quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bagunça brazuca em Pequim



festinha brazuca em pequim... talvez ataque um pouco de DJ com Jorge Ben, Tim Maia, Gil, muito samba...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Más notícias no front brasileiro

Más notícias no Brasil:

1) Ciro não será candidato. A campanha ficará mesmo no fla-flu, com a Marina coadjuvando. Esse cenário não contribui para um verdadeiro debate, ficará na superfície, na construção de imagem, e pior, na guerra entre torcidas organizadas. Ciro pode ter seus defeitos, em especial a famosa metralhadora na língua, mas acrescentaria muito ao debate, pois é inteligente e conhece os problemas nacionais. Compartilho de duas de suas principais preocupações: a) a governabilidade do país sem FHC nem Lula a comandá-lo. Dilma e Serra ficarão sob o fogo do lado perdedor e terão que armar um centrão no Congresso com o que há de pior na política nacional. b) a política econômica, mais precisamente a deterioração das contas externas.

2) sobre o item 1.b, amplio. No primeiro trimestre, o déficit na conta corrente ficou em US$ 12 bilhões. Investimentos Diretos em US$ 5 bilhões. Aplicações em títulos do governo e ações ficaram em US$ 9 bilhões. Ok, então tivemos um saldo líquido de uns US$ 2 bilhões e aumento de reservas. Mas é capital parasita que nos financia. Vai embora a qualquer momento. E os investimentos diretos geram remessas de lucros. A trajetória da conta corrente, que já aponta para mais de US$ 60 bilhões em 2010, é preocupante. Com as importações que deverão aumentar para os investimentos no pré-sal, e uma economia mundial que busca se descarbonizar, podemos já estar torrando parte importante do petróleo em águas profundas. Fora o risco de crise em meados de 2012. E lá vai o BC aumentar os juros amanhã, valoriza-se a moeda, atrai-se mais capital especulativo...

3) Li outro dia uma estatística de que teria dobrado o número de presos no Brasil nos últimos 9 anos. Não tenho notícia de que a criminalidade tenha caído assim. Tampouco vejo os crimes do colarinho branco enchendo prisões. É uma guerra civil silenciosa na qual todos perdem. E os ricos se trancam, se escondem, vivem em shoppings centers, espaços privados. O país está doente.

4) Espantam-me os preparativos para a Copa e as Olimpíadas. É preciso mais transparência. Gastos públicos, lucros privados, elefantes brancos, desvio de prioridades. Não vou entrar em detalhes, mas há sinais muito preocupantes.

domingo, 25 de abril de 2010

Sinais particulares


Prometi no começo do ano não ficar aqui falando muito de futebol, pois tava pintando um timaço do Santos que me obrigaria a falar e falar e exaltar longamente a arte que a Vila Belmiro cria de tempos em tempos. Pois bem, tenho cumprido a promessa. Hoje estamos na final, então não resisto e coloco essa charge legal que saiu no Estadão. Para quem não entendeu, a cabeça dura ali é a do Dunga. E espero em breve postar uma novidade santástica a respeito do futebol na China.

sábado, 24 de abril de 2010

Ópera Chinesa

Ontem fui ver uma ópera tradicional chinesa. Versão condensada, pois no geral duram umas 12 horas. Era num lugar construído em 1400. A ópera tem também 600 anos. Coisa fina. Diferente de tudo que já vi. Cheguei lá morrendo de sono, mas acabei gostando bastante. Embora neste vídeo não apareça, ali ao vivo havia uma projeção com a tradução em inglês.

Omaggio

Outro dia estava no aeroporto de Pequim esperando por algumas horas a chegada do voo de uma ôtoridade brasileira. O voo dele atrasou umas 3 horas, foi um perrengue a espera, um saco total, madrugada friorenta. Felizmente estava com o Ipod, o que ajudou. Antes de vir para a China, copiei musicas do Coconuts my brodar e da Kercia meletinha, ambos com muita muita coisa boa. Entao fiquei la ouvindo um monte de novidades, experimentando sons que não conhecia.

La pelas tantas fui ouvir Caetano, um som ao vivo, achei legal e procurei o nome da musica, Gelsomina, e eu parei, parei, parei e entao me lembrei. E depois fui ver o nome do disco: Omaggio a Federico e Giulietta. Gelsomina... vou falar o que? Quem nunca viu a Estrada da Vida, La Strada, que vá ver e por favor não assista ao vídeo que postei com a cena final.



Caetano: Omaggio a Federico e Giulietta: Gelsomina



Tu che amar non sai
Tu che amar non puoi
Sei stregata dall'amor

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Mais Brasília

Está óbvio, né? Eu adoro o Distrito Federal. Eu amo o cerrado e penso em um dia ter uma casa, uma chácara, na região da Chapada. Eu sinto falta do céu de Brasilia, do calor, das chuvas, do Parque Olhos D'água, do Calafão velho de guerra, da L4 Norte, do Centro Comunitário da Unb, dos mergulhos no Lago Paranoá, da Esplanada, dos rolês de bike, das partidas de tênis, dos amigos e amigas, das festas que rolavam, inclusive as minhas, que eram muito boas, para desespero dos vizinhos.

Estou na China, mas penso que meu coração ainda está no Planalto Central. Para o Brasil dar certo, Brasilia tem que dar certo.

Pois bem, li que há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre o Novo Plano Diretor do DF, aquele mesmo que já critiquei tanto. Soube também que as obras do Noroeste caminham a passos lentos, boa notícia, embora já tenham colocado boa parte do cerrado da região abaixo. Lamento apenas que poucos comentem sobre o VLT milionário e o projeto do novo estádio para a Copa, elefantes brancos que vão desviar recursos de obras mais prioritárias, para não falar de suspeitas generalizadas de corrupção.

O pessoal de SP acha que o DF é seco. Mal sabem eles, pouco conhecem do Brasilsão profundo, que no DF nascem águas que irrigam nossas três principais Bacias Hidrográficas. Há até um parque, Águas Emendadas, cujo nome já insinua o que isso significa. No coração do Brasil.

Aqui e aqui, mais boas matérias do UOL.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Brasilia outros 50

O Governo do Distrito Federal, mostrando mais uma vez sua falta de compromisso com a população e a cultura local, havia montado uma mega festa para comemorar os 50 anos com artistas famosos, mas poucos ou nenhum de Brasilia. Simplesmente não havia nada relativo à comunidade artística do GDF, seu povo, sua arte, vida e processo criativo. Para vocês terem uma idéia, antes de todo esse rolo, os caras pensavam em trazer Roberto Carlos ou, acreditem, Paul Mcartney, para estrelarem o evento. Coisa bem baratinha, aliás.

Pois bem, a comunidade artística de Brasília se organizou, conseguiu apoio do Governo Federal, e vai realizar uma bela festa alternativa com 200 mil atrações entre os dias 20 e 23 de abril. Mais informações aqui.

domingo, 18 de abril de 2010

O novo Governador do GDF...

Eleito por seus pares na Câmara Distrital para cumprir um mandato tampão...
Segue coluna do Fernando Rodrigues:

20h37 - 17/04/2010
Brasília é um fracasso político

A eleição do advogado Rogério Rosso (PMDB) como governador tampão de Brasília neste sábado (17.abr.2010) é mais um capítulo do fracasso político e administrativo da capital federal, que completa 50 anos na próxima quarta-feira, dia 21.

Rosso foi administrador de Celiândia, a maior cidade satélite do Distrito Federal, durante o governo de Joaquim Roriz. Depois, foi presidente da Codeplan (Companhia de Planejamento do DF) no governo de José Roberto Arruda, cassado e preso até alguns dias atrás.

A Codeplan, só para lembrar, é o mesmo órgão hoje investigado por uma CPI na Câmara Legislativa de Brasília. O grande delator do chamado mensalão do DEM, Durval Barbosa, foi presidente da Codeplan durante a campanha eleitoral de 2006, da qual Arruda saiu vitorioso.

Brasília tem perto de 2,7 milhões de habitantes e um modelo curioso de administração. Não é um Estado nem um município. Tem apenas um governador, mas não tem prefeitos. Cidades satélites como Ceilândia (600 mil habitantes) são governadas por gente nomeada de maneira nebulosa.

Pode-se argumentar que vários países têm distritos federais. É verdade. Mas comparem-se as áreas dessas localidades. Brasília tem 5.783 km², o que equivale a 26% da área do Estado de Sergipe. Já Washington, D.C, capital dos Estados Unidos, tem 177 km² – é apenas uma cidade e tem um prefeito eleito.

Depois da Constituição de 1988, o democratismo em vigor no país deu a Brasília 3 senadores e 8 deputados federais. É claro que os habitantes de Brasília têm o direito de eleger representantes para o Congresso. Mas bastaria que votassem escolhendo entre os candidatos de Goiás, Estado no qual está inserido o “quadradinho”, como é chamado o Distrito Federal pelos locais. Só que aí os brasilienses não poderiam ter se esmerado para eleger senadores como Luiz Estevão, Joaquim Roriz, José Roberto Arruda, os três “saídos” do Congresso.

Brasília é a unidade da Federação que mais elegeu senadores encrencados até hoje na história do país –e essa história eleitoral só começou pós-1988.

Agora, ao eleger um governador biônico cria de Roriz e de Arruda, a Câmara Distrital da capital federal manda mais um recado. Os políticos de Brasília não estão nem aí para o que pensam o Brasil e os brasileiros a respeito do “quadradinho”.

sábado, 17 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Brasília 50 anos

Belo trabalho do pessoal do UOL. Dados, desigualdades, fotografias, projeto, trabalhadores.

Neste link.



Acima, personagem do Cidade em Plano, que entra em cartaz no cerrado novamente. Projeto filosófico-espiritual-transcedental-artístico-cultural-dançante. Brasília e o corpo. Já comentei aqui, foi bem legal, boa viagem.

domingo, 11 de abril de 2010

Debate Radioativo

Duelo de titãs nas páginas da Folha de São Paulo. Ao final, reitero minha opinião. Divirtam-se.

TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil deve assinar o Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear?

NÃO

Instrumento desnecessário e humilhante
SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES


O CENTRO da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.
Há 42 anos esses países se comprometeram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares.
Apesar de não terem se desarmado, esses países insistem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando crescentes restrições à difusão de tecnologia, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.
Os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e, portanto, a intimidar os países não nucleares, estimulam a proliferação, pois os países que se sentem mais ameaçados procuram se capacitar. Isso ocorreu com a então União Soviética (1949), com a França (1960) e com a China (1964).
Hoje, diante da inexistência de ameaça de conflito nuclear, o argumento dos países nucleares é a possibilidade de terroristas adquirirem a tecnologia ou as armas.
Essa tecnologia está disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos.
Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis e aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores. Por outro lado, os terroristas poderiam obter essas armas justamente onde existem, nos países nucleares.
Nesse contexto se insere o Protocolo Adicional. O TNP prevê que todos os países-membros assinem acordos de salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pelos quais os Estados não nucleares submetem a inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do acordo é verificar se há, para fins militares, desvio de material nuclear da instalação (reatores, usinas de enriquecimento etc.).
O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição, e tem um acordo de salvaguardas com a AIEA, que permite à agência inspecionar instalações brasileiras. Tudo com respeito à soberania nacional e a nossos interesses econômicos.
A AIEA, por proposta americana e a pretexto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.
O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania diante da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear.
Essa intromissão causaria graves danos econômicos, quando se consideram as perspectivas brasileiras na produção de combustível nuclear, que terá forte demanda com a necessidade de enfrentar a crise ambiental.
A solução ambiental exige a reforma da matriz energética, tanto nos emissores tradicionais, como os EUA, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia.
Uma das mais importantes fontes de energia não geradora de gases de efeito estufa é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento do ciclo de enriquecimento do urânio e a capacidade para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas etc. e, assim, pode vir a atender uma crescente demanda externa.
A preservação do conhecimento tecnológico é, assim, aspecto essencial na área nuclear. Ora, as ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo. Há grande interesse de certos países em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante.
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SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES , 70, diplomata, é ministro de Assuntos Estratégicos. Foi secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (2003-2009).

SIM

Adesão não contraria interesse nacional
RUBENS RICUPERO


DA MESMA forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).
Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.
Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.
O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.
A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.
Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?
O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?
Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.
Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.
A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.
Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.
Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.
Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.
Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?
Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.
A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.

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RUBENS RICUPERO , 73, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, é colunista da Folha . Foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).
Já escrevi aqui: não creio que seja conveniente assinarmos o Protocolo. Em primeiro lugar, porque os compromissos de desarmamento nuclear, pilar do TNP, não vêm sendo cumpridos pelos possuidores dos artefatos de aniquilição total. Em segundo lugar, pois no mínimo uma negociação muito bem feita, lenta e cautelosa, sobre essa assinatura, pode se revelar uma excelente barganha. Vai haver pressão? Vai. Pode "pegar mal" nas altas rodas do mundo rico (e nuclear)? Sim. Mas e daí? Temos que ficar aí posando de bonzinhos para A ou B ou C enquanto eles sentam em cima de seus enormes arsenais?

sábado, 10 de abril de 2010

Amazônia e Cerrado

Oito anos depois, o Governo solta mais dois projetos para conter o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. A conferir. O Cerrado é menos falado, mas vem sofrendo muito mais do que a Amazônia. Washington Novaes é mais um dos lutadores incansáveis desse Brasilsão adolescente. Leiam esse bom artigo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O país polarizado? A quem interessa?

Quem ganha com a radicalização? Quem ganha com o Fla-Flu político? Quem ganha com as agressões, com a falta de idéias, com a desqualificação do adversário? Não é o Brasil. Não é o pobre povo brasileiro. Não são aqueles interessados em algo mais. Muito menos aqueles preocupados com a governabilidade a partir de 2011. Segue bom artigo do Eugenio Bucci.

O País polarizado e o lugar da imprensa

Com a aproximação das eleições, o País vai-se dividindo em campos opostos. Apaixonadamente. Chamam a isso de polarização - e muita gente gosta. De um lado e de outro, sempre há quem acredite que a tal polarização rende dividendos eleitorais. Tanto na situação como na oposição, agitam-se os que vivem de jogar lenha na fogueira, disparando provocações e xingamentos cujo propósito só pode ser o de acirrar ainda mais os ânimos. Uns e outros se julgam espertíssimos. Uns e outros estão errados. O caminho da exacerbação é o caminho da sombra.

Não que a franqueza não ajude o eleitor. Ela ajuda e é necessária, mesmo quando se expressa com rispidez. Os bons modos, por mais que sejam desejáveis, não devem implicar o sacrifício da clareza. Quanto mais os candidatos são diretos em ressaltar em que se diferenciam dos outros, melhor. O nosso problema, contudo, não é o excesso de boas maneiras - talvez seja o excesso de grosseria. Não corremos o risco de obscurecer as diferenças entre os candidatos por mesuras ou gentilezas artificiais; corremos, sim, o risco de transformar o ódio em espetáculo de palanque e, aí, perder de vista o que temos em comum. Nosso problema, enfim, não é ignorar as propostas que separam os partidos, mas esquecer o que nos une, independentemente dos partidos. É assim que a indústria do insulto corrói a sabedoria que deveria inspirar as decisões democráticas e solapa o bom senso.

Nesse contexto, a imprensa pode ajudar o cidadão a desconfiar da propaganda eleitoral, que tende a ser apelativa, chantagista, extremista. A imprensa tem hoje a grande chance de se apresentar como o fator de equilíbrio. Só depende dos jornalistas. Enquanto os cabos eleitorais têm o seu lado - ou a sua trincheira, como se gabam de dizer -, os jornalistas têm a chance de se distanciar das emoções enfurecidas e promover o esclarecimento. Entre um partido e outro, entre a esquerda e a direita, podem ficar ao lado do cidadão que procura bons fundamentos para decidir em quem votar. É nesse sentido que a imprensa tem, sim, o seu lado: ela é a favor da autonomia do eleitor; ela é contra o fanatismo e a intolerância.

Não, não é exagero falar em fanatismo e intolerância no Brasil dos nossos dias. Há sinais disso à nossa volta. A começar pelos pequenos sintomas. Por vezes, eu noto esses sintomas em leitores que comentam meus artigos na versão eletrônica deste jornal. Quando elogio a fala de um ministro de Estado, logo alguém me acusa de "petista de banho tomado". Quando critico arroubos de arrogância no presidente da República, sou tachado de opositor persistente. Para esses leitores, quem não fica nos extremos deve ser apedrejado. É como se os seus candidatos fossem a virtude em estado puro e só merecessem aplausos deslumbrados. Se você não concorda com eles, que seja silenciado à força.

Palavrões e ofensas pessoais roubam a cena. Rancor e vingança se espalham. O eleitor indeciso - justamente aquele que mais precisa da informação de qualidade - se vê rifado, atingindo por tiros envenenados que o constrangem, que o confundem ainda mais. Em sua ânsia por se diferenciar, os propagandistas partidários ateiam fogo à própria credibilidade para desqualificar o adversário. A eles não interessa a verdade. A eles só interessa o monólogo. Insistem que a contenda se dá entre os vilões - ou os lobos disfarçados de cordeiros - e os mocinhos, os salvadores da pátria. Assim, tentam tapear o público.

Contra esse maniqueísmo estreito e eleitoreiro, o cidadão tem poucas instâncias a lhe socorrer além da imprensa. De sua parte, se souber manter-se distante das paixões partidárias, a imprensa poderá ser útil. Tanto em mostrar as diferenças reais, como, principalmente, em mostrar as semelhanças entre os candidatos - e há mais semelhanças entre eles do que simulam suas campanhas raivosas. Os partidos não gostam de admitir, mas o fato é que existe uma agenda comum unificando os dois - ou mais de dois - lados da disputa.

Um exemplo? A estabilidade econômica. Eis aí um dos núcleos da agenda comum. Tanto isso é verdade que Lula, uma vez eleito, em 2002, foi buscar nas profundezas do partido rival, o PSDB, o nome que garantiria a continuidade do combate à inflação: Henrique Meirelles, que trocou a Câmara dos Deputados pelo Banco Central, onde se encontra, até hoje, como o guardião da moeda, o fiador da estabilidade. Outro núcleo da agenda comum está na justiça social, na redução da desigualdade. É por isso que José Serra não tem como atacar as políticas distributivas do atual governo: o que lhe resta é defendê-los e prometer melhorá-los.

A agenda comum unifica a Nação, mas, a depender da comunicação histriônica dos partidos, ela jamais apareceria. Só jornalismo independente pode serenar os ânimos e chamar o público à razão: o que está em jogo são programas de governo, não a beatificação dos presidenciáveis. Aliás, não existe outra opção para o jornalismo: ou ele se dedica a ser a reserva da razão em meio a essa guerra de irracionalismos, ou poderá ser percebido apenas como linha auxiliar de uma (ou outra) candidatura, o que faria dele, jornalismo, o principal derrotado das próximas eleições.

Há quem compare as campanhas eleitorais a um campeonato de futebol: cada um torce pelo seu time e, desde que o juiz não apite, vale tudo. A comparação é indevida, naturalmente, pois, em se tratando de eleições, o jogo pra valer só começa depois da apuração. Mesmo assim, se as eleições fossem uma final de campeonato, a imprensa não deveria torcer por nenhum dos times. Deveria torcer para o juiz, ou seja, pela lisura da competição, pela soberania do eleitor. É isso que fortalece a democracia. O resto é polarização, essa mania dos irresponsáveis.

Jornalista, é professor da Eca-Usp

terça-feira, 6 de abril de 2010

Saudade do Brasil

E agora há pouco cá estava eu, jantar solitário, neste mesmo restaurante de luxo, neste mesmo hotel onde há cinco semanas vagueio, yes sir, thank you sir, mas sabe-se lá como amanhã irei me mudar, e então saboreava o tempo após a comilança, deixava passar, olhava para os lados, apenas pensava, o Herald Tribune descansava abandonado, pois a mente passeava naquela mesa de canto, e eis que então devagarinho muito de mansinho, quase como um sopro, silêncio que ganha vida, suspiro em forma de música, tomou corpo e imediatamente reconheci, dei um leve sorriso de satisfação e meditei com tanta saudade, do Brasil, do trópico, da abundância de vida, de gente, de mata, de água e calor...

Impressionante

Nesse link, uma pequena amostra do grau de corrupção no Governo do Distrito Federal. Impressionante. Na saúde, educação, no metrô, informática, no plano diretor, um esquema desses monumentais, bandidagem mesmo, quadrilha. E o Tribunal de Contas do DF, que me perdoem os digníssimos, não serve para porra nenhuma, são uns idiotas completos. Aliás, pouco antes do escândalo vir a tona, o Arruda simplesmente havia conseguido colocar seu ex-chefe de gabinete como membro desse Tribunal. Máfia.

É como digo, a elite política do Distrito Federal, com raras e honrosas exceções, é pequena, mesquinha, tosca. Não valem nada, são uns despreparados. Tudo na base do compadrio, do nepotismo, do apadrinhamento, do esquemão. Gordas verbas da União alimentando esse povo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Templo do Céu



Dia de feriado nublado, mas já mais quentinho, o Templo do Céu abrange uma série de construções das Dinastias Ming e Qing, entre os séculos XV e XX. Esse é o templo principal, dedicado às colheitas que sustentavam uma China fundamentalmente agrária, dependente das imensas e férteis zonas ao longo de seus principais rios. O imperador se deslocava até esse local em dias específicos relacionados à lua e às estações do ano. Há diversos templos para diferentes "inspirações". Inclusive havia grandes cerimônias, fogueiras, sacrifícios de animais, etc... Num desses prédios foram assinados os chamados tratados desiguais, quando a China fora humilhada, por algumas vezes, pelas então potências ocidentais. Pequim chegou a ser invadida por oito países. Infelizmente, nosso amigo aqui ainda não tem precisamente os fatos, datas e detalhes da história chinesa. Ando meio devagar com isso.

Belíssima vista lá de cima, onde se construiu o Templo. Mas reparo que não é possível entrar nele, apenas em algumas outras construções menores, mas no mesmo estilão. E como me chamam a atenção um azul escuro meio brilhante, o vermelho, o dourado, os dragões. Tudo bem interessante.

Ontem passeei por uma região com um lago aqui, em meio aos chineses mesmo, é um lugar cheio de gente, lotado, maior bagunça, mas não com tanto turista. Inclusive visitei um templo budista antigo e bem legal. A religião é razoavelmente bem tolerada por aqui, especialmente se compararmos com décadas recentes. Noto, no entanto, que algumas delas não são muito queridas.

Não tenho ainda fotos de ontem.

domingo, 4 de abril de 2010

A little funny in the head

"Hello, Hu, listen... one of our base commanders (perto do estreito de Taiwan)... he went a little funny in the head... you know, just a little funny... and... he went and did a silly thing..."

Tempos Difíceis

Havia me esquecido de colocar no post anterior, mas então acrescento, que não só os Presidentes de China e EUA conversaram bastante, como o primeiro confirmou presença na Cúpula de Segurança Nuclear que ocorrerá em Washington nos dias 12 e 13 de abril próximo. Havia dúvidas sobre a presença de Hu Jintao.

Lula também estará em Washington, junto a uns 30 outros líderes mundiais. Discutirão um mundo sem armas nucleares, um sonho distante. O Brasil não tem armas nucleares. Não deseja tê-las. Há uma proibição constitucional. A América Latina é zona desnuclearizada.. Exemplo único.

Mesmo assim, setores da imprensa brasileira ecoarão com virulência pressões externas que sofremos para assinarmos o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, o TNP, que assinamos no governo FHC sob grande polêmica, que até hoje persiste. Não vou, nem posso entrar em detalhes, que tampouco conheço com precisão. Já antevejo, no entanto, as pressões que sofreremos de parcelas da sociedade brasileira que parecem ter enorme prazer em defender interesses estrangeiros contra o próprio país. Estão no seu direito, claro, mas é curioso...

Na verdade, nem queria escrever sobre isso. Venho repetindo aqui que a política internacional passa por um período de crise, de reordenação, novas configurações, interrogações, riscos. Depois posso elaborar com maior aprofundamento. Mas vem ocorrendo um processo intenso de luta e redistribuição do poder mundial. E o fato é que os países estão se armando. Até mesmo regiões como América Latina e o sudeste asiático têm registrado substancial aumento no volume de gastos militares.

Nossos amigos do Stockholm Internacional Peace Research Institute publicam regularmente uma série de relatórios sobre o mercado mundial de armas, conflitos, operações de paz, tratados internacionais sobre não proliferação, enfim, tudo que se relaciona à possibilidade de novas guerras. Os números estão lá. Os países estão se armando. Para que, eu não sei. Apenas lamento, preocupo-me, às vezes tento nem pensar.

O triste é que a lógica do sistema é cruel. Isso vale para a economia, meio-ambiente, questões sobre a guerra e a paz. O que faz sentido para os países individualmente não tem a menor lógica em termos globais. A solução seria um governo mundial, ou tratados ancorados em organizações internacionais “com dentes”, ou seja, com poder de aplicar sanções que sejam efetivas. Mas estamos longe disso. Que país, que povo, abrirá mão de sua soberania nacional para alguma espécie de órgão burocrático internacional? Quem ficará com a caneta? Quem terá a chave do cofre?

Mesmo a União Européia, que busca se tornar um Estado plurinacional, uma federação de Estados, ou algo assim, vejam só as dificuldades que têm para alcançarem alguma coordenação interna. Na primeira crise, tudo ameaça desandar e a solidariedade intra-européia não parece tão grande assim...

Tempos interessantes, tempos difíceis. Os países se armam. Vamos seguir na torcida por Obama, por Hu Jintao, Lula, pela ONU, pelo novo governo japonês, Madame Merkel podia ser um pouco mais flexível, Sarkozy menos bravateiro, Chavez podia falar menos e cuidar da cozinha dele, que está bagunçada, Gordon Brown já devia ter pedido para sair, Medvedev podia dar um tempo nas armas que vende para Manmohan Singh, o atual governo de Israel tem prejudicado muito a situação, o Hamas e o Fatah deveriam tentar se acertar, o Irã deveria ficar esperto, a África deveria reforçar a coordenação regional, é tanta coisa, tanto problema, e os países se armam, o meio-ambiente se deteriora, cresce a luta por recursos energéticos, novas fronteiras exploratórias como o Ártico vêm se abrindo, com as previsíveis disputas pelo acesso a esses recursos, e se prevê possível escassez de água e alimentos, talvez tenhamos mais protecionismo se a economia global não se recuperar, mas recuperação econômica significa mais carbono, mais poluição, enfim, novamente reitero que as boas notícias são positivas, mas o quadro geral é bastante complicado.

sábado, 3 de abril de 2010

Boas notícias

Os Presidentes Hu Jintao e Obama bateram papo ontem por cerca de uma hora. Parece que acertaram alguns ponteiros, preparam o caminho para alguma acomodação. O mundo já tem problemas demais, a coisa tá complicada, é importante que esses caras se acertem senão cresce o risco de que tudo desande. O tom de algumas autoridades desses países estava muito alto, é bom que fiquem calminhos.

Aliás, Obama conseguiu uma fundamental vitória na reforma do sistema de saúde norte-americano. Também fechou um acordo na área de desarmamento com a Rússia. Eu gosto do Obama e torço por ele. Nosso amigo sofre uma oposição terrível.

Avançam os debates sobre regulação do sistema financeiro. Nos EUA, na Alemanha, no âmbito do G-20. O combate aos paraísos fiscais também prossegue com algumas boas notícias.

Há todo um contexto muito negativo na política internacional, vivemos um momento de crise, crise e reordenação, desafios ao multilateralismo, ao diálogo e à paz. Mas nesse feriado de Páscoa fico com esses pequenos grandes passos mais construtivos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Bairro Sustentável





vou sair para jantar e depois posto mais vídeos