quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz 2010

Leminski e Brasilia

Pesquisando sobre Paulo Leminski, filho de polonês com negra, poeta curitibano, escritor, tradutor e professor. Recordava-me da poesia abaixo. Ela faz sentido, sempre fez. Atualmente faz mais, pois estou me despedindo de muita gente. É hora de dizer, caso contrário carregarei coisas dentro de mim que poderão ocupar muito espaço. O tempo é precioso, não volta, sem chance. Ás vezes nos chama a olhar para trás. Pode incomodar. Por que não olhá-lo de frente?

"É tarde, sai daqui", poderão redarguir até com raiva. "E daí", poderão falar... e como é dura a indiferença! Isso quando eu conseguir ser devidamente ouvido... faz tempo, né, para que mexer?

Mas acho importante tentar, fazer o gesto, colocar para jogo, se abrir. Às vezes dói. Pode doer bastante. Falo porque já estive lá. Mas vale.

E por isso, se possível, não custa procurar aprender a tornar tais movimentos parte do dia-dia, exercitar o diálogo, evitar grandes choques, se colocar de forma mais aberta, tranquila, construtiva. Deixar o sentimento fluir. Tô tentando.

Fiquemos com a poesia de nosso amigo Leminski.

PERGUNTE AO PÓ

cresce a vida
cresce o tempo
cresce tudo
e vira sempre
esse momento

cresce o ponto
bem no meio
do amor seu centro
assim como
o que a gente sente
e não diz
cresce dentro



E agora essa abaixo tirei de um blog, muito interessante, Leminski em Brasilia...

"Paulo Leminski durante sua visita a Brasília em 1984, após um almoço numa pensão na W3S,. com Ivan "Presença", Nicholas Behr e Alice Ruiz, deixou o manuscrito com o também poeta Nicholas Behr. Originalmente publicado em “Tira Prosa” a revista cultural do Feitiço Mineiro, Número 11 out. / nov. / 1998."

claro calar
sobre uma cidade
sem ruínas
Em Brasília admirei
Não a niemeyer lei,
admirei a vida das pessoas
penetrando nos esquemas,
tinta sangue no mata borrão,
vermelho gente
entre pedra e pedra
pela terra a dentro
Em Brasília, admirei
Admirei o pequeno restaurante
Oculto,
Criminoso por estar fora
Da quadra permitida
Sim, Brasília
Admirei o tempo
Que já cobre de anos
Tuas impecáveis matemáticas
Sim, Brasília,
O erro sim, não a lei
Muito me admiraste,
Muito te admirei

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Drummond...

Poema de sete faces

...

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Riqueza, Desenvolvimento, Qualidade de Vida e um pouco da sétima arte

Esse passou batido por aqui. Como sabemos, o PIB é uma medida muito controversa quando queremos avaliar o bem-estar da população. A renda per capita, então, é algo muito enganoso. Por exemplo, a construção de presídios aumenta o PIB. A devastação de florestas e campos e cerrados e matas e favelas dá lugar a arrojados empreendimentos que fazem crescer o PIB, mas isso é bom, assim, sem mais nem menos? E as pessoas que lá habitam?

Pois bem, o Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, da ONU, é uma primeira tentativa, das que colou, de utilização de outros indicadores para avaliar o bem-estar dos povos. Junta renda per capita, expectativa de vida e alfabetização, creio. Mas é limitado e falho. Falho, por exemplo, pelo uso da renda per capita. Pensem num país como a Arábia Saudita. Uma elite minoritária riquíssima, povo pobre e sem direitos civis. Mas a renda média é alta e o índice ganha um impulso.

Nesse ano, uma Comissão Stiglitz, empurrada pelo onipresente Sarkozy, desenvolveu uma série de estudos sobre o tema. A ONU vem discutindo aperfeiçoamentos, creio que o IPEA está envolvido do lado brasileiro. Aliás, o IPEA criou um Índice de Qualidade do Desenvolvimento que publica mensalmente. O nobre reino do Butão, ho ho ho, com o qual estabelecemos relações diplomáticas nesse ano, tem um conceito de Felicidade Interna Bruta, ou algo assim. O tal do príncipe lá é meio visionário, dessas pessoas diferentes com as quais simpatizamos imediatamente. O José Eli da Veiga, da USP, já citado aqui, tem uma série de textos sobre essas coisas.

Em resumo, é amplo, vou ler um pouco mais sobre o tema e escrever com calma um outro post. E em breve, quem sabe, um relato em primeira mão de uma visita minha ao Butão. Ao Nepal. À região do Tibet. Tailândia. Camboja e Angkor Wat. Coréia do Norte. Do sul também. Japão. Aliás, anteontem vi Os Sete Samurais, do mestre Kurosawa. Filmaço ambientado no Japão medieval. Fotografia. Interpretação. Música. Drama. Fantástico. Sensacional. Honra. Guerra e Paz. Amor. Vejam o trailer. Aliás, aliás, como será o cinema chinês?

domingo, 27 de dezembro de 2009

Assuntos para breve

Novos lances da Satiagraha.

A crise econômica, financeira, ambiental, ideológica, de governança, enfim, a crise do sistema político mundial.

Elencar alguns temas para 2010.

A máquina político-financeira montada por Arruda, PO, deputados distritais, imprensa, juizes, auditores, etc... Em que pé estão as coisas. E minha visita pelo Setor Noroeste, símbolo da especulação político-imobiliária, que promete complicar ainda muito mais as coisas em Bsb.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Learning to Fly

A construção de um mito



Edito du Monde
Lula, l'homme de l'année 2009, par Eric Fottorino
LE MONDE | 24.12.09 | 11h32 • Mis à jour le 24.12.09 | 11h32


Pour la première fois dans son histoire, Le Monde a décidé de désigner la personnalité de l'année. "Sa" personnalité de l'année. L'exercice pourrait paraître hasardeux ou galvaudé. Qui distinguer ? Selon quels critères ? Au nom de quelles valeurs ? Comment se différencier de grands et prestigieux confrères étrangers, tel l'hebdomadaire américain Time, qui nous a depuis longtemps devancés sur ce chemin en élisant sa "person of the year" ?


Nos discussions ont ainsi mis en lumière ce qui nous rassemble sous la bannière du Monde. Puisque, depuis soixante-cinq ans, le titre de notre journal est une invitation au regard planétaire, nous avons choisi une personnalité dont l'action et la notoriété ont pris une dimension internationale. Soucieux de sortir des choix obligés qui auraient pu nous porter vers le président des Etats-Unis, Barack Obama (mais il fut davantage l'homme de 2008 que celui de 2009), nous avons aussi écarté les personnalités "négatives", encore que leur action soit déterminante dans la nouvelle configuration mondiale : Vladimir Poutine et sa tentation-tentative de reconstituer l'empire soviétique; Mahmoud Ahmadinejad, dont chaque parole et chaque acte sont un défi à l'Occident.

Depuis sa création, Le Monde, marqué par l'esprit d'analyse de son fondateur, Hubert Beuve-Méry, se veut un journal de (re)construction, sinon d'espoir; il véhicule à sa manière une part du positivisme d'Auguste Comte, prend fait et cause pour les hommes de bonne volonté. C'est pourquoi, pour cette première désignation, que nous souhaitons désormais renouveler chaque année, notre choix de raison et de cœur s'est porté sur le président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, plus connu sous le simple nom de Lula.

Il nous a paru que par son parcours singulier d'ancien syndicaliste, par sa réussite à la tête d'un pays aussi complexe que le Brésil, par son souci du développement économique, de la lutte contre les inégalités et de la défense de l'environnement, Lula avait bien mérité… du monde.


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Lire Le Monde Magazine : les personnes, les événements et les mots qui ont marqué 2009.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Papai Noel Velho Batuta

Um clássico vindo do ABC, revolta social, imagens polêmicas. Feliz Natal, meu simpático velhinho.

Bom Senso

Sonzeira muito legal demais das antigas do Tim Maia, muitos pensam que é a melhor fase, yo no lo sé, apenas sei que o bom senso às vezes me faz muita falta, mas tampouco gostaria de viver preso ao bom senso. Os movimentos espotâneos, aleatórios, nos tornam mais humanos, é preciso cultivar a liberdade de arriscar.

Pais e Filhos

Natal, família, fim de ano, avaliar, repensar, meditar. Faz sol em São Paulo Babilônia Selva. Reencontros, despedidas, saudades, China, adeus, frio na barriga, decisões, escolhas e renúncias, às vezes não se sabe bem o que fazer e talvez algumas imprudências e até irresponsabilidades aconteçam. Ando meio sensível, há impulsos, sentimentos confusos, não se pode brincar com eles, mas o que é o certo e o que é o errado, quem está aí para julgar? Segue a vida, para frente, só nos resta conviver, aceitar, entender, ver o lado bom das coisas, tirar o melhor, não esperar tanto dos outros, mas sim de si próprio, oferecer, se abrir, entender, compreender, não julgar, mas se preciso for, perdoar. Faz muito bem.

Esse blog não é pessoal, mas às vezes escorrego...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Brasil no mundo que vem aí


Na lateral esquerda, o Presidente Zuma, da África do Sul. Depois temos o Presidente Lula, Obama, Hillary, o trio Dilma-Marco Aurélio-Celso Amorim, o Premier Wen Jiabao (o Presidente Hu Jintao não foi) e abaixo à direita podemos ver o belo turbante de nosso amigo Primeiro-Ministro da Índia, Manmohan Singh.

Pois é, a política externa é um fracasso. A "diplomacia petista" não é levada a sério. Lula é um analfabeto, não entende as coisas, envergonha o país.

Je suis désolé: sorry, periferia...

A sabedoria dos grandes mestres


Retomo Volcker, é preciso. Ele nos quebrou na década de 80, é fato. O dólar é a moeda dos EUA, mas problema do resto do mundo. Volcker levantou os juros a cerca de 20% anuais. Foi a reafirmação da centralidade do dólar, um marco no estabelecimento do sistema monetário internacional dólar-flexível, Bretton Woods II, sem um lastro que não fosse o poderio militar, tecnológico, industrial, econômico e cultural dos EUA. A emissão da moeda reserva, o controle da liquidez mundial, privilégios mais do que exorbitantes, mas um fato da realidade. Não sabemos como poderia ter sido de outra forma.

Subiu os juros lá em cima e nossa pobre América Latina, endividada em moeda estrangeira a taxas flutuantes, quebrou. A casa caiu. Com a falência dos países, entraram o FMI e o Banco Mundial com suas reformas "modernizantes", empréstimos cheios de condicionalidades, intrusivos, uma tragédia que foi reforçada com o momento unipolar possibilitado pela queda da URSS.

Não consta que Volcker tenha perdido algum minuto de sono por causa dos descaminhos de nuestra pobre Latino América. Enfim, toda essa introdução pretensiosa, high high politics, the highest one, para chamar a atenção novamente para nosso amigo, simpático velhinho da foto, conselheiro econômico do Presidente Obama, que vem saindo da toca onde se encontrava, ainda com boatos de que não é ouvido para nada na Casa Branca. Ele concedeu uma belíssima entrevista aos alemães do Der Spiegel.

Volcker está preocupado: a) com o futuro dos EUA, a economia, a competitividade, a dívida; b) com as estripulias de Wall Street, a prevalência da esfera financeira sobre a produção e a falta de avanços no campo regulatório. Sutilmente, diplomaticamente, com grande maestria, nosso amigo velho sábio mostra que está incomodado com algumas coisas. Confiram...

Rédeas para os bancos

Tomo emprestado o título do editorial do Estadão de ontem. O Comitê da Basiléia, vinculado ao Bank of International Settlements, BIS, na sisuda e pacata Basiléia (Suíça), propôs na semana passada novas regras para a base de capital dos bancos, para alavancagem por tipo de empréstimo e também sugestões para controles de alguns dos produtos em operação na moderna finança globalizada, em particular os derivativos (financial weapons of mass destruction). Não vou entrar em detalhes, são coisas técnicas e um tanto quanto ásperas. Quem tiver interesse, temos um resuminho aqui e links para explicações mais precisas.

O Comitê busca assim atender às demandas do G-20. São passos positivos. As propostas serão discutidas durante 2010 para serem gradualmente implementadas até o fim de 2012. O timing é compreensível. Regras de capital mais duras, caso implementadas agora, tornariam ainda mais difícil a situação de diversos bancos dos países desenvolvidos, que ainda cambeleiam e dependem da enorme boa vontade das autoridades públicas.

No entanto, as propostas não ousam imiscuir-se no tema do "Too Big to Fail = Too Big to Exist", ou seja, se uma instituição é considerada tão grande a ponto de sua falência não poder ser permitida, então ela não deve existir. Isso quer dizer: deveria haver limites para o tamanho dos bancos; uma separação mais rígida, talvez total, entre (a)seu papel de concessão pública que recebe depósitos e empresta à economia real, aí sim garantida pelo governo, e (b) as aventuras especulativas com o capital próprio e de terceiros.

É compreensível que as sugestões não adentrem essa seara mais política, muito complicada. Tampouco, numa primeira leitura, parecem fazer menção à taxação dos fluxos internacionais de capitais, tema que vem ganhando força e foi objeto de artigo do Presidente do IPEA no caderno de economia do Estadão. Tudo bem, aí não é papel da Basiléia nem do BIS, os caras não têm mandato para isso. Vamos deixar que a roda da história esquente mais esse debate, que terá que ser conduzido pelos Chefes de Estado, Ministros da Fazenda e pelo Poder Legislativo dos países.

Zebu na Dinamarca

Crise. Na economia, nas finanças, nos mecanismos de governança, no clima, etc... Como esperado, as negociações em Copenhaguen não deram em nada.

A batata quente ficou no colo dos EUA, em primeiríssimo lugar. A declaração final de Obama dizendo que haviam chegado a um "meaningful agreement" após uma reunião com Brasil, China, Índia e África do Sul, para depois sair correndo para Washington, não colou. Depois dos EUA, a bola ficou no colo da presidência dinamarquesa, da China e de nossa desprestigiada ONU, que realmente não vive um bom momento. (É preciso ressaltar, no entanto, que a ONU é o que os países membros desejam que ela seja. Ruim com ela, pior sem ela.)

Aqui, um artigo do Jeffrey Sachs descendo a lenha em Copenhaguen. "Two years of climate change negotiations have now ended in a farce in Copenhagen."

O Brasil ficou bem na foto, mas sabemos que é uma foto chata. Nossa diplomacia mais uma vez na linha de frente das negociações. A matriz energética brasileira, o anúncio de metas significativas e até eventual contribuição financeira nos colocam em posição confortável no triste "jogo das culpas". Abaixo o discurso final de um irritado Presidente Lula, de improviso, muito aplaudido, colocando alguns dedos em algumas feridas, especialmente a falta de compromisso dos países ricos, além de reconhecer a tragédia de se juntar os grandes líderes da humanidade, diante de um grave problema coletivo, e não se conseguir chegar a lugar algum. Na ausência de liderança no mundo que adentra 2010, o Presidente Lula, à vontade, ocupa cada vez mais espaços. Mas o panorama geral não permite otimismo, nem mesmo ao Brasil.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aécio anuncia desistência

Fiquei surpreso com a notícia, não esperava isso assim, embora Aécio estivesse dando sinais de inquietação faz algumas semanas. Ao mesmo tempo, confesso que estava errado na minha avaliação da conjuntura de alguns (poucos) meses atrás. Achava que o jovem Governador de Minas Gerais iria mais longe, quem sabe forçar, pressionar o Governador Serra. Ele poderia construir um centrão, Minas conciliadora, o interior, o diálogo, tentar agregar, arriscar. Mas taí, ele foi mineiro. Vai cuidar do seu quintal, que aliás será bem ameaçado pelo pessoal do Pimentel em 2010.

apaguei algumas coisas que já havia escrito.

Aqui, a íntegra da da carta. Depois, após ler e refletir um pouco mais, quem sabe comente em maior profundidade. Mineiro até demais, será? Desistiu mesmo?

Música Medieval

Outro dia tive que confessar minha ignorância. Uma pessoa veio perguntar, vejam só, se eu conhecia música medieval. Pensei, pensei, cheguei a insinuar soltar um canto gregoriano, Bach, mas não, parece que não é isso. Pois bem, me passaram essa dica abaixo. Gostei. Diferente. Gostei por ser diferente e um tanto quanto tranquilo, embora talvez meio triste.

Deu vontade de conhecer um pouco mais sobre o período. Aprender. Vi batalhas, cavaleiros, cruzadas, lanças, escudos e armaduras. Ordens religiosas, feudos, vassalos, damas de cabelos encaracolados, fogueiras e fossos e torres em meio a muralhas. Sei que há uma discussão entre historiadores sobre o fato de que a Idade Média é considerada um período não muito positivo, de pouca criação artística, intelectual, etc... Mas não sei muito mais que isso e alguns estereótipos.

Enfim, música medieval para vocês. Para descontrair após esses posts mais críticos sobre Bernanke, financeirização, urbanismo, etc... Música Medieval, prévia da New Age?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma das piadas do ano

Já comentei sobre isso, mas não resisto e transcrevo a coluna do Vinicius Torres Freire na Folha de hoje. Bernanke, Person of the Year, piada do ano, certamente. A não ser que a Time esteja falando em nome de Wall Street. Leiam o artigo. Abaixo dele, prossigo com alguns comentários altamente subversivos.

"VINICIUS TORRES FREIRE

Homem de visão, a piada do ano

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Bernanke, presidente do Fed, que menosprezou a crise e depois arrumou a vida da banca, vira "Homem do Ano"
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BEN BERNANKE é a "Personalidade do Ano" da revista "Time". Bernanke preside o Fed, o banco central americano. O "prêmio" da "Time" é frufru publicitário, mas Bernanke vai ficar ainda mais "pop", ele que já vem sendo louvado pelo establishment americano, afora a extrema direita psicótica.
"Imagem é tudo", memória é nada. Bernanke assumiu o Fed no início de 2006. Ou seja, desde quando "até os urubus eram belos, no largo círculo dos dias sossegados", para citar Cecília Meirelles num contexto disparatado. Mas os urubus já pousavam nos beirais de Wall Street.
Quando ainda assessor econômico de George W. Bush, em 2005, Bernanke começava a queimar a língua. "Jamais tivemos queda nacional nos preços das casas", dizia, para negar o risco de colapso no mercado imobiliário, que afundaria mais de 25%.
Um mês depois de assumir o Fed, Bernanke inaugurava a longa série de discursos que entraram na longa história de negaças, desconversas, negligências, patranhas ideológicas e mentiras puras de governos. "Nossos técnicos nos dizem que os padrões de empréstimo estão, no geral, sólidos e não são comparáveis aos padrões mais frouxos que contribuíram para a crise dos empréstimos e poupanças de duas décadas antes", dizia Bernanke para negar o rumor de crise imobiliária, que detonaria a explosão das finanças e a recessão.
Bernanke, cinco meses depois: "As famílias americanas, em geral, têm administrado bem suas finanças pessoais ... O peso da dívida parece estar em níveis administráveis, e os índices de inadimplência em empréstimos ao consumidor e hipotecas residenciais estão baixos".
Em meados de 2006, Paul Krugman escrevia o seguinte em sua coluna do "New York Times": "O crescimento nos últimos três anos foi movido principalmente pelo boom do setor habitacional e pelo aumento acelerado nos gastos dos consumidores. As pessoas puderam comprar casas, apesar de os preços da habitação terem subido mais do que suas rendas, porque as aquisições estrangeiras de dívida americana mantiveram as taxas de juros em nível baixo... Nós nos tornamos uma nação na qual as pessoas ganham a vida vendendo residências umas às outras e pagando por essas residências com dinheiro emprestado da China. Agora essa brincadeira parece estar chegando ao fim".
Com o que Bernanke se preocupava no ano em que ele foi, digamos, o "Homem de Visão"? Com a "saúde" dos pobres: "A reforma de nossos insustentáveis programas de benefícios deveria ser uma prioridade".
Com a China, que vivia o risco de um "pouso forçado": "Embora o setor bancário esteja saturado com enorme e, provavelmente, crescente estoque de empréstimos problemáticos, o governo tem reservas consideráveis e é pouco provável que deixe o sistema bancário quebrar".
Bernanke negou a crise até que fundos começaram a explodir, em março de 2007, mas abafaria o caso até 2008, quando propôs "reestruturação da dívida das famílias", calotes organizados, intervenção estatal no mercado imobiliário e, enfim, começou a doar dinheiro à banca. Vários economistas de Clinton e Bush, pelegos do mercado, arrumaram tal confusão. Mas Bernanke arrumou a vida da banca. Merece um prêmio."


Gostaram? Isso me recorda o Malan. A despeito de ter quebrado o país, de ter promovido uma enorme socialização das perdas em 1998-2003, de ter nos jogado durante 6 anos no colo do FMI, o cara é idolatrado pela banca e pela imprensa "especializada". Ou então o Meirelles, que apesar das barbeiragens é considerado âncora do mercado financeiro no governo, garantia de bom senso, responsabilidade, sensatez, bom nome para Vice-Presidente, e blablabla.

São coisas meio surreais. Creio que os historiadores, em algumas décadas, se divertirão passeando pela antropologia, por alguma sociologia, de sociedades dominadas por indivíduos que buscam maximizar o retorno de seus ativos financeiros. E a forma como a política se subordinou à sustentação desses mecanismos de gestão patrimonial e ampliação da riqueza sob a forma líquida. Por isso essa mistificação de figuras como Greenspan, Bernanke, Malan, Meirelles, os operadores dos mecanismos de sustentação dos ativos financeiros onde se concentram e multiplicam as formas de riqueza dos estratos superiores da sociedade. Mistificação, endeusamento, mesmo com os notórios e sucessivos estragos que suas políticas causam, é incrível. Mas aí é que está a chave, estragos para quem? Em geral, para os orçamentos públicos, pois o Estado entra para resgatar os imprudentes e tentar sustentar os preços dos ativos. Os investidores, os insiders, a parcela do 1%, estes compram na baixa e são resgatados na alta. No Brasil, em Wall Street, na City...

Gostaram da prolixidade? Da complexidade? Estou aprendendo a escrever difícil, heheeh. Se um dia ficar conhecido, Madame Natasha vai puxar minha orelha. Eu quis descrever algo como "capitalismo financeiro", para usar um chavão já um pouco surrado. E falei sobre a leniência com bolhas e depois o risco moral, a apropriação de recursos públicos por entes privados sob o argumento de que se eles perderem o sistema todo quebraria.

Taí, o sistema, é o sistema. A máquina. Greenspan, Malan, Meirelles e Bernanke são apenas operadores. Garotinhos de recados. Quem são os donos da máquina?

A continuar...

Bernanke: Person of the Year

Já havia aqui tirado um barato do Bernanke, um dos sopradores de bolhas. Talvez tenha comentado em outros posts também, não me recordo.

Pois bem, hoje a Revista Time anunciou que nosso amigo Chairman do FED foi eleito Person of the Year. Krugman não perdoa. Vejam aqui.

Paul Volcker e a Inovação Financeira

Fazia tempo que não citava nossos amigos do Baseline. Nesse post, abordam uma manifestação recente do Paul Volcker, respeitadíssimo ex-chairman do FED cuja política monetária nos arrebentou na década de 80, favorável a uma regulação mais severa do sistema financeiro. Separo alguns trechos do pequeno post:

Volcker has three main points, with which we whole-heartedly agree:

1 “[Financial engineering] moves around the rents in the financial system, but not only this, as it seems to have vastly increased them.”

2 “I have found very little evidence that vast amounts of innovation in financial markets in recent years have had a visible effect on the productivity of the economy”

and most important:
3. “I am probably going to win in the end”.
.......
Volcker wants tough constraints on banks and their activities, separating the payments system – which must be protected and therefore tightly regulated – from other “extraneous” functions, which includes trading and managing money.
.......
The reason for Volcker’s confidence in his victory is simple - he is moving the consensus. It’s not radicals against reasonable bankers. It’s the dean of American banking, with a bigger and better reputation than any other economic policymaker alive – and with a lot of people at his back – saying, very simply: Enough.


Pois é, é isso, Volcker é daqueles que move o consenso. Eu venho dizendo aqui que apesar da resistência de Wall Street, da City, dos mercados em geral, a roda da história gira e políticas que anteriormente eram consideradas impensáveis passam a ser discutidas abertamente e gradualmente incorporadas às demandas das autoridades públicas nos países mais poderosos do mundo. A exceção ainda está nos EUA: Geithner resiste, o governo Obama é razoavelmente conservador na área, apesar da retórica forte, e portanto em termos concretos a questão regulatória avança com dificuldades.

Temos que ser pacientes. Possíveis novas bolhas, que vão estourar quando os EUA e a zona do euro apertarem a política monetária, podem mover ainda mais o consenso para que haja uma abrangente reestruturação da regulação financeira mais condizente com as necessidades de privilegiarmos os valores do trabalho e da produção sobre oportunidades especulativas com pouca ou nenhuma relação com a economia real.

Em outro post poderei abordar os perigos do déficit em conta corrente brasileiro, que vem sendo "naturalizado" pelos economistas ligados ao mercado financeiro, quando a maré de liquidez internacional virar. Isso foi tema do editorial do Estadão de hoje. Apenas recordo algo que já citei aqui, colado de nosso amigo Kenneth Rogoff, sábio de Harvard. É algo assim: "sempre que alguém disser que dessa vez é diferente, cuidado, estamos diante de uma bolha". Isso vale para nosso déficit na conta corrente.

Arquitetura da Segregação

Na semana passada, mais incêndios em favelas paulistanas. O Kassab também anunciou a "remoção" de milhares de famílias das margens do córrego Águas Espraiadas. Pretende fazer nada mais nada menos que um túnel entre a saída da Berrini/Morumbi e a Imigrantes. Mais uma obra bilionária para automóveis, não para os seres humanos. Coisa leve, fácil, baratinha, para que os ricos possam chegar mais rapidamente à praia e, tá bom, que os caminhões desçam melhor para o porto de Santos.

Por cima do túnel, o projeto promete um parque e, segundo o plano de marketing, moradias razoavelmente populares. Sei, ãhãn, acredita nele, moradias populares. Justo Kassab e seus vereadores, amplamente financiados pelo setor imobiliário. Esse blog já vai direto ao ponto: é mais uma obra faraônica, enormes investimentos públicos, para privilégio dos automóveis e a viabilização da valorização imobiliária. Um túnel para a especulação. E os pobres favelados serão expulsos para recantos longínquos das zonas leste e sul. E a estória do parque é como o Setor Noroeste em Brasília (bairro sustentável): busca dar uma roupagem verde, "sustentável", para um empreendimento socialmente segregador, concentrador de renda e com parcos requisitos do que se pode entender como desenvolvimento urbano de qualidade.

A cidade que cresce e enriquece não é para eles, que estão lá longe, alagados nas marginais, na zona leste ou nas cidades satélite. São Paulo é a "cidade dos muros", conforme falou a maravilhosa Teresa Pires do Rio Caldeira. Uma cidade segregada, privatizada, com espaços públicos degradados. E tome obras para carros, especulação imobiliária, remoção de favelas, etc... E Brasília é a Ilha da Fantasia, uma distribuição espacial burocraticamente hierarquizada, distante, inalcançável. Aliás, deverei voltar a comentar em breve, mas apenas adianto que em Brasília explodem as contratações de empresas de segurança, vigilância privada, câmeras e luzes bem fortes. O pesadelo privatista ensaia novos avanços na capital do país.

A continuar...

PS: Abro aspas para recentes mudanças no Orçamento 2010 da Prefeitura de SP:

"Ultimo Segundo/Agência Estado
Câmara de São Paulo corta verba contra enchentes, e garante a da publicidade

Votado em segunda discussão menos de quatro horas após ser apresentado aos líderes de bancada, a terceira versão do Orçamento de São Paulo para 2010 veio com uma redução de R$ 70,4 milhões na verba destinada à canalização de córregos, de R$ 30 milhões na coleta de lixo e de R$ 1 milhão para obras em áreas de risco.

O corte de R$ 1 bilhão feito de última hora pelo relator Milton Leite (DEM), contudo, não afetou os R$ 126 milhões reservados para a publicidade oficial da gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e a verba recorde da própria Câmara, fixada em R$ 399 milhões, um crescimento de 29% para o ano eleitoral, em relação aos recursos gastos deste ano (R$ 310,3 milhões)."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Raras Certezas - Billie Holiday

Ontem perguntaram-me sobre música, cinema, aquelas coisas difíceis de falar, pois quem gosta ama um pouco de tudo, música boa, cinema de qualidade, sem se prender a rótulos, pessoas, grupos, fases ou seja lá o que for. Mas, enfim, tirando a dificuldade de dar uma resposta imediata e certeira, de repente nossa Lady abaixo veio à minha mente, eu andei escutando-a no carro, e falei imediatamente o quanto me agrada ouvi-la cantar, ontem, hoje e sempre, em qualquer hora em qualquer lugar.

E achei esse vídeo sensacional para compartilhar aqui. O detalhe é que ela não está sozinha...

Mais curtas

E os brimos de Abu Dhabi colocaram US$ 10 bilhões para resgatar os vendedores de miragens de Dubai. Será suficiente? Há mais esqueletos escondidos nas areias do deserto? Interesting times...

Em Copenhaguen, como previsto, dificuldades. Creio que a luta será para saber no colo de quem ficará a bola.

Venezuela no Mercosul. Chile na OCDE.

Aqui o bom discurso do Presidente Lula na Confecom. Um bom discurso do líder de um governo ambíguo no tema. Parole, parole, mas na prática pouco fez. A Conferência é um passo importante, mas veio no fim do mandato, e aí? O Ministro das Comunicações é simplesmente Helio Costa, um cara da Globo... Aliás, o governo é muito ambíguo, contraditório até, em uma série de questões, isso já foi comentado por aqui. Lula é muito pragmático no exercício cotidiano do poder.

Mas voltando, apenas para dar um exemplo da necessidade de colocar essas questões na ordem do dia, o Código que regula rádio e televisão é de 1962. E os grandes grupos privados do setor, algumas famílias, não querem discutir nada, lhufas, nhecas de pitibiribas. Escondem-se do necessário debate com o argumento que qualquer tentativa de formulação e implementação de políticas públicas, como ocorre em todos os países desenvolvidos, é censura, ameaça à liberdade de expressão, e por aí vai, descendo, sempre para baixo... Eles têm enorme dificuldade de discutirem a si próprios, mas rogam-se o direito de apontar o dedo para quem quiserem, usarem e manipularem sua força midiática contra adversários comerciais, políticos, etc... Em resumo, cínicos, covardes, acomodados, gente estúpida, arrogante e hipócrita. Não sabem o que é o diálogo, a construção de consensos, foram criados no regime discricionário de triste memória. Famílias em decadência, felizmente. Falei tá falado.

Rápidas e curtas sobre regulação financeira

A reforma da regulação financeira proposta por Obama passou na sexta-feira na Câmara. Não é nada excepcionalmente arrojado, mas é um avanço que vai no sentido correto. Vamos ver o que acontecerá no Senado, onde tudo será mais difícil. O lobby dos bancos gastou, estima-se, uns US$ 360 milhões batalhando "contra tudo isso aí". Sem contar o financiamento às campanhas dos distintos legisladores. Lá e aqui, por todo o mundo.

Esse negócio do "self-regulation" é maravilhoso, quem não quer uma dessas? Para fazer o link com os posts abaixo sobre a Confecom, noto que é curioso que o argumento dos grandes e tradicionais grupos de comunicação no Brasil é o mesmo. "Regulação? Isso é cerceamento da liberdade de expressão? O Estado de Direito está em risco". No caso dos financistas, vamos supor, ao invés de Estado de Direito eles citariam o desenvolvimento, pois a inovação financeira (picaretagem com o dinheiro alheio) seria uma das condições para a plena libertação do potencial de crescimento das economias e blablabla...

Na semana passada também, os Ministros das Finanças europeus declararam-se favoráveis ao estabelecimento de taxas sobre os fluxos financeiros internacionais. Ohhhh, dirão os sábios do mercado, mas isso é uma heresia, como assim??? Pois é, os gênios PHDs das universidades norte-americanas que se tornam bilionários enquanto quebram o mundo fiam-se nas posições de Geithner e talvez do Japão para segurar o avanço dessa proposta, mas a bola ainda está rolando, tem jogo pela frente. A posição brasileira é a de observadora interessada, sem no entanto propugnar nem forçar a barra.

CONFECOM II

A entrevista do nosso amigo Venício dá uma geral boa na importância da Confecom. Coisa rápida e que vai direto ao fundamental, perfeita para um blog como esse. Resolvi, portanto, postá-la na íntegra para incentivar a leitura de meus poucos e muito queridos leitores:

Venício Lima é pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília e faz questão de definir seu envolvimento com a Confecom: "não sou membro de nenhuma entidade, eu não sou da comissão, eu acompanho porque tenho interesse profissional na área".

A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) começou nesta segunda-feira com a discussão de políticas de comunicação, mídia e direitos e deveres da cidadania e vai até o dia 17, quinta-feira.

Terra Magazine - A I Conferência Nacional de Comunicação começou ontem, em Brasília. Quais são as expectativas?
Venício Lima - É sempre bom lembrar que essas conferências são assembléias propositivas, elas não são deliberativas. Então, do ponto de vista formal, o máximo que pode acontecer são propostas que podem ou não serem encampadas pelo Poder Executivo ou Legislativo e transformadas em normas legais. Isso é um ponto importante, porque muitas pessoas não conhecem essa informação e podem esperar da conferência algo que ela não pode dar.

O que ela pode, efetivamente, dar?
O principal resultado da conferência ela já deu. Desde a sua convocação pelo presidente, criou-se um debate em nível nacional, nas mais diferentes camadas da população, ONGs, igrejas, entidades, todo tipo de seminários, sindicatos... Enfim, uma coisa inédita, que aconteceu independente da divulgação na grande mídia, essa mídia que se omitiu eloquentemente na sua divulgação, isso é extremamente positivo. E espero que isso se constitua numa agenda permanente. Que esse tenha sido somente o início de um debate, ponto inicial para a reivindicação de direitos. Se o conjunto da população não tiver consciência da comunicação como um direito e da mídia como um poder, não há como falar em nome da população e reivindicar esses direitos.

Há muitas décadas, o Brasil não discute a sua política de comunicação. Outros países da América Latina como Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Uruguai, Nicarágua, Argentina e Venezuela deram passos tão ousados quanto necessários. Por que o Brasil tardou tanto?
Historicamente, se constituiu no Brasil, sobretudo na radiodifusão, ou à partir da radiodifusão, ou envolvendo a radiodifusão, um protagonismo do setor privado, que acabou se transformando num ator tão poderoso e quase que exclusivo nessa área de políticas públicas. Por isto, até agora, eles se recusaram sequer a discutir as questões da área. Tanto que seis entidades, inicialmente envolvidas na comissão de organização da conferência, se retiraram dela. Por que não se discute? Porque os principais atores, cujos interesses têm sido historicamente beneficiados no setor, não têm interesse em discutir. Porque discutir significa levantar os problemas da área e eventualmente alterar as regras do jogo.

Como recuperar o tempo perdido?
É inevitável. Há como recuperar ao tempo perdido, fatalmente a Confecom interessa a todos os atores envolvidos, inclusive aos empresários, por causa da inovação tecnológica e por causa dos novos atores que chegaram e que são, do ponto de vista econômico, muito mais poderosos que os atores tradicionais. Eu estou me referindo, evidentemente, às teles. Elas chegaram ao campo porque elas têm a infraestrutura tecnológica necessária à distribuição de conteúdo.
A esses grupos tradicionais, interessa uma regulação, nem que seja para excluir os seus concorrentes, então eu acho que é fatal, o Brasil vai ter que regular a área, mas não necessariamente isso vai significar avanços. Eu espero e acredito que haverá avanços na área, do ponto de vista do direito à comunicação e da democratização.
Não há como ignorar a entrada dos novos atores. Além do mais, há que se levar em conta que nossa legislação na área de radiodifusão é da década de 70.

O senhor poderia se aprofundar mais nessa questão da entrada das teles?
Há um fato novo, que é, sobretudo, a partir da privatização promovida pelo governo do Fernando Henrique Cardoso, das telecomunicações, o Brasil passou a ter na área de telefonia fixa e móvel grandes grupos internacionais que, por conta das mudanças tecnológicas, hoje detém a capacidade técnica de infraestrutura para distribuição de conteúdo que antes eram monopólio da radiodifusão tradicional.
A tecnologia fez com que essas diferenças entre telecomunicação e radiodifusão fossem diluídas. Por exemplo. Eu sou uma empresa de telecomunicações e "cabei" uma determinada cidade com fios de fibra ótica, então, eu posso oferecer serviços de telefonia, de TV a cabo, de transmissão de dados... Eu passo a ter condições de competir com os radiodifusores tradicionais da área, que controlam, por exemplo, a área de TV a cabo.
Outro exemplo, o PL-29, que acabou de ser aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na semana passada, ele permite às teles a distribuição de conteúdo na área de TV a cabo, o que era uma prerrogativa da radiodifusão tradicional.
As transformações tecnológicas obrigarão, de forma inevitável, a regulação da área. Agora, a regulação interessa inclusive aos atores tradicionais, para garantir esses interesses ou para afastar seus concorrentes. Porque a legislação não os contempla mais.

Se as mudanças no setor interessam também aos grandes grupos de comunicação, por que alguns deles boicotaram a construção conferência?
Você pode exercer seu poder, inclusive na definição da agenda, na composição da plenária em termos da composição de delegados, sem atuar diretamente e sem transformar a conferência e os temas que nela estão sendo discutidos em agenda pública. Seis entidades representativas dos empresários saíram da comissão organizadora, em protesto contra uma eventual ameaça à liberdade de expressão e a existência de proposta de controle social - uma coisa vazia. Essa saída não significa uma ausência. Seus interesses continuam presentes no evento.
O sinal mais evidente que isso de fato aconteceu são as porcentagens dos delegados: 40% da sociedade civil, 40% de representantes dos empresários e 20% de representantes do Estado. Quando, no Brasil ou no mundo, o empresariado representa 40% da população? Nunca! Nada! Não há isso!
Eles não cobrem porque é uma tradição da mídia brasileira não cobrir a si mesma - isso contraria seus interesses. Mas isso não quer dizer que ela não esteja de fato presente. Ela está lá como uma sombra .

E qual seria o rumo ideal da conferência? E da regulamentação da comunicação no Brasil?
Essa pergunta comporta um curso de dois semestres numa universidade (risos). Os setores que tem lutado pela democratização da comunicação devem se concentrar em poucos pontos, não dispersar a pauta de reivindicações. Há inúmeros pontos que podem ser consenso e sair como proposta da conferência. Mas um que me parece fundamental é a questão da universalização da banda larga, apesar de eu achar que excesso de otimismo, nessa área, é contraproducente. Apesar disso tudo, eu acho que a universalização da banda larga representa uma mudança tão radicalmente importante, no sentido do poder que mídia tradicional tem exercido no Brasil e no mundo, que isso deveria ser prioridade.
O governo deve colocar, como há indicações que está colocando, a universalização da banda larga como prioridade zero na área de comunicações. Banda larga, inclusão digital, computadores de acesso barato para a população. Isso trará conseqüências fantásticas do ponto de vista do direito à comunicação.

CONFECOM

Começou ontem aqui em Brasilia a CONFECOM, 1a Conferência Nacional de Comunicação. As grandes conferências nacionais são espaços de discussão entre diversos setores sociais que buscam elaborar e implementar políticas públicas. Para tanto, são organizados debates, mapeados dissensos e, na medida do possível, construídos consensos.

Já foram realizadas várias nos últimos anos. Essa é particularmente importante, pois lida com um tema fundamental: os grandes meios de comunicação, concessões públicas, o acesso à informação, a qualidade da informação, a diversidade da informação. Informação é poder, sabemos todos. Na política, quase sempre o que importa é a versão, não o fato. Por isso, e pelo fato dos principais beneficiários das regras atuais (ou da ausência de regras) serem totalmente contrários a qualquer discussão sobre o tema, vemos a relevância do encontro. Trata-se, ampliando o horizonte, de uma discussão fundamental para a consolidação da democracia e do regime republicano.

Por alguns posts isolados, talvez nem tão frequentes quanto mereciam, está claro meu incômodo com a atual situação. Famílias perfazem oligopólios e forçam a barra, distorcem, agridem a inteligência, manipulam abertamente a informação em benefício de seus interesses econômicos-políticos. Eu creio que a coisa vem melhorando nos últimos anos, especialmente por causa da emergência da internet, que permite desmascarar com rapidez uma série de tramóias de alguns grandes grupos.

As próprias eleições de 2006 foram uma enorme derrota desse grupos. Eles jogaram pesado, pesadíssimo, na derrubada do Presidente Lula, mas ficaram com as mãos vazias. Prosseguem em seu intuito, atacam-no de todas as formas, mas estão bastante enfraquecidos. Caso a Dilma não vença, não será por causa da sordidez de certa cobertura jornalística, mas também por outros fatores.

Voltando, a internet é revolucionária. As empresas de telecomunicações querem entrar em TV a cabo e outras mídias, há uma mistureba, isso é bom, coloca concorrência, internet, blogs, TV aberta, TV a cabo, rádios, rádios comunitárias, universalização da banda larga, telecomunicações, etc... Portanto a Confecom também é boa por causa do momento, uma virada tecnológica, convergência, ampliação dos meios de produção e de consumo de informações, tirando-as do controle de famílias com pouco ou nenhum compromisso com a nação e o bem-estar da população brasileira.

Por fim, link para uma entrevista de um estudioso e aqui o site da Conferência. Vamos ver no que vai dar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

Paz Interior

Já que estamos falando de política externa, paz e guerra, guerra e paz, um clássico do rap paulistano, diretamente de Pirituba, RZO e sua paz interior.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Obama Prêmio Nobel

Aqui, a íntegra do discurso do Presidente Obama ao receber o Nobel da Paz. A despeito de não ser totalmente coerente com a história norte-americana (por exemplo, quando fala de democracia, devemos nos lembrar que apoiaram inúmeros golpes e regimes militares durante a história, como o fazem hoje com os regimes da Arábia Saudita, do Paquistão, Egito, etc...) e diante da interrogação representada pela recente decisão de mandar mais 30 mil homens ao Afeganistão (poderíamos acrescentar a enorme base que montarão na Colômbia, num continente de paz desnuclearizado), eu diria que é um belo discurso, com a retórica que sempre acompanha suas intervenções, mas com os pés no chão, um idealista realista, não sei bem, boas intenções bastante pragmáticas. Eu gosto do Obama. Torço para que seja bem sucedido. É um bom homem, na minha opinião. Gosto de suas elaborações argumentativas, de certa lógica que busca o diálogo, temos que dar um chance a ele.

Ele começa o discurso reconhecendo o valor do prêmio e apontando uma possível contradição por ser o líder da superpotência que no momento está envolvida em duas enormes operações militares distantes da América do Norte.

Alguns temas que a leitura do discurso levanta... A guerra sempre fez parte da história. Para fazer a paz, é preciso a guerra? A guerra é inevitável faz parte de nossa própria condição humana? O mal existe? Mas quem o define? Há guerra justa? Há mesmo um direito de intervenção humanitária? Até onde vai a diplomacia e onde deve começar a guerra? Os direitos humanos são uma construção ocidental ou devem valer (ou ser impostos) para todos países e civilizações?

Eu não tenho essas respostas todas, lamento.

O discurso é um texto para ser lido, guardado e daqui a alguns anos confrontado com a história. Algumas décadas?

E lá pelas tantas, eu quase vejo uma defesa do diálogo do Brasil com o Irã que, aliás, é incentivado pelos próprios norte-americanos, segundo parte da imprensa apontou.

"Let me also say this: The promotion of human rights cannot be about exhortation alone. At times, it must be coupled with painstaking diplomacy. I know that engagement with repressive regimes lacks the satisfying purity of indignation. But I also know that sanctions without outreach -- condemnation without discussion -- can carry forward only a crippling status quo. No repressive regime can move down a new path unless it has the choice of an open door.

In light of the Cultural Revolution's horrors, Nixon's meeting with Mao appeared inexcusable -- and yet it surely helped set China on a path where millions of its citizens have been lifted from poverty and connected to open societies. Pope John Paul's engagement with Poland created space not just for the Catholic Church, but for labor leaders like Lech Walesa. Ronald Reagan's efforts on arms control and embrace of perestroika not only improved relations with the Soviet Union, but empowered dissidents throughout Eastern Europe. There's no simple formula here. But we must try as best we can to balance isolation and engagement, pressure and incentives, so that human rights and dignity are advanced over time."


E sobre o desarmamento, tema do post abaixo:

"One urgent example is the effort to prevent the spread of nuclear weapons, and to seek a world without them. In the middle of the last century, nations agreed to be bound by a treaty whose bargain is clear: All will have access to peaceful nuclear power; those without nuclear weapons will forsake them; and those with nuclear weapons will work towards disarmament. I am committed to upholding this treaty. It is a centerpiece of my foreign policy. And I'm working with President Medvedev to reduce America and Russia's nuclear stockpiles."

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Se joga

Up the Beach, viagem do Jane`s Addiction, sonzeira, com imagens espetaculares de um desses caras que pega essas ondas monstro. Ficou muito legal. Se joga ae, mano.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A hipocrisia das grandes potências

Esse é o final da coletiva de imprensa da Chanceler Ângela Merkel e do Presidente Lula, que estiveram juntos na Alemanha faz alguns dias. Lula coloca o dedo na ferida da hipocrisia das grandes potências. Formam um exclusivo clubinho da morte, a high society do terror mundial, que prega a não-proliferação de armas nucleares mas se arroga o direito de manter arsenais capazes de devastar o planeta. Se ao menos avançassem no desarmamento, facilitariam as conversações que eles alegam tanto querer. Mas nem isso... Vejam aliás que bela intervenção do Presidente Lula.

Jornalista: Senhora Chanceler, a senhora mencionou que também falaram sobre o Irã. Gostaria de saber se acredita que o Brasil pode... quer dizer, se o Brasil... os estados europeus têm a mesma perspectiva no que se refere ao problema. Gostaria de saber do senhor Presidente como é que avalia a visita do presidente Ahmadinejad ao Brasil, que foi vista com alguma crítica aqui, a partir da Europa. Eu me informei sobre a visita do... (Interrupção no áudio) ...realizar determinados objetivos.

Presidente: Olha, o melhor e o mais barato para todos nós é acreditarmos nas negociações e termos muita paciência. Eu penso que tratar o Irã como se fosse um país insignificante, aumentando a cada dia a pressão sobre o Irã, poderá não resultar numa coisa boa. Como o Irã é um país de uma cultura muito forte, de 80 milhões de habitantes, com problemas internos muito grandes, nós precisamos aumentar o grau de paciência, para aumentar o grau de conversação com o Irã. Eu tive a sorte de, na mesma semana, ter o Presidente de Israel, o Presidente da Autoridade Palestina e o Presidente do Irã. Conversei muito com cada um deles, e eu penso que há sempre uma brecha para que a gente encontre um jeito de as pessoas concordarem que a paz é muito mais barata e muito mais eficaz do que a guerra.
Portanto, eu já conversei isso com a minha querida amiga Angela Merkel hoje; conversei com o presidente Obama, em Pittsburgh; conversei com o Sarkozy, conversei com o Gordon Brown: é preciso estabelecer uma nova linhagem, um novo tipo de conversação para ver se a gente diminui o grau de desconfiança generalizada existente hoje; cria-se um clima de confiança para a gente poder sonhar com a negociação.
E a minha posição é muito clara. O meu país tem, na Constituição – não é uma decisão do governo –, está aprovado na Constituição brasileira, feita em 1988, que é proibida a utilização de armas nucleares. E nós, no Brasil, temos enriquecimento de urânio para produzir energia elétrica. E o que nós queremos com o Irã? É o mesmo que o Brasil tem. O mesmo que o Brasil aceita para si, nós aceitamos para o Irã.
Eu acho que somente [com] a conversa é que a gente pode fazer uma concertação capaz de criar um clima de concordância ali, no Oriente Médio. Eu não sei se sou ingênuo, não sei se sou muito otimista, mas eu acredito muito, muito, na capacidade de convencimento e de diálogo das pessoas. Nós estamos tentando dar a nossa contribuição, e eu espero que aconteça o melhor, que não tenha arma nuclear no Irã e que não tenha arma nuclear em nenhum país do mundo. E que os Estados Unidos desativem as suas, que a Rússia desative as suas, porque autoridade moral para a gente pedir para os outros não terem, é a gente também não ter.
Então, é importante... Eu sou um país que assinou, na Constituição, a não proliferação de armas nucleares. Portanto, eu estou muito tranquilo para dizer. Agora, é importante que os que têm comecem a desmontar os seus arsenais, para que a gente tenha mais argumentos para convencer os outros.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Vitoriosos do domingo: Flamengo campeão

Campeonato nivelado por baixo, times fracos, mas bons públicos e muita disputa no final. O Flamengo é penta e agora só está atrás do SP (hexa) e Santos (octa). O blog deixa a homenagem ao Maraca cantando, coisa linda.

Vitoriosos do domingo: o índio na Bolívia


O Índio venceu mais uma, viva o Índio.

domingo, 6 de dezembro de 2009

sábado, 5 de dezembro de 2009

Robben Island


Acompanhando no canto da tela o sorteio da Copa na África do Sul, recordei-me da história da famosa ilhota em frente à Cidade do Cabo, Robben Island, onde Mandela ficou preso por 27 anos , creio, com uma série de outros líderes do movimento anti-apartheid. E aí pensei: por que não postar o vídeo da primeira, ou seria uma das primeiras, entrevista do grande líder sul-africano, realizada nos idos de 1961? Por que não essa pequena homenagem? Vejam a calma, a ponderação, a argumentação de nosso amigo, então um jovem advogado negro diante do mórbido regime do apartheid. Um cara corajoso demais, mas vejam que fala mansa e por isso mesmo mais poderosa...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bella Figlia Dell`amore

Do cinema de Werner Herzog, da planície amazônica desbravada por Fitzcarraldo, tomei conhecimento de Caruso e sua Bella Figlia Dell`amore. Mente inquieta, cheguei a Verdi, autor da ópera Rigoletto, cuja estréia se deu em Veneza, 1851.

Rigoletto, pobre aleijado e bobo de corte, amaldiçoado por Monterone.

Verdi, Bella Figlia Dell`amore, Caruso, os índios, Herzog, Kinski e Fitzcarraldo. Belo time.

A UDN do século XXI e o mensalão do DEM

Para os interessados, um excelente artigo de Maria Ines Nassif publicado no Valor Econômico de hoje. O moralismo barato, hipócrita, agressivo, no atual sistema político-midiático brasileiro, é apenas uma re-edição, piorada, desmoralizada, das piores características da UDN golpista do passado. Como os fatos no DF demonstram, o discurso de vestais da moralidade é de difícil sustentação.

O debate nacional tem, assim, oportunidade de subir de nível e quem sabe um dia será reformada a legislação do financiamento eleitoral, e as práticas anti-corrupção, para que a democracia da República brasileira possa fazer juz aos princípios que a distinguem de outros regimes de triste memória. O Presidente Lula, corretamente distanciando-se do caso, mencionou a possibilidade de uma Assembléia Constituinte para a realização de uma ampla reforma política. Este blog acredita que a idéia deve ser amadurecida. Leiam o artigo de nossa amiga Maria Inês.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Afim de saber

saindo do pensamento, atravessando o concreto e abraçando o sentimento, temos tom jobim soprando uma canção, um ensinamento, meditação, a dor e a beleza do amor, a angústia e a incerteza, palavras que falam e palavras que calam, sons, olhares, silêncios, jobins e tons de mil lugares;

não vale correr, não carece fugir, por favor não faça isso


E o mestre sossegou, respirou, meneou e ponderou-me com a tranquilidade de quem apenas repete uma conhecida verdade:

"Antonio,
suspiro que vem de dentro e não sai, arde que cai, chora que rola

mas se mexe lá dentro e escapa e atrai, assusta e encanta e seus males espanta"



em chinês?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Política Externa em debate

Lá no meio desse post já havia insinuado algo a respeito. Aqui, fui bem mais explícito ao falar da recepção ao Presidente do Irã.

Não resisto e transcrevo para deleite, ou eventual crítica, o texto do Fiori hoje no Valor Econômico. É um questionamento ao artigo que o Governador José Serra publicou na Folha no dia da vinda do Presidente do Irã. Achei o artigo de nosso presidenciável fraco, meio oportunista, enfim, jogou para uma minoria radical que se encontra, como Fiori colocou, sem bússula. Mais do que em outros momentos, no mundo de hoje não cabem alinhamentos automáticos. É importante ressaltar que no que se refere aos direitos humanos, o Brasil tampouco está imune a críticas, as mais variadas e legítimas, basta visitar uma cadeia ou passear pelas periferias das grandes cidades. Há uma enorme concentração de renda. A concentração da propriedade e da riqueza é ainda maior. O crime do colarinho branco dificilmente é punido. A justiça é distante, lenta, inatingível.

Bom, voltando ao Fiori, nosso amigo da UFRJ é um dos grandes mestres brasileiros da economia política internacional. Outro dia comento sobre o debate que ele, um realista, travou silenciosamente com o Bresser, um liberal idealista, sobre as perspectivas do futuro. Na verdade, não chegou a ser um debate. Foi uma resposta do Bresser a uma citação negativa do Fiori, que considerara sua visão ingênua. O título da resposta do Bresser foi: "Um mundo menos sombrio".

Pois Fiori não é muito otimista. Para ele, o motor das relações internacionais é a competição inter-estatal. Um misto de concorrência e simbiose entre os países. E a guerra faz parte desse movimento. E as crises financeiras são parte da, como diria, digestão do excesso de recursos financeiros alavancado pela potência hegemônica. Forças militares e a expansão da dívida pública. Valores também. Fiori não acredita em um colapso da hegemonia norte-americana, mas sim uma relativização do poder dos EUA diante de outros países/grupos/regiões.

Já Bresser adota outras perspectivas, é um idealista. Acredita na paz universal, nas instituições, na cooperação internacional. Objetivos comuns, políticas coordenadas. Talvez, num futuro distante, menos sombrio, se materialize a crença liberal na homogeinização da riqueza e no que se convencionou chamar de "progresso". Liberté, Fraternité, Égalité. Vitória. Para o indíviduo? O trabalho ou o capital? O povo? O Estado?

Enfim, é um longo e maravilhoso debate que não cabe aqui. Nem sei se tenho competência para discuti-lo, é filosofia política. Um dia, quem sabe.

Segue o artigo do Fiori atacando certo oportunismo rasteiro, eu diria, de um candidato que, penso, pode oferecer mais. O Governador jogou para a torcida. Mau início. Deve jogar para o país. Para começo de conversa, não hospedamos o Presidente do Irã. Ele passou um dia aqui. Falou e teve que ouvir. E se mandou.

Em política externa a conversa tem que ser séria. Concisa, fiel aos fatos, ao direito, ao costume, ao diálogo para o entendimento. Portanto, deixando de lado o lero-lero, vamos ao artigo do Fiori e tirem suas conclusões:

O debate da política externa: os conservadores

José Luís Fiori


"É desconfortável recebermos no Brasil o chefe de um regime ditatorial e repressivo. Afinal, temos um passado recente de luta contra a ditadura, e firmamos na Constituição de 1988 os ideais de democracia e direitos humanos. Uma coisa são relações diplomáticas com ditaduras, outra é hospedar em casa os seus chefes". José Serra, (Visita indesejável, "Folha de S. Paulo", 23/11/2009).

Já faz tempo que a política internacional deixou de ser um campo exclusivo dos especialistas e dos diplomatas. Mas só recentemente a política externa passou a ocupar um lugar central na vida pública e no debate intelectual brasileiro. E tudo indica que ela deverá se transformar num dos pontos fundamentais de clivagem, na disputa presidencial de 2010. É uma consequência natural da mudança da posição do Brasil, dentro do sistema internacional, que cria novas oportunidades e desafios cada vez maiores, exigindo uma grande capacidade de inovação política e diplomática dos seus governantes.

Nesse novo contexto, o que chama a atenção do observador é a pobreza das ideias e a mediocridade dos argumentos conservadores quando discutem o presente e o futuro da inserção internacional do Brasil. A cada dia aumenta o número de diplomatas aposentados, iniciantes políticos e analistas que batem cabeça nos jornais e rádios, sem conseguir acertar o passo, nem definir uma posição comum sobre qualquer dos temas que compõem a atual agenda externa do país. Pode ser o caso do golpe militar em Honduras, ou da entrada da Venezuela no Mercosul; da posição do Brasil na reunião de Copenhague ou na Rodada de Doha; da recente visita do presidente do Irã, ou do acordo militar com a França; das relações com os Estados Unidos ou da criação e do futuro da Unasul.

Em quase todos os casos, a posição dos analistas conservadores é passadista, formalista, e sem consistência interna. Além disso, seus posicionamentos são pontuais e desconexos, e em geral defendem princípios éticos de forma desigual e pouco equânime. Por exemplo, criticam o programa nuclear do Irã, e o seu desrespeito às decisões da comissão de energia atômica da ONU, mas não se posicionam frente ao mesmo comportamento de Israel e do Paquistão, que além do mais, são Estados que já possuem arsenais atômicos, que não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Atômicas, e que têm governos sob forte influência de grupos religiosos igualmente fanáticos e expansivos. Ainda na mesma linha, criticam o autoritarismo e o continuísmo "golpista" da Venezuela, Equador e Bolívia, mas não dizem o mesmo da Colômbia ou de Honduras; criticam o desrespeito aos direitos humanos na China ou no Irã, e não costumam falar da Palestina, do Egito ou da Arábia Saudita, e assim por diante. Mas o que é mais grave, quando se trata de políticos e diplomatas, é o casuísmo das suas análises e dos seus julgamentos, e a ausência de uma visão estratégica e de longo prazo, para a política externa de um Estado que é hoje uma "potência emergente".

Como explicar essa súbita indolência mental das forças conservadoras, no Brasil? Talvez, recorrendo à própria história das ideias e das posições dos governos brasileiros que mantiveram, desde a independência, uma posição político-ideológica e um alinhamento internacional muito claro e fácil de definir. Primeiro, com relação à liderança econômica e geopolítica da Inglaterra, no século XIX, e depois, no século XX - e em particular após a Segunda Guerra Mundial - com relação à tutela norte-americana, durante o período da Guerra Fria. O inimigo comum era claro, a complementaridade econômica era grande, e os Estados Unidos mantiveram, com mão de ferro, a liderança ética e ideológica do "mundo livre". Depois do fim da Guerra Fria, os governos que se seguiram adotaram as políticas neoliberais preconizadas pelos EUA e se mantiveram alinhados com a utopia "cosmopolita" de Clinton.

A visão era idílica e parecia convincente: a globalização econômica e as forças de mercado produziriam a homogeneização da riqueza e do desenvolvimento, e essas mudanças econômicas contribuíram para o desaparecimento dos "egoísmos nacionais" e para a construção de um governo democrático e global, responsável pela paz dos mercados e dos povos. Mas, como é sabido, esse sonho durou pouco, e a velha utopia liberal - ressuscitada nos anos 90 - perdeu força e voltou para a gaveta, junto com a política externa subserviente dos governos brasileiros daquela década.

Depois de 2001, entretanto, o "idealismo cosmopolita" de Clinton foi substituído pelo "messianismo quase religioso" de Bush, que seguiu defendendo ainda por um tempo o projeto Alca, que vinha da administração Clinton. Mas depois da rejeição sul-americana ao projeto e depois da falência do Consenso de Washington e do fracasso da intervenção dos Estados Unidos a favor do golpe militar na Venezuela, de 2002, a política externa americana para a América do Sul ficou à deriva, e os EUA perderam a liderança ideológica do continente, apesar de manterem a supremacia militar e a centralidade econômica.

Nesse mesmo período, as forças conservadoras foram sendo desalojadas do poder, no Brasil e em quase toda a América do Sul. Mesmo assim, durante algum tempo seguiram repetindo a sua ladainha ideológica neoliberal. O golpe de morte veio com e eleição de Barak Obama. O novo governo democrata deixou para trás o idealismo cosmopolita e o messianismo religioso dos dois governos anteriores e assumiu uma posição realista e pragmática, em todo mundo. Seu objetivo tem sido, em todos os casos, manter a presença global dos Estados Unidos, com políticas diferentes para cada região do mundo.

Para a América do Sul sobrou muito pouco, quase nada, como estratégia e como referência doutrinária, apenas uma vaga empatia racial e um anti-populismo requentado. Como consequência, agora sim, nossos conservadores perderam a bússola. Ainda tentam seguir a pauta norte-americana, mas não está fácil, porque ela não é clara, não é moralista, nem é binária. Por isto, agora só lhes resta pensar com a própria cabeça para sobreviver politicamente. Mas isto não é fácil, toma tempo, e demanda um longo aprendizado.

José Luís Fiori é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ e autor do livro "O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações" (Editora Boitempo, 2007). Escreve mensalmente às quartas-feiras.

Ponto de Equilíbrio

Aonde você vai chegar assim? aonde vai...
Seu assunto principal... é falar mal.... da vida alheia... mas isso é coisa feia.

Antes de julgar mal, porque não olha pra si mesmo.
Verá que está cometendo maior ou mesmo erro.
Onde você vai chegar assim? aonde vai?
contando histórias sem fim...
Seu assunto principal... é falar mal... da vida alheia... mas isso é coisa feia.

Quando não souber o que falar não fale nada,
então não venha me ocupar apontando defeitos dos outros, como se isso fosse normal,
Julgando-se perfeito, isso em si é um defeito e você pode ver.
Todos nós temos uma infinidade de defeitos, mas também temos qualidades que não dá nem pra contar.

Fala de fulano, fala de ciclano. fala de fulano, fala de ciclano.
Fala de fulano, fala de beltrano.

O blog é chapa branca?

Não me vejo como chapa branca. Defendo especialmente a política externa, boa parte da condução macroeconômica e a ampliação dos programas sociais como o Bolsa Família. Fiquei bem satisfeito com o viés nacionalista do pré-sal. Nas outras áreas do governo, ou não conheço as coisas de perto para poder julgar, ou vejo contradições, fraquezas, enfim, há problemas vários como não poderia deixar de ser, incluindo a relação com os partidos, o Congresso, o Judiciário, a maneira como foi feita a intervenção na Polícia Federal, etc...

Admiro muito o Presidente, mas em torno dele proliferam pessoas com interesses bem particulares, ainda mais em fim de governo com alta popularidade. Ele deve tomar cuidado com isso. Lula governa em contexto no qual os partidos se dissolveram, os ideais parecem ter ficado para trás, o governo arbitra batalhas entre grandes grupos econômicos, a legislação sobre o financiamento eleitoral é essa que ele mesmo critica, enfim, todo cuidado é pouco. Atenção com a hubris, como diriam nossos amigos ingleses.

Em respeito ao Cesar Benjamim, um intelectual com uma obra e uma história de ativismo político considerável, vou transcrever aqui o artigo dele de hoje. Não o primeiro, pois achei surreal algo daquele jeito publicado sem apuração, de maneira irresponsável. Mas o de hoje pode ser, é a crítica, vivemos num país democrático, ele toca em pontos importantes, num momento importante, enfim. Respeito-o. Tenho um ou dois livros dele, escreve muito bem, conhece das coisas, não é um qualquer. Bom, segue o artigo de hoje e azar de quem não gosta de crítica.

Chapa branca não. O Brasil está acima do PT, do PSDB, do Presidente Lula e do Partido da Imprensa Golpista. Não vi ainda o filme do Lula. Vou ver em algum momento. E prometo comentar.


Por que agora?
CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

DEIXO de lado os insultos e as versões fantasiosas sobre os "verdadeiros motivos" do meu artigo "Os Filhos do Brasil". Creio, porém, que devo esclarecer uma indagação legítima: "por quê?", ou, em forma um pouco expandida, "por que agora?". A rigor, a resposta já está no artigo, mas de forma concisa. Eu a reitero: o motivo é o filme, o contexto que o cerca e o que ele sinaliza.
Há meses a Presidência da República acompanha e participa da produção desse filme, financiado por grandes empresas que mantêm contratos com o governo federal.
Antes de finalizado, ele foi analisado por especialistas em marketing, que propuseram ajustes para torná-lo mais emotivo.
O timing do lançamento foi calculado para que ele gire pelo Brasil durante o ano eleitoral. Recursos oriundos do imposto sindical -ou seja, recolhidos por imposição do Estado- estão sendo mobilizados para comprar e distribuir gratuitamente milhares de ingressos. Reativam-se salas pelo interior do país e fala-se na montagem de cines volantes para percorrerem localidades que não têm esses espaços. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres.
Como se fosse pouco, prepara-se uma minissérie com o mesmo título para ser exibida em 2010 pela nossa maior rede de televisão que, como as demais, também recebe publicidade oficial. Desconheço que uma operação desse tipo e dessa abrangência tenha sido feita em qualquer época, em qualquer país, por qualquer governante. Ela sinaliza um salto de qualidade em um perigoso processo em curso: a concentração pessoal do poder, a calculada construção do culto à personalidade e a degradação da política em mitologia e espetáculo. Em outros contextos históricos isso deu em fascismo.
O presidente Lula sabe o que faz. Mais de uma vez declarou como ficou impressionado com o belo "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, que narra o impacto dos primeiros filmes na mente de uma criança. "O Filho do Brasil" será a primeira -e talvez a única- oportunidade de milhões de pessoas irem a um cinema. Elas não esquecerão.
Em quase oito anos de governo, o loteamento de cargos enfraqueceu o Estado. A generalização do fisiologismo demoliu o Congresso Nacional. Não existem mais partidos. A política ficou diminuída, alienada dos grandes temas nacionais. Nesse ambiente, o presidente determinou sozinho a candidata que deverá sucedê-lo, escolhendo uma pessoa que, se eleita, será porque ele quis. Intervém na sucessão em cada Estado, indicando, abençoando e vetando. Tudo isso porque é popular. Precisa, agora, do filme.
Embalado pelas pré-estreias, anunciou que "não há mais formadores de opinião no Brasil". Compreendi que, doravante, ele reserva para si, com exclusividade, esse papel. Os generais não ambicionaram tanto poder. A acusação mais branda que tenho recebido é a de que mudei de lado. Porém os que me acusam estão preparando uma campanha milionária para o ano que vem, baseada em cabos eleitorais remunerados e financiada por grandes grupos econômicos. Em quase todos os Estados, estarão juntos com os esquemas mais retrógrados da política brasileira. E o conteúdo de sua pregação, como o filme mostra, estará centrado no endeusamento de um líder.
Não há nada de emancipatório nisso. Perpetuar-se no poder tornou-se mais importante do que construir uma nação. Quem, afinal, mudou de lado? Aos que viram no texto uma agressão, peço desculpas. Nunca tive essa intenção. Meu artigo trata, antes de tudo, de relações humanas e é, antes de tudo, uma denúncia do círculo vicioso da extrema pobreza e da violência que oprime um sem-número de filhos do Brasil. Pois o Brasil não tem só um filho.
Reitero: o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante.
Alguns amigos disseram-me que, com o artigo, cometi um ato de imolação. Se isso for verdadeiro, terá sido por uma boa causa.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

Nível baixo

Na sequência de Gilberto Gil e sua gente hipócrita, do Blues da Piedade, temos o Ponto de Equilíbrio em homenagem à cobertura da grande imprensa, especialmente em período pré-eleitoral.



O jornalismo de hoje procura produzir sensações, mais do que raciocínios, idéias. Proclama-se dono da verdade e da ética, mas sabe-se o quanto estão envolvidos em todos os jogos de poder, a maneira como manipulam a notícia, a origem de seus conglomerados empresariais, etc... O público quer sangue, o público deseja uma novelinha em que estejam pintados direitinho quem são os malvados, aqueles culpados de tudo, "o pessoal de Brasília", o público está muito ocupado no trânsito, nas salas de seus apartamentos, com suas vidinhas, para perder tempo lendo sobre financiamento eleitoral. É preciso delimitar, mostrar direitinho onde está o bem, onde está o mal, queimar em praça pública alguns corruptinhos como bruxas na Idade Média, mas acima de tudo não perder tempo com o contexto mais geral, as relações entre o dinheiro e a política, a estrutura partidária, o financiamento eleitoral, etc...

Enfim, o Presidente Lula deu declarações rápidas sobre o caso do Governo do Distrito Federal. Falou que as imagens por si só não dizem nada, é preciso esperar a apuração, o inquérito, a manifestação da defesa e a decisão da Justiça. Acrescentou que já enviou ao Congresso algumas propostas de reforma política que atuam particularmente sobre o financiamento eleitoral, mas elas não andam. Enfim, teve uma postura distante, apropriada, correta para um Presidente, colocou o dedo no aspecto estrutural da questão, deixando para as autoridades competentes o julgamento sobre Arruda e etcéteras.

Mas nossos amigos da grande imprensa destacam, em mais um exercício de manipulação, apenas o primeiro trecho da fala do Presidente, quando diz que as imagens por si não dizem nada. Dão a entender que ele faz a defesa dos acusados, que não vê problema, etc... Dando nome aos bois, foi a família Marinho, especialmente e mais uma vez, que usa seu gigantesco poder de quase monopólio, criado sob as benesses do regime militar, para dar mais aquela cutucadazinha no Presidente, tentando colocá-lo, como fizeram no caso Sarney, como sócio, "protetor de corruptos".

Historinhas simples, novelas, o bem contra o mal, métodos cotidianos de manipulação política escancarada.

Quando a Globo fará uma reportagem dizendo que Ricardo Teixeira se auto-nomeou Presidente do Comitê Organizador da Copa e colocou a própria filha como Secretária-Executiva? Cereja no bolo, poderiam dizer que estava tudo certo para Arruda reformar o Mané Garrincha por R$ 750 milhões, aumentando a capacidade para 70 mil pessoas. E a Globo não ia dizer nada, ia aplaudir o dinheiro público caindo no ralo...

Olha só, ainda bem que estou indo para longe, porque ficar acompanhando esse tipo de coisa no dia-dia seria complicado, eu iria passar o dia postando sacanagens por aqui. Dos dois lados, há que se reconhecer, mas muito mais da chamada grande imprensa, hoje desmoralizada mas ainda dobrando apostas e se sacrificando para a batalha de 2010. Jogar esse jogo é muito duro, é preciso muita flexibilidade moral, acostumar-se com o cheiro do esgoto e lidar com ele. Hora de ler os clássicos, entrar em outra viagem, acompanhar de longe a big picture e crescer para outros rumos.

Globalização

Ou: da influência do dinheiro sobre a política. Ou: do financiamento eleitoral.

Enfim, segue resuminho de matéria do International Herald Tribune de hoje:

Japan’s New Leader to Face Campaign Inquiry

Tokyo — Tokyo prosecutors will ask Japan’s prime minister, Yukio Hatoyama, for a written explanation of his role in millions of dollars of improperly reported political donations, major Japanese newspapers reported on Wednesday, expanding a scandal that has dogged his fledgling government. But the reported decision to ask for a written account, instead of summoning the prime minister for direct questioning, also suggests that the investigation may be nearing its close without significantly damaging Mr. Hatoyama’s popularity, political analysts said. According to the reports, prosecutors are also closely examining the role of one of the prime minister’s former political secretaries in the scandal, which involves some $3 million of Mr. Hatoyama’s own money and another $9 million given to him by his mother. The reports did not give the source of their information, but it appeared to
come from prosecutors, who routinely leak information to major media here during investigations. A spokesman for the Tokyo prosecutors’ office refused to comment on the inquiry. (Martin Fackler)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Três casos

Como já coloquei aqui, não gosto de ficar zanzanzando pelo dia-dia, ainda mais com a torpeza moral correndo solta por aí. Mas vou dar pitacos rápidos sobre casos que estão na ordem do dia.

Caso Battisti: Penso que o Presidente deveria mandar esse cara para a Itália. Já encheu o saco por aqui. Sabia dos riscos que corria à época. Sabe do sangue correu por suas atividades. Então que vá embora. Esse cara não vale o preço que estamos pagando em termos de tempo e paciência.

Honduras: O Zelaya é um fanfarrão e prejudicou sua própria causa. Circunstâncias da política externa norte-americana também. O Brasil foi levado a se envolver demasiadamente na brincadeira, acabou tendo que dobrar apostas e agora creio que terá que recuar. Vamos reconhecer logo esse novo governo e tocar a bola para frente. E arrumar um jeito de evitar que o Zelaya sofra alguma perseguição. Agora, lamentavelmente houve um golpe que passou batido, vamos ficar com essa mancha recente na América Latina, região tão massacrada por sucessivos golpes militares. Péssimo exemplo em Honduras mas, enfim, não dá para brigar com os fatos, houve eleições, o Zelaya esticou a corda demais, os países da região parecem divididos e o povo local precisa de normalidade institucional para retomar o caminho do desenvolvimento.

Com relação ao Presidente do Irã, não vejo problema algum em recebê-lo. Se considerarmos que ele chegou na sequência do Presidente de Israel e da Autoridade Palestina, acho que isso foi sim um golaço da diplomacia brasileira. Diplomacia é isso, conversar. Não ficar só no clubinho de amigos, de vizinhos, daqueles que estão em geral conosco. Política externa é inter-estatal. Não se trata de falar com A ou não falar com B, eu gosto de A mas não gosto de B. Isso é demagogia. Falso moralismo. O Irã é uma grande civilização do Oriente Médio. Uma potência regional. Não podemos falar com eles porque algumas pessoas não vão gostar? E daí?!?!

Creio que caso a oposição vença em 2010, poderemos ver na política externa o mesmo que aconteceu com a política macroeconômica em 2003: as linhas mestras permanecerão, apesar de toda a retórica meio demagógica/eleitoral que antecede o pleito. Ou devo supor que o governo do Serra cortaria relações com o Irã, a China, o Egito, a Arábia Saudita, Cuba, o Sudão, os EUA caso voltassem às fraudes de Bush II, etc? Vamos invadir os pobres vizinhos da Bolívia e do Paraguai? Abdicar da candidatura ao Conselho de Segurança? Acabar com o Mercosul? Desistir de reformar o FMI e o Banco Mundial? Diminuir as relações com a África e o Cone Sul? Abraçar as causas das velhas e decadentes potências européias? Acho que não. Menas, né. Menas hipocrisia.

Piedade aos Miseráveis

Eu estou com asco da exploração do texto do Cesar Benjamin. É o esgoto jornalístico, a torpeza moral, pura canalhice.

Piedade a esses miseráveis de alma bem pequena.

Não ame-o, mas também não o deixe

Pois bem, a coisa está ficando muito séria. Brava, baixa. Lula, ame-o ou deixe-o. Há, de um lado, enorme louvação a Lula que ignora alguns erros e contradições de seu governo (que eu defendo bastante). De outro lado, alguns não escondem a gana de destroçá-lo seja lá por quais métodos forem.

Esse blog não entra em picuinhas do dia-dia. Agressões pessoais. Exemplos: filho de FHC, filho do Renan, Lula "analfabeto", Cesar Benjamin, denúncias de corrupção, o preto e o branco, o mal contra o bem, o falso moralismo (Sarney).

Critiquei o artigo de FHC que basicamente dizia que se Dilma fosse eleita, a democracia estaria em risco. Não está.

Pois idéias são criticáveis. Mas não escrevo aqui para julgar nem crucificar ninguém.

Apontei em alguns posts que um dos maiores problemas da democracia brasileira está no financiamento das campanhas. O mensalão se inscreve aí. Os vereadores de SP e o Governo Kassab, amplamente financiados pelo setor imobiliário, e que estão detonando o Plano Diretor, também. No GDF, o Setor Noroeste e outras artimanhas são decorrência natural da simbiose especulação imobiliária-poder político. E agora, essas denúncias contra toda a Cúpula do GDF.

O financiamento de campanhas causa problemas a todos os partidos, candidatos, etc... Corrói a política brasileira. É um problema estrutural. Não cabe moralismo, demagogia, individualização. Lógico que quando pegos devem ser punidos, mas o problema está nas leis, na estrutura.

O blog talvez não seja muito inteligente, os posts não são muito preparados nem contam com teses muito elaboradas. É sentar e escrever, coisa rápida. Tampouco coloca-se como dono da verdade, com exceção de algumas barbaridades defendidas por alguns financistas mais rasteiros. Tenho perguntas, mais do que respostas. Talvez seja muito idealista, ingênuo, tolo. Um inocente útil, ou inútil. Mas não entro na baixaria, no bem contra o mal, na torcida organizada.

O blog tenta ficar além disso. Ver o Brasil como um todo, o desenvolvimento da nação, o bem-estar de seu povo, a produção e o emprego sobre o rentismo, o respeito ao meio-ambiente e à interação homem-natureza, a valorização da cultura universal e do que gosto no cinema e na música (falo pouco de literatura, leio pouca literatura), a consolidação da democracia, o aprofundamento do espírito republicano.

Com todas as limitações, dá um certo orgulho reler, já temos algo nesta página alittlefunnyinthehead.

Agradeço muito aos meus poucos leitores, aos elogios que de quando em quando recebo. Voltem sempre.