O que os eventos esportivos têm a ver com a política externa? Pouco. Tirando a questão da campanha, quando há um trabalho diplomático, e o fato do país se abrir para o escrutínio estrangeiro quando da realização do evento, nada muito direto não. A Espanha não se tornou um país mais influente por ter realizado Barcelona 1992. A África do Sul não irá muito longe se ficar contando apenas com o evento de 2010. As Olimpíadas de Pequim foram uma cereja no bolo da China, mas nada que fizesse aqueeela diferença.
A Copa e as Olimpíadas podem ser boas ou ruins. Podem ser boas para atletas, patrocinadores e imprensa, quando tudo vai bem, instalações de primeira, jogos indo numa boa, lucros razoáveis, tudo legal, na esportiva. Mas pode ser ruim para o país quando há desvios de recursos, a criação de elefantes brancos, a privatização de lucros excessivos e a socialização das perdas.
Mas, enfim, essa divagação inicial nem é por nada não. É apenas falta de tempo e a velha preguiça. Dois assuntos sobre os quais gostaria de dar uma palhinha:
É incontestável que a política externa se tornou assunto de política interna. Isso já é meio complicado normalmente, pois em política externa não cabe demagogia, não se joga para a torcida, as relações internacionais têm valores e objetivos diferentes da política interna. Há políticas que são de Estado. Quem nega isso não entende nada. Quem finge que não é bem por aí pode até enganar alguns incautos, mas se desqualifica perante o público mais esclarecido, seja lá o que isso signifique. Se considerarmos que estamos às vésperas de eleições que prometem ser bastante duras, para usar um eufemismo, a coisa complica ainda mais. Paro por aqui.
O outro assunto é a questão do TCU e o Pan 2007. Tá difícil votarem esses relatórios, mas que demora, ó vida, ó céus...
Além da Copa 2014. O blog do José Cruz informa que o GDF vai torrar R$ 700 milhões no novo Mané Garrincha. Se somarmos a isso os R$ 500 milhões do VLT, a reforma anterior milionária no estádio do Gama (atualmente sem uso), obras no aeroporto e otras cosas, quem sabe bateremos no R$ 1,5 bilhão. Que beleza, que beleza. Quem conhece o GDF, sabe que não há outras prioridades. Então tá.
O blog ainda informa que o Mineirão só terá projeto básico em março do próximo ano. E o Maracanã, após já terem sido gastos uns R$ 300 milhões em reformas anteriores, chute meu, não tem nem projeto ainda.
Enfim, gastos públicos, lucros privados. Ricardo Teixeira é Presidente do Comitê Organizador da Copa, o que é uma aberração. É óbvio que o Presidente da Federação não pode ser o organizador. Coisa básica. Mas é pior. Sua filha é Secretária-Executiva do Comitê.
E quem são os grandes patrocinadores da Copa? Grupos empresariais e financeiros, mega-grupos, conhecidos por serem sustentáveis, favoráveis às atividades ligadas à filantropia social e cultural e históricos advogados da necessidade de educação do povo. E quem também é sócia da Copa? A família Marinho, que promove a arrecadação do Criança Esperança todo mês de outubro (ou seria setembro?).
Depois dizem que o Estado é corrupto, ineficiente, perdulário. Pois é, ele pode ser. Mas quem corrompe? Quem é cúmplice? Quem passa a mão na cabeça? Pois não é o setor privado que ser apropria dos recursos gerados pela corrupção, ou pelo desvio de prioridades, do Estado?
Ofendi alguém? Radical, chato, mala sem alça. Às vezes, sou eu mesmo. Não é para dizer que sou contra Copa, Olimpíadas ou qualquer festa no país. Quem me conhece sabe que estou longe de não gostar de uma festa. Ainda mais em se tratando de esporte. É para alertar que há formas de se fazer a coisa. Que estamos repetindo os erros do Pan. Que há uma enorme hipocrisia em toda a propaganda desses eventos.
Na minha ingênua opinião, é preciso seriedade e transparência. Não dá, por exemplo, pro Ricardo Teixeira ser Presidente do Comitê Organizador e colocar a filha para tocar o dia-dia. Onde estão a Globo, o Itaú, a Brahma, o Pão de Açucar, o Governo Lula e o resto do pessoal para impedir isso? É tão óbvio.
Em segundo lugar, é preciso planejamento. Já estamos atrasados. A real é que vai ficar tudo pra última hora, aquela confusão, aquele desespero, os Ministros serão outros, Prefeitura, Governo Estadual, então quem está agora no poder não está preocupado, vai enrolando. E os organizadores contam com o salvamento no final. Dispensa de licitação, inexigibilidade, o dinheiro do Governo Federal, os atalhos de sempre.
Por fim, na minha infinita ingenuidade, alguém tinha que chegar na Fifa e falar: olha aqui, pessoal, o Brasil é um país em desenvolvimento, temos prioridades sociais e políticas que infelizmente nos obrigam a abrir mão de estádios tão modernos e caros, aeroportos tão amplos e confortáveis, etc... Prometemos o melhor evento esportivo do mundo, mas vocês vão pegar leve nessas exigências. Vamos fazer o básico, dar aquele conforto tranquilo, mas nada de espetacular apenas para que Vossas Excelências passem um mês aqui como nababos entretendo seus sócios patrocinadores do evento. Aqui é Brasil, Capão Redondo, Favela da Maré, Garanhuns, Riacho Fundo, Jequitinhonha, palafitas, não rola, calma aí meus distintos amigos suíços que lavam mais branco.
Leiam o blog do José Cruz. Há uma boa entrevista com o Silvio Torres, um deputado do PSDB de SP que faz um trabalho interessante. Mas insuficiente.
Ingenuidade, idealismo. Triste o mundo em que isso está errado. Apenas uma ilusão.
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