
Reunião da UNASUL
Olha, dificilmente vou comentar o teor dos debates, mas achei muito legal essa história da reunião ter sido transmitida pela TV, ao vivo, integralmente. Muita vontade de ver o vídeo, de repente já há até trechos no youtube, vou procurar.
O Lula comentou algo correto, que a transmissão dificultaria uma conversa franca, o pessoal jogaria para a platéia, etc... Parece que ficou impaciente com a demora e a falta de resultados. Mas, ainda assim, a mera realização do diálogo, por si só, é boa.
O Lula comentou algo correto, que a transmissão dificultaria uma conversa franca, o pessoal jogaria para a platéia, etc... Parece que ficou impaciente com a demora e a falta de resultados. Mas, ainda assim, a mera realização do diálogo, por si só, é boa.
Quando apita o árbitro...
e é bola rolando no jogo do Pré-Sal. Com a manifestação dos governadores do RJ, ES e, em menor grau, SP, finalmente o assunto ganhou um pouco do espaço que merece. No dia 31, haverá a cerimônia de apresentação do marco proposto pelo governo. Parece que deixarão a questão da distribuição dos royalties para o Congresso. Na verdade, convenhamos, tudo vai ficar para o Congresso, eles vão mexer no que quiserem.
E aí vem a questão: os caras foram desmoralizados pela mídia. Com certa razão, é claro, mas foi um ataque concatenado fora do comum. E agora como vão discutir esse negócio? Perto, assim, das eleições?
O governo vai tentar passar o rolo compressor. Possivelmente conseguiria na Câmara, no varejão, mas no Senado seria mais complicado. E considerando defecções da base por razões federativas, vai ser bem difícil.
O setor privado e os estrangeiros vão jogar pesado para barrar a proposta do governo. Ontem, no Globonews, lá estavam alguns pseudo-jornalistas falando que há muita pressa desnecessária, que o assunto deve ser melhor discutido, etc... Para os que se sentem perdendo nas condições que o governo irá propor, valerá tudo para que não saia definição e eventualmente isso fique para um próximo governo. E é inevitável fazer a associação: com o atual modelo de financiamento das campanhas eleitorais, putz... tenho até medo de escrever o que penso.
Na verdade, gostaria de conhecer mais sobre as tecnicalidades do jogo para poder elaborar com mais profundidade. Mas acho que o be-a-bá da brincadeira eu já saquei: o setor privado e os estrangeiros querem concessões; o governo quer partilha; creio que há uma diretriz do governo para que a quantidade produzida seja limitada, evitando o que o México fez, vendeu pacas com o petróleo lá embaixo e hoje está sem; o setor privado e os estrangeiros dizem que o pré-sal nem é tudo isso, que faltará capital para investimentos, que está havendo muita pressa, que o governo quer estatizar a produção; já o governo corre para reforçar a Petrobrás, capitalizá-la e ampliar a participação do Estado: creio que há uns 50% do capital da Petrobrás em bolsa, parte boa disso lá fora (por pouco não a desmontaram completamente); setores da mídia, da política e do lado privado/estrangeiro ainda forçam a barra para uma CPI da Petrobrás. Não sei se é necessária essa nova estatal, na verdade apenas uma holding, mas parece uma boa idéia, já que a Petrobrás não é inteiramente do Estado.
Enfim, talvez minha visão seja ingênua, talvez eu seja ingênuo demais para um jogo tão pesado. Porém...
As estimativas das reservas do pré-sal apontam que o Brasil seria elevado ao patamar do Iraque, da Venezuela, do Irã e do Kwait. Talvez até da Arábia Saudita. Dinheiro, muito dinheito. E poder: petróleo é um recurso geopolítico; as grandes reservas mundiais são operadas por empresas dos próprios Estados Nacionais.
Portanto, é bom ficarmos de olho. Lamento se fiz alguma simplificação grosseira. Vou procurar ler mais sobre o assunto. Mas acho que as coisas ficarão mais claras quando o texto for para o Congresso e os interesses começarem a se manifestar de forma mais aberta.
E aí vem a questão: os caras foram desmoralizados pela mídia. Com certa razão, é claro, mas foi um ataque concatenado fora do comum. E agora como vão discutir esse negócio? Perto, assim, das eleições?
O governo vai tentar passar o rolo compressor. Possivelmente conseguiria na Câmara, no varejão, mas no Senado seria mais complicado. E considerando defecções da base por razões federativas, vai ser bem difícil.
O setor privado e os estrangeiros vão jogar pesado para barrar a proposta do governo. Ontem, no Globonews, lá estavam alguns pseudo-jornalistas falando que há muita pressa desnecessária, que o assunto deve ser melhor discutido, etc... Para os que se sentem perdendo nas condições que o governo irá propor, valerá tudo para que não saia definição e eventualmente isso fique para um próximo governo. E é inevitável fazer a associação: com o atual modelo de financiamento das campanhas eleitorais, putz... tenho até medo de escrever o que penso.
Na verdade, gostaria de conhecer mais sobre as tecnicalidades do jogo para poder elaborar com mais profundidade. Mas acho que o be-a-bá da brincadeira eu já saquei: o setor privado e os estrangeiros querem concessões; o governo quer partilha; creio que há uma diretriz do governo para que a quantidade produzida seja limitada, evitando o que o México fez, vendeu pacas com o petróleo lá embaixo e hoje está sem; o setor privado e os estrangeiros dizem que o pré-sal nem é tudo isso, que faltará capital para investimentos, que está havendo muita pressa, que o governo quer estatizar a produção; já o governo corre para reforçar a Petrobrás, capitalizá-la e ampliar a participação do Estado: creio que há uns 50% do capital da Petrobrás em bolsa, parte boa disso lá fora (por pouco não a desmontaram completamente); setores da mídia, da política e do lado privado/estrangeiro ainda forçam a barra para uma CPI da Petrobrás. Não sei se é necessária essa nova estatal, na verdade apenas uma holding, mas parece uma boa idéia, já que a Petrobrás não é inteiramente do Estado.
Enfim, talvez minha visão seja ingênua, talvez eu seja ingênuo demais para um jogo tão pesado. Porém...
As estimativas das reservas do pré-sal apontam que o Brasil seria elevado ao patamar do Iraque, da Venezuela, do Irã e do Kwait. Talvez até da Arábia Saudita. Dinheiro, muito dinheito. E poder: petróleo é um recurso geopolítico; as grandes reservas mundiais são operadas por empresas dos próprios Estados Nacionais.
Portanto, é bom ficarmos de olho. Lamento se fiz alguma simplificação grosseira. Vou procurar ler mais sobre o assunto. Mas acho que as coisas ficarão mais claras quando o texto for para o Congresso e os interesses começarem a se manifestar de forma mais aberta.
sábado, 29 de agosto de 2009
Tobin Tax
Achei boa e sucinta a explicação do FT. Para um negócio desses colar, só com estreita coordenação internacional e impulso político lá das cabeças. Talvez uma segunda rodada de crise, com a implosão das possíveis novas bolhas, dê mais impulso a esse debate.
The Tobin tax explained
By Martin Sandbu
Published: August 27 2009 14:46 | Last updated: August 27 2009 14:46
The “Tobin tax” was originally proposed in the early 1970s by James Tobin, an influential American macroeconomist and recipient of the Nobel prize for economics.
His idea was prompted by the collapse of the Bretton Woods system in 1971, which replaced an arrangement of fixed exchange rates ultimately based on the US dollar’s peg to gold with a period of volatile floating exchange rates.
Tobin proposed to reduce this volatility with a small tax – for instance 0.1 per cent – levied on every amount exchanged from one currency into another.
He wanted to discourage short-term currency speculation, which makes it difficult for countries to implement independent monetary policies by moving money quickly back and forth between countries with different interest rates.
Tobin’s goal was to “throw sand in the wheels” of global finance with a simple tax that would be small enough to make short-term purely financial movements uneconomical – without being a burden on trade.
The proposal never caught on in the 1970s but received renewed attention during the Asian financial crisis in the late 1990s when it became a cause celèbre for the anti-globalisation movement. A number of organisations, such as France-based Attac, sprang up to campaign for a Tobin tax long after the economist had died in 2002.
The original purpose of putting the brakes on currency speculation has been somewhat eclipsed among activists who have increasingly seen the Tobin tax as a good way of raising revenue for economic and social development.
Some have suggested that a Tobin tax should be introduced to finance the money needed to meet the UN’s Millennium Development Goals of reducing poverty and ill health. Governments have been at best lukewarm to the idea, although former French president Jacques Chirac expressed interest in it.
Tobin himself disowned activists’ adoption of his proposal for revenue-raising purposes, which he thought missed the point of the proposal: which was to reduce the socially harmful effects of finance while keeping its benefits. In this respect, FSA chairman Adair Turner’s broaching of the Tobin Tax as a method for regulating the financial sector may be more in line with the original idea.
The Tobin tax explained
By Martin Sandbu
Published: August 27 2009 14:46 | Last updated: August 27 2009 14:46
The “Tobin tax” was originally proposed in the early 1970s by James Tobin, an influential American macroeconomist and recipient of the Nobel prize for economics.
His idea was prompted by the collapse of the Bretton Woods system in 1971, which replaced an arrangement of fixed exchange rates ultimately based on the US dollar’s peg to gold with a period of volatile floating exchange rates.
Tobin proposed to reduce this volatility with a small tax – for instance 0.1 per cent – levied on every amount exchanged from one currency into another.
He wanted to discourage short-term currency speculation, which makes it difficult for countries to implement independent monetary policies by moving money quickly back and forth between countries with different interest rates.
Tobin’s goal was to “throw sand in the wheels” of global finance with a simple tax that would be small enough to make short-term purely financial movements uneconomical – without being a burden on trade.
The proposal never caught on in the 1970s but received renewed attention during the Asian financial crisis in the late 1990s when it became a cause celèbre for the anti-globalisation movement. A number of organisations, such as France-based Attac, sprang up to campaign for a Tobin tax long after the economist had died in 2002.
The original purpose of putting the brakes on currency speculation has been somewhat eclipsed among activists who have increasingly seen the Tobin tax as a good way of raising revenue for economic and social development.
Some have suggested that a Tobin tax should be introduced to finance the money needed to meet the UN’s Millennium Development Goals of reducing poverty and ill health. Governments have been at best lukewarm to the idea, although former French president Jacques Chirac expressed interest in it.
Tobin himself disowned activists’ adoption of his proposal for revenue-raising purposes, which he thought missed the point of the proposal: which was to reduce the socially harmful effects of finance while keeping its benefits. In this respect, FSA chairman Adair Turner’s broaching of the Tobin Tax as a method for regulating the financial sector may be more in line with the original idea.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Quanto custa o setor financeiro?
No Baseline Scenario, onde até agora não vi linha sobre as últimas palavras de nosso agora famosíssimo Lord Turner, segue mais um daqueles textos de primeira, incisivos, seguros de si próprios, editorializados, instigantes, abertos ao debate mas prontos para o confronto. Se não acreditam, tentem essa peça aqui, um petardo contra os atuais endeusados bombeiros dos mercados financeiros norte-americanos. O argumento principal pode ser perfeitamente transladado para o Gordon Brown, que teve a chave do cofre durante 10 anos no Reino Unido.
A blogosfera tem coisas espetaculares. Uma delas é esse Baseline Scenario. Outra era o blog do Brad Setser. A death in the family, hahaha.
A blogosfera tem coisas espetaculares. Uma delas é esse Baseline Scenario. Outra era o blog do Brad Setser. A death in the family, hahaha.
Sand in the Wheels
A seguir, destaques da página do Financial Times:
Editorial: Cutting finance back down to size
Comment: We should put sand in the wheels of the market
Areia nas engrenagens do mercado foi a mesma expressão utilizada pelo Belluzzo para justificar a introdução do IOF para capitais estrangeiros. É a classe daqueles que conhecem, vão direto beber na fonte, Ademir da Guia matando na coxa e encontrando Bobby Charlton mais atrás para sair jogando.
Isso não é nunca será um baita intervencionismo. Em primeiro lugar, porque historicamente tivemos controles de capitais, ao menos no período mais virtuoso da economia global, entre 1944 e o final dos anos 60. Em segundo lugar, porque tudo depende do nível da taxa. Em terceiro lugar, amigo, não estamos brincando: o mundo passa por crises sérias, inter-relacionadas, e os mais pobres saem perdendo nessa brincadeira. As finanças estão desreguladas, enlouquecidas. É preciso controlá-las, colocá-las a serviço dos valores do trabalho, da produção e do emprego.
A Tobin Tax e o IOF na entrada de capitais são coisas diferentes. Porém, têm muito em comum. Entre outras coisas, despertam a ira do mercado financeiro. Seguem outras manchetes da página do imperial Financial Times:
‘Swollen’ financials jump on Turner
Turner accused of straying into politics
e o Tesouro inglês: Treasury frowns on ‘Tobin’ proposal
Por fim, "A senior official at the French finance ministry, which has been sceptical about the Tobin tax idea, nonetheless welcomed Lord Turner’s intervention. “It is an initiative that will kick-start the debate. But we need to see how political leaders react on both sides of the Atlantic.""
Editorial: Cutting finance back down to size
Comment: We should put sand in the wheels of the market
Areia nas engrenagens do mercado foi a mesma expressão utilizada pelo Belluzzo para justificar a introdução do IOF para capitais estrangeiros. É a classe daqueles que conhecem, vão direto beber na fonte, Ademir da Guia matando na coxa e encontrando Bobby Charlton mais atrás para sair jogando.
Isso não é nunca será um baita intervencionismo. Em primeiro lugar, porque historicamente tivemos controles de capitais, ao menos no período mais virtuoso da economia global, entre 1944 e o final dos anos 60. Em segundo lugar, porque tudo depende do nível da taxa. Em terceiro lugar, amigo, não estamos brincando: o mundo passa por crises sérias, inter-relacionadas, e os mais pobres saem perdendo nessa brincadeira. As finanças estão desreguladas, enlouquecidas. É preciso controlá-las, colocá-las a serviço dos valores do trabalho, da produção e do emprego.
A Tobin Tax e o IOF na entrada de capitais são coisas diferentes. Porém, têm muito em comum. Entre outras coisas, despertam a ira do mercado financeiro. Seguem outras manchetes da página do imperial Financial Times:
‘Swollen’ financials jump on Turner
Turner accused of straying into politics
e o Tesouro inglês: Treasury frowns on ‘Tobin’ proposal
Por fim, "A senior official at the French finance ministry, which has been sceptical about the Tobin tax idea, nonetheless welcomed Lord Turner’s intervention. “It is an initiative that will kick-start the debate. But we need to see how political leaders react on both sides of the Atlantic.""
Lord Turner causa polêmica
Amo muito tudo isso hehehe. A crise faz com que antigas heresias passem a ser mais seriamente consideradas. O chefe da Financial Services Authority do Reino Unido sugeriu a adoção de um imposto sobre transações financeiras internacionais. Conhecido como taxa Tobin, embora o próprio tenha renegado a idéia depois, é antiga reivindicação de economistas heterodoxos, desenvolvimentistas, verdes e diversos grupos fora do mainstream ortodoxo-mercadista. Copio o post do RGE. Detalhe para os comentários no final...
"Overview: Followig intense debate over UK banking bonuses, the head of the FSA, Lord Adair Turner has suggested a tax on financial transactions be introduced. Such an idea was first put forward by the economist James Tobin and is known as a 'Tobin Tax'. Whether this proposal bears fruit remains to be seen as Alastair Darling dismisses suggestions that the idea is being discussed in the Treasury.
The Proposal
Lord Turner: The ongoing debate on bankers’ bonuses is a “populist diversion” and more drastic steps may be needed to cut the "swollen" financial sector down to size. “[This crisis] requires a very major reconstruct of the global financial regulatory system, [not] a minor adjustment,”
"If increased capital requirements are insufficient I am happy to consider taxes on financial transactions – Tobin taxes. Such taxes have long been the dream of the development economists and those who care about climate change – a nice sensible revenue source for funding global public goods."
The Guardian: The scale of the crisis has brought Tobin out of the shadows. Indeed, Turner appears to be considering throwing the net wider than simply a tax on foreign exchange dealings.
Tobin Tax
Originally proposed in 1972 by Nobel Prize winner James Tobin, the idea proposes a small tax on currency transactions which would raise the cost of any financial transaction. Tobin hoped that such a tax would reduce short term speculation on currencies and "throw sand in the wheels of global finance", in particular with reference to the USD peg to gold. Tobin wanted to reduce the socially harmful effects of finance while keeping its benefits and does not agree with the idea for revenue raising purposes.
James Tobin: "My main objectives for the tax are two. The first is to make exchange rates reflect to a larger degree long-term fundamentals relative to short-range expectations and risk. My second objective is to preserve and promote autonomy of national macroeconomic and monetary policies."
"Most disappointing and surprising, critics seemed to miss what I regarded as the essential property of the transactions – the beauty part – that this simple one-parameter tax would automatically penalise short-horizon round trips, while negligibly affecting commodity trade and long-term capital investments," explained Tobin in 1995.
Varied Opinion
Aides to Chancellor Alistair Darling: No such taxes were under consideration. Mr Darling insists that the banking industry in London should continue to play a leading role in global finance.
Former Labour Welfare Minister, Frank Field: "It looks like Adair Turner has fired the starting gun on thinking more seriously about the City and what it is for and what kind of pay people should expect. When the City has largely made money by moving money around and not by making anything, it is clear the pay is out of kilter."
Liberal Democrat Treasury spokesman, Lord Oakeshott: "A Tobin tax is interesting but is unworkable without international agreement, which could take years and probably will never happen,"
British Bankers' Association: Banking sector was a main provider of jobs and tax revenues and could be undermined by the wrong kind of taxes or regulation.
George Parker, FT: Lord Turner’s suggestion of a Tobin tax to rein in excessive profits may turn out to be about as successful as Mr Chirac’s failed initiative. The FSA chairman admits that a global agreement would be “very difficult to achieve”.
"Overview: Followig intense debate over UK banking bonuses, the head of the FSA, Lord Adair Turner has suggested a tax on financial transactions be introduced. Such an idea was first put forward by the economist James Tobin and is known as a 'Tobin Tax'. Whether this proposal bears fruit remains to be seen as Alastair Darling dismisses suggestions that the idea is being discussed in the Treasury.
The Proposal
Lord Turner: The ongoing debate on bankers’ bonuses is a “populist diversion” and more drastic steps may be needed to cut the "swollen" financial sector down to size. “[This crisis] requires a very major reconstruct of the global financial regulatory system, [not] a minor adjustment,”
"If increased capital requirements are insufficient I am happy to consider taxes on financial transactions – Tobin taxes. Such taxes have long been the dream of the development economists and those who care about climate change – a nice sensible revenue source for funding global public goods."
The Guardian: The scale of the crisis has brought Tobin out of the shadows. Indeed, Turner appears to be considering throwing the net wider than simply a tax on foreign exchange dealings.
Tobin Tax
Originally proposed in 1972 by Nobel Prize winner James Tobin, the idea proposes a small tax on currency transactions which would raise the cost of any financial transaction. Tobin hoped that such a tax would reduce short term speculation on currencies and "throw sand in the wheels of global finance", in particular with reference to the USD peg to gold. Tobin wanted to reduce the socially harmful effects of finance while keeping its benefits and does not agree with the idea for revenue raising purposes.
James Tobin: "My main objectives for the tax are two. The first is to make exchange rates reflect to a larger degree long-term fundamentals relative to short-range expectations and risk. My second objective is to preserve and promote autonomy of national macroeconomic and monetary policies."
"Most disappointing and surprising, critics seemed to miss what I regarded as the essential property of the transactions – the beauty part – that this simple one-parameter tax would automatically penalise short-horizon round trips, while negligibly affecting commodity trade and long-term capital investments," explained Tobin in 1995.
Varied Opinion
Aides to Chancellor Alistair Darling: No such taxes were under consideration. Mr Darling insists that the banking industry in London should continue to play a leading role in global finance.
Former Labour Welfare Minister, Frank Field: "It looks like Adair Turner has fired the starting gun on thinking more seriously about the City and what it is for and what kind of pay people should expect. When the City has largely made money by moving money around and not by making anything, it is clear the pay is out of kilter."
Liberal Democrat Treasury spokesman, Lord Oakeshott: "A Tobin tax is interesting but is unworkable without international agreement, which could take years and probably will never happen,"
British Bankers' Association: Banking sector was a main provider of jobs and tax revenues and could be undermined by the wrong kind of taxes or regulation.
George Parker, FT: Lord Turner’s suggestion of a Tobin tax to rein in excessive profits may turn out to be about as successful as Mr Chirac’s failed initiative. The FSA chairman admits that a global agreement would be “very difficult to achieve”.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Leitor do blog?
Seria o PNBJr, nosso Diretor no FMI e meu ex-professor, leitor desse humilde blog? hehehe
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
A piora das contas públicas
--------------------------------------------------------------------------------
O deficit fiscal brasileiro está entre os menores, quando se consideram os países do G20; não há motivos para alarme
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AS CONTAS públicas sofreram deterioração marcada em 2009. Já existe quem levante dúvidas sobre a solidez da política fiscal e a sustentabilidade das finanças do governo brasileiro.
De fato, os dados disponíveis mostram nítida piora do ano passado para cá. O superávit primário diminuiu significativamente, o deficit nominal aumentou e cresceu a razão dívida líquida/PIB (Produto Interno Bruto).
O que está por trás dessa piora dos resultados fiscais? Em primeiro lugar, a recessão do final do ano passado e do início deste ano. A queda da atividade econômica aumenta de modo automático o déficit público, principalmente via redução das receitas.
Além disso, houve afrouxamento da política fiscal, isto é, decisões deliberadas de aliviar a carga tributária e ampliar os gastos públicos. O principal objetivo dessas decisões parece ter sido contra-arrestar o movimento recessivo provocado pela abrupta contração da demanda privada. É o que os economistas chamam de "medidas discricionárias" de estímulo fiscal.
O aumento da dívida líquida do governo reflete também a valorização do câmbio. O setor público consolidado é credor em moeda estrangeira. Em dezembro último, o crédito externo líquido do setor público representava o equivalente a 11,1% do PIB. A valorização do real contribuiu para aumentar a razão dívida líquida/PIB em 1,7 ponto percentual no primeiro semestre deste ano, segundo o Banco Central.
É motivo de preocupação a deterioração das contas públicas? Em alguma medida, sim. É preciso estar sempre atento à evolução do déficit fiscal e da dívida do governo (desculpe, leitor, a homenagem ao conselheiro Acácio).
Mas a questão precisa ser colocada em perspectiva. Primeiro, não teria sido recomendável responder à queda das receitas associada à recessão com corte equivalente dos gastos públicos. A tentativa de manter o deficit fiscal no nível anterior teria agravado a pressão recessiva decorrente da crise mundial.
Em outras palavras, era preciso deixar os estabilizadores automáticos funcionarem.
Mais do que isso: o governo precisava recorrer a uma política fiscal ativa, de caráter antirrecessivo. Se isso não tivesse sido feito, a recessão teria sido mais profunda e mais demorada.
De qualquer maneira, o Brasil parece estar entre os mais cautelosos em matéria de política fiscal anticíclica. Segundo estimativas do FMI, baseadas em medidas anunciadas pelos governos até meados de julho, entre os países do G20 só a Itália aplicou um estímulo fiscal discricionário inferior ao do Brasil como proporção do PIB.
Projeções publicadas pela revista "The Economist" indicam que o deficit fiscal brasileiro está entre os menores, quando se considera os países do G20 e outras 23 economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Em 2009, o deficit brasileiro chegará a cerca de 3% do PIB, segundo essas projeções. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a 14% do PIB. No Japão, na França, na Rússia e na Índia, a 8% do PIB.
O quadro fiscal brasileiro requer cuidados, mas não dá motivos para alarme. A própria recuperação da economia tenderá a produzir alguma melhora da arrecadação tributária e das contas públicas. Mesmo assim, quando a recuperação estiver consolidada, seria recomendável que o governo desativasse gradualmente os mecanismos de desoneração e de estímulo fiscal criados durante a crise.
--------------------------------------------------------------------------------
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 54, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
A piora das contas públicas
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O deficit fiscal brasileiro está entre os menores, quando se consideram os países do G20; não há motivos para alarme
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AS CONTAS públicas sofreram deterioração marcada em 2009. Já existe quem levante dúvidas sobre a solidez da política fiscal e a sustentabilidade das finanças do governo brasileiro.
De fato, os dados disponíveis mostram nítida piora do ano passado para cá. O superávit primário diminuiu significativamente, o deficit nominal aumentou e cresceu a razão dívida líquida/PIB (Produto Interno Bruto).
O que está por trás dessa piora dos resultados fiscais? Em primeiro lugar, a recessão do final do ano passado e do início deste ano. A queda da atividade econômica aumenta de modo automático o déficit público, principalmente via redução das receitas.
Além disso, houve afrouxamento da política fiscal, isto é, decisões deliberadas de aliviar a carga tributária e ampliar os gastos públicos. O principal objetivo dessas decisões parece ter sido contra-arrestar o movimento recessivo provocado pela abrupta contração da demanda privada. É o que os economistas chamam de "medidas discricionárias" de estímulo fiscal.
O aumento da dívida líquida do governo reflete também a valorização do câmbio. O setor público consolidado é credor em moeda estrangeira. Em dezembro último, o crédito externo líquido do setor público representava o equivalente a 11,1% do PIB. A valorização do real contribuiu para aumentar a razão dívida líquida/PIB em 1,7 ponto percentual no primeiro semestre deste ano, segundo o Banco Central.
É motivo de preocupação a deterioração das contas públicas? Em alguma medida, sim. É preciso estar sempre atento à evolução do déficit fiscal e da dívida do governo (desculpe, leitor, a homenagem ao conselheiro Acácio).
Mas a questão precisa ser colocada em perspectiva. Primeiro, não teria sido recomendável responder à queda das receitas associada à recessão com corte equivalente dos gastos públicos. A tentativa de manter o deficit fiscal no nível anterior teria agravado a pressão recessiva decorrente da crise mundial.
Em outras palavras, era preciso deixar os estabilizadores automáticos funcionarem.
Mais do que isso: o governo precisava recorrer a uma política fiscal ativa, de caráter antirrecessivo. Se isso não tivesse sido feito, a recessão teria sido mais profunda e mais demorada.
De qualquer maneira, o Brasil parece estar entre os mais cautelosos em matéria de política fiscal anticíclica. Segundo estimativas do FMI, baseadas em medidas anunciadas pelos governos até meados de julho, entre os países do G20 só a Itália aplicou um estímulo fiscal discricionário inferior ao do Brasil como proporção do PIB.
Projeções publicadas pela revista "The Economist" indicam que o deficit fiscal brasileiro está entre os menores, quando se considera os países do G20 e outras 23 economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Em 2009, o deficit brasileiro chegará a cerca de 3% do PIB, segundo essas projeções. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a 14% do PIB. No Japão, na França, na Rússia e na Índia, a 8% do PIB.
O quadro fiscal brasileiro requer cuidados, mas não dá motivos para alarme. A própria recuperação da economia tenderá a produzir alguma melhora da arrecadação tributária e das contas públicas. Mesmo assim, quando a recuperação estiver consolidada, seria recomendável que o governo desativasse gradualmente os mecanismos de desoneração e de estímulo fiscal criados durante a crise.
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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 54, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.
Conta corrente, eleições
Editorial da FSP de hoje. Não cita o câmbio, mas, enfim, taí, a conta corrente vai se deteriorar nos próximos meses. Com mais de US$ 210 bilhões em reservas, isso não deverá ser suficiente para proporcionar algum poder de chantagem do mercado financeiro com relação aos candidatos à Presidência, pois não teremos problemas para financiar o buraco. Mas é algo que deve ser acompanhado com cautela. A lenga-lenga da poupança externa já nos custou 6 anos pendurados no FMI entre 1998-2004.
O flanco externo
OS INDÍCIOS de que a economia recupera aos poucos a trajetória de crescimento recolocam em questão a deterioração das contas externas do país. O mês de julho registrou queda de 37% do superavit comercial em relação a junho, resultado do crescimento de 14% das importações e da manutenção do volume de exportações.
Daqui para a frente, a confirmar-se a expectativa de melhora econômica, as exportações brasileiras terão dificuldade cada vez maior para financiar, por si mesmas, o aumento das compras de produtos importados, o qual sempre acompanha o aquecimento da economia.
Nossas vendas externas apresentam um peso excessivo de produtos caracterizados por baixo valor relativo e grande oscilação de preços. Nos últimos anos, os produtos que consomem muita mão de obra e têm baixo conteúdo tecnológico corresponderam a uma fatia entre 50% e 60% da pauta de exportação do país.
Esse quadro reflete deficiências da estrutura produtiva do Brasil, como a ainda reduzida capacidade de inovação tecnológica das empresas. Falhas na infraestrutura e na logística da economia também prejudicam a competitividade externa dos produtos aqui fabricados.
É verdade que, desde o início de 2009, foram justamente as exportações de commodities que permitiram manter resultados positivos na balança comercial. Os preços dessas mercadorias básicas se recuperaram mais depressa do baque da crise, e a quantidade exportada pelo Brasil, especialmente para a China, também voltou a crescer.
Tal desempenho, porém, não deveria obscurecer o fato de que o perfil das exportações brasileiras tende a se revelar um obstáculo para a manutenção de uma trajetória de crescimento forte da economia em médio prazo.
O flanco externo
OS INDÍCIOS de que a economia recupera aos poucos a trajetória de crescimento recolocam em questão a deterioração das contas externas do país. O mês de julho registrou queda de 37% do superavit comercial em relação a junho, resultado do crescimento de 14% das importações e da manutenção do volume de exportações.
Daqui para a frente, a confirmar-se a expectativa de melhora econômica, as exportações brasileiras terão dificuldade cada vez maior para financiar, por si mesmas, o aumento das compras de produtos importados, o qual sempre acompanha o aquecimento da economia.
Nossas vendas externas apresentam um peso excessivo de produtos caracterizados por baixo valor relativo e grande oscilação de preços. Nos últimos anos, os produtos que consomem muita mão de obra e têm baixo conteúdo tecnológico corresponderam a uma fatia entre 50% e 60% da pauta de exportação do país.
Esse quadro reflete deficiências da estrutura produtiva do Brasil, como a ainda reduzida capacidade de inovação tecnológica das empresas. Falhas na infraestrutura e na logística da economia também prejudicam a competitividade externa dos produtos aqui fabricados.
É verdade que, desde o início de 2009, foram justamente as exportações de commodities que permitiram manter resultados positivos na balança comercial. Os preços dessas mercadorias básicas se recuperaram mais depressa do baque da crise, e a quantidade exportada pelo Brasil, especialmente para a China, também voltou a crescer.
Tal desempenho, porém, não deveria obscurecer o fato de que o perfil das exportações brasileiras tende a se revelar um obstáculo para a manutenção de uma trajetória de crescimento forte da economia em médio prazo.
Jogaço na Vila
Jogaço na Vila ontem. Santos 3 x 3 Inter/RS. Os gaúchos Grêmio e Inter permanecem sem nunca terem vencido no alçapão. O Inter mostrou que é um excelente time. O árbitro, apesar de algumas falhas, segurou bem um jogo muito complicado.
O Santos de hoje me lembra o time de 2002 na fase classificatória. Um projeto de timaço, ofensivo, ousado, porém ainda imaturo, cometendo falhas na defesa, tomando gols bobos. E, claro, Neymar ainda não é Robinho; Paulo Henrique Ganso, um craque, ainda vai evoluir; Rodrigo Souto não é Renato; Leo está 7 anos mais velho; a zaga precisa ser reforçada; Kleber Pereira está lento e não chega perto de Alberto; Madson é muito bom, mas Elano era mais completo. Porém, temos aí as sementes de um grande time para 2010. Alô Diretoria, prestenção! Vamos reforçar a zaga e arrumar um centroavante jovem, rápido e artilheiro para termos um 2010 com títulos expressivos e grandes vitórias sobre os rivais da capital.
O Santos de hoje me lembra o time de 2002 na fase classificatória. Um projeto de timaço, ofensivo, ousado, porém ainda imaturo, cometendo falhas na defesa, tomando gols bobos. E, claro, Neymar ainda não é Robinho; Paulo Henrique Ganso, um craque, ainda vai evoluir; Rodrigo Souto não é Renato; Leo está 7 anos mais velho; a zaga precisa ser reforçada; Kleber Pereira está lento e não chega perto de Alberto; Madson é muito bom, mas Elano era mais completo. Porém, temos aí as sementes de um grande time para 2010. Alô Diretoria, prestenção! Vamos reforçar a zaga e arrumar um centroavante jovem, rápido e artilheiro para termos um 2010 com títulos expressivos e grandes vitórias sobre os rivais da capital.
Crise Financeira - Passado e Presente
No ótimo Baseline Scenario, comentários sobre fala do nosso amigo Larry Summers, em 2000, a respeito de prevenção e combate a crises em países emergentes. As semelhanças entre tais crises e a debacle recente nos EUA são grandes. Uma das diferenças fundamentais é, entretanto, o fato dos EUA serem emissores da moeda reserva, do ativo que é referência para toda a riqueza mundial sob forma financeira. Isso faz uma puta diferença, dá a eles enorme liberdade, um verdadeiro cheque em branco. O privilégio exorbitante, como diria De Gaulle. Facts of life, diriam os mais pragmáticos. O poder das armas, acrescentariam os realistas. Uma responsabilidade que deve ter como trade-off prudência em seu exercício e abertura para supervisão, creio que falariam os chineses, os russos, os alemães, etc...
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
A última de hoje
O Roach é uma luz na escuridão dos analistas de mercado.
ANÁLISE
Segundo mandato é imprudência
STEPHEN ROACH
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Barack Obama acaba de proferir um de seus mais importantes veredictos pós-crise: Ben Bernanke será indicado para um segundo mandato como presidente do Fed (o BC dos EUA). É uma decisão bastante imprudente.
Embora o comandante do banco central americano mereça crédito por sua criatividade e coragem ao orquestrar um programa incomumente agressivo de relaxamento da política monetária, é importante recordar que as ações dele antes da crise desempenharam papel igualmente crítico em preparar o terreno para a mais dolorosa recessão desde os anos 30. É como se um médico culpado de imperícia estivesse recebendo o crédito por inventar uma cura milagrosa. Talvez o paciente precise de um médico novo.
Bernanke cometeu três erros críticos em suas ações anteriores à quebra do Lehman Brothers: primeiro, e mais importante, ele tinha forte apego à convicção filosófica de que os BCs devem se comportar de forma agnóstica no que tange a bolhas de ativos. Quanto a isso, ele concordava plenamente com o seu predecessor, Alan Greenspan, criador serial de bolhas, segundo o qual as autoridades monetária estavam mais preparadas para limpar a bagunça deixada pelo estouro de uma bolha do que para tomar medidas preventivas.
Como corolário dessa abordagem, os dois extraíram conclusões erradas de estratégias pós-bolha adotadas na década. Em retrospecto, a injeção de liquidez excessiva pelo Fed entre 2001 e 2003, que Bernanke endossava fervorosamente, teve papel central na preparação do terreno para uma mistura letal de bolhas nos setores imobiliário e de crédito.
Segundo, Bernanke sempre foi o proponente intelectual da defesa que alegava "excedente mundial" de poupança para tirar dos EUA a culpa por sua propensão a bolhas, atribuindo o problema ao excesso de poupança na Ásia. Embora não se possa negar a demanda de ativos denominados em dólares por estrangeiros, é absurdo culpar as instituições de fora pelo comportamento irresponsável dos americanos, que o Fed deveria ter agido para conter.
Os responsáveis pelo excedente de poupança asiática nada tinham a ver com a irresponsável inclinação americana por estimular ainda mais uma bolha na habitação por meio de endividamento, com o uso dos proventos dessas manobras para ampliar o consumo. O argumento de Bernanke quanto ao excesso de poupança tem posição central na profunda negação pelos EUA, que se recusavam a olhar no espelho, preferindo atribuir a culpa a outros.
Terceiro, Bernanke compartilha das posturas libertárias que colocaram o Fed nessa confusão. Ele é adepto do credo proposto por Greenspan de que os mercados sabem mais que as autoridades, o que levou o Fed a abrir mão da autoridade regulatória em meio a uma era de excessos. A explosão dos derivativos, o extremo endividamento de bancos e os excessos das hipotecas eram todos flagrantes abusos aos quais tanto Bernanke quanto Greenspan podiam ter resistido. Como não o fizeram, um sistema complexo e instável escapou perigosamente ao controle.
E mesmo que esses erros sejam desconsiderados, Obama talvez esteja se precipitando ao atribuir a Bernanke o crédito por uma grande cura. Ninguém sabe ao certo se a estratégia do Fed obterá sucesso definitivo. O pior da recessão nos EUA parece ter sido contido no momento -uma consequência bastante típica, mas temporária, do ciclo de reposição de estoques que o tempo nos ensinou a reconhecer. Mas a sustentabilidade de qualquer recuperação pós-bolha está sempre em dúvida. Perguntem ao Japão, 20 anos depois que suas bolhas estouraram.
Embora os mercados ostentem esperanças insensatas de recuperação econômica, ainda existem boas razões para acreditar que a recuperação econômica dos EUA será anêmica e frágil. Os consumidores estão ainda no estágio inicial de uma reacomodação que levará anos. A extensão e a sincronia inesperadas da recessão global impedirão que a demanda por exportações americanas se torne um novo propulsor de avanço.
Seria o ápice da insensatez recompensar Bernanke por uma recuperação que não pegou. Mas a recompensa é, infelizmente, típica dos juízos apressados que orientam as decisões de Washington. Da mesma forma, é difícil esquecer o discurso "missão cumprida", em 2004, no qual Greenspan alegava que "nossa estratégia de lidar com as consequências da bolha, e não com a bolha em si, se provou bem sucedida". Devido à ansiedade de declarar que a crise acabou, o veredicto de Obama pode se provar igualmente prematuro.
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O autor é presidente do conselho do Morgan Stanley Asia e autor de "The Next Asia" [a próxima Ásia], que sai no mês que vem.
ANÁLISE
Segundo mandato é imprudência
STEPHEN ROACH
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Barack Obama acaba de proferir um de seus mais importantes veredictos pós-crise: Ben Bernanke será indicado para um segundo mandato como presidente do Fed (o BC dos EUA). É uma decisão bastante imprudente.
Embora o comandante do banco central americano mereça crédito por sua criatividade e coragem ao orquestrar um programa incomumente agressivo de relaxamento da política monetária, é importante recordar que as ações dele antes da crise desempenharam papel igualmente crítico em preparar o terreno para a mais dolorosa recessão desde os anos 30. É como se um médico culpado de imperícia estivesse recebendo o crédito por inventar uma cura milagrosa. Talvez o paciente precise de um médico novo.
Bernanke cometeu três erros críticos em suas ações anteriores à quebra do Lehman Brothers: primeiro, e mais importante, ele tinha forte apego à convicção filosófica de que os BCs devem se comportar de forma agnóstica no que tange a bolhas de ativos. Quanto a isso, ele concordava plenamente com o seu predecessor, Alan Greenspan, criador serial de bolhas, segundo o qual as autoridades monetária estavam mais preparadas para limpar a bagunça deixada pelo estouro de uma bolha do que para tomar medidas preventivas.
Como corolário dessa abordagem, os dois extraíram conclusões erradas de estratégias pós-bolha adotadas na década. Em retrospecto, a injeção de liquidez excessiva pelo Fed entre 2001 e 2003, que Bernanke endossava fervorosamente, teve papel central na preparação do terreno para uma mistura letal de bolhas nos setores imobiliário e de crédito.
Segundo, Bernanke sempre foi o proponente intelectual da defesa que alegava "excedente mundial" de poupança para tirar dos EUA a culpa por sua propensão a bolhas, atribuindo o problema ao excesso de poupança na Ásia. Embora não se possa negar a demanda de ativos denominados em dólares por estrangeiros, é absurdo culpar as instituições de fora pelo comportamento irresponsável dos americanos, que o Fed deveria ter agido para conter.
Os responsáveis pelo excedente de poupança asiática nada tinham a ver com a irresponsável inclinação americana por estimular ainda mais uma bolha na habitação por meio de endividamento, com o uso dos proventos dessas manobras para ampliar o consumo. O argumento de Bernanke quanto ao excesso de poupança tem posição central na profunda negação pelos EUA, que se recusavam a olhar no espelho, preferindo atribuir a culpa a outros.
Terceiro, Bernanke compartilha das posturas libertárias que colocaram o Fed nessa confusão. Ele é adepto do credo proposto por Greenspan de que os mercados sabem mais que as autoridades, o que levou o Fed a abrir mão da autoridade regulatória em meio a uma era de excessos. A explosão dos derivativos, o extremo endividamento de bancos e os excessos das hipotecas eram todos flagrantes abusos aos quais tanto Bernanke quanto Greenspan podiam ter resistido. Como não o fizeram, um sistema complexo e instável escapou perigosamente ao controle.
E mesmo que esses erros sejam desconsiderados, Obama talvez esteja se precipitando ao atribuir a Bernanke o crédito por uma grande cura. Ninguém sabe ao certo se a estratégia do Fed obterá sucesso definitivo. O pior da recessão nos EUA parece ter sido contido no momento -uma consequência bastante típica, mas temporária, do ciclo de reposição de estoques que o tempo nos ensinou a reconhecer. Mas a sustentabilidade de qualquer recuperação pós-bolha está sempre em dúvida. Perguntem ao Japão, 20 anos depois que suas bolhas estouraram.
Embora os mercados ostentem esperanças insensatas de recuperação econômica, ainda existem boas razões para acreditar que a recuperação econômica dos EUA será anêmica e frágil. Os consumidores estão ainda no estágio inicial de uma reacomodação que levará anos. A extensão e a sincronia inesperadas da recessão global impedirão que a demanda por exportações americanas se torne um novo propulsor de avanço.
Seria o ápice da insensatez recompensar Bernanke por uma recuperação que não pegou. Mas a recompensa é, infelizmente, típica dos juízos apressados que orientam as decisões de Washington. Da mesma forma, é difícil esquecer o discurso "missão cumprida", em 2004, no qual Greenspan alegava que "nossa estratégia de lidar com as consequências da bolha, e não com a bolha em si, se provou bem sucedida". Devido à ansiedade de declarar que a crise acabou, o veredicto de Obama pode se provar igualmente prematuro.
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O autor é presidente do conselho do Morgan Stanley Asia e autor de "The Next Asia" [a próxima Ásia], que sai no mês que vem.
Contradições, Hipocrisia
Pois bem, voltemos, hoje o material está farto. O Vinicius Freire, na Folha, toca num ponto interessante. As versões mudam conforme a ocasião e o interessado.
É a guerrinha PT-PSDB que tanto mal causa ao país. Soma-se a isso a inépcia e a falta de substância dos parlamentares. As versões mudam conforme as circunstâncias, as conveniências políticas, é bisonho. Estilo 1984 mesmo.
VINICIUS TORRES FREIRE
Odor de santidade
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Para oposição, Lina passou de "sindicalista" a "mártir'; para o governo, de "fiscal do grande capital" a "inepta ressentida"
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NÃO FAZ MUITO tempo, Lina Vieira era a madrinha do assalto da "república sindicalista" aos postos-chave da Receita Federal. O tucanismo, na política e na mídia, e a oposição em geral estrilavam contra Lina, capataz de mais uma onda de "politização de um órgão técnico" no governo Lula.
"Meses depois...", como dizem aqueles letreiros de novela, Lina largou uma casca de banana no meio do caminho de Dilma Rousseff, que nela pisou e escorregou, afoita e esbaforida na manhã ainda de sua caminhada planaltina -para o Planalto. Então, a mesma torcida que espinafrava a ex-secretária da Receita faz dela uma espécie de mártir do serviço público, demitida em prejuízo do rigor tributário, pois Lina teria caído por multar demais grandes empresas e contrariar outros interesses, dentro e fora do governo.
Para o governo e o governismo, a nomeação de Lina representava, enfim, a mudança de um "esquema viciado" de poder, que predominaria na Receita Federal desde FHC. Agora, a ex-secretária da Receita não passa de uma inepta que não soube tocar as reformas pautadas pelo governo, que trocou as mãos pelos pés ao lidar com os casos da família Sarney e da Petrobras (empresa que "devemos amar", diz o governo), que cai atirando contra a premiê de Lula por ser uma tresloucada ressentida.
Mas não se sabe quase nada do que se passou na gestão Lina Vieira.
Não é possível, por ora, dizer que aquele banco, aquela montadora e aquela siderúrgica, supostamente multadas ou contrariadas pela Receita, tiveram algum papel na queda de Lina. Não se conhecem bem os lados e os motivos do tiroteio interno da Receita, que tem quase tantos partidos como a Polícia Federal.
Se o Congresso não fosse esse contubérnio de desclassificados ou, quando muito, de promotores da chacrinha politiqueira, poderíamos vir a saber algo. Mas a oposição, na falta de programa de oposição ao lulismo, tira apenas casquinhas de banana da infinita capacidade do lulismo de malversar a República.
Sabe-se apenas e mais uma vez que o indo e vindo da cara-de-pau de oposição e governo é infinito. Depois da transmutação da imagem de Lina, sobreveio a da senadora Marina Silva que, de "santa verde", "indiazinha", madrinha do boitatá, do curupira e defensora do reacionarismo ambiental, entre outros insultos (de governo e oposição, do DEM em especial), tornou-se "santa ética" e, por contraste, imagem viva da podreira política do PT, para alegria hipócrita da maioria da oposição.
Oposição que acordou apenas ontem, a seis dias da festa do pré-sal de Lula, para a necessidade de submeter a mudança das leis do petróleo a debates públicos, leis que o governo Lula quer aprovar com urgência suspeitíssima. Mas o que esperar de uma oposição, PSDB, DEM e cia., que fala contra a "gastança" de Lula e aprova todos os aumento de gastos com servidores propostos pelo lulismo? Que aprova sem piar o desbaratamento da reforma previdenciária de FHC (votando a indexação das aposentadorias do INSS etc.)? Que faz biquinho contra o estatismo e aprova o aumento da dívida pública a fim de dar fundos ao BNDES? Que faz lobby para que o BNDES ajude empresas amigas trumbicadas ou em processo "fusões & aquisições"?
É a guerrinha PT-PSDB que tanto mal causa ao país. Soma-se a isso a inépcia e a falta de substância dos parlamentares. As versões mudam conforme as circunstâncias, as conveniências políticas, é bisonho. Estilo 1984 mesmo.
VINICIUS TORRES FREIRE
Odor de santidade
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Para oposição, Lina passou de "sindicalista" a "mártir'; para o governo, de "fiscal do grande capital" a "inepta ressentida"
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NÃO FAZ MUITO tempo, Lina Vieira era a madrinha do assalto da "república sindicalista" aos postos-chave da Receita Federal. O tucanismo, na política e na mídia, e a oposição em geral estrilavam contra Lina, capataz de mais uma onda de "politização de um órgão técnico" no governo Lula.
"Meses depois...", como dizem aqueles letreiros de novela, Lina largou uma casca de banana no meio do caminho de Dilma Rousseff, que nela pisou e escorregou, afoita e esbaforida na manhã ainda de sua caminhada planaltina -para o Planalto. Então, a mesma torcida que espinafrava a ex-secretária da Receita faz dela uma espécie de mártir do serviço público, demitida em prejuízo do rigor tributário, pois Lina teria caído por multar demais grandes empresas e contrariar outros interesses, dentro e fora do governo.
Para o governo e o governismo, a nomeação de Lina representava, enfim, a mudança de um "esquema viciado" de poder, que predominaria na Receita Federal desde FHC. Agora, a ex-secretária da Receita não passa de uma inepta que não soube tocar as reformas pautadas pelo governo, que trocou as mãos pelos pés ao lidar com os casos da família Sarney e da Petrobras (empresa que "devemos amar", diz o governo), que cai atirando contra a premiê de Lula por ser uma tresloucada ressentida.
Mas não se sabe quase nada do que se passou na gestão Lina Vieira.
Não é possível, por ora, dizer que aquele banco, aquela montadora e aquela siderúrgica, supostamente multadas ou contrariadas pela Receita, tiveram algum papel na queda de Lina. Não se conhecem bem os lados e os motivos do tiroteio interno da Receita, que tem quase tantos partidos como a Polícia Federal.
Se o Congresso não fosse esse contubérnio de desclassificados ou, quando muito, de promotores da chacrinha politiqueira, poderíamos vir a saber algo. Mas a oposição, na falta de programa de oposição ao lulismo, tira apenas casquinhas de banana da infinita capacidade do lulismo de malversar a República.
Sabe-se apenas e mais uma vez que o indo e vindo da cara-de-pau de oposição e governo é infinito. Depois da transmutação da imagem de Lina, sobreveio a da senadora Marina Silva que, de "santa verde", "indiazinha", madrinha do boitatá, do curupira e defensora do reacionarismo ambiental, entre outros insultos (de governo e oposição, do DEM em especial), tornou-se "santa ética" e, por contraste, imagem viva da podreira política do PT, para alegria hipócrita da maioria da oposição.
Oposição que acordou apenas ontem, a seis dias da festa do pré-sal de Lula, para a necessidade de submeter a mudança das leis do petróleo a debates públicos, leis que o governo Lula quer aprovar com urgência suspeitíssima. Mas o que esperar de uma oposição, PSDB, DEM e cia., que fala contra a "gastança" de Lula e aprova todos os aumento de gastos com servidores propostos pelo lulismo? Que aprova sem piar o desbaratamento da reforma previdenciária de FHC (votando a indexação das aposentadorias do INSS etc.)? Que faz biquinho contra o estatismo e aprova o aumento da dívida pública a fim de dar fundos ao BNDES? Que faz lobby para que o BNDES ajude empresas amigas trumbicadas ou em processo "fusões & aquisições"?
Euforia desmedida
Novo artigo do Paulo Rabello de Castro alertando para a desmedida euforia que toma conta dos mercados. Vendedores de ilusões, especuladores, os eternos otimistas estão aí proclamando que a crise mundial ficou para trás, etc... Novas bolhas vão surgindo. Os traders realizam lucros no dia-dia do compra e vende, recebem novos bônus bilionários, jogam duro contra tentativas de regulação.
Na economia real, no mundo real, temos: trilhões em ativos podres nos balanços dos bancos nos EUA e na Europa, além de uns restos na Ásia; desemprego crescente; mercado imobiliário em pasmaceira; setor privado endividado; risco de deflação, o que aumenta a dívida em proporção à receita. Há algum país aí que pensa em retomar o crescimento via exportação? Para onde? Se todos desejarem crescer via exportações, não vai dar certo. Avisem aos EUA, à Alemanha e a outros que desejam movimentar a economia com base na demanda de outros países. A situação, repito, é muito complicada. Parece que vamos para um W ou talvez para um prolongado U.
No caso brasileiro, pau no mercado interno, vamos prosseguir na inclusão social e no aumento da demanda reprimida dos mais pobres. Isso significa bolsa família, salário mínimo, habitação, crédito, mais crédito a juros civilizados. Além de gastos com infra-estrutura. Adianto que a conta corrente vai estourar em 2010 com o crescimento, essa seria mais uma razão para ficarmos muito atentos no câmbio. Aliás, saíram os dados de julho da conta corrente. São melhores que em 2008, devido à queda mais expressiva das importações, mas a curva está se estabilizando e os dados devem voltar a se deteriorar ainda antes do final do ano.
Enfim, vamos ao artigo do Paulo.
PAULO RABELLO DE CASTRO
Comprados comandam o espetáculo
--------------------------------------------------------------------------------
Corretoras recomendam apostas de compra; suas previsões costumam alimentar a própria profecia
--------------------------------------------------------------------------------
TODOS OS sintomas são de uma euforia mal disfarçada. Se um marciano pousasse no planeta Terra e se pusesse a ler o noticiário econômico, jamais deduziria, pela leitura de tantas declarações de entusiasmo oficial, o tamanho do buraco na economia produtiva do mundo. Nem tampouco poderia concluir algo negativo ou preocupante quando consultasse as cotações meteóricas dos principais mercados, onde os comprados ganham com folga nas apostas contra os vendidos. Desde março e, no Brasil, desde dezembro do ano passado, as Bolsas vêm recuperando boa parte do que haviam deixado para trás no pico anterior ao crash de outubro de 2008. Os ganhos são da ordem de 50%, em média, mas o índice Bovespa, por exemplo, se corrigido para dólares, ainda incorpora a apreciação do real, para situar-se na faixa de 90% de valorização. Em 90% também estava, até recentemente, o avanço da Bolsa chinesa, de Xangai, antes de cair para 70% nos últimos dias. O petróleo não faz por menos, agora com 100% de aumento sobre a mínima anterior. Diversas outras cotações de commodities minerais e agrícolas seguem pelo mesmo caminho.
Há espaço para mais valorizações? Os comprados não têm dúvida de que sim. Corretoras norte-americanas recomendam apostas de compra; suas previsões costumam alimentar a própria profecia. Com juros a quase zero, os fundos de hedge têm incentivo para voltar a tomar empréstimos e dobrar suas apostas.
É o cenário da bolha que se forma de novo, sob os auspícios das autoridades monetárias encarregadas de identificar e sanar desequilíbrios perigosos entre os mundos financeiro e produtivo. Este, no entanto, ficará, bastante tempo ainda, a reboque da euforia dos especuladores. O comércio mundial segue deprimido, operando a 80% do nível pré-crise. O uso da capacidade produtiva nos EUA está em 68%, recorde de baixa em toda a série histórica. E os lucros das empresas projetam deságio da ordem de 40% sobre as previsões de 12 meses atrás. A relação entre o preço médio das ações e o lucro das empresas negociadas na Bolsa de Nova York é surpreendente: no mínimo 70 vezes, o que denotaria uma hipervalorização, já que os mercados, mesmo quando inflados, não costumam operar acima de uma faixa de 30 a 40 vezes.
O economista Joseph Stiglitz, em exclusiva para a Folha, alertou que o modelo de consumo americano estava "quebrado". Referia-se ao modelo de financiamento do consumo das famílias nos EUA, que permitiu a alavancagem alucinada de créditos lastreados em bens imóveis, cujas hipotecas são hoje impagáveis. E lembrava, com explícito ceticismo, que o modo de resgate das instituições financeiras do seu país custou centenas de bilhões de dólares aos contribuintes.
O conjunto da sociedade americana hoje deve quase 400% do PIB.
Essa é a questão, embora não apontada por Stiglitz, que permeia o cenário de saída prolongada da crise. Responde a este enigma quem conseguir calcular em quanto tempo o sistema produtivo mundial conseguirá se equilibrar diante dos passivos financeiros existentes. Infelizmente, nenhuma outra região do planeta, a China inclusive, está preparada para absorver aquela parte da demanda que "quebrou". O tempo para reconstituir tal equilíbrio não se calcula em meses, mas em anos. Até um marciano desconfiará de que os otimistas estão a ponto de perder o juízo.
Uma correção fundamental, ainda neste ciclo, é apenas questão de tempo. Mas quanto?
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PAULO RABELLO DE CASTRO , 60, doutor em economia pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio-SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
Na economia real, no mundo real, temos: trilhões em ativos podres nos balanços dos bancos nos EUA e na Europa, além de uns restos na Ásia; desemprego crescente; mercado imobiliário em pasmaceira; setor privado endividado; risco de deflação, o que aumenta a dívida em proporção à receita. Há algum país aí que pensa em retomar o crescimento via exportação? Para onde? Se todos desejarem crescer via exportações, não vai dar certo. Avisem aos EUA, à Alemanha e a outros que desejam movimentar a economia com base na demanda de outros países. A situação, repito, é muito complicada. Parece que vamos para um W ou talvez para um prolongado U.
No caso brasileiro, pau no mercado interno, vamos prosseguir na inclusão social e no aumento da demanda reprimida dos mais pobres. Isso significa bolsa família, salário mínimo, habitação, crédito, mais crédito a juros civilizados. Além de gastos com infra-estrutura. Adianto que a conta corrente vai estourar em 2010 com o crescimento, essa seria mais uma razão para ficarmos muito atentos no câmbio. Aliás, saíram os dados de julho da conta corrente. São melhores que em 2008, devido à queda mais expressiva das importações, mas a curva está se estabilizando e os dados devem voltar a se deteriorar ainda antes do final do ano.
Enfim, vamos ao artigo do Paulo.
PAULO RABELLO DE CASTRO
Comprados comandam o espetáculo
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Corretoras recomendam apostas de compra; suas previsões costumam alimentar a própria profecia
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TODOS OS sintomas são de uma euforia mal disfarçada. Se um marciano pousasse no planeta Terra e se pusesse a ler o noticiário econômico, jamais deduziria, pela leitura de tantas declarações de entusiasmo oficial, o tamanho do buraco na economia produtiva do mundo. Nem tampouco poderia concluir algo negativo ou preocupante quando consultasse as cotações meteóricas dos principais mercados, onde os comprados ganham com folga nas apostas contra os vendidos. Desde março e, no Brasil, desde dezembro do ano passado, as Bolsas vêm recuperando boa parte do que haviam deixado para trás no pico anterior ao crash de outubro de 2008. Os ganhos são da ordem de 50%, em média, mas o índice Bovespa, por exemplo, se corrigido para dólares, ainda incorpora a apreciação do real, para situar-se na faixa de 90% de valorização. Em 90% também estava, até recentemente, o avanço da Bolsa chinesa, de Xangai, antes de cair para 70% nos últimos dias. O petróleo não faz por menos, agora com 100% de aumento sobre a mínima anterior. Diversas outras cotações de commodities minerais e agrícolas seguem pelo mesmo caminho.
Há espaço para mais valorizações? Os comprados não têm dúvida de que sim. Corretoras norte-americanas recomendam apostas de compra; suas previsões costumam alimentar a própria profecia. Com juros a quase zero, os fundos de hedge têm incentivo para voltar a tomar empréstimos e dobrar suas apostas.
É o cenário da bolha que se forma de novo, sob os auspícios das autoridades monetárias encarregadas de identificar e sanar desequilíbrios perigosos entre os mundos financeiro e produtivo. Este, no entanto, ficará, bastante tempo ainda, a reboque da euforia dos especuladores. O comércio mundial segue deprimido, operando a 80% do nível pré-crise. O uso da capacidade produtiva nos EUA está em 68%, recorde de baixa em toda a série histórica. E os lucros das empresas projetam deságio da ordem de 40% sobre as previsões de 12 meses atrás. A relação entre o preço médio das ações e o lucro das empresas negociadas na Bolsa de Nova York é surpreendente: no mínimo 70 vezes, o que denotaria uma hipervalorização, já que os mercados, mesmo quando inflados, não costumam operar acima de uma faixa de 30 a 40 vezes.
O economista Joseph Stiglitz, em exclusiva para a Folha, alertou que o modelo de consumo americano estava "quebrado". Referia-se ao modelo de financiamento do consumo das famílias nos EUA, que permitiu a alavancagem alucinada de créditos lastreados em bens imóveis, cujas hipotecas são hoje impagáveis. E lembrava, com explícito ceticismo, que o modo de resgate das instituições financeiras do seu país custou centenas de bilhões de dólares aos contribuintes.
O conjunto da sociedade americana hoje deve quase 400% do PIB.
Essa é a questão, embora não apontada por Stiglitz, que permeia o cenário de saída prolongada da crise. Responde a este enigma quem conseguir calcular em quanto tempo o sistema produtivo mundial conseguirá se equilibrar diante dos passivos financeiros existentes. Infelizmente, nenhuma outra região do planeta, a China inclusive, está preparada para absorver aquela parte da demanda que "quebrou". O tempo para reconstituir tal equilíbrio não se calcula em meses, mas em anos. Até um marciano desconfiará de que os otimistas estão a ponto de perder o juízo.
Uma correção fundamental, ainda neste ciclo, é apenas questão de tempo. Mas quanto?
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PAULO RABELLO DE CASTRO , 60, doutor em economia pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio-SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
Crise na Receita?!
Sobre Lina, Dilma, Lina-Dilma, Dilma-Lina, manchetes, comentários, opiniões, convocações para depoimentos e toda essa barafunda, Bob Fernandes vai ao ex-Secretário da Receita no Governo FHC e colhe uma entrevista corajosa. Corajosa porque, mesmo sendo do governo anterior, ele se recusa a ficar no lugar comum, se recusa a fazer o jogo eleitoral, não cai na manada simplista que toma conta da nossa decadente e desesperada grande imprensa.
A Estrada da Vida
O cinema em momento magistral pelas mãos de Fellini. Uma obra de arte que colocaria lado a lado com as já citadas Trilogia da Vida e Ladrões de Bicicleta.
Novos lances
Novos lances em decorrência da Operação Satiagraha surgem pela blogosfera. Começa a ficar mais óbvio do que nunca a razão pela qual houve uma reação tão poderosa à deflagração da operação. Supostamente, tudo em nome do Estado de Direito, das liberdades democráticas, dos riscos de um Estado Policial.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Agenda
Bom, no dia 31, além da série do Silvio Tendler, teremos, bem mais importante, o lançamento do marco regulatório do Pré-Sal. Os lobbies estão à solta nos jornais, em revistas, notinhas, entrevistas, artigos, "estudos", "consultores". É uma luta feroz, sanguinária, suja. O marco regulatório irá ao Congresso e aí veremos algumas coisas muito interessantes. Seria bom também que os pré-candidatos se posicionassem sobre esse tema fundamental.
A próxima reunião do COPOM também será divertida, anotem, 1 e 2 de setembro. A bancada dos "juristas" vai clamar pela manutenção da taxa no nível atual. Argumentarão que o cenário é incerto, que há um descontrole fiscal, etc... etc... e tal. Haverá ainda alguma luta política e ideológica no país até que o setor rentista tome consciência de que deve ganhar dinheiro na produção e não parasitando o resto do país. Após décadas na ciranda, será realmente uma mudança cultural de monta que o país tenha juros civilizados. Há ainda muito espaço para aumentarmos o volume de crédito no PIB (hoje está em +-43%), especialmente no setor de habitação, cuja demanda reprimida é grotescamente alta no Brasil.
O julgamento do Pallocci no STF é na 5a feira. Parece que será absolvido.
Temos aí também São Paulo x Palmeiras no brasileirão, o Santos em busca da libertadores, o trio carioca na segundona, o Goiás com um time muito bom (atacante Felipe, Iarley, Fernandão, dois excelentes laterais, belo time), o Inter buscando se recuperar.
Aguardamos também o relatório final do TCU sobre o PAN no RJ. Hoje li que esse negócio ainda não saiu. Difíííícil, de repente sai no dia 29 de dezembro...
Há também a CPI da Petrobrás, ai ai ai, no meio da discussão sobre o Pré-Sal. Sarney é passado, Lina-Dilma também faleceu por absoluta falta de provas, então a novela da vez deve ser a CPI da Petrobrás.
Bom, o G-20 em Pittsburgh, 24 e 25 de setembro, dispensa comentários. Há coisas interessantes rolando.
Pretendo dar um pitaco também sobre urbanismo. Os Planos Diretores de SP, do DF, e creio que outros, estão sendo detonados. O Plano Diretor é fundamental para colocar algum ordenamento, mínimo que seja, diretrizes que sejam, no crescimento das cidades. É tudo que SP não teve, planejamento. Aliás, em SP, hoje, nova remoção de favelas com a tropa de choque chegando 6 da manhã. Cabe lembrar também que a Lei Cidade Limpa de Sampa está sendo devidamente rasgada, temporariamente, pelos distintos vereadores, com apoio da Prefeitura.
Há coisas boas também acontecendo, eu sei, mas esse blog é sobre a crise, o Brasil e o mundo, escolhas e omissões que traçarão nosso futuro. Portanto prefiro me ater, na maioria das vezes, ao que tá errado, andando pra trás, andando de lado, tropeçando, caindo, reclamando. Sempre gostei do alambrado nos estádios, sempre gostei de ficar ali embaixo, na corneta mesmo.
A próxima reunião do COPOM também será divertida, anotem, 1 e 2 de setembro. A bancada dos "juristas" vai clamar pela manutenção da taxa no nível atual. Argumentarão que o cenário é incerto, que há um descontrole fiscal, etc... etc... e tal. Haverá ainda alguma luta política e ideológica no país até que o setor rentista tome consciência de que deve ganhar dinheiro na produção e não parasitando o resto do país. Após décadas na ciranda, será realmente uma mudança cultural de monta que o país tenha juros civilizados. Há ainda muito espaço para aumentarmos o volume de crédito no PIB (hoje está em +-43%), especialmente no setor de habitação, cuja demanda reprimida é grotescamente alta no Brasil.
O julgamento do Pallocci no STF é na 5a feira. Parece que será absolvido.
Temos aí também São Paulo x Palmeiras no brasileirão, o Santos em busca da libertadores, o trio carioca na segundona, o Goiás com um time muito bom (atacante Felipe, Iarley, Fernandão, dois excelentes laterais, belo time), o Inter buscando se recuperar.
Aguardamos também o relatório final do TCU sobre o PAN no RJ. Hoje li que esse negócio ainda não saiu. Difíííícil, de repente sai no dia 29 de dezembro...
Há também a CPI da Petrobrás, ai ai ai, no meio da discussão sobre o Pré-Sal. Sarney é passado, Lina-Dilma também faleceu por absoluta falta de provas, então a novela da vez deve ser a CPI da Petrobrás.
Bom, o G-20 em Pittsburgh, 24 e 25 de setembro, dispensa comentários. Há coisas interessantes rolando.
Pretendo dar um pitaco também sobre urbanismo. Os Planos Diretores de SP, do DF, e creio que outros, estão sendo detonados. O Plano Diretor é fundamental para colocar algum ordenamento, mínimo que seja, diretrizes que sejam, no crescimento das cidades. É tudo que SP não teve, planejamento. Aliás, em SP, hoje, nova remoção de favelas com a tropa de choque chegando 6 da manhã. Cabe lembrar também que a Lei Cidade Limpa de Sampa está sendo devidamente rasgada, temporariamente, pelos distintos vereadores, com apoio da Prefeitura.
Há coisas boas também acontecendo, eu sei, mas esse blog é sobre a crise, o Brasil e o mundo, escolhas e omissões que traçarão nosso futuro. Portanto prefiro me ater, na maioria das vezes, ao que tá errado, andando pra trás, andando de lado, tropeçando, caindo, reclamando. Sempre gostei do alambrado nos estádios, sempre gostei de ficar ali embaixo, na corneta mesmo.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Garrincha - A Alegria do Povo
Obra-prima de Joaquim Pedro de Andrade. Melhor documentário sobre futebol que já vi. É mais do que sobre futebol, né, é sobre um artista, o povo, uma paixão, a bola, o gol, o teatro, o espetáculo. Foi recentemente lançado em DVD. Sugiro aos interessados que comprem logo a caixa do Joaquim, inclui Macunaíma, um trabalho sobre Oswald de Andrade e os modernistas, além de outras maravilhas do cinema nacional. São coisas que realmente não têm preço.
sábado, 22 de agosto de 2009
Fim-de-semana
Neste fim-de-semana ensolarado de Brasília, vou tentar postar apenas coisas leves. Câmbio é um assunto vetado.
Para evitar a apreciação do câmbio
Recorro ao mestre Belluzzo. Há também a possibilidade de uma quarentena, mas creio que isso talvez não adiante muito, pois as boas perspectivas da economia brasileira e um cenário desolador nos países desenvolvidos devem se manter por um tempo looongo.
No Valor de hoje:
A situação extremamente confortável do balanço de pagamentos dá margem de manobra para o governo brasileiro intervir no câmbio e evitar uma valorização excessiva do real, diz o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. Para ele, como o fantasma de uma crise cambial está fora do horizonte, há espaço e segurança para a adoção de medidas como a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações em renda fixa e ações, que poderiam ter efeitos colaterais desagradáveis caso a situação externa não fosse tão boa.
Belluzzo diz que a desvalorização do dólar no mercado internacional e a alta recente dos preços de commodities são insuficientes para explicar a magnitude da apreciação do real em 2009 - neste ano, a valorização da moeda brasileira é de 26,62%. Para ele, os recursos destinados a aproveitar o diferencial entre os juros externos e internos e para a Bolsa têm um papel fundamental no fortalecimento do câmbio. Como os juros devem permanecer próximos de zero nos principais países desenvolvidos por um bom tempo e a taxa Selic no Brasil tende a ficar perto do nível atual, de 8,75% ao ano, o espaço para operações de arbitragem segue elevado.
Segundo Belluzzo, os investidores externos estão antecipando um cenário de robustez do balanço de pagamentos nos próximos anos. A demanda global pelas commodities exportadas pelo Brasil vai continuar forte, e o país contará num futuro não muito distante com os recursos do petróleo do pré-sal, uma combinação que afasta o risco de crises cambiais graves. Isso dá segurança para os estrangeiros trazerem dinheiro para o Brasil, tanto para aplicar em títulos de renda fixa como na Bolsa. A avalanche de recursos para o mercado de ações, que aumenta os preços dos papéis e ajuda a valorizar o câmbio, acaba por incentivar a entrada de mais dólares, num processo que se auto-alimenta, afirma ele, interlocutor frequente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos econômicos.
Para combater esses movimentos, Belluzzo acha que é a hora de instituir a cobrança do IOF para o dinheiro que vem ao Brasil para títulos de renda fixa ou para o mercado de ações. Entre março e outubro do ano passado, o governo adotou uma alíquota de 1,5% para as aplicações estrangeiras em renda fixa. O professor da Unicamp defende uma taxa maior dessa vez, para desestimular a entrada de dinheiro de curto prazo. "É preciso colocar areia nessa engrenagem", diz ele, observando que o real é hoje a moeda mais líquida entre os países emergentes, característica que incentiva operações especulativas.
Belluzzo rechaça a ideia de que a tributação do fluxo para o mercado acionário atrapalharia uma fonte importante de financiamento para as empresas brasileiras. Segundo ele, a maior parte do dinheiro que entra na bolsa não tem sido destinada às ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês), mas sim para a aquisição de papéis negociados no mercado secundário- ou seja, os recursos estrangeiros não vão para o caixa das companhias e ainda podem ajudar a formar uma nova bolha na bolsa.
Além da cobrança do IOF na renda fixa e na bolsa, Belluzzo sugere a elevação dos depósitos de margem para operação no mercado futuro de câmbio. É outro mecanismo para encarecer as apostas na apreciação do real, diz ele, para quem também seria importante interferir nas posições cambiais dos bancos.
Com esse conjunto de medidas, a especulação com o real ficaria mais difícil, acredita o professor da Unicamp. Alguma queda adicional da taxa Selic, num quadro inflacionário tranquilo, também ajudaria, ao reduzir o diferencial entre os juros internos e externos. Com a perspectiva de que as contas externas continuarão sólidas nos próximos anos, Belluzzo acredita que o país pode adotar essas medidas sem o risco de afugentar o capital externo do país num segundo momento.
A grande preocupação de Belluzzo é o efeito do dólar barato sobre a indústria manufatureira. Com um câmbio excessivamente valorizado, a atividade de empresas que fabricam produtos de maior valor agregado e geram empregos de maior qualificação pode ser duramente atingida, acredita ele.
Segundo ele, a mudança na composição da demanda global nos últimos anos, marcada pela ascensão da China, favoreceu o Brasil na crise. Nesta turbulência, a procura por commodities foi bem menos afetada do que a por produtos manufaturados. "Foi o oposto do que ocorreu na crise dos anos 30", afirma Belluzzo. Grande exportador de produtos primários, o país beneficiou-se desse movimento, puxado principalmente pela China. O problema é que a especialização exagerada na produção de commodities pode causar problemas para um país grande e populoso como o Brasil.
No Valor de hoje:
A situação extremamente confortável do balanço de pagamentos dá margem de manobra para o governo brasileiro intervir no câmbio e evitar uma valorização excessiva do real, diz o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. Para ele, como o fantasma de uma crise cambial está fora do horizonte, há espaço e segurança para a adoção de medidas como a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações em renda fixa e ações, que poderiam ter efeitos colaterais desagradáveis caso a situação externa não fosse tão boa.
Belluzzo diz que a desvalorização do dólar no mercado internacional e a alta recente dos preços de commodities são insuficientes para explicar a magnitude da apreciação do real em 2009 - neste ano, a valorização da moeda brasileira é de 26,62%. Para ele, os recursos destinados a aproveitar o diferencial entre os juros externos e internos e para a Bolsa têm um papel fundamental no fortalecimento do câmbio. Como os juros devem permanecer próximos de zero nos principais países desenvolvidos por um bom tempo e a taxa Selic no Brasil tende a ficar perto do nível atual, de 8,75% ao ano, o espaço para operações de arbitragem segue elevado.
Segundo Belluzzo, os investidores externos estão antecipando um cenário de robustez do balanço de pagamentos nos próximos anos. A demanda global pelas commodities exportadas pelo Brasil vai continuar forte, e o país contará num futuro não muito distante com os recursos do petróleo do pré-sal, uma combinação que afasta o risco de crises cambiais graves. Isso dá segurança para os estrangeiros trazerem dinheiro para o Brasil, tanto para aplicar em títulos de renda fixa como na Bolsa. A avalanche de recursos para o mercado de ações, que aumenta os preços dos papéis e ajuda a valorizar o câmbio, acaba por incentivar a entrada de mais dólares, num processo que se auto-alimenta, afirma ele, interlocutor frequente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos econômicos.
Para combater esses movimentos, Belluzzo acha que é a hora de instituir a cobrança do IOF para o dinheiro que vem ao Brasil para títulos de renda fixa ou para o mercado de ações. Entre março e outubro do ano passado, o governo adotou uma alíquota de 1,5% para as aplicações estrangeiras em renda fixa. O professor da Unicamp defende uma taxa maior dessa vez, para desestimular a entrada de dinheiro de curto prazo. "É preciso colocar areia nessa engrenagem", diz ele, observando que o real é hoje a moeda mais líquida entre os países emergentes, característica que incentiva operações especulativas.
Belluzzo rechaça a ideia de que a tributação do fluxo para o mercado acionário atrapalharia uma fonte importante de financiamento para as empresas brasileiras. Segundo ele, a maior parte do dinheiro que entra na bolsa não tem sido destinada às ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês), mas sim para a aquisição de papéis negociados no mercado secundário- ou seja, os recursos estrangeiros não vão para o caixa das companhias e ainda podem ajudar a formar uma nova bolha na bolsa.
Além da cobrança do IOF na renda fixa e na bolsa, Belluzzo sugere a elevação dos depósitos de margem para operação no mercado futuro de câmbio. É outro mecanismo para encarecer as apostas na apreciação do real, diz ele, para quem também seria importante interferir nas posições cambiais dos bancos.
Com esse conjunto de medidas, a especulação com o real ficaria mais difícil, acredita o professor da Unicamp. Alguma queda adicional da taxa Selic, num quadro inflacionário tranquilo, também ajudaria, ao reduzir o diferencial entre os juros internos e externos. Com a perspectiva de que as contas externas continuarão sólidas nos próximos anos, Belluzzo acredita que o país pode adotar essas medidas sem o risco de afugentar o capital externo do país num segundo momento.
A grande preocupação de Belluzzo é o efeito do dólar barato sobre a indústria manufatureira. Com um câmbio excessivamente valorizado, a atividade de empresas que fabricam produtos de maior valor agregado e geram empregos de maior qualificação pode ser duramente atingida, acredita ele.
Segundo ele, a mudança na composição da demanda global nos últimos anos, marcada pela ascensão da China, favoreceu o Brasil na crise. Nesta turbulência, a procura por commodities foi bem menos afetada do que a por produtos manufaturados. "Foi o oposto do que ocorreu na crise dos anos 30", afirma Belluzzo. Grande exportador de produtos primários, o país beneficiou-se desse movimento, puxado principalmente pela China. O problema é que a especialização exagerada na produção de commodities pode causar problemas para um país grande e populoso como o Brasil.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Reiterando Recomendação
O blog do José Cruz é ótimo. Imagina se fôssemos depender da cobertura da Globo, sócia do Pan, da Copa e das Olimpíadas? Ou de outros membros do oligopólio?
É por isso que assino embaixo do que vem sendo colocado por diversos comentaristas: a Internet, e mais precisamente a blogosfera, é revolucionária. Perdendo o monopólio da informação, da interpretação, da edição da realidade, os grandes grupos têm seu poder enfraquecido.
Depois, quem sabe, poderei comentar sobre essa lei de Internet que desejam aprovar, sobre a extinção da Lei de Imprensa, com tudo de bom e de ruim que havia nela, e o vácuo jurídico que agora ficou.
É por isso que assino embaixo do que vem sendo colocado por diversos comentaristas: a Internet, e mais precisamente a blogosfera, é revolucionária. Perdendo o monopólio da informação, da interpretação, da edição da realidade, os grandes grupos têm seu poder enfraquecido.
Depois, quem sabe, poderei comentar sobre essa lei de Internet que desejam aprovar, sobre a extinção da Lei de Imprensa, com tudo de bom e de ruim que havia nela, e o vácuo jurídico que agora ficou.
Rápidas e Breves Insolências
Reportagem sobre o carry trade, na página C8 do Valor de hoje. A matéria é até razoável, com boas análises e constatações sobre o tipo de dólar que está entrando no Brasil, sobre um carry trade mais fraco no mundo, mas ainda importante, o crescimento nas reservas de diversos emergentes, o diferencial de juros entre eles e os emissores de moeda reserva, etc... Aliás, só uma constatação: os países mais ricos, com déficits e dívidas maiores, têm taxas de juros lá embaixo. É o privilégio de poderem se endividar na própria moeda, de serem os centros da finança global. Isso vai mudar com o tempo, espero.
Mas o que queria destacar são algumas pérolas ao final da matéria.
Marcio Garcia, da PUC-RJ, conhecido repetidor de platitudes, mas que não consta que já tenha se tornado consultor, financista, ou administrador de recursos de terceiros: "No entender de Garcia, o país terá que conviver com o câmbio apreciado, dado o nível de gastos do governo. A política de metas de inflação impede que ele baixe mais os juros, argumenta." Fantástica argumentação. Quer dizer que o câmbio está apreciado porque teremos um déficit nominal de, sei lá, uns 2%. Alguém por favor junte A com B. E então a política de metas de inflação impede uma baixa nos juros. Mas... há algum risco de inflação? O Chile tem metas e está com juro quase zero. A Inglaterra tem metas e está inclusive imprimindo dinheiro. A Nova Zelândia tem metas e opera com juro de 2,5%. O México também, se não me engano, e lá o juro tá 4,5%. Nominal, tá? O juro real desses países deve ser negativo.
Bom, enfim, nocaute no primeiro assalto, passemos ao glorioso John Welch, ou seria John Wealth, economista do Itaú Unibanco International Wealth Management. "Uma alternativa para conter a valorização do real seria abrir mais as importações, reduzindo tarifas". "Ampliar a conversibilidade do real poderia também ajudar."
Aí fico com dó, especialmente da primeira afirmação. Ela é verdadeira em si, lógico, se aumentar o déficit comercial o câmbio pode, vejam bem, pode, a depender da conta capital, se desvalorizar. Mas é uma estupidez dizer isso, não? Poxa, são 23hs e tenho preguiça. Outro dia escrevo sobre a recessão global, a disputa por mercados de exportação, as negociações na OMC, os acordos bilaterais e regionais, a questão do emprego e da renda no Brasil, do desenvolvimento tecnológico, industrial, etc...
Sobre a conversibilidade do real, reconheço tratar-se de tema mais técnico, que exigiria mais. Mas assim, de primeira, creio que mais conversibilidade agora acarretaria valorização, não o contrário. A conversibilidade plena daria ainda mais garantias de fuga aos aplicadores, que se sentiriam ainda mais à vontade para passearem por aqui em busca de retornos polpudos e seguros. Pérsio Arida, que ajudou a montar as regras do jogo e se tornou milionário no governo anterior, andou escrevendo sobre essa imprudência em meados de 2004, sei lá.
Por fim, nosso amigo do Itaú Unibanco até fala algo que dá uma discussão mais legal. Ele diz que a apreciação do real é estrutural, parte de um processo maior de crescimento das economias emergentes e de exportação de capital dos EUA para o mundo. É uma meia-verdade, e as meias-verdades são mais difíceis de questionar. Já sondei esse caminho e prometo voltar depois. Mas estou cansado. Agora não vai rolar.
Mas o que queria destacar são algumas pérolas ao final da matéria.
Marcio Garcia, da PUC-RJ, conhecido repetidor de platitudes, mas que não consta que já tenha se tornado consultor, financista, ou administrador de recursos de terceiros: "No entender de Garcia, o país terá que conviver com o câmbio apreciado, dado o nível de gastos do governo. A política de metas de inflação impede que ele baixe mais os juros, argumenta." Fantástica argumentação. Quer dizer que o câmbio está apreciado porque teremos um déficit nominal de, sei lá, uns 2%. Alguém por favor junte A com B. E então a política de metas de inflação impede uma baixa nos juros. Mas... há algum risco de inflação? O Chile tem metas e está com juro quase zero. A Inglaterra tem metas e está inclusive imprimindo dinheiro. A Nova Zelândia tem metas e opera com juro de 2,5%. O México também, se não me engano, e lá o juro tá 4,5%. Nominal, tá? O juro real desses países deve ser negativo.
Bom, enfim, nocaute no primeiro assalto, passemos ao glorioso John Welch, ou seria John Wealth, economista do Itaú Unibanco International Wealth Management. "Uma alternativa para conter a valorização do real seria abrir mais as importações, reduzindo tarifas". "Ampliar a conversibilidade do real poderia também ajudar."
Aí fico com dó, especialmente da primeira afirmação. Ela é verdadeira em si, lógico, se aumentar o déficit comercial o câmbio pode, vejam bem, pode, a depender da conta capital, se desvalorizar. Mas é uma estupidez dizer isso, não? Poxa, são 23hs e tenho preguiça. Outro dia escrevo sobre a recessão global, a disputa por mercados de exportação, as negociações na OMC, os acordos bilaterais e regionais, a questão do emprego e da renda no Brasil, do desenvolvimento tecnológico, industrial, etc...
Sobre a conversibilidade do real, reconheço tratar-se de tema mais técnico, que exigiria mais. Mas assim, de primeira, creio que mais conversibilidade agora acarretaria valorização, não o contrário. A conversibilidade plena daria ainda mais garantias de fuga aos aplicadores, que se sentiriam ainda mais à vontade para passearem por aqui em busca de retornos polpudos e seguros. Pérsio Arida, que ajudou a montar as regras do jogo e se tornou milionário no governo anterior, andou escrevendo sobre essa imprudência em meados de 2004, sei lá.
Por fim, nosso amigo do Itaú Unibanco até fala algo que dá uma discussão mais legal. Ele diz que a apreciação do real é estrutural, parte de um processo maior de crescimento das economias emergentes e de exportação de capital dos EUA para o mundo. É uma meia-verdade, e as meias-verdades são mais difíceis de questionar. Já sondei esse caminho e prometo voltar depois. Mas estou cansado. Agora não vai rolar.
Adendo
Os meandros onde se encontram o dinheiro e a política são sim uma enorme fraqueza da democracia brasileira. Fraqueza institucional. Bom, é um problema no mundo todo. Dinheiro e poder, poder e dinheiro. O interesse público vai pro saco.
Mas não creio que seja uma fraqueza maior do que as disparidades de renda, de acesso à educação, à saúde e à justiça. A disparidade na propriedade. Naquilo que conhecemos por liberdade positiva, a liberdade de escolher caminhos.
Mas não creio que seja uma fraqueza maior do que as disparidades de renda, de acesso à educação, à saúde e à justiça. A disparidade na propriedade. Naquilo que conhecemos por liberdade positiva, a liberdade de escolher caminhos.
O combate ao crime do colarinho branco
É na intersecção entre o dinheiro e a política que encontramos a maior fraqueza da democracia brasileira. O financiamento das campanhas, a apropriação do Estado por interesses privados, a porta giratória governo-setor privado. As privatizações, a gestão dos fundos públicos, os "consultores", a captura das agências reguladoras, um BC independente da política, mas submisso ao mercado.
Ecos da Satiagraha, a operação classificada por alguns como tresloucada, ameaça aos direitos individuais, germes de um Estado Totalitário. Vamos lá, no Estadão de hoje...
E-mails de assessor de Dantas podem ir para STF
Segundo Ministério Público, 14 CDs apreendidos pela PF apontam para autoridades e políticos
Fausto Macedo
O Ministério Público Federal em São Paulo requereu envio à Procuradoria-Geral da República da vasta coleção de CDs com e-mails encontrados em poder do executivo Roberto Figueiredo do Amaral, ex-consultor do banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. O Ministério Público avalia que o conteúdo das mensagens aponta para autoridades, servidores e políticos que detêm foro privilegiado perante tribunais superiores.
São milhares de e-mails armazenados em 14 CDs que foram recolhidos na residência de Amaral durante operação realizada pela Polícia Federal em 16 de dezembro, por ordem do juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Essa investigação é desdobramento da Operação Satiagraha.
A troca de correspondência aponta para ex-ministros, empresários, lobistas e políticos intensamente empenhados no processo de privatização das teles. O auge da comunicação pessoal de Amaral, agora sob apuração, se deu entre os anos de 1999 e 2002.
O executivo, durante cerca de 20 anos, integrou a direção da empreiteira Andrade Gutierez. Entre 2000 e 2005 ele trabalhou como consultor do banqueiro Daniel Dantas. Amaral caiu na malha da Satiagraha - investigação da PF sobre suposta ligação de Dantas com crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
O procurador da República Rodrigo de Grandis, acusador de Dantas, denunciou Amaral por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O procurador sustenta que o executivo foi contratado por Dantas para prestar assessoria em assuntos sensíveis do Grupo Opportunity.
A PF abriu os arquivos de Amaral e identificou o que suspeita ser a pista para casos de tráfico de influência em diferentes níveis de governo. Há citação a um deputado que teria exigido dinheiro do banqueiro. A maior parte das mensagens do executivo é trocada com políticos tucanos, indica a investigação da PF.
Ao requerer a remessa da mídia apreendida com o executivo para a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, Rodrigo de Grandis assinala que “as conversações eletrônicas travadas entre Daniel Dantas e Roberto Amaral descrevem situações que ensejam apuração independente e específica acerca de diversas pessoas que atualmente ostentam foro por prerrogativa de função”.
FORO PRIVILEGIADO
Tais autoridades só poderiam ser eventualmente investigadas mediante autorização expressa do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
O procurador De Grandis recomendou à Justiça Federal que encaminhe os CDs de Amaral para a Procuradoria-Geral da República “para as providências que entender cabíveis”.
O criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende Amaral, rebate as acusações que pesam contra o executivo e assegura que não há ilegalidade nos e-mails. “Os autos estão sob segredo de Justiça”, asseverou o advogado, que confirmou a apreensão dos CDs. “O dr. Roberto Amaral jamais praticou qualquer ato ilícito. Asseguro que tudo o que foi apreendido não tipifica nenhuma conduta ilícita, apenas troca de consultoria empresarial.”
Ecos da Satiagraha, a operação classificada por alguns como tresloucada, ameaça aos direitos individuais, germes de um Estado Totalitário. Vamos lá, no Estadão de hoje...
E-mails de assessor de Dantas podem ir para STF
Segundo Ministério Público, 14 CDs apreendidos pela PF apontam para autoridades e políticos
Fausto Macedo
O Ministério Público Federal em São Paulo requereu envio à Procuradoria-Geral da República da vasta coleção de CDs com e-mails encontrados em poder do executivo Roberto Figueiredo do Amaral, ex-consultor do banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. O Ministério Público avalia que o conteúdo das mensagens aponta para autoridades, servidores e políticos que detêm foro privilegiado perante tribunais superiores.
São milhares de e-mails armazenados em 14 CDs que foram recolhidos na residência de Amaral durante operação realizada pela Polícia Federal em 16 de dezembro, por ordem do juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Essa investigação é desdobramento da Operação Satiagraha.
A troca de correspondência aponta para ex-ministros, empresários, lobistas e políticos intensamente empenhados no processo de privatização das teles. O auge da comunicação pessoal de Amaral, agora sob apuração, se deu entre os anos de 1999 e 2002.
O executivo, durante cerca de 20 anos, integrou a direção da empreiteira Andrade Gutierez. Entre 2000 e 2005 ele trabalhou como consultor do banqueiro Daniel Dantas. Amaral caiu na malha da Satiagraha - investigação da PF sobre suposta ligação de Dantas com crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
O procurador da República Rodrigo de Grandis, acusador de Dantas, denunciou Amaral por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O procurador sustenta que o executivo foi contratado por Dantas para prestar assessoria em assuntos sensíveis do Grupo Opportunity.
A PF abriu os arquivos de Amaral e identificou o que suspeita ser a pista para casos de tráfico de influência em diferentes níveis de governo. Há citação a um deputado que teria exigido dinheiro do banqueiro. A maior parte das mensagens do executivo é trocada com políticos tucanos, indica a investigação da PF.
Ao requerer a remessa da mídia apreendida com o executivo para a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, Rodrigo de Grandis assinala que “as conversações eletrônicas travadas entre Daniel Dantas e Roberto Amaral descrevem situações que ensejam apuração independente e específica acerca de diversas pessoas que atualmente ostentam foro por prerrogativa de função”.
FORO PRIVILEGIADO
Tais autoridades só poderiam ser eventualmente investigadas mediante autorização expressa do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
O procurador De Grandis recomendou à Justiça Federal que encaminhe os CDs de Amaral para a Procuradoria-Geral da República “para as providências que entender cabíveis”.
O criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende Amaral, rebate as acusações que pesam contra o executivo e assegura que não há ilegalidade nos e-mails. “Os autos estão sob segredo de Justiça”, asseverou o advogado, que confirmou a apreensão dos CDs. “O dr. Roberto Amaral jamais praticou qualquer ato ilícito. Asseguro que tudo o que foi apreendido não tipifica nenhuma conduta ilícita, apenas troca de consultoria empresarial.”
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Mais sobre o câmbio
É evidente que é possível argumentar que o dólar tem caído com relação a todas as moedas. É fato que as moedas de exportadores de commodities têm se valorizado. Também é verdade que há uma imensa massa de capitais no mundo sem encontrar boas oportunidades de investimentos, com certo medo, e vêem no Brasil um porto seguro, um país dinâmico e cheio de perspectivas.
Mas a valorização tem passado do razoável, mesmo em comparação com a Austrália, o Canadá e outros. Há que se considerar, é óbvio, nosso nível de juros. E o fato de que em alguns anos teremos os dólares do Pré-Sal afastando qualquer risco de crise cambial, hehee. Então o pessoal está apostando a valer, prato cheio para a especulação.
O problema é que num período de baixo crescimento mundial como o que agora se inicia, a disputa será pela demanda dos outros, ou seja, pelos mercados de exportação. O câmbio, nesse contexto, será muito importante para ao menos mantermos mercados e sustentarmos taxas mais altas de crescimento. Além do fato de que é perigoso ficar concentrado em commodities, há todo um desenvolvimento produtivo, tecnológico e industrial que não pode se perder assim. Isso para não falar em questões de sustentabilidade, da exportação de recursos energéticos escassos, da água, etc... Putz, aí eu me alongaria demais.
Mas esse post foi apenas para alertar meus 3 leitores que estou ciente de que o câmbio tem se valorizado também em outros países. Mas não na China, nem na Índia, não na Argentina, possivelmente não na Coréia.
Eles são trouxas. Nós é que somos espertos. Estamos seguindo direitinho o manual do "I win, you lose: private banking and easy money in the modern and integrated open markets of the 21st Century. Special Edition for colonized Brazilians and their independent Central Bank"
Chato é não ter tempo de comentar reportagens como as da página B4 do Caderno de Economia do Estadão de hoje.
A equipe de analistas do glorioso BNP Paribas, que quase quebrou, ho ho ho, gênios, monstros da finança privada, afirmou em relatório que "os mercados começam a ficar divididos em relação à capacidade do BC de resistir às pressões para que continue afrouxando a política monetária." Olha o termo que eles usam, "afrouxar" a política monetária. PQP, é a mais conservadora do mundo! Traduz-se em transferências de mais de R$ 150 bilhões anuais para 20 mil famílias!
Não seria melhor reescrever assim: "a nação brasileira começa a ficar preocupada com as pressões do mercado para que o BC não corte mais a taxa de juros, a 3a maior do planeta em termos reais, em momento no qual não há NENHUMA ameaça de inflação, de crise cambial ou crise fiscal."
Esses caras são os mestres da picaretagem. Aliás, por onde andam os cérebros brilhantes do Merryl Linch, ou seriam do Morgan Stanley, ou do JP Morgan, são todos iguais, que previram em meados de março queda de 4,5% do PIB do Brasil em 2009???? Foram demitidos? Ou era isso mesmo, tá beleza, e a tesouraria tava na ponta operando enquanto o relatório ganhava as páginas da imprensa...
Fico devendo o comentário sobre o que fazer para evitar a entrada excessiva de capitais completamente desvinculados do aparelho produtivo...
Mas a valorização tem passado do razoável, mesmo em comparação com a Austrália, o Canadá e outros. Há que se considerar, é óbvio, nosso nível de juros. E o fato de que em alguns anos teremos os dólares do Pré-Sal afastando qualquer risco de crise cambial, hehee. Então o pessoal está apostando a valer, prato cheio para a especulação.
O problema é que num período de baixo crescimento mundial como o que agora se inicia, a disputa será pela demanda dos outros, ou seja, pelos mercados de exportação. O câmbio, nesse contexto, será muito importante para ao menos mantermos mercados e sustentarmos taxas mais altas de crescimento. Além do fato de que é perigoso ficar concentrado em commodities, há todo um desenvolvimento produtivo, tecnológico e industrial que não pode se perder assim. Isso para não falar em questões de sustentabilidade, da exportação de recursos energéticos escassos, da água, etc... Putz, aí eu me alongaria demais.
Mas esse post foi apenas para alertar meus 3 leitores que estou ciente de que o câmbio tem se valorizado também em outros países. Mas não na China, nem na Índia, não na Argentina, possivelmente não na Coréia.
Eles são trouxas. Nós é que somos espertos. Estamos seguindo direitinho o manual do "I win, you lose: private banking and easy money in the modern and integrated open markets of the 21st Century. Special Edition for colonized Brazilians and their independent Central Bank"
Chato é não ter tempo de comentar reportagens como as da página B4 do Caderno de Economia do Estadão de hoje.
A equipe de analistas do glorioso BNP Paribas, que quase quebrou, ho ho ho, gênios, monstros da finança privada, afirmou em relatório que "os mercados começam a ficar divididos em relação à capacidade do BC de resistir às pressões para que continue afrouxando a política monetária." Olha o termo que eles usam, "afrouxar" a política monetária. PQP, é a mais conservadora do mundo! Traduz-se em transferências de mais de R$ 150 bilhões anuais para 20 mil famílias!
Não seria melhor reescrever assim: "a nação brasileira começa a ficar preocupada com as pressões do mercado para que o BC não corte mais a taxa de juros, a 3a maior do planeta em termos reais, em momento no qual não há NENHUMA ameaça de inflação, de crise cambial ou crise fiscal."
Esses caras são os mestres da picaretagem. Aliás, por onde andam os cérebros brilhantes do Merryl Linch, ou seriam do Morgan Stanley, ou do JP Morgan, são todos iguais, que previram em meados de março queda de 4,5% do PIB do Brasil em 2009???? Foram demitidos? Ou era isso mesmo, tá beleza, e a tesouraria tava na ponta operando enquanto o relatório ganhava as páginas da imprensa...
Fico devendo o comentário sobre o que fazer para evitar a entrada excessiva de capitais completamente desvinculados do aparelho produtivo...
Estréia dia 31, na TV Brasil
Era das Utopias, série de Silvio Tendler, um dos grandes documentaristas da história política do Brasil. Deve ser bom, tá anotado.
Excelente Notícia
O cara que eu tinha citado num post anterior, pois tinha montado um blog sobre a esculhambação do PAN no RJ, montou um blog no uol. Vai acompanhar Olimpíadas e Copa.
Vejam bem, nada contra o Brasil se candidatar e eventualmente receber as competições. Só que o país tem prioridades sociais muito mais urgentes e, portanto, já que querem o oba-oba por aqui, eventos para a elite, caríssimos, ao menos que se minimize, veja bem, não digo elimine, mas minimize a roubalheira e a apropriação de fundos públicos por entes privados. E é preciso fiscalização, TCU, promotoria, sociedade civil, imprensa, etc...
Vejam bem, nada contra o Brasil se candidatar e eventualmente receber as competições. Só que o país tem prioridades sociais muito mais urgentes e, portanto, já que querem o oba-oba por aqui, eventos para a elite, caríssimos, ao menos que se minimize, veja bem, não digo elimine, mas minimize a roubalheira e a apropriação de fundos públicos por entes privados. E é preciso fiscalização, TCU, promotoria, sociedade civil, imprensa, etc...
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Sobre o câmbio
Sobre a questão do câmbio, saíram artigos do Loyola e do Belluzzo nos últimos dias no Valor. Acho que guardei os dois, que evidentemente vão em direções contrárias. Vou ver e quem sabe sai um post com mais fôlego.
O ponto central será mais ou menos esse: lá pelas tantas, Loyola coloca que se o BC intervir para desvalorizar artificialmente o real, blablabla
Vou me centrar nessa questão: não há nada de natural, ou de espontâneo, na valorização do real. Trata-se de resultado de decisões políticas que abrangem o regime cambial, a política monetária brasileira, o sistema monetário mundial e o funcionamento dos mercados financeiros internacionais.
São arranjos políticos que permitem que o jogo seja jogado dessa forma. E são atores políticos, países, grupos sociais, classes, indivíduos, que recebem os benefícios ou incorrem nos custos decorrentes dos movimentos que são realizados.
Despolitizar, afirmar que é natural, irreversível, consequência de um modelo que só nos traz ganhos, que não há nada o que se possa fazer e etc... faz parte daquilo que fiquei de desenvolver num dos posts iniciais: o totalitarismo liberal de mercado.
A liberdade de capitais não é algo óbvio, espontâneo, nem historicamente recorrente. Ativos financeiros, no mundo, que superam em dezenas de vezes a produção global e as reservas dos bancos centrais também não são algo que faz parte da ordem natural das coisas. É uma evolução recente, para a qual colaboraram políticas de liberalização e desregulamentação. Os juros brasileiros não são uma necessidade científica para combater a inflação, mas sim a consolidação de um padrão de rentismo conservador das classes dominantes. Não há qualquer razão institucional, cultural, macro- ou microeconômica que justifique níveis de taxas reais tão acima do que se observa em outros cento e noventa e tantos países. O câmbio flutuante, como nos livros texto, é uma exceção, uma abstração teórica, na prática creio que nenhum país deixa esse preço fundamental flutuar ao sabor de fluxos irracionais das manadas do mercado. Vejam a China, a Índia, a Suíça, o leste asiático em geral, leiam sobre os acordos de Bretton Woods, a ruptura realizada por Nixon, os acordos do Plaza, do Louvre, etc...
A moderna ciência econômica. There is no alternative. "Estabeleça regras e o poderoso mercado encontrará formas de burlá-las". O BC imune a "pressões políticas" (como se suas decisões, que implicam enormes ganhos e perdas, pudessem ser despolitizadas). The market as a natural result of individual interactions. O homo economicus. A racionalidade dos agentes. O equilíbrio geral. O pleno emprego ho ho ho. O egoísmo individual promovendo a harmonia de interesses. A desqualificação da crítica: "ele quer mais inflação", "populista", "demagogo".
Uma enganação, uma tolice para consumo da periferia deslumbrada. Seus mantras nunca foram utilizados pelos EUA, Europa, Japão, China e Índia. Recentemente, encontrei em meus arquivos um artigo do Edward Amadeo, de 2002, creio, defendendo que é natural e positivo que tenhamos déficit na conta corrente. Há diversos outros caras que vivem da intermediação do capital estrangeiro que já argumentaram nesse sentido em várias oportunidades. É uma sandice sobre a qual espero escrever aqui também.
Sei que talvez esteja pegando pesado. É que parei de fumar faz alguns dias, hahah. Tá foda.
O ponto central será mais ou menos esse: lá pelas tantas, Loyola coloca que se o BC intervir para desvalorizar artificialmente o real, blablabla
Vou me centrar nessa questão: não há nada de natural, ou de espontâneo, na valorização do real. Trata-se de resultado de decisões políticas que abrangem o regime cambial, a política monetária brasileira, o sistema monetário mundial e o funcionamento dos mercados financeiros internacionais.
São arranjos políticos que permitem que o jogo seja jogado dessa forma. E são atores políticos, países, grupos sociais, classes, indivíduos, que recebem os benefícios ou incorrem nos custos decorrentes dos movimentos que são realizados.
Despolitizar, afirmar que é natural, irreversível, consequência de um modelo que só nos traz ganhos, que não há nada o que se possa fazer e etc... faz parte daquilo que fiquei de desenvolver num dos posts iniciais: o totalitarismo liberal de mercado.
A liberdade de capitais não é algo óbvio, espontâneo, nem historicamente recorrente. Ativos financeiros, no mundo, que superam em dezenas de vezes a produção global e as reservas dos bancos centrais também não são algo que faz parte da ordem natural das coisas. É uma evolução recente, para a qual colaboraram políticas de liberalização e desregulamentação. Os juros brasileiros não são uma necessidade científica para combater a inflação, mas sim a consolidação de um padrão de rentismo conservador das classes dominantes. Não há qualquer razão institucional, cultural, macro- ou microeconômica que justifique níveis de taxas reais tão acima do que se observa em outros cento e noventa e tantos países. O câmbio flutuante, como nos livros texto, é uma exceção, uma abstração teórica, na prática creio que nenhum país deixa esse preço fundamental flutuar ao sabor de fluxos irracionais das manadas do mercado. Vejam a China, a Índia, a Suíça, o leste asiático em geral, leiam sobre os acordos de Bretton Woods, a ruptura realizada por Nixon, os acordos do Plaza, do Louvre, etc...
A moderna ciência econômica. There is no alternative. "Estabeleça regras e o poderoso mercado encontrará formas de burlá-las". O BC imune a "pressões políticas" (como se suas decisões, que implicam enormes ganhos e perdas, pudessem ser despolitizadas). The market as a natural result of individual interactions. O homo economicus. A racionalidade dos agentes. O equilíbrio geral. O pleno emprego ho ho ho. O egoísmo individual promovendo a harmonia de interesses. A desqualificação da crítica: "ele quer mais inflação", "populista", "demagogo".
Uma enganação, uma tolice para consumo da periferia deslumbrada. Seus mantras nunca foram utilizados pelos EUA, Europa, Japão, China e Índia. Recentemente, encontrei em meus arquivos um artigo do Edward Amadeo, de 2002, creio, defendendo que é natural e positivo que tenhamos déficit na conta corrente. Há diversos outros caras que vivem da intermediação do capital estrangeiro que já argumentaram nesse sentido em várias oportunidades. É uma sandice sobre a qual espero escrever aqui também.
Sei que talvez esteja pegando pesado. É que parei de fumar faz alguns dias, hahah. Tá foda.
O mercado pressiona, mas está sem bala
Na coluna de Sonia Racy hoje uma notinha, anônima, of course, sobre os "receios do mercado" com Meirelles e eleições. Trolóló, bobagem, tolices, um ensaio de chantagem idiota.
Não há crise cambial, não há problema fiscal, não há risco de inflação, não há nada. O mercado está sem bala para pressionar, além de estar ideologicamente desmoralizado. Pode espernear à vontade. Se quiser uma fuguinha de capitais, até melhor, pois desvaloriza o câmbio.
Não há crise cambial, não há problema fiscal, não há risco de inflação, não há nada. O mercado está sem bala para pressionar, além de estar ideologicamente desmoralizado. Pode espernear à vontade. Se quiser uma fuguinha de capitais, até melhor, pois desvaloriza o câmbio.
rápidas e insignificantes
Acabou a novela Sarney. Agora teremos o caso Dilma-Lina, quem sabe pitadas de CPI da Petrobrás. Nos intervalos, o roto luta com o esfarrapado, quer dizer, Record e Globo trocam homenagens. Amanhã tem rodada do brasileirão. Santos x Grêmio, clássico. Paulo Henrique Ganso anda comendo a bola, moleque joga muito. O time tem potencial. Se algumas peças acertarem quem sabe vai dar para disputar vaga na libertadores.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Agudas, muito mais agudas
Discurso do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães na formatura da última turma do Rio Branco. Samuel chegou a ser afastado no governo anterior e ao assumir a Secretaria-Geral foi alvo de muitos ataques, injustiças, mal-entendidos, distorções. Atacam a pessoa, mas estão mesmo na caça de suas idéias. Essa é uma oportunidade de conhecer um pouco do que incomoda tanta gente no Brasil.
"Bom dia a todas as senhoras e senhores.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Dona Marisa Letícia,
Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado, Celso Amorim,
e Sra. Ana Maria Amorim.
Queria cumprimentar, em primeiro lugar, todos os familiares dos formandos; os colegas Embaixadores; todos os demais colegas; a turma do Instituto Rio Branco e o seu Diretor, Embaixador Fernando Reis.
Agradeço a escolha como Paraninfo dessa turma do Rio Branco, a primeira da reforma, que representa um novo tempo. Essa não é uma homenagem feita a mim, mas à política externa conduzida pelo Senhor Presidente da República, assessorado pelo Senhor Ministro de Estado.
Esta é uma turma de diplomatas do Século XXI. O século XXI será, para nós, brasileiros, e para esta turma, um século muito diferente. Estamos diante de um processo de reconstrução do sistema mundial. Há alguns anos, o Senhor Presidente da República mencionou a idéia de uma nova geografia econômica e política no mundo. Na realidade, hoje a situação de crise leva a uma nova geografia, a uma nova distribuição do poder em nível mundial.
Em primeiro lugar, estamos diante de uma grave crise econômica, que decorreu de um processo de globalização e de desregulamentação acelerada e irresponsável; de uma idéia de Estado mínimo, de que o Estado deveria se retirar da economia, e de preferência, desaparecer. Era a idéia do fim das fronteiras, o fim dos Estados nacionais.
Em segundo lugar, estamos diante de uma crise ideológica. A crise ideológica decorre do fato de que, durante muitos anos, a maioria dos Estados se convenceu de que o neoliberalismo era a teoria correta para a explicação do mundo econômico e do mundo político. Hoje, o mesmo Estado que iniciou esse processo de liberalização, de transformação da economia mundial, o Reino Unido, foi o primeiro a estatizar seus bancos. Estamos, portanto, diante de uma crise ideológica, que requer uma redefinição do capitalismo - talvez o "capitalismo do século XXI".
Em terceiro lugar, vivemos uma gravíssima crise ambiental, talvez a mais séria de todas as crises- já que a crise econômica talvez seja superada em breve. A crise ambiental requer uma mudança do próprio modo de ser do sistema capitalista: a idéia do individualismo, a idéia da liberdade total dos indivíduos de escolher o que produzir e o modo de produzir. Esta é uma crise extremamente difícil de ser enfrentada e que tem conseqüências em todas as partes do mundo, inclusive no nosso território, sem que possamos enfrentá-la sozinhos. Temos de enfrentá-la em coordenação e em cooperação com os demais países, tanto desenvolvidos, quanto em desenvolvimento. A crise energética, vinculada à crise ambiental e ao modo tradicional de utilização da energia, é igualmente profunda.
Finalmente, há o uma crise política, gerada pela emergência da China como grande potência internacional e pelo desafio de acomodá-la no sistema internacional. Isso inclui também a emergência de outros países, os BRICs, entre eles, o Brasil, que vem de ser reconhecido pelo prêmio Nobel de Economia, Edmund Phelps, como a economia mais bem preparada para enfrentar a crise econômica. Pode-se chamar isso de crise política para os países que dominaram o sistema internacional, do ponto de vista político, militar e econômico, durante décadas e talvez até séculos (alguns desses mesmos países já estavam no Congresso de Viena, em 1815). De modo que este é um processo de reconstrução do sistema mundial.
Estamos diante de um processo de construção nacional, de enfrentamento de grandes desafios internos. O primeiro deles é a realização do potencial brasileiro. Se fizermos uma lista dos dez maiores países do mundo em território, população e produto interno bruto, somente três países estariam nessas três listas simultaneamente: os Estados Unidos, a China e o Brasil. O potencial brasileiro está muito longe de ser plenamente utilizado. Esta é uma tarefa de construção nacional extraordinária, a construção da infra-estrutura, tanto no seu aspecto físico, mas também da infra-estrutura humana: transformar e qualificar a massa da população brasileira, a enorme massa da população brasileira excluída, e o sistema empresarial brasileiro.
O segundo desafio é a superação das vulnerabilidades externas. Do ponto de vista político, até hoje não fazemos parte - apesar de estarmos nos aproximando - dos principais mecanismos de decisão política do sistema internacional. Temos ainda certa vulnerabilidade militar e uma vulnerabilidade relativa no campo econômico-tecnológico, devido à insuficiência de produção tecnológica. Aliás, no campo científico tivemos ontem a notícia de que o Brasil passou de 15º para 13º lugar dentre os países de maior produção científica, o que foi um feito extraordinário. Isso infelizmente não ocorre no campo das patentes, que se refere à transformação do conhecimento científico em conhecimento tecnológico.
O terceiro desafio refere-se à superação das disparidades. Não vou entrar em detalhes sobre isso, porque, diante do Presidente Lula, seria inadequado. Todos sabem que a grande luta da sociedade brasileira é contra as disparidades sociais, a começar pelas disparidades regionais, as disparidades entre o campo e a cidade, as de natureza de gênero, de origem étnica, as disparidades de renda e, mais do que de renda, de propriedade. As disparidades de propriedade são muito mais agudas do que as disparidades de renda, muito mais agudas.
Finalmente, há a construção da democracia, uma democracia em que a participação do povo seja mais efetiva, mais ampla, que é um desafio muito grande para a sociedade brasileira.
A política externa se define diante desses desafios internos e também de desafios externos. Vivemos uma época de grande expansão dos interesses nacionais no exterior, a começar pelo comércio. Houve uma extraordinária diversificação comercial em direção à África, aos países árabes, como fruto da política externa, das numerosas viagens do Presidente da República, do Ministro de Estado e de outros ministros ao continente africano, também aos países árabes, aos países da Ásia. Há uma enorme diversificação das exportações brasileiras, além de um enorme crescimento em termos absolutos no total do comércio. Essa diversificação é extremamente importante porque reduz a nossa vulnerabilidade econômica. Ao mesmo tempo, uma extraordinária e desafiante expansão dos investimentos brasileiros, na América do Sul, mas também em outras regiões, na Europa, em alguns países árabes, na Ásia.
Um desafio recente são as migrações, o fato de que hoje existem cerca de quatro milhões de brasileiros no exterior. Isso cria uma questão também política e econômica, além do aspecto humano e social. A participação das remessas desses brasileiros é extremamente importante para o equilíbrio do balanço de pagamentos do Brasil.
Outra questão importante para a política externa são as assimetrias regionais, a assimetria crescente entre o Brasil e os países vizinhos. Este é um fato gerado pelas próprias dimensões territoriais e econômicas do Brasil, pela diversidade do seu parque produtivo. É um desafio que se revela nos desequilíbrios comerciais, no fato de haver muito mais investimentos brasileiros nos outros países do que desses países sul-americanos no Brasil. Essa preocupação está na base da política que vem sendo executada: o reconhecimento dessas assimetrias, que antes não eram reconhecidas, e o tratamento generoso, fruto da responsabilidade que o Brasil tem em relação aos países vizinhos, como o Presidente costuma dizer. Somos o país com o maior número de vizinhos no mundo - depois da China e da Rússia, que têm, cada uma, 14 países vizinhos; o Brasil tem 10. Esse fato traz grande complexidade para a política externa que os senhores, formandos do Instituto Rio Branco, terão de conduzir no futuro. Será um desafio maior do que o de hoje.
Há, ainda, o desafio de luta pela desconcentração de poder. O sistema internacional se caracteriza por uma extraordinária concentração de poder, tanto político, quanto econômico, tecnológico e militar. Essa luta se manifesta, por exemplo, na candidatura brasileira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, na participação do Brasil como parte do G-5 junto ao G-8, na criação do Foro IBAS de coordenação com a Índia e com a África do Sul, para, justamente, articular alianças com os grandes Estados da periferia na sua ação de desconcentração de poder. Essa luta pela desconcentração de poder também se verifica no campo econômico, como foi a atuação G-20 comercial, na Rodada de Doha da OMC. Pela primeira vez, os países em desenvolvimento conseguiram se articular para enfrentar aquilo que, normalmente, era uma decisão tomada pelos chamados "grandes países comerciantes", que negociavam entre si e nos apresentavam uma solução fechada. Os países em desenvolvimento não tinham outra opção, senão aceitar aquela solução. A criação do G-20 e o próprio fato de a rodada não ter terminado - poderia ter terminado, se o Brasil e os demais países em desenvolvimento tivessem aceito as propostas feitas pelos países desenvolvidos - mostram essa mudança. O G-20 financeiro é outro exemplo: pela primeira vez na história, os países em desenvolvimento estão tendo participação destacada na reorganização do sistema financeiro internacional.
Finalmente, um grande desafio da política externa - que tem relação com os outros que mencionei - é a questão da normatização das relações internacionais, a criação de normas internacionais. Essas normas podem ser mais ou menos favoráveis ao Brasil, nos diversos campos de negociação. A política externa luta para que haja uma normatização favorável ao desenvolvimento econômico brasileiro. Isso se reflete nas negociações ambientais, por exemplo, e nas outras negociações que mencionei. As normas devem ser favoráveis ao desenvolvimento da sociedade brasileira e à superação dos seus desafios internos.
Em resumo, esses são os grandes desafios que os senhores têm pela frente nos próximos 40 anos de sua carreira.
Gostaria, finalmente, de agradecer mais uma vez esta homenagem - como disse, considero que é uma homenagem à política externa conduzida pelo Presidente da República e pelo Ministro Celso Amorim - e dizer que é, para mim, uma satisfação muito grande estar aqui com os senhores, com todos os colegas, com o Presidente da República, e lembrar que recebi meu diploma do Instituto Rio Branco das mãos do Presidente João Goulart, na presença do Embaixador Araújo Castro, que era Ministro de Estado na época, e do paraninfo da minha turma, que era San Tiago Dantas - San Tiago Dantas estaria feliz aqui.
Muito obrigado."
"Bom dia a todas as senhoras e senhores.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Dona Marisa Letícia,
Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado, Celso Amorim,
e Sra. Ana Maria Amorim.
Queria cumprimentar, em primeiro lugar, todos os familiares dos formandos; os colegas Embaixadores; todos os demais colegas; a turma do Instituto Rio Branco e o seu Diretor, Embaixador Fernando Reis.
Agradeço a escolha como Paraninfo dessa turma do Rio Branco, a primeira da reforma, que representa um novo tempo. Essa não é uma homenagem feita a mim, mas à política externa conduzida pelo Senhor Presidente da República, assessorado pelo Senhor Ministro de Estado.
Esta é uma turma de diplomatas do Século XXI. O século XXI será, para nós, brasileiros, e para esta turma, um século muito diferente. Estamos diante de um processo de reconstrução do sistema mundial. Há alguns anos, o Senhor Presidente da República mencionou a idéia de uma nova geografia econômica e política no mundo. Na realidade, hoje a situação de crise leva a uma nova geografia, a uma nova distribuição do poder em nível mundial.
Em primeiro lugar, estamos diante de uma grave crise econômica, que decorreu de um processo de globalização e de desregulamentação acelerada e irresponsável; de uma idéia de Estado mínimo, de que o Estado deveria se retirar da economia, e de preferência, desaparecer. Era a idéia do fim das fronteiras, o fim dos Estados nacionais.
Em segundo lugar, estamos diante de uma crise ideológica. A crise ideológica decorre do fato de que, durante muitos anos, a maioria dos Estados se convenceu de que o neoliberalismo era a teoria correta para a explicação do mundo econômico e do mundo político. Hoje, o mesmo Estado que iniciou esse processo de liberalização, de transformação da economia mundial, o Reino Unido, foi o primeiro a estatizar seus bancos. Estamos, portanto, diante de uma crise ideológica, que requer uma redefinição do capitalismo - talvez o "capitalismo do século XXI".
Em terceiro lugar, vivemos uma gravíssima crise ambiental, talvez a mais séria de todas as crises- já que a crise econômica talvez seja superada em breve. A crise ambiental requer uma mudança do próprio modo de ser do sistema capitalista: a idéia do individualismo, a idéia da liberdade total dos indivíduos de escolher o que produzir e o modo de produzir. Esta é uma crise extremamente difícil de ser enfrentada e que tem conseqüências em todas as partes do mundo, inclusive no nosso território, sem que possamos enfrentá-la sozinhos. Temos de enfrentá-la em coordenação e em cooperação com os demais países, tanto desenvolvidos, quanto em desenvolvimento. A crise energética, vinculada à crise ambiental e ao modo tradicional de utilização da energia, é igualmente profunda.
Finalmente, há o uma crise política, gerada pela emergência da China como grande potência internacional e pelo desafio de acomodá-la no sistema internacional. Isso inclui também a emergência de outros países, os BRICs, entre eles, o Brasil, que vem de ser reconhecido pelo prêmio Nobel de Economia, Edmund Phelps, como a economia mais bem preparada para enfrentar a crise econômica. Pode-se chamar isso de crise política para os países que dominaram o sistema internacional, do ponto de vista político, militar e econômico, durante décadas e talvez até séculos (alguns desses mesmos países já estavam no Congresso de Viena, em 1815). De modo que este é um processo de reconstrução do sistema mundial.
Estamos diante de um processo de construção nacional, de enfrentamento de grandes desafios internos. O primeiro deles é a realização do potencial brasileiro. Se fizermos uma lista dos dez maiores países do mundo em território, população e produto interno bruto, somente três países estariam nessas três listas simultaneamente: os Estados Unidos, a China e o Brasil. O potencial brasileiro está muito longe de ser plenamente utilizado. Esta é uma tarefa de construção nacional extraordinária, a construção da infra-estrutura, tanto no seu aspecto físico, mas também da infra-estrutura humana: transformar e qualificar a massa da população brasileira, a enorme massa da população brasileira excluída, e o sistema empresarial brasileiro.
O segundo desafio é a superação das vulnerabilidades externas. Do ponto de vista político, até hoje não fazemos parte - apesar de estarmos nos aproximando - dos principais mecanismos de decisão política do sistema internacional. Temos ainda certa vulnerabilidade militar e uma vulnerabilidade relativa no campo econômico-tecnológico, devido à insuficiência de produção tecnológica. Aliás, no campo científico tivemos ontem a notícia de que o Brasil passou de 15º para 13º lugar dentre os países de maior produção científica, o que foi um feito extraordinário. Isso infelizmente não ocorre no campo das patentes, que se refere à transformação do conhecimento científico em conhecimento tecnológico.
O terceiro desafio refere-se à superação das disparidades. Não vou entrar em detalhes sobre isso, porque, diante do Presidente Lula, seria inadequado. Todos sabem que a grande luta da sociedade brasileira é contra as disparidades sociais, a começar pelas disparidades regionais, as disparidades entre o campo e a cidade, as de natureza de gênero, de origem étnica, as disparidades de renda e, mais do que de renda, de propriedade. As disparidades de propriedade são muito mais agudas do que as disparidades de renda, muito mais agudas.
Finalmente, há a construção da democracia, uma democracia em que a participação do povo seja mais efetiva, mais ampla, que é um desafio muito grande para a sociedade brasileira.
A política externa se define diante desses desafios internos e também de desafios externos. Vivemos uma época de grande expansão dos interesses nacionais no exterior, a começar pelo comércio. Houve uma extraordinária diversificação comercial em direção à África, aos países árabes, como fruto da política externa, das numerosas viagens do Presidente da República, do Ministro de Estado e de outros ministros ao continente africano, também aos países árabes, aos países da Ásia. Há uma enorme diversificação das exportações brasileiras, além de um enorme crescimento em termos absolutos no total do comércio. Essa diversificação é extremamente importante porque reduz a nossa vulnerabilidade econômica. Ao mesmo tempo, uma extraordinária e desafiante expansão dos investimentos brasileiros, na América do Sul, mas também em outras regiões, na Europa, em alguns países árabes, na Ásia.
Um desafio recente são as migrações, o fato de que hoje existem cerca de quatro milhões de brasileiros no exterior. Isso cria uma questão também política e econômica, além do aspecto humano e social. A participação das remessas desses brasileiros é extremamente importante para o equilíbrio do balanço de pagamentos do Brasil.
Outra questão importante para a política externa são as assimetrias regionais, a assimetria crescente entre o Brasil e os países vizinhos. Este é um fato gerado pelas próprias dimensões territoriais e econômicas do Brasil, pela diversidade do seu parque produtivo. É um desafio que se revela nos desequilíbrios comerciais, no fato de haver muito mais investimentos brasileiros nos outros países do que desses países sul-americanos no Brasil. Essa preocupação está na base da política que vem sendo executada: o reconhecimento dessas assimetrias, que antes não eram reconhecidas, e o tratamento generoso, fruto da responsabilidade que o Brasil tem em relação aos países vizinhos, como o Presidente costuma dizer. Somos o país com o maior número de vizinhos no mundo - depois da China e da Rússia, que têm, cada uma, 14 países vizinhos; o Brasil tem 10. Esse fato traz grande complexidade para a política externa que os senhores, formandos do Instituto Rio Branco, terão de conduzir no futuro. Será um desafio maior do que o de hoje.
Há, ainda, o desafio de luta pela desconcentração de poder. O sistema internacional se caracteriza por uma extraordinária concentração de poder, tanto político, quanto econômico, tecnológico e militar. Essa luta se manifesta, por exemplo, na candidatura brasileira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, na participação do Brasil como parte do G-5 junto ao G-8, na criação do Foro IBAS de coordenação com a Índia e com a África do Sul, para, justamente, articular alianças com os grandes Estados da periferia na sua ação de desconcentração de poder. Essa luta pela desconcentração de poder também se verifica no campo econômico, como foi a atuação G-20 comercial, na Rodada de Doha da OMC. Pela primeira vez, os países em desenvolvimento conseguiram se articular para enfrentar aquilo que, normalmente, era uma decisão tomada pelos chamados "grandes países comerciantes", que negociavam entre si e nos apresentavam uma solução fechada. Os países em desenvolvimento não tinham outra opção, senão aceitar aquela solução. A criação do G-20 e o próprio fato de a rodada não ter terminado - poderia ter terminado, se o Brasil e os demais países em desenvolvimento tivessem aceito as propostas feitas pelos países desenvolvidos - mostram essa mudança. O G-20 financeiro é outro exemplo: pela primeira vez na história, os países em desenvolvimento estão tendo participação destacada na reorganização do sistema financeiro internacional.
Finalmente, um grande desafio da política externa - que tem relação com os outros que mencionei - é a questão da normatização das relações internacionais, a criação de normas internacionais. Essas normas podem ser mais ou menos favoráveis ao Brasil, nos diversos campos de negociação. A política externa luta para que haja uma normatização favorável ao desenvolvimento econômico brasileiro. Isso se reflete nas negociações ambientais, por exemplo, e nas outras negociações que mencionei. As normas devem ser favoráveis ao desenvolvimento da sociedade brasileira e à superação dos seus desafios internos.
Em resumo, esses são os grandes desafios que os senhores têm pela frente nos próximos 40 anos de sua carreira.
Gostaria, finalmente, de agradecer mais uma vez esta homenagem - como disse, considero que é uma homenagem à política externa conduzida pelo Presidente da República e pelo Ministro Celso Amorim - e dizer que é, para mim, uma satisfação muito grande estar aqui com os senhores, com todos os colegas, com o Presidente da República, e lembrar que recebi meu diploma do Instituto Rio Branco das mãos do Presidente João Goulart, na presença do Embaixador Araújo Castro, que era Ministro de Estado na época, e do paraninfo da minha turma, que era San Tiago Dantas - San Tiago Dantas estaria feliz aqui.
Muito obrigado."
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
domingo, 16 de agosto de 2009
A Copa do Mundo é nossa II
Vejam a reportagem abaixo da FSP. Vizi, no DF ainda temos que acrescentar a reforma do estádio do Gama e o VLT (tipo fura-fila) entre o aeroporto e o estádio.
Reforma no DF equivale a dois estádios novos
Pela Copa, Mané Garrincha irá consumir R$ 740 mi
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se dependesse só da vontade das cidades que sediarão a Copa-2014, reforma, demolição e construção dos estádios que serão utilizados pelas seleções chegariam a quase R$ 5 bilhões.
O custo detalhado previsto por cada sede foi apresentado ao governo, que determinou a redução das estimativas, tamanha a discrepância detectada.
Não se tratam, porém, de projetos executivos, quando será possível ter uma ideia mais clara dos custos envolvidos.
Pouquíssimas das cidades chegaram a esse estágio e há casos em que nem foi escolhida ainda a empresa de arquitetura.
Um caso de discrepância é a reforma do Mané Garrincha (Brasília), cuja previsão é de R$ 740 milhões de recursos públicos (o estádio é do governo do DF). O valor representa pouco menos do que foi orçado para construir dois novos estádios, em Cuiabá (R$ 440 milhões) e Manaus (R$ 400 milhões).
Mas, mesmo que as estimativas das arenas de Manaus e Cuiabá sejam baixas perto da do Mané Garrincha, o governo federal não vê necessidade de usar tanto dinheiro, já que essas capitais não têm clubes na primeira divisão, o que restringe o uso das arenas após a Copa.
Manaus já está revisando o valor para que seja reduzido. Nos dois casos, os recursos serão provenientes de impostos porque as áreas são públicas.
Depois de Brasília, o orçamento mais caro é o de Salvador: R$ 639 milhões para a reconstrução da Fonte Nova. Os recursos serão obtidos por meio de PPPs (parcerias público-privadas). O novo estádio de Recife custará, pelos cálculos exibidos, R$ 540 milhões, com PPP. A seguir, vem a reforma do Mineirão, estimada entre R$ 350 milhões e 500 milhões.
O custo inicial para a reforma do Maracanã é de R$ 440 milhões, mesmo valor da construção de arena em Cuiabá.
A reforma de estádio em Fortaleza está orçada em R$ 400 milhões, mesmo valor previsto para a construção em Manaus.
A estimativa para erguer um estádio em Natal é de R$ 309 milhões, valor pouco menor do previsto para a reforma no Morumbi (R$ 300 milhões). As reformas do Beira-Rio, em Porto Alegre, e da Arena da Baixada, em Curitiba, são as mais baratas: R$ 150 milhões e R$ 138 milhões, respectivamente.
Reforma no DF equivale a dois estádios novos
Pela Copa, Mané Garrincha irá consumir R$ 740 mi
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se dependesse só da vontade das cidades que sediarão a Copa-2014, reforma, demolição e construção dos estádios que serão utilizados pelas seleções chegariam a quase R$ 5 bilhões.
O custo detalhado previsto por cada sede foi apresentado ao governo, que determinou a redução das estimativas, tamanha a discrepância detectada.
Não se tratam, porém, de projetos executivos, quando será possível ter uma ideia mais clara dos custos envolvidos.
Pouquíssimas das cidades chegaram a esse estágio e há casos em que nem foi escolhida ainda a empresa de arquitetura.
Um caso de discrepância é a reforma do Mané Garrincha (Brasília), cuja previsão é de R$ 740 milhões de recursos públicos (o estádio é do governo do DF). O valor representa pouco menos do que foi orçado para construir dois novos estádios, em Cuiabá (R$ 440 milhões) e Manaus (R$ 400 milhões).
Mas, mesmo que as estimativas das arenas de Manaus e Cuiabá sejam baixas perto da do Mané Garrincha, o governo federal não vê necessidade de usar tanto dinheiro, já que essas capitais não têm clubes na primeira divisão, o que restringe o uso das arenas após a Copa.
Manaus já está revisando o valor para que seja reduzido. Nos dois casos, os recursos serão provenientes de impostos porque as áreas são públicas.
Depois de Brasília, o orçamento mais caro é o de Salvador: R$ 639 milhões para a reconstrução da Fonte Nova. Os recursos serão obtidos por meio de PPPs (parcerias público-privadas). O novo estádio de Recife custará, pelos cálculos exibidos, R$ 540 milhões, com PPP. A seguir, vem a reforma do Mineirão, estimada entre R$ 350 milhões e 500 milhões.
O custo inicial para a reforma do Maracanã é de R$ 440 milhões, mesmo valor da construção de arena em Cuiabá.
A reforma de estádio em Fortaleza está orçada em R$ 400 milhões, mesmo valor previsto para a construção em Manaus.
A estimativa para erguer um estádio em Natal é de R$ 309 milhões, valor pouco menor do previsto para a reforma no Morumbi (R$ 300 milhões). As reformas do Beira-Rio, em Porto Alegre, e da Arena da Baixada, em Curitiba, são as mais baratas: R$ 150 milhões e R$ 138 milhões, respectivamente.
A Rainha e a Crise
Nossa simpática Rainha Elizabeth, símbolo do Império Britânico, parece que foi passear na London School of Economics em fins de 2008. Papo vai, papo vem, ela fez uma pergunta inteligente, muito original, quase filosófica, algo como "Por que ninguém viu essa crise chegando?". Eu estou zoando, mas nem tanto, porque as diferentes respostas a essa perguntinha básica dão sinais bastante importantes do "onde estamos e para onde vamos".
Pois bem, um grupo de notáveis inglêses elaborou uma resposta e enviou a ela. Situaram-se mais em questões econômico-financeiras, desequilíbrios, falta de supervisão e regulação, etc... Estão corretos, enfim, há razoável convergência de diagnósticos hoje na área, o difícil é consensuar e implementar as correções necessárias.
Só que um pessoal mais crítico não gostou muito e enviou um comentário, uma outra carta, ampliando o foco. Discutem padrões de consumo, a dependência energética, danos ambientais e a desigualdade que acompanhou o crescimento mundial dos anos que precederam a crise financeira. Destaco uma frase, que devia ser uma obviedade, mas, enfim: "The distinction between quantitative 'growth' and qualitative 'development' is key."
Essa é uma questão que nem Serra nem Dilma pareciam ser capazes de colocar em debate. Mas a querida Senadora Marina Silva o fará, caso saia mesmo candidata. Vai obrigá-los, no mínimo, a falar sobre isso. Por isso fiquei muito satisfeito quando, de surpresa, soube dessa possibilidade.
Iniciei com uma Rainha e terminei com outra Rainha.
Pois bem, um grupo de notáveis inglêses elaborou uma resposta e enviou a ela. Situaram-se mais em questões econômico-financeiras, desequilíbrios, falta de supervisão e regulação, etc... Estão corretos, enfim, há razoável convergência de diagnósticos hoje na área, o difícil é consensuar e implementar as correções necessárias.
Só que um pessoal mais crítico não gostou muito e enviou um comentário, uma outra carta, ampliando o foco. Discutem padrões de consumo, a dependência energética, danos ambientais e a desigualdade que acompanhou o crescimento mundial dos anos que precederam a crise financeira. Destaco uma frase, que devia ser uma obviedade, mas, enfim: "The distinction between quantitative 'growth' and qualitative 'development' is key."
Essa é uma questão que nem Serra nem Dilma pareciam ser capazes de colocar em debate. Mas a querida Senadora Marina Silva o fará, caso saia mesmo candidata. Vai obrigá-los, no mínimo, a falar sobre isso. Por isso fiquei muito satisfeito quando, de surpresa, soube dessa possibilidade.
Iniciei com uma Rainha e terminei com outra Rainha.
Os EUA e a ONU
Aqui temos a transcrição da Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Susan Rice, em palestra na New York University nessa semana. Segundo nossa amiga, os EUA têm hoje outra postura, mais proativa, com relação à ONU. Não está errada, os exemplos são vários, resta saber se seguirão nessa direção, ou se logo a realpolitik prevalecerá e tornará tudo seco novamente.
Há um looongo caminho para que os EUA legitimem a liderança que esperam exercer. Por enquanto, foram dados alguns passos positivos, mas navegar é preciso, ainda é cedo. E vejam como as questões prioritárias para eles são mesmo as vinculadas à segurança. O discurso, em todo o caso, aponta para o diálogo, a disposição para o debate e certo reforço da ONU.
Destaco duas coisas:
1) Ela não cita questões econômico-financeiras. Os EUA não consideram a ONU um foro adequado para tratar desses temas. Preferem instituições nas quais tenham certo controle, como o FMI e o Banco Mundial, ou então fóruns mais técnicos como o Conselho de Estabilidade Financeira, o Comitê da Basiléia. O G-20 é uma novidade que vem funcionando e os EUA, jogando em casa, têm maior responsabilidade pelos resultados da próxima Cúpula em Pittsburgh. Vamos ficar de olho aí também.
2) Interessante a questão do trabalho dos EUA em montar novas coalizões na ONU, ou melhor, desmontar a rigidez das atuais coalizões. Possivelmente se refere ao G-77, que na área econômico-financeira, por exemplo, opera coeso, ou a grupos com afinidades geográficas e mecanismos mais consolidados de concertação política em outras áreas do mundo multilateral. Eu até concordo que certa inflexibilidade pode dificultar às vezes o consenso, do ponto de vista dos outros, especialmente dos mais fortes, mas os membros dos grupos sabem que a unidade confere peso às suas deliberações. Os EUA jogam na velha tática de dividir para melhor governar, como não poderia deixar de ser. Os países mais poderosos preferem, na maioria das questões, um tratamento diretamente bilateral ou mais restrito.
Um detalhe é que o Brasil é um dos grandes arquitetos da atual geometria variável da política internacional, participando da formação de grupos específicos para um série de questões. G-20 comercial, G-20 financeiro, IBAS, BRICs, Mercosul, UNASUL, CALC, Cúpula Aspa, Cúpula ASA, Aliança das Civilizações, CPLP, e mais vários outros por aí.
Bom, novidade alguma, muito já se escreveu sobre isso. Apenas iniciando um longo vôo nesse campo, espero desenvolver idéias mais precisas quando tiver mais experiência.
Há um looongo caminho para que os EUA legitimem a liderança que esperam exercer. Por enquanto, foram dados alguns passos positivos, mas navegar é preciso, ainda é cedo. E vejam como as questões prioritárias para eles são mesmo as vinculadas à segurança. O discurso, em todo o caso, aponta para o diálogo, a disposição para o debate e certo reforço da ONU.
Destaco duas coisas:
1) Ela não cita questões econômico-financeiras. Os EUA não consideram a ONU um foro adequado para tratar desses temas. Preferem instituições nas quais tenham certo controle, como o FMI e o Banco Mundial, ou então fóruns mais técnicos como o Conselho de Estabilidade Financeira, o Comitê da Basiléia. O G-20 é uma novidade que vem funcionando e os EUA, jogando em casa, têm maior responsabilidade pelos resultados da próxima Cúpula em Pittsburgh. Vamos ficar de olho aí também.
2) Interessante a questão do trabalho dos EUA em montar novas coalizões na ONU, ou melhor, desmontar a rigidez das atuais coalizões. Possivelmente se refere ao G-77, que na área econômico-financeira, por exemplo, opera coeso, ou a grupos com afinidades geográficas e mecanismos mais consolidados de concertação política em outras áreas do mundo multilateral. Eu até concordo que certa inflexibilidade pode dificultar às vezes o consenso, do ponto de vista dos outros, especialmente dos mais fortes, mas os membros dos grupos sabem que a unidade confere peso às suas deliberações. Os EUA jogam na velha tática de dividir para melhor governar, como não poderia deixar de ser. Os países mais poderosos preferem, na maioria das questões, um tratamento diretamente bilateral ou mais restrito.
Um detalhe é que o Brasil é um dos grandes arquitetos da atual geometria variável da política internacional, participando da formação de grupos específicos para um série de questões. G-20 comercial, G-20 financeiro, IBAS, BRICs, Mercosul, UNASUL, CALC, Cúpula Aspa, Cúpula ASA, Aliança das Civilizações, CPLP, e mais vários outros por aí.
Bom, novidade alguma, muito já se escreveu sobre isso. Apenas iniciando um longo vôo nesse campo, espero desenvolver idéias mais precisas quando tiver mais experiência.
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