Entrevista raríssima: o Primeiro-Ministro Wen Jiabao conversou recentemente com o jornalista Fareed Zakaria da CNN. A última vez que havia concedido uma entrevista a um jornalista ocidental foi para o mesmo Zakaria em 2008. Não entrarei em detalhes, mas há diversos movimentos bastante interessantes ocorrendo no opaco sistema político chinês. Tudo que temos são pistas, sinais esparsos, mas parece estar ocorrendo intenso debate da elite local com vistas aos rumos do país e à sucessão prevista para 2012.
Para quem se interessar, sugiro ver os outros 4 vídeos da entrevista.
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domingo, 17 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Dois Pesos...
Maria Rita Kehl, no Estadão (parece que foi demitida por causa do artigo)
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
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terça-feira, 20 de julho de 2010
Pobre revista
Num mundo em transformação, num país em transformação, em meio a tantos possíveis debates interessantes e construtivos, questões em aberto, dilemas, possibilidades, algumas publicações insistem em protagonizar seguidos vexames. Cheias de certezas em sua visão simplificadora, tacanha, mesquinha das coisas. Se fosse apenas isso, tudo bem, fazer o que? O problema é o constante recurso a afirmações fora de contexto, a ilações diversas a partir daí, à montagem de reportagens com um objetivo definido, ao uso de linguagem infantil, imbecilizada, ao abuso de adjetivos, a fontes não identificadas, a dossiês do submundo, enfim, ao que de pior poderia haver no jornalismo. Isso quando não avançam para ataques de caráter pessoal nos quais o preconceito se torna arma política, tudo isso sem direito de defesa, lama plena. E eles têm recursos, poderiam chamar massa crítica, debates, polemizar, enfim, ajudar a construir...
Mas não é isso que preferem. E na próxima semana, teremos em destaque os perigos de tomar sol sem protetor ou as novas técnicas que revolucionam o mercado de cirurgia estética...
Revista Veja - Lula na África/seção leitores
Em geral, não me manifesto sobre textos de imprensa, até por entender que a discordância e o debate fazem parte da democracia. Mas, desta vez, VEJA passou dos limites ao ofender-me com a caracterização de "imoral" em matéria sobre a recente visita do presidente Lula à África. Citou a minha frase "negócios são negócios” fora de contexto e fez daí uma ciranda de inferências e distorções. Para o bem da informação e pelo respeito às normas de uma imprensa responsável, resumo o ocorrido, uma vez que a revista não enviou jornalista para acompanhar a visita a África. Quando me perguntaram, em Malabo, por que o Brasil fazia negócios com a Guiné Equatorial, respondi efetivamente que "negócios são negócios", e que bastava ver a origem da manteiga consumida nos hotéis da cidade (francesa) ou a nacionalidade das principais empresas que exploram petróleo no país (americana) para saber que perseguir interesses comerciais não significa dar apoio político.
Acrescentei que "o isolamento e a distância só fazem com que eles (guineanos) dependam mais de outros e fiquem mais longe daquilo que nós desejamos”. Disse ainda que a aproximação da Guiné Equatorial com a CPLP "vai contribuir para que estas práticas que nós apreciamos sejam também adotadas pelos outros" (a Guiné Equatorial já é, de resto, membro pleno da Francofonia, liderada pela França). Nenhuma dessas declarações – referentes ao interesse na melhoria da situação interna daquele país - foi reproduzida por VEJA. A revista limitou-se a atribuir-me o adjetivo injurioso, que nunca conferiu a autoridades dos demais países que fazem negócios com a Guiné Equatorial ou com qualquer país de regime não democrático. O debate democrático e mesmo a crítica pressupõem um mínimo de respeito. Da mesma maneira que VEJA discorda das minhas opiniões, freqüentemente discordo das visões da revista, mas nunca me referi a ela de forma ofensiva e injuriosa.
CELSO AMORIM
Ministro das Relações Exteriores
Mas não é isso que preferem. E na próxima semana, teremos em destaque os perigos de tomar sol sem protetor ou as novas técnicas que revolucionam o mercado de cirurgia estética...
Revista Veja - Lula na África/seção leitores
Em geral, não me manifesto sobre textos de imprensa, até por entender que a discordância e o debate fazem parte da democracia. Mas, desta vez, VEJA passou dos limites ao ofender-me com a caracterização de "imoral" em matéria sobre a recente visita do presidente Lula à África. Citou a minha frase "negócios são negócios” fora de contexto e fez daí uma ciranda de inferências e distorções. Para o bem da informação e pelo respeito às normas de uma imprensa responsável, resumo o ocorrido, uma vez que a revista não enviou jornalista para acompanhar a visita a África. Quando me perguntaram, em Malabo, por que o Brasil fazia negócios com a Guiné Equatorial, respondi efetivamente que "negócios são negócios", e que bastava ver a origem da manteiga consumida nos hotéis da cidade (francesa) ou a nacionalidade das principais empresas que exploram petróleo no país (americana) para saber que perseguir interesses comerciais não significa dar apoio político.
Acrescentei que "o isolamento e a distância só fazem com que eles (guineanos) dependam mais de outros e fiquem mais longe daquilo que nós desejamos”. Disse ainda que a aproximação da Guiné Equatorial com a CPLP "vai contribuir para que estas práticas que nós apreciamos sejam também adotadas pelos outros" (a Guiné Equatorial já é, de resto, membro pleno da Francofonia, liderada pela França). Nenhuma dessas declarações – referentes ao interesse na melhoria da situação interna daquele país - foi reproduzida por VEJA. A revista limitou-se a atribuir-me o adjetivo injurioso, que nunca conferiu a autoridades dos demais países que fazem negócios com a Guiné Equatorial ou com qualquer país de regime não democrático. O debate democrático e mesmo a crítica pressupõem um mínimo de respeito. Da mesma maneira que VEJA discorda das minhas opiniões, freqüentemente discordo das visões da revista, mas nunca me referi a ela de forma ofensiva e injuriosa.
CELSO AMORIM
Ministro das Relações Exteriores
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Red China Blues
Separei duas colunas de opinião, uma do China Daily, outra do Estadão, para tentar escrever um texto sobre liberdade de expressão. Ao contrário do que indica o senso comum, a China não é tão fechada quanto pensamos de longe. Não há uma máquina central determinando o que se escreve e o que não se escreve. Discute-se bastante, sobre vários assuntos, vivo me surpreendendo. Mas é evidente que há limitações importantes, não quero dar uma de ingênuo.
Por outro lado, no Brasil a liberdade de imprensa é um conceito muito mal utilizado. A defesa de desregulamentação em um ambiente oligopolizado, e com propriedades cruzadas, não se pode confundir com a defesa de liberdade de expressão. Os exemplos do setor financeiro e petrolífero são suficientes para atentarmos quanto aos riscos do que se convencionou chamar de autoregulação. A questão do direito de resposta também é fundamental.
Estou entrando em terreno arriscado. Vou pensar em como ou o que escrever.
Miles Davis é sensacional, não? Achei outro vídeo dele no youtube, na verdade só a música e seu rosto genial, Red China Blues, o nome me instigou a postá-lo, mas não apenas por isso, é sonzeira mesmo.
Por enquanto é só. Vou descansar, tenho trabalhado demais. Amanhã 8 horas é a estréia de Alan Patrick no Santos. A santástica fábrica de craques.
Por outro lado, no Brasil a liberdade de imprensa é um conceito muito mal utilizado. A defesa de desregulamentação em um ambiente oligopolizado, e com propriedades cruzadas, não se pode confundir com a defesa de liberdade de expressão. Os exemplos do setor financeiro e petrolífero são suficientes para atentarmos quanto aos riscos do que se convencionou chamar de autoregulação. A questão do direito de resposta também é fundamental.
Estou entrando em terreno arriscado. Vou pensar em como ou o que escrever.
Miles Davis é sensacional, não? Achei outro vídeo dele no youtube, na verdade só a música e seu rosto genial, Red China Blues, o nome me instigou a postá-lo, mas não apenas por isso, é sonzeira mesmo.
Por enquanto é só. Vou descansar, tenho trabalhado demais. Amanhã 8 horas é a estréia de Alan Patrick no Santos. A santástica fábrica de craques.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Crise Ministerial?! Tentativa de Golpe!?!?
Na ausência de inteligência, na ausência de capacidade analítica e propositiva, o Partido da Imprensa toma novamente a frente da oposição e utiliza sua principal arma, a criação de crises artificiais. A imprensa inventa a crise, distorce, manipula, ecoa com alguns luminares da oposição, blogueiros de aluguel, e aí fica martelando e mancheteando, força para tentar envolver a Ministra Dilma e isso apenas comprova mais uma vez o fato de termos grandes grupos de comunicações, famílias, que operam como um Partido Político, lideram a oposição, tentam pautá-la, forçam a barra com a opinião pública, etc...
É o Partido da Imprensa Golpista, que reedita de forma meio patética antigas táticas da UDN. Carnaval 2010, em destaque o cinismo, a hipocrisia, o corporativismo, a ausência de programa, a incapacidade de entender as mudanças por que passa o Brasil e o mundo, nosso novo papel, uma sociedade que se renova e se transforma. Ficam aí nesses joguinhos destrutivos, baixos, pequenos.
Jogo mais do que manjado, escrevo isso a respeito dessa pseudo-crise com o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH III). Ao que me consta, é apenas uma carta de intenções, programática, ampla. Li também que veio sendo discutida há anos. Vi também que difere muito pouco do PNDH I e do II, que foram feitos no governo FHC. Enfim, não vou ficar explicando algo que não merece explicação. A grande discussão é sim se devemos punir os torturadores. Se a anistia vale para eles também? Eu digo que não, não vale para quem torturou não. Mas a punição deve ser moderada, com certo senso de medida que não demonstre revanchismo barato. O que isso quer dizer, depois eu explico.
Sobre a "polêmica" do PNDH III, segue bom artigo do blog do Azenha, "O que aprendi na polêmica do PNDH".
É o Partido da Imprensa Golpista, que reedita de forma meio patética antigas táticas da UDN. Carnaval 2010, em destaque o cinismo, a hipocrisia, o corporativismo, a ausência de programa, a incapacidade de entender as mudanças por que passa o Brasil e o mundo, nosso novo papel, uma sociedade que se renova e se transforma. Ficam aí nesses joguinhos destrutivos, baixos, pequenos.
Jogo mais do que manjado, escrevo isso a respeito dessa pseudo-crise com o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH III). Ao que me consta, é apenas uma carta de intenções, programática, ampla. Li também que veio sendo discutida há anos. Vi também que difere muito pouco do PNDH I e do II, que foram feitos no governo FHC. Enfim, não vou ficar explicando algo que não merece explicação. A grande discussão é sim se devemos punir os torturadores. Se a anistia vale para eles também? Eu digo que não, não vale para quem torturou não. Mas a punição deve ser moderada, com certo senso de medida que não demonstre revanchismo barato. O que isso quer dizer, depois eu explico.
Sobre a "polêmica" do PNDH III, segue bom artigo do blog do Azenha, "O que aprendi na polêmica do PNDH".
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Mais curtas
E os brimos de Abu Dhabi colocaram US$ 10 bilhões para resgatar os vendedores de miragens de Dubai. Será suficiente? Há mais esqueletos escondidos nas areias do deserto? Interesting times...
Em Copenhaguen, como previsto, dificuldades. Creio que a luta será para saber no colo de quem ficará a bola.
Venezuela no Mercosul. Chile na OCDE.
Aqui o bom discurso do Presidente Lula na Confecom. Um bom discurso do líder de um governo ambíguo no tema. Parole, parole, mas na prática pouco fez. A Conferência é um passo importante, mas veio no fim do mandato, e aí? O Ministro das Comunicações é simplesmente Helio Costa, um cara da Globo... Aliás, o governo é muito ambíguo, contraditório até, em uma série de questões, isso já foi comentado por aqui. Lula é muito pragmático no exercício cotidiano do poder.
Mas voltando, apenas para dar um exemplo da necessidade de colocar essas questões na ordem do dia, o Código que regula rádio e televisão é de 1962. E os grandes grupos privados do setor, algumas famílias, não querem discutir nada, lhufas, nhecas de pitibiribas. Escondem-se do necessário debate com o argumento que qualquer tentativa de formulação e implementação de políticas públicas, como ocorre em todos os países desenvolvidos, é censura, ameaça à liberdade de expressão, e por aí vai, descendo, sempre para baixo... Eles têm enorme dificuldade de discutirem a si próprios, mas rogam-se o direito de apontar o dedo para quem quiserem, usarem e manipularem sua força midiática contra adversários comerciais, políticos, etc... Em resumo, cínicos, covardes, acomodados, gente estúpida, arrogante e hipócrita. Não sabem o que é o diálogo, a construção de consensos, foram criados no regime discricionário de triste memória. Famílias em decadência, felizmente. Falei tá falado.
Em Copenhaguen, como previsto, dificuldades. Creio que a luta será para saber no colo de quem ficará a bola.
Venezuela no Mercosul. Chile na OCDE.
Aqui o bom discurso do Presidente Lula na Confecom. Um bom discurso do líder de um governo ambíguo no tema. Parole, parole, mas na prática pouco fez. A Conferência é um passo importante, mas veio no fim do mandato, e aí? O Ministro das Comunicações é simplesmente Helio Costa, um cara da Globo... Aliás, o governo é muito ambíguo, contraditório até, em uma série de questões, isso já foi comentado por aqui. Lula é muito pragmático no exercício cotidiano do poder.
Mas voltando, apenas para dar um exemplo da necessidade de colocar essas questões na ordem do dia, o Código que regula rádio e televisão é de 1962. E os grandes grupos privados do setor, algumas famílias, não querem discutir nada, lhufas, nhecas de pitibiribas. Escondem-se do necessário debate com o argumento que qualquer tentativa de formulação e implementação de políticas públicas, como ocorre em todos os países desenvolvidos, é censura, ameaça à liberdade de expressão, e por aí vai, descendo, sempre para baixo... Eles têm enorme dificuldade de discutirem a si próprios, mas rogam-se o direito de apontar o dedo para quem quiserem, usarem e manipularem sua força midiática contra adversários comerciais, políticos, etc... Em resumo, cínicos, covardes, acomodados, gente estúpida, arrogante e hipócrita. Não sabem o que é o diálogo, a construção de consensos, foram criados no regime discricionário de triste memória. Famílias em decadência, felizmente. Falei tá falado.
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CONFECOM II
A entrevista do nosso amigo Venício dá uma geral boa na importância da Confecom. Coisa rápida e que vai direto ao fundamental, perfeita para um blog como esse. Resolvi, portanto, postá-la na íntegra para incentivar a leitura de meus poucos e muito queridos leitores:
Venício Lima é pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília e faz questão de definir seu envolvimento com a Confecom: "não sou membro de nenhuma entidade, eu não sou da comissão, eu acompanho porque tenho interesse profissional na área".
A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) começou nesta segunda-feira com a discussão de políticas de comunicação, mídia e direitos e deveres da cidadania e vai até o dia 17, quinta-feira.
Terra Magazine - A I Conferência Nacional de Comunicação começou ontem, em Brasília. Quais são as expectativas?
Venício Lima - É sempre bom lembrar que essas conferências são assembléias propositivas, elas não são deliberativas. Então, do ponto de vista formal, o máximo que pode acontecer são propostas que podem ou não serem encampadas pelo Poder Executivo ou Legislativo e transformadas em normas legais. Isso é um ponto importante, porque muitas pessoas não conhecem essa informação e podem esperar da conferência algo que ela não pode dar.
O que ela pode, efetivamente, dar?
O principal resultado da conferência ela já deu. Desde a sua convocação pelo presidente, criou-se um debate em nível nacional, nas mais diferentes camadas da população, ONGs, igrejas, entidades, todo tipo de seminários, sindicatos... Enfim, uma coisa inédita, que aconteceu independente da divulgação na grande mídia, essa mídia que se omitiu eloquentemente na sua divulgação, isso é extremamente positivo. E espero que isso se constitua numa agenda permanente. Que esse tenha sido somente o início de um debate, ponto inicial para a reivindicação de direitos. Se o conjunto da população não tiver consciência da comunicação como um direito e da mídia como um poder, não há como falar em nome da população e reivindicar esses direitos.
Há muitas décadas, o Brasil não discute a sua política de comunicação. Outros países da América Latina como Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Uruguai, Nicarágua, Argentina e Venezuela deram passos tão ousados quanto necessários. Por que o Brasil tardou tanto?
Historicamente, se constituiu no Brasil, sobretudo na radiodifusão, ou à partir da radiodifusão, ou envolvendo a radiodifusão, um protagonismo do setor privado, que acabou se transformando num ator tão poderoso e quase que exclusivo nessa área de políticas públicas. Por isto, até agora, eles se recusaram sequer a discutir as questões da área. Tanto que seis entidades, inicialmente envolvidas na comissão de organização da conferência, se retiraram dela. Por que não se discute? Porque os principais atores, cujos interesses têm sido historicamente beneficiados no setor, não têm interesse em discutir. Porque discutir significa levantar os problemas da área e eventualmente alterar as regras do jogo.
Como recuperar o tempo perdido?
É inevitável. Há como recuperar ao tempo perdido, fatalmente a Confecom interessa a todos os atores envolvidos, inclusive aos empresários, por causa da inovação tecnológica e por causa dos novos atores que chegaram e que são, do ponto de vista econômico, muito mais poderosos que os atores tradicionais. Eu estou me referindo, evidentemente, às teles. Elas chegaram ao campo porque elas têm a infraestrutura tecnológica necessária à distribuição de conteúdo.
A esses grupos tradicionais, interessa uma regulação, nem que seja para excluir os seus concorrentes, então eu acho que é fatal, o Brasil vai ter que regular a área, mas não necessariamente isso vai significar avanços. Eu espero e acredito que haverá avanços na área, do ponto de vista do direito à comunicação e da democratização.
Não há como ignorar a entrada dos novos atores. Além do mais, há que se levar em conta que nossa legislação na área de radiodifusão é da década de 70.
O senhor poderia se aprofundar mais nessa questão da entrada das teles?
Há um fato novo, que é, sobretudo, a partir da privatização promovida pelo governo do Fernando Henrique Cardoso, das telecomunicações, o Brasil passou a ter na área de telefonia fixa e móvel grandes grupos internacionais que, por conta das mudanças tecnológicas, hoje detém a capacidade técnica de infraestrutura para distribuição de conteúdo que antes eram monopólio da radiodifusão tradicional.
A tecnologia fez com que essas diferenças entre telecomunicação e radiodifusão fossem diluídas. Por exemplo. Eu sou uma empresa de telecomunicações e "cabei" uma determinada cidade com fios de fibra ótica, então, eu posso oferecer serviços de telefonia, de TV a cabo, de transmissão de dados... Eu passo a ter condições de competir com os radiodifusores tradicionais da área, que controlam, por exemplo, a área de TV a cabo.
Outro exemplo, o PL-29, que acabou de ser aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na semana passada, ele permite às teles a distribuição de conteúdo na área de TV a cabo, o que era uma prerrogativa da radiodifusão tradicional.
As transformações tecnológicas obrigarão, de forma inevitável, a regulação da área. Agora, a regulação interessa inclusive aos atores tradicionais, para garantir esses interesses ou para afastar seus concorrentes. Porque a legislação não os contempla mais.
Se as mudanças no setor interessam também aos grandes grupos de comunicação, por que alguns deles boicotaram a construção conferência?
Você pode exercer seu poder, inclusive na definição da agenda, na composição da plenária em termos da composição de delegados, sem atuar diretamente e sem transformar a conferência e os temas que nela estão sendo discutidos em agenda pública. Seis entidades representativas dos empresários saíram da comissão organizadora, em protesto contra uma eventual ameaça à liberdade de expressão e a existência de proposta de controle social - uma coisa vazia. Essa saída não significa uma ausência. Seus interesses continuam presentes no evento.
O sinal mais evidente que isso de fato aconteceu são as porcentagens dos delegados: 40% da sociedade civil, 40% de representantes dos empresários e 20% de representantes do Estado. Quando, no Brasil ou no mundo, o empresariado representa 40% da população? Nunca! Nada! Não há isso!
Eles não cobrem porque é uma tradição da mídia brasileira não cobrir a si mesma - isso contraria seus interesses. Mas isso não quer dizer que ela não esteja de fato presente. Ela está lá como uma sombra .
E qual seria o rumo ideal da conferência? E da regulamentação da comunicação no Brasil?
Essa pergunta comporta um curso de dois semestres numa universidade (risos). Os setores que tem lutado pela democratização da comunicação devem se concentrar em poucos pontos, não dispersar a pauta de reivindicações. Há inúmeros pontos que podem ser consenso e sair como proposta da conferência. Mas um que me parece fundamental é a questão da universalização da banda larga, apesar de eu achar que excesso de otimismo, nessa área, é contraproducente. Apesar disso tudo, eu acho que a universalização da banda larga representa uma mudança tão radicalmente importante, no sentido do poder que mídia tradicional tem exercido no Brasil e no mundo, que isso deveria ser prioridade.
O governo deve colocar, como há indicações que está colocando, a universalização da banda larga como prioridade zero na área de comunicações. Banda larga, inclusão digital, computadores de acesso barato para a população. Isso trará conseqüências fantásticas do ponto de vista do direito à comunicação.
Venício Lima é pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília e faz questão de definir seu envolvimento com a Confecom: "não sou membro de nenhuma entidade, eu não sou da comissão, eu acompanho porque tenho interesse profissional na área".
A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) começou nesta segunda-feira com a discussão de políticas de comunicação, mídia e direitos e deveres da cidadania e vai até o dia 17, quinta-feira.
Terra Magazine - A I Conferência Nacional de Comunicação começou ontem, em Brasília. Quais são as expectativas?
Venício Lima - É sempre bom lembrar que essas conferências são assembléias propositivas, elas não são deliberativas. Então, do ponto de vista formal, o máximo que pode acontecer são propostas que podem ou não serem encampadas pelo Poder Executivo ou Legislativo e transformadas em normas legais. Isso é um ponto importante, porque muitas pessoas não conhecem essa informação e podem esperar da conferência algo que ela não pode dar.
O que ela pode, efetivamente, dar?
O principal resultado da conferência ela já deu. Desde a sua convocação pelo presidente, criou-se um debate em nível nacional, nas mais diferentes camadas da população, ONGs, igrejas, entidades, todo tipo de seminários, sindicatos... Enfim, uma coisa inédita, que aconteceu independente da divulgação na grande mídia, essa mídia que se omitiu eloquentemente na sua divulgação, isso é extremamente positivo. E espero que isso se constitua numa agenda permanente. Que esse tenha sido somente o início de um debate, ponto inicial para a reivindicação de direitos. Se o conjunto da população não tiver consciência da comunicação como um direito e da mídia como um poder, não há como falar em nome da população e reivindicar esses direitos.
Há muitas décadas, o Brasil não discute a sua política de comunicação. Outros países da América Latina como Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Uruguai, Nicarágua, Argentina e Venezuela deram passos tão ousados quanto necessários. Por que o Brasil tardou tanto?
Historicamente, se constituiu no Brasil, sobretudo na radiodifusão, ou à partir da radiodifusão, ou envolvendo a radiodifusão, um protagonismo do setor privado, que acabou se transformando num ator tão poderoso e quase que exclusivo nessa área de políticas públicas. Por isto, até agora, eles se recusaram sequer a discutir as questões da área. Tanto que seis entidades, inicialmente envolvidas na comissão de organização da conferência, se retiraram dela. Por que não se discute? Porque os principais atores, cujos interesses têm sido historicamente beneficiados no setor, não têm interesse em discutir. Porque discutir significa levantar os problemas da área e eventualmente alterar as regras do jogo.
Como recuperar o tempo perdido?
É inevitável. Há como recuperar ao tempo perdido, fatalmente a Confecom interessa a todos os atores envolvidos, inclusive aos empresários, por causa da inovação tecnológica e por causa dos novos atores que chegaram e que são, do ponto de vista econômico, muito mais poderosos que os atores tradicionais. Eu estou me referindo, evidentemente, às teles. Elas chegaram ao campo porque elas têm a infraestrutura tecnológica necessária à distribuição de conteúdo.
A esses grupos tradicionais, interessa uma regulação, nem que seja para excluir os seus concorrentes, então eu acho que é fatal, o Brasil vai ter que regular a área, mas não necessariamente isso vai significar avanços. Eu espero e acredito que haverá avanços na área, do ponto de vista do direito à comunicação e da democratização.
Não há como ignorar a entrada dos novos atores. Além do mais, há que se levar em conta que nossa legislação na área de radiodifusão é da década de 70.
O senhor poderia se aprofundar mais nessa questão da entrada das teles?
Há um fato novo, que é, sobretudo, a partir da privatização promovida pelo governo do Fernando Henrique Cardoso, das telecomunicações, o Brasil passou a ter na área de telefonia fixa e móvel grandes grupos internacionais que, por conta das mudanças tecnológicas, hoje detém a capacidade técnica de infraestrutura para distribuição de conteúdo que antes eram monopólio da radiodifusão tradicional.
A tecnologia fez com que essas diferenças entre telecomunicação e radiodifusão fossem diluídas. Por exemplo. Eu sou uma empresa de telecomunicações e "cabei" uma determinada cidade com fios de fibra ótica, então, eu posso oferecer serviços de telefonia, de TV a cabo, de transmissão de dados... Eu passo a ter condições de competir com os radiodifusores tradicionais da área, que controlam, por exemplo, a área de TV a cabo.
Outro exemplo, o PL-29, que acabou de ser aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na semana passada, ele permite às teles a distribuição de conteúdo na área de TV a cabo, o que era uma prerrogativa da radiodifusão tradicional.
As transformações tecnológicas obrigarão, de forma inevitável, a regulação da área. Agora, a regulação interessa inclusive aos atores tradicionais, para garantir esses interesses ou para afastar seus concorrentes. Porque a legislação não os contempla mais.
Se as mudanças no setor interessam também aos grandes grupos de comunicação, por que alguns deles boicotaram a construção conferência?
Você pode exercer seu poder, inclusive na definição da agenda, na composição da plenária em termos da composição de delegados, sem atuar diretamente e sem transformar a conferência e os temas que nela estão sendo discutidos em agenda pública. Seis entidades representativas dos empresários saíram da comissão organizadora, em protesto contra uma eventual ameaça à liberdade de expressão e a existência de proposta de controle social - uma coisa vazia. Essa saída não significa uma ausência. Seus interesses continuam presentes no evento.
O sinal mais evidente que isso de fato aconteceu são as porcentagens dos delegados: 40% da sociedade civil, 40% de representantes dos empresários e 20% de representantes do Estado. Quando, no Brasil ou no mundo, o empresariado representa 40% da população? Nunca! Nada! Não há isso!
Eles não cobrem porque é uma tradição da mídia brasileira não cobrir a si mesma - isso contraria seus interesses. Mas isso não quer dizer que ela não esteja de fato presente. Ela está lá como uma sombra .
E qual seria o rumo ideal da conferência? E da regulamentação da comunicação no Brasil?
Essa pergunta comporta um curso de dois semestres numa universidade (risos). Os setores que tem lutado pela democratização da comunicação devem se concentrar em poucos pontos, não dispersar a pauta de reivindicações. Há inúmeros pontos que podem ser consenso e sair como proposta da conferência. Mas um que me parece fundamental é a questão da universalização da banda larga, apesar de eu achar que excesso de otimismo, nessa área, é contraproducente. Apesar disso tudo, eu acho que a universalização da banda larga representa uma mudança tão radicalmente importante, no sentido do poder que mídia tradicional tem exercido no Brasil e no mundo, que isso deveria ser prioridade.
O governo deve colocar, como há indicações que está colocando, a universalização da banda larga como prioridade zero na área de comunicações. Banda larga, inclusão digital, computadores de acesso barato para a população. Isso trará conseqüências fantásticas do ponto de vista do direito à comunicação.
CONFECOM
Começou ontem aqui em Brasilia a CONFECOM, 1a Conferência Nacional de Comunicação. As grandes conferências nacionais são espaços de discussão entre diversos setores sociais que buscam elaborar e implementar políticas públicas. Para tanto, são organizados debates, mapeados dissensos e, na medida do possível, construídos consensos.
Já foram realizadas várias nos últimos anos. Essa é particularmente importante, pois lida com um tema fundamental: os grandes meios de comunicação, concessões públicas, o acesso à informação, a qualidade da informação, a diversidade da informação. Informação é poder, sabemos todos. Na política, quase sempre o que importa é a versão, não o fato. Por isso, e pelo fato dos principais beneficiários das regras atuais (ou da ausência de regras) serem totalmente contrários a qualquer discussão sobre o tema, vemos a relevância do encontro. Trata-se, ampliando o horizonte, de uma discussão fundamental para a consolidação da democracia e do regime republicano.
Por alguns posts isolados, talvez nem tão frequentes quanto mereciam, está claro meu incômodo com a atual situação. Famílias perfazem oligopólios e forçam a barra, distorcem, agridem a inteligência, manipulam abertamente a informação em benefício de seus interesses econômicos-políticos. Eu creio que a coisa vem melhorando nos últimos anos, especialmente por causa da emergência da internet, que permite desmascarar com rapidez uma série de tramóias de alguns grandes grupos.
As próprias eleições de 2006 foram uma enorme derrota desse grupos. Eles jogaram pesado, pesadíssimo, na derrubada do Presidente Lula, mas ficaram com as mãos vazias. Prosseguem em seu intuito, atacam-no de todas as formas, mas estão bastante enfraquecidos. Caso a Dilma não vença, não será por causa da sordidez de certa cobertura jornalística, mas também por outros fatores.
Voltando, a internet é revolucionária. As empresas de telecomunicações querem entrar em TV a cabo e outras mídias, há uma mistureba, isso é bom, coloca concorrência, internet, blogs, TV aberta, TV a cabo, rádios, rádios comunitárias, universalização da banda larga, telecomunicações, etc... Portanto a Confecom também é boa por causa do momento, uma virada tecnológica, convergência, ampliação dos meios de produção e de consumo de informações, tirando-as do controle de famílias com pouco ou nenhum compromisso com a nação e o bem-estar da população brasileira.
Por fim, link para uma entrevista de um estudioso e aqui o site da Conferência. Vamos ver no que vai dar.
Já foram realizadas várias nos últimos anos. Essa é particularmente importante, pois lida com um tema fundamental: os grandes meios de comunicação, concessões públicas, o acesso à informação, a qualidade da informação, a diversidade da informação. Informação é poder, sabemos todos. Na política, quase sempre o que importa é a versão, não o fato. Por isso, e pelo fato dos principais beneficiários das regras atuais (ou da ausência de regras) serem totalmente contrários a qualquer discussão sobre o tema, vemos a relevância do encontro. Trata-se, ampliando o horizonte, de uma discussão fundamental para a consolidação da democracia e do regime republicano.
Por alguns posts isolados, talvez nem tão frequentes quanto mereciam, está claro meu incômodo com a atual situação. Famílias perfazem oligopólios e forçam a barra, distorcem, agridem a inteligência, manipulam abertamente a informação em benefício de seus interesses econômicos-políticos. Eu creio que a coisa vem melhorando nos últimos anos, especialmente por causa da emergência da internet, que permite desmascarar com rapidez uma série de tramóias de alguns grandes grupos.
As próprias eleições de 2006 foram uma enorme derrota desse grupos. Eles jogaram pesado, pesadíssimo, na derrubada do Presidente Lula, mas ficaram com as mãos vazias. Prosseguem em seu intuito, atacam-no de todas as formas, mas estão bastante enfraquecidos. Caso a Dilma não vença, não será por causa da sordidez de certa cobertura jornalística, mas também por outros fatores.
Voltando, a internet é revolucionária. As empresas de telecomunicações querem entrar em TV a cabo e outras mídias, há uma mistureba, isso é bom, coloca concorrência, internet, blogs, TV aberta, TV a cabo, rádios, rádios comunitárias, universalização da banda larga, telecomunicações, etc... Portanto a Confecom também é boa por causa do momento, uma virada tecnológica, convergência, ampliação dos meios de produção e de consumo de informações, tirando-as do controle de famílias com pouco ou nenhum compromisso com a nação e o bem-estar da população brasileira.
Por fim, link para uma entrevista de um estudioso e aqui o site da Conferência. Vamos ver no que vai dar.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Nível baixo
Na sequência de Gilberto Gil e sua gente hipócrita, do Blues da Piedade, temos o Ponto de Equilíbrio em homenagem à cobertura da grande imprensa, especialmente em período pré-eleitoral.
O jornalismo de hoje procura produzir sensações, mais do que raciocínios, idéias. Proclama-se dono da verdade e da ética, mas sabe-se o quanto estão envolvidos em todos os jogos de poder, a maneira como manipulam a notícia, a origem de seus conglomerados empresariais, etc... O público quer sangue, o público deseja uma novelinha em que estejam pintados direitinho quem são os malvados, aqueles culpados de tudo, "o pessoal de Brasília", o público está muito ocupado no trânsito, nas salas de seus apartamentos, com suas vidinhas, para perder tempo lendo sobre financiamento eleitoral. É preciso delimitar, mostrar direitinho onde está o bem, onde está o mal, queimar em praça pública alguns corruptinhos como bruxas na Idade Média, mas acima de tudo não perder tempo com o contexto mais geral, as relações entre o dinheiro e a política, a estrutura partidária, o financiamento eleitoral, etc...
Enfim, o Presidente Lula deu declarações rápidas sobre o caso do Governo do Distrito Federal. Falou que as imagens por si só não dizem nada, é preciso esperar a apuração, o inquérito, a manifestação da defesa e a decisão da Justiça. Acrescentou que já enviou ao Congresso algumas propostas de reforma política que atuam particularmente sobre o financiamento eleitoral, mas elas não andam. Enfim, teve uma postura distante, apropriada, correta para um Presidente, colocou o dedo no aspecto estrutural da questão, deixando para as autoridades competentes o julgamento sobre Arruda e etcéteras.
Mas nossos amigos da grande imprensa destacam, em mais um exercício de manipulação, apenas o primeiro trecho da fala do Presidente, quando diz que as imagens por si não dizem nada. Dão a entender que ele faz a defesa dos acusados, que não vê problema, etc... Dando nome aos bois, foi a família Marinho, especialmente e mais uma vez, que usa seu gigantesco poder de quase monopólio, criado sob as benesses do regime militar, para dar mais aquela cutucadazinha no Presidente, tentando colocá-lo, como fizeram no caso Sarney, como sócio, "protetor de corruptos".
Historinhas simples, novelas, o bem contra o mal, métodos cotidianos de manipulação política escancarada.
Quando a Globo fará uma reportagem dizendo que Ricardo Teixeira se auto-nomeou Presidente do Comitê Organizador da Copa e colocou a própria filha como Secretária-Executiva? Cereja no bolo, poderiam dizer que estava tudo certo para Arruda reformar o Mané Garrincha por R$ 750 milhões, aumentando a capacidade para 70 mil pessoas. E a Globo não ia dizer nada, ia aplaudir o dinheiro público caindo no ralo...
Olha só, ainda bem que estou indo para longe, porque ficar acompanhando esse tipo de coisa no dia-dia seria complicado, eu iria passar o dia postando sacanagens por aqui. Dos dois lados, há que se reconhecer, mas muito mais da chamada grande imprensa, hoje desmoralizada mas ainda dobrando apostas e se sacrificando para a batalha de 2010. Jogar esse jogo é muito duro, é preciso muita flexibilidade moral, acostumar-se com o cheiro do esgoto e lidar com ele. Hora de ler os clássicos, entrar em outra viagem, acompanhar de longe a big picture e crescer para outros rumos.
O jornalismo de hoje procura produzir sensações, mais do que raciocínios, idéias. Proclama-se dono da verdade e da ética, mas sabe-se o quanto estão envolvidos em todos os jogos de poder, a maneira como manipulam a notícia, a origem de seus conglomerados empresariais, etc... O público quer sangue, o público deseja uma novelinha em que estejam pintados direitinho quem são os malvados, aqueles culpados de tudo, "o pessoal de Brasília", o público está muito ocupado no trânsito, nas salas de seus apartamentos, com suas vidinhas, para perder tempo lendo sobre financiamento eleitoral. É preciso delimitar, mostrar direitinho onde está o bem, onde está o mal, queimar em praça pública alguns corruptinhos como bruxas na Idade Média, mas acima de tudo não perder tempo com o contexto mais geral, as relações entre o dinheiro e a política, a estrutura partidária, o financiamento eleitoral, etc...
Enfim, o Presidente Lula deu declarações rápidas sobre o caso do Governo do Distrito Federal. Falou que as imagens por si só não dizem nada, é preciso esperar a apuração, o inquérito, a manifestação da defesa e a decisão da Justiça. Acrescentou que já enviou ao Congresso algumas propostas de reforma política que atuam particularmente sobre o financiamento eleitoral, mas elas não andam. Enfim, teve uma postura distante, apropriada, correta para um Presidente, colocou o dedo no aspecto estrutural da questão, deixando para as autoridades competentes o julgamento sobre Arruda e etcéteras.
Mas nossos amigos da grande imprensa destacam, em mais um exercício de manipulação, apenas o primeiro trecho da fala do Presidente, quando diz que as imagens por si não dizem nada. Dão a entender que ele faz a defesa dos acusados, que não vê problema, etc... Dando nome aos bois, foi a família Marinho, especialmente e mais uma vez, que usa seu gigantesco poder de quase monopólio, criado sob as benesses do regime militar, para dar mais aquela cutucadazinha no Presidente, tentando colocá-lo, como fizeram no caso Sarney, como sócio, "protetor de corruptos".
Historinhas simples, novelas, o bem contra o mal, métodos cotidianos de manipulação política escancarada.
Quando a Globo fará uma reportagem dizendo que Ricardo Teixeira se auto-nomeou Presidente do Comitê Organizador da Copa e colocou a própria filha como Secretária-Executiva? Cereja no bolo, poderiam dizer que estava tudo certo para Arruda reformar o Mané Garrincha por R$ 750 milhões, aumentando a capacidade para 70 mil pessoas. E a Globo não ia dizer nada, ia aplaudir o dinheiro público caindo no ralo...
Olha só, ainda bem que estou indo para longe, porque ficar acompanhando esse tipo de coisa no dia-dia seria complicado, eu iria passar o dia postando sacanagens por aqui. Dos dois lados, há que se reconhecer, mas muito mais da chamada grande imprensa, hoje desmoralizada mas ainda dobrando apostas e se sacrificando para a batalha de 2010. Jogar esse jogo é muito duro, é preciso muita flexibilidade moral, acostumar-se com o cheiro do esgoto e lidar com ele. Hora de ler os clássicos, entrar em outra viagem, acompanhar de longe a big picture e crescer para outros rumos.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Piedade aos Miseráveis
Eu estou com asco da exploração do texto do Cesar Benjamin. É o esgoto jornalístico, a torpeza moral, pura canalhice.
Piedade a esses miseráveis de alma bem pequena.
Piedade a esses miseráveis de alma bem pequena.
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segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Tecnica jornalística
Técnica jornalística apurada. Estilo Veja:
"Olha, não podemos provar, mas também não podemos dizer que é mentira, portanto estamos publicando".
Ou então
"Fontes do Palácio do Planalto afirmam que se instalou um clima de terror no governo com as novas denúncias. Foi montada uma operação abafa."
Ou então o velho e bom ping-pong com o submundo dos dossiês de Brasília, os vazamentos selecionados, as edições, para tratar tudo depois como "apuração jornalística" e se defender com o sigilo de fonte.
Adjetivos, muitos adjetivos. Faça conexões com personagens controversos. Monte a historinha. Se necessário, coloque como testemunha uma pessoa já morta, como foi feito no caso dos dólares de Cuba. Ou então ponha Daniel Dantas na capa da revista afirmando ter descoberto contas de Lula no exterior.
Enfim, vá ao fundo do poço, manipule, acuse, difame, calunie, ataque sem piedade. Se alguém falar em regulamentação, direito de resposta, controle de propriedade ou qualquer coisa do gênero, escreva um editorial sobre a liberdade de expressão ameaçada por um governo com tendências fascistas.
"Olha, não podemos provar, mas também não podemos dizer que é mentira, portanto estamos publicando".
Ou então
"Fontes do Palácio do Planalto afirmam que se instalou um clima de terror no governo com as novas denúncias. Foi montada uma operação abafa."
Ou então o velho e bom ping-pong com o submundo dos dossiês de Brasília, os vazamentos selecionados, as edições, para tratar tudo depois como "apuração jornalística" e se defender com o sigilo de fonte.
Adjetivos, muitos adjetivos. Faça conexões com personagens controversos. Monte a historinha. Se necessário, coloque como testemunha uma pessoa já morta, como foi feito no caso dos dólares de Cuba. Ou então ponha Daniel Dantas na capa da revista afirmando ter descoberto contas de Lula no exterior.
Enfim, vá ao fundo do poço, manipule, acuse, difame, calunie, ataque sem piedade. Se alguém falar em regulamentação, direito de resposta, controle de propriedade ou qualquer coisa do gênero, escreva um editorial sobre a liberdade de expressão ameaçada por um governo com tendências fascistas.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Tá Difícil
Está mesmo difícil voltar a postar. Desta vez não pela circulação, nem pela mente, mas pelo trabalho que voltou a me exigir bastante. Após um tempinho pegando o ritmo, o ritmo me pegou e tenho lido e escrito muitas coisas. Mesmo no feriadão, cá estou lendo uma série de coisas, organizando idéias, rascunhando, tabelas, resumos, textos, discursos.
Gosto muito do meu trabalho. É uma honra cuidar dos assuntos que acompanho, em particular nesse momento de transformação internacional.
Nessas, e por ter perdido o embalo, o blog ficou para trás. Assuntos não faltaram e, como já havia dito, o IOF é um gancho excepcional para uma série de temas abordados nesse blog. Quem ganha, quem perde. As finanças desvinculadas do trabalho e do emprego. O Brasil como plataforma de valorização financeira. Os lobbies. O discurso técnico dissimulando seu caráter político. O déficit em conta corrente como contrapartida do déficit fiscal que por seu turno seria causa da farra com o funcionalismo e os programas sociais. Falácias. Armínio Fraga no Valor Econômico antecipando o que talvez seja uma plataforma econômica, uma construção discursiva de Aécio Neves. Não gostei de muita coisa, seria um retrocesso.
O Presidente Lula. Confesso, bem baixinho, aqui entre nós, que estou lendo o livro do Ali Kamel, acho que chama "Dicionário Lula". É preciso honestidade intelectual: estou gostando do livro. Embora saiba-se o que nosso amigo da Globo pensa e a quem ele responde, o livro não entra em muitos julgamentos não. Ao menos finge que não, não se aprofunda, não é explícito. Tenta ser mais descritivo, levanta bolas várias para discussão. Muito interessante.
No mesmo sentido, ou seja, as palavras do Presidente, seu modo de governar, seu discurso, sua oratória, saiu no Observatório da Imprensa um artigo espetacular do Eugenio Bucci. Recomendo muito a leitura. O Presidente e sua mística, sua coalizão, seus atos e gestos, contradições, prioridades, impulsos e, especialmente seu discurso, ainda serão pano para muita manga. É uma história que ainda não terminou. Pelo contrário. As eleições em 2010 e a candidatura Dilma serão um capítulo especial de tudo isso.
No dia 5 de novembro o Presidente irá receber mais um prêmio internacional de primeiríssima grandeza. A Chatam House britânica, com toda a pompa da família real, irá homenageá-lo. O cara é um gênio da política, pergunta ou afirma Bucci. Seu discurso, especialmente para o público internacional e para seu eleitorado local, é quando se mostra mais a vontade, idealista, líder. Em suas entrevistas, no entanto, como a do Valor e a do Kennedy Alencar na Folha, transparecem os dilemas da administração do poder, da construção e institucionalização de uma prática diária.
Respostas e verdades absolutas em geral não me interessam. Fico com as perguntas. Kamel e Bucci ajudam a elaborá-las. Leiam o artigo. É coisa inteligente, coisa fina. Fiquem tranquilos. Não se trata de panegírico, de louvação. É análise, e daquelas boas, sem partir ou chegar a julgamentos definitivos.
Gosto muito do meu trabalho. É uma honra cuidar dos assuntos que acompanho, em particular nesse momento de transformação internacional.
Nessas, e por ter perdido o embalo, o blog ficou para trás. Assuntos não faltaram e, como já havia dito, o IOF é um gancho excepcional para uma série de temas abordados nesse blog. Quem ganha, quem perde. As finanças desvinculadas do trabalho e do emprego. O Brasil como plataforma de valorização financeira. Os lobbies. O discurso técnico dissimulando seu caráter político. O déficit em conta corrente como contrapartida do déficit fiscal que por seu turno seria causa da farra com o funcionalismo e os programas sociais. Falácias. Armínio Fraga no Valor Econômico antecipando o que talvez seja uma plataforma econômica, uma construção discursiva de Aécio Neves. Não gostei de muita coisa, seria um retrocesso.
O Presidente Lula. Confesso, bem baixinho, aqui entre nós, que estou lendo o livro do Ali Kamel, acho que chama "Dicionário Lula". É preciso honestidade intelectual: estou gostando do livro. Embora saiba-se o que nosso amigo da Globo pensa e a quem ele responde, o livro não entra em muitos julgamentos não. Ao menos finge que não, não se aprofunda, não é explícito. Tenta ser mais descritivo, levanta bolas várias para discussão. Muito interessante.
No mesmo sentido, ou seja, as palavras do Presidente, seu modo de governar, seu discurso, sua oratória, saiu no Observatório da Imprensa um artigo espetacular do Eugenio Bucci. Recomendo muito a leitura. O Presidente e sua mística, sua coalizão, seus atos e gestos, contradições, prioridades, impulsos e, especialmente seu discurso, ainda serão pano para muita manga. É uma história que ainda não terminou. Pelo contrário. As eleições em 2010 e a candidatura Dilma serão um capítulo especial de tudo isso.
No dia 5 de novembro o Presidente irá receber mais um prêmio internacional de primeiríssima grandeza. A Chatam House britânica, com toda a pompa da família real, irá homenageá-lo. O cara é um gênio da política, pergunta ou afirma Bucci. Seu discurso, especialmente para o público internacional e para seu eleitorado local, é quando se mostra mais a vontade, idealista, líder. Em suas entrevistas, no entanto, como a do Valor e a do Kennedy Alencar na Folha, transparecem os dilemas da administração do poder, da construção e institucionalização de uma prática diária.
Respostas e verdades absolutas em geral não me interessam. Fico com as perguntas. Kamel e Bucci ajudam a elaborá-las. Leiam o artigo. É coisa inteligente, coisa fina. Fiquem tranquilos. Não se trata de panegírico, de louvação. É análise, e daquelas boas, sem partir ou chegar a julgamentos definitivos.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
O Estado de todas as culpas
Aos meus três leitores, comento que tenho escrito aqui, de uma maneira ou de outra, geralmente falando sobre crise, copom, câmbio, mídia, Sarney, Copa e etcétera, que há falhas muito graves na maneira como determinados debates têm sido conduzidos no país. São simplificações, visões rasteiras, PSDB x PT, ética x corrupção, racionalidade do mercado x politicagem no setor público, pusilânime com Bolívia x agressivo contra EUA, enfim, distorções presentes nos mais diversos temas que procuram encaixar coisas complexas em caixinhas bem x mal. Tem bastante gente por aí cheia de certezas. Eu prefiro ficar com minhas perguntas.
No excelente caderno Aliás do Estadão, no domingo último, temos um artigo de um sociólogo, professor em Juiz de Fora, Jessé de Souza, sob o título "O Estado de todas as culpas".
Vou me limitar, agora, a transcrever o artigo. Estava jogando bola e estou sem condições de comentá-lo. Mas recomendo vivamente a leitura. Lógico que teria observações a alguns trechos, é tudo muito polêmico, mas o raciocínio tem a ver com muita coisa que escrevo, sistematizou alguns pontos que talvez eu já tenha assinalado, enfim, foi mesmo uma grata surpresa ler esse texto e vou procurar mais trabalhos de nosso amigo Jessé...
O Estado de todas as culpas
Ele é só associado à ‘politicagem’. E o mercado, à ‘racionalidade’: eis a trava do debate público no Brasil
Jessé Souza*
O debate público e político brasileiro, há algumas décadas, é travado sob a forma de um suposto conflito entre mercado e Estado. A atual discussão sobre o petróleo do assim chamado pré-sal apenas o confirma. Assim sendo, se quisermos compreender efetivamente o que está em jogo nesse debate conjuntural sobre o que fazer com o dinheiro do petróleo recém-descoberto - assim como compreender os debates conjunturais do passado recente e dos que ainda vão acontecer no futuro próximo - temos que focar nossa capacidade compreensiva na reconstrução da estrutura invisível presente em todas essas situações conjunturais passageiras. O tema do debate muda ao sabor das circunstâncias. Sua "estrutura profunda", no entanto, permanece a mesma. Qual é a estrutura profunda nunca tematizada enquanto tal na mídia? O Estado é sempre suspeito de "politicagem" e de "aparelhamento" por indicações políticas e o mercado é definido como instância "técnica", ou seja, reflexo da "racionalidade pura" e do "cálculo técnico". Um é a esfera do "privilégio inconfessável" e o outro o reflexo da "razão técnica" supostamente no interesse de todos. É isso que explica o foco constante e diário na "corrupção política" como a lembrar ao público onde está o mal e onde está o bem. Como tudo no mundo social, essa é uma realidade "construída", fruto de uma leitura seletiva e interessada do mundo.
Como a recente crise mundial mostrou sobejamente (já nos esquecemos dela?), a corrupção é endêmica tanto no mercado quanto no Estado em qualquer latitude do globo. A mitigação da corrupção em qualquer esfera da vida ocorre quando os mecanismos de controle ganham eficiência. A leitura seletiva do Estado como ineficiente e corrupto e do mercado como pura virtude esconde a ambiguidade constitutiva dessas duas instituições que podem servir ao bem ou ao mal conforme seu uso. Por que a "dramatização" cotidiana mil vezes repetida de justamente essa visão distorcida do mundo? A meu ver porque ela é o núcleo mesmo da violência simbólica - aquele tipo de violência que não "aparece" como violência - que torna possível a manutenção e a reprodução continuada no tempo da sociedade complexa mais desigual e injusta do planeta.
O mundo social não é perceptível a olho nu. Pode-se ver a pobreza e a desigualdade nas ruas e não se perceber suas causas. O brasileiro das ruas aprendeu a vincular as mazelas sociais do Brasil à corrupção política. A tese do Estado corrupto - ou a tese do "patrimonialismo" na sua versão erudita igualmente conservadora e frágil - mata dois coelhos com uma mesma cajadada. Como o conflito que ela cria é falso de fio a pavio - na realidade, mercado e Estado são interdependentes e igualmente ambivalentes -, ela ajuda a fabricar uma realidade que permite esconder todos os conflitos sociais reais. Pior ainda. Como uma falsa oposição é dramatizada como "conflito", tem-se a impressão de que existe efetivo debate crítico entre nós, de que temos uma esfera pública atuante, uma mídia atenta e crítica e um país politicamente avançado, quando a realidade é, ponto por ponto, precisamente o inverso.
A dramatização do Estado ineficiente e corrupto serve como fachada para "representar" a política sob a forma simplista, subjetivada e maniqueísta das novelas, enquanto se cala e se esconde acerca das bases de poder real na sociedade. Toda a aparência é de "crítica social", enquanto toda ação efetiva é a da conservação dos privilégios reais. Assim, fala-se do combate aos "coronéis" e às "oligarquias" - sempre caricatamente nordestinas como o bigode de Sarney - enquanto escondem-se as reais novas oligarquias responsáveis por abocanhar quase 70% do PIB sob a forma de lucro ou juros reduzindo os salários a pouco mais de 30%. Nos países europeus social-democratas essa proporção é inversa. As falsas oposições escondem oposições reais. O falso "charminho crítico" da dramatização do Estado ineficiente e corrupto serve para esconder e desviar a atenção para a luta de classes que cinde o país entre privilegiados que possuem um exército de pessoas para servi-los a baixo preço e dezenas de milhões de excluídos sem nenhuma chance nem esperança de mudança de vida.
Para todo um exército de analistas que se concentram no "teatro" da política - com suas fofocas e escaramuças diárias entre senadores e deputados com poder decisório entre o nada e o muito pouco - falar-se em "luta de classes" é um tabu. Luta de classes é coisa do passado, tem a ver com greves de trabalhadores e sindicatos que estão desaparecendo ou perdendo importância. Essa é a cegueira da política como "espetáculo" pseudocrítico para um público acostumado à informação sem reflexão. A luta de classes só é percebida nas raras vezes em que as classes oprimidas logram alguma forma de reação pública eficaz. Condenam-se ao esquecimento todas as formas naturalizadas e cotidianas do uso e abuso do trabalho barato e não valorizado. Um pequeno exemplo. O exército de babás, empregadas, faxineiras, porteiros, office-boys, motoboys, que permitem que a classe média brasileira possa dedicar seu tempo a trabalhos valorizados e bem pagos relegando o trabalho pesado e mal pago a outra classe de seres humanos que tiveram o azar de nascer na família (e na classe social) errada. Isso não é "luta de classes"? Apenas porque não há piquetes, polícia e sangue nas ruas? Apenas porque essa dominação é silenciosa e aceita, dentre outras coisas porque também eles, os humilhados e ofendidos, ouvem todo dia que o nosso único mal é a corrupção no Senado ou em algum órgão estatal?
E para as classes média e alta? Não é um verdadeiro presente dos deuses ter privilégios que nem seus consortes europeus ou norte-americanos possuem e ainda poder ter a consciência tranquila de quem sabe que o mal do Brasil está em "outro" lugar, lá bem longe em Brasília, um "outro" abstrato, mau por definição, em relação ao qual podemos nos sentir a "virtude" por excelência? Não se fecha com isso um círculo de ferro onde necessidades sociais e existenciais podem ser manipuladas por uma política e uma mídia conservadora e seu público ávido por autolegitimação e por consciência tranquila?
Para Max Weber - pensador crítico mal lido entre nós como inspiração para a tese do patrimonialismo - os ricos, saudáveis e charmosos, em todas as épocas e em todos os lugares, não querem apenas ser ricos, saudáveis e charmosos. Eles querem saber que têm "direito" a serem ricos, saudáveis e charmosos em oposição aos pobres, doentes e feios. É essa necessidade o verdadeiro fundamento e razão do sucesso da tese da suspeição do Estado entre nós. Ela serve como uma luva para não perceber e naturalizar um cotidiano injusto e ainda transferir qualquer responsabilidade para uma entidade abstrata e longínqua, garantindo boa consciência e aparência de envolvimento crítico na política.
A cortina de fumaça do falso debate acerca da demonização do Estado serve para deslocar a única e verdadeira questão do Brasil moderno: uma desigualdade abissal que separa gente com todos os privilégios, de um lado, de subgente sem nenhuma chance real de uma vida digna desse nome, de outro lado. O culpado desse crime coletivo não é apenas o bigode de Sarney. É toda uma sociedade infantilizada por falsos debates e por falsas prioridades e que ainda se pensa - suprema autoindulgência - como crítica e atuante. Esse projeto político não é de partidos, até porque o consenso conservador atinge todos indistintamente. As tímidas iniciativas de política social do atual governo, por exemplo, são mero paliativo da efetiva redenção dos secularmente humilhados e ofendidos. O que fazer com os recursos do pré-sal poderia e deveria ser o estopim para um novo debate brasileiro, corajoso, maduro e generoso, por oposição ao debate covarde, infantil e mesquinho que temos hoje.
*Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora, é autor de A Ralé Brasileira: Quem É e Como Vive, a ser publicado em outubro pela UFMG
No excelente caderno Aliás do Estadão, no domingo último, temos um artigo de um sociólogo, professor em Juiz de Fora, Jessé de Souza, sob o título "O Estado de todas as culpas".
Vou me limitar, agora, a transcrever o artigo. Estava jogando bola e estou sem condições de comentá-lo. Mas recomendo vivamente a leitura. Lógico que teria observações a alguns trechos, é tudo muito polêmico, mas o raciocínio tem a ver com muita coisa que escrevo, sistematizou alguns pontos que talvez eu já tenha assinalado, enfim, foi mesmo uma grata surpresa ler esse texto e vou procurar mais trabalhos de nosso amigo Jessé...
O Estado de todas as culpas
Ele é só associado à ‘politicagem’. E o mercado, à ‘racionalidade’: eis a trava do debate público no Brasil
Jessé Souza*
O debate público e político brasileiro, há algumas décadas, é travado sob a forma de um suposto conflito entre mercado e Estado. A atual discussão sobre o petróleo do assim chamado pré-sal apenas o confirma. Assim sendo, se quisermos compreender efetivamente o que está em jogo nesse debate conjuntural sobre o que fazer com o dinheiro do petróleo recém-descoberto - assim como compreender os debates conjunturais do passado recente e dos que ainda vão acontecer no futuro próximo - temos que focar nossa capacidade compreensiva na reconstrução da estrutura invisível presente em todas essas situações conjunturais passageiras. O tema do debate muda ao sabor das circunstâncias. Sua "estrutura profunda", no entanto, permanece a mesma. Qual é a estrutura profunda nunca tematizada enquanto tal na mídia? O Estado é sempre suspeito de "politicagem" e de "aparelhamento" por indicações políticas e o mercado é definido como instância "técnica", ou seja, reflexo da "racionalidade pura" e do "cálculo técnico". Um é a esfera do "privilégio inconfessável" e o outro o reflexo da "razão técnica" supostamente no interesse de todos. É isso que explica o foco constante e diário na "corrupção política" como a lembrar ao público onde está o mal e onde está o bem. Como tudo no mundo social, essa é uma realidade "construída", fruto de uma leitura seletiva e interessada do mundo.
Como a recente crise mundial mostrou sobejamente (já nos esquecemos dela?), a corrupção é endêmica tanto no mercado quanto no Estado em qualquer latitude do globo. A mitigação da corrupção em qualquer esfera da vida ocorre quando os mecanismos de controle ganham eficiência. A leitura seletiva do Estado como ineficiente e corrupto e do mercado como pura virtude esconde a ambiguidade constitutiva dessas duas instituições que podem servir ao bem ou ao mal conforme seu uso. Por que a "dramatização" cotidiana mil vezes repetida de justamente essa visão distorcida do mundo? A meu ver porque ela é o núcleo mesmo da violência simbólica - aquele tipo de violência que não "aparece" como violência - que torna possível a manutenção e a reprodução continuada no tempo da sociedade complexa mais desigual e injusta do planeta.
O mundo social não é perceptível a olho nu. Pode-se ver a pobreza e a desigualdade nas ruas e não se perceber suas causas. O brasileiro das ruas aprendeu a vincular as mazelas sociais do Brasil à corrupção política. A tese do Estado corrupto - ou a tese do "patrimonialismo" na sua versão erudita igualmente conservadora e frágil - mata dois coelhos com uma mesma cajadada. Como o conflito que ela cria é falso de fio a pavio - na realidade, mercado e Estado são interdependentes e igualmente ambivalentes -, ela ajuda a fabricar uma realidade que permite esconder todos os conflitos sociais reais. Pior ainda. Como uma falsa oposição é dramatizada como "conflito", tem-se a impressão de que existe efetivo debate crítico entre nós, de que temos uma esfera pública atuante, uma mídia atenta e crítica e um país politicamente avançado, quando a realidade é, ponto por ponto, precisamente o inverso.
A dramatização do Estado ineficiente e corrupto serve como fachada para "representar" a política sob a forma simplista, subjetivada e maniqueísta das novelas, enquanto se cala e se esconde acerca das bases de poder real na sociedade. Toda a aparência é de "crítica social", enquanto toda ação efetiva é a da conservação dos privilégios reais. Assim, fala-se do combate aos "coronéis" e às "oligarquias" - sempre caricatamente nordestinas como o bigode de Sarney - enquanto escondem-se as reais novas oligarquias responsáveis por abocanhar quase 70% do PIB sob a forma de lucro ou juros reduzindo os salários a pouco mais de 30%. Nos países europeus social-democratas essa proporção é inversa. As falsas oposições escondem oposições reais. O falso "charminho crítico" da dramatização do Estado ineficiente e corrupto serve para esconder e desviar a atenção para a luta de classes que cinde o país entre privilegiados que possuem um exército de pessoas para servi-los a baixo preço e dezenas de milhões de excluídos sem nenhuma chance nem esperança de mudança de vida.
Para todo um exército de analistas que se concentram no "teatro" da política - com suas fofocas e escaramuças diárias entre senadores e deputados com poder decisório entre o nada e o muito pouco - falar-se em "luta de classes" é um tabu. Luta de classes é coisa do passado, tem a ver com greves de trabalhadores e sindicatos que estão desaparecendo ou perdendo importância. Essa é a cegueira da política como "espetáculo" pseudocrítico para um público acostumado à informação sem reflexão. A luta de classes só é percebida nas raras vezes em que as classes oprimidas logram alguma forma de reação pública eficaz. Condenam-se ao esquecimento todas as formas naturalizadas e cotidianas do uso e abuso do trabalho barato e não valorizado. Um pequeno exemplo. O exército de babás, empregadas, faxineiras, porteiros, office-boys, motoboys, que permitem que a classe média brasileira possa dedicar seu tempo a trabalhos valorizados e bem pagos relegando o trabalho pesado e mal pago a outra classe de seres humanos que tiveram o azar de nascer na família (e na classe social) errada. Isso não é "luta de classes"? Apenas porque não há piquetes, polícia e sangue nas ruas? Apenas porque essa dominação é silenciosa e aceita, dentre outras coisas porque também eles, os humilhados e ofendidos, ouvem todo dia que o nosso único mal é a corrupção no Senado ou em algum órgão estatal?
E para as classes média e alta? Não é um verdadeiro presente dos deuses ter privilégios que nem seus consortes europeus ou norte-americanos possuem e ainda poder ter a consciência tranquila de quem sabe que o mal do Brasil está em "outro" lugar, lá bem longe em Brasília, um "outro" abstrato, mau por definição, em relação ao qual podemos nos sentir a "virtude" por excelência? Não se fecha com isso um círculo de ferro onde necessidades sociais e existenciais podem ser manipuladas por uma política e uma mídia conservadora e seu público ávido por autolegitimação e por consciência tranquila?
Para Max Weber - pensador crítico mal lido entre nós como inspiração para a tese do patrimonialismo - os ricos, saudáveis e charmosos, em todas as épocas e em todos os lugares, não querem apenas ser ricos, saudáveis e charmosos. Eles querem saber que têm "direito" a serem ricos, saudáveis e charmosos em oposição aos pobres, doentes e feios. É essa necessidade o verdadeiro fundamento e razão do sucesso da tese da suspeição do Estado entre nós. Ela serve como uma luva para não perceber e naturalizar um cotidiano injusto e ainda transferir qualquer responsabilidade para uma entidade abstrata e longínqua, garantindo boa consciência e aparência de envolvimento crítico na política.
A cortina de fumaça do falso debate acerca da demonização do Estado serve para deslocar a única e verdadeira questão do Brasil moderno: uma desigualdade abissal que separa gente com todos os privilégios, de um lado, de subgente sem nenhuma chance real de uma vida digna desse nome, de outro lado. O culpado desse crime coletivo não é apenas o bigode de Sarney. É toda uma sociedade infantilizada por falsos debates e por falsas prioridades e que ainda se pensa - suprema autoindulgência - como crítica e atuante. Esse projeto político não é de partidos, até porque o consenso conservador atinge todos indistintamente. As tímidas iniciativas de política social do atual governo, por exemplo, são mero paliativo da efetiva redenção dos secularmente humilhados e ofendidos. O que fazer com os recursos do pré-sal poderia e deveria ser o estopim para um novo debate brasileiro, corajoso, maduro e generoso, por oposição ao debate covarde, infantil e mesquinho que temos hoje.
*Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora, é autor de A Ralé Brasileira: Quem É e Como Vive, a ser publicado em outubro pela UFMG
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Crise na Receita?!
Sobre Lina, Dilma, Lina-Dilma, Dilma-Lina, manchetes, comentários, opiniões, convocações para depoimentos e toda essa barafunda, Bob Fernandes vai ao ex-Secretário da Receita no Governo FHC e colhe uma entrevista corajosa. Corajosa porque, mesmo sendo do governo anterior, ele se recusa a ficar no lugar comum, se recusa a fazer o jogo eleitoral, não cai na manada simplista que toma conta da nossa decadente e desesperada grande imprensa.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Reiterando Recomendação
O blog do José Cruz é ótimo. Imagina se fôssemos depender da cobertura da Globo, sócia do Pan, da Copa e das Olimpíadas? Ou de outros membros do oligopólio?
É por isso que assino embaixo do que vem sendo colocado por diversos comentaristas: a Internet, e mais precisamente a blogosfera, é revolucionária. Perdendo o monopólio da informação, da interpretação, da edição da realidade, os grandes grupos têm seu poder enfraquecido.
Depois, quem sabe, poderei comentar sobre essa lei de Internet que desejam aprovar, sobre a extinção da Lei de Imprensa, com tudo de bom e de ruim que havia nela, e o vácuo jurídico que agora ficou.
É por isso que assino embaixo do que vem sendo colocado por diversos comentaristas: a Internet, e mais precisamente a blogosfera, é revolucionária. Perdendo o monopólio da informação, da interpretação, da edição da realidade, os grandes grupos têm seu poder enfraquecido.
Depois, quem sabe, poderei comentar sobre essa lei de Internet que desejam aprovar, sobre a extinção da Lei de Imprensa, com tudo de bom e de ruim que havia nela, e o vácuo jurídico que agora ficou.
sábado, 15 de agosto de 2009
Globo x Record - Liberdade de Empresa
Prosseguem as trocas de confetes entre os dois conglomerados empresariais. Divertido, muito bom.
Os estudiosos das relações entre mídia e poder, das leis que regulamentam o setor, na verdade da falta de leis e parâmetros mínimos que orientem o setor, acompanham tudo com atenção, prato cheio. Vejam, por exemplo, a entrevista do Laurindo Leal no Terra Magazine.
A grande imprensa tem uma enorme dificuldade de discutir sua própria formação, sua condição atual, as leis que a regem, seus compromissos, etc... Nesses momentos de luta, a guarda baixa. Record e Globo se comportam como primos bêbados discutindo loucamente, estão falando algumas verdades antigas, incômodas, inconvenientes, em frente à família reunida para o aniversário da Vovó. Espanto na audiência.
Os estudiosos das relações entre mídia e poder, das leis que regulamentam o setor, na verdade da falta de leis e parâmetros mínimos que orientem o setor, acompanham tudo com atenção, prato cheio. Vejam, por exemplo, a entrevista do Laurindo Leal no Terra Magazine.
A grande imprensa tem uma enorme dificuldade de discutir sua própria formação, sua condição atual, as leis que a regem, seus compromissos, etc... Nesses momentos de luta, a guarda baixa. Record e Globo se comportam como primos bêbados discutindo loucamente, estão falando algumas verdades antigas, incômodas, inconvenientes, em frente à família reunida para o aniversário da Vovó. Espanto na audiência.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Imprensa, tecnologia e poder
Pois é, no post abaixo faltaram referências sobre o papel da tecnologia na perda de poder dos grandes meios de comunicação. A difusão de massa via rádio e TV concentrou o poder. Hoje, no sentido contrário, de descentralização, a Internet é revolucionária, democrática, republicana, anarquista, libertária. Os blogs, fóruns de debates, o acesso direto, sem intérpretes ou edições, à opinião de pessoas e grupos de interesse enfraquece muito a capacidade da grande mídia de forjar a realidade da maneira que melhor lhe convém.
E pensar que, no passado, pessoas eram mortas por editarem jornais "subversivos", por expressarem opiniões, por divergirem, questionarem o poder, etc... e etc... e tal. Muita gente morreu. E eu aqui meio preocupado com eventuais consequências de escrever essas coisas, deixa isso pra lá.
Aliás, aproveito para agradecer a todos os poucos (ou não?!) que porventura estejam se aventurando por aqui. É uma honra, eu promeeeeeto (estilo Sarney no doc do Glauber) colocar coisas mais leves no fim-de-semana. Fico feliz em poder escrever assim e fico feliz em saber que algumas pessoas, próximas ou não, têm a oportunidade de conhecer um pouco de minhas idéias, angústias, sonhos, preocupações, interesses, reclamações, cornetagens, observações, análises, e blablabla.
E pensar que, no passado, pessoas eram mortas por editarem jornais "subversivos", por expressarem opiniões, por divergirem, questionarem o poder, etc... e etc... e tal. Muita gente morreu. E eu aqui meio preocupado com eventuais consequências de escrever essas coisas, deixa isso pra lá.
Aliás, aproveito para agradecer a todos os poucos (ou não?!) que porventura estejam se aventurando por aqui. É uma honra, eu promeeeeeto (estilo Sarney no doc do Glauber) colocar coisas mais leves no fim-de-semana. Fico feliz em poder escrever assim e fico feliz em saber que algumas pessoas, próximas ou não, têm a oportunidade de conhecer um pouco de minhas idéias, angústias, sonhos, preocupações, interesses, reclamações, cornetagens, observações, análises, e blablabla.
Record x Globo
"E eu não mudo, mas eu não me iludo, os manos cú de burro, éééé, eu sei de tudo". Não estou acompanhando os confetes entre as duas, confesso. Vou correr atrás, pesquisei no youtube e vi que tem coisa interessante, no mínimo divertida.
Não tem santo nessa história.
Não tem santo nessa história.
Imprensa e Poder
Talvez esteja para terminar a Novela Sarney, não sei, parece, com a descoberta, OH!, de que todos são assim e faz tempo, que os atos secretos vêm de um passado longínquo, quando o próprio foi Pres. do Senado (1995-1997) seguido por ACM (1997-não lembro), e ambos eram considerados políticos sensatos, que davam suporte a privatizações, coisas assim modernas. Agora mude o canal, acho que o programa terminou. Vamos nos voltar a uma outra novela, o episódio Dilma-Lina, a CPI da Petrobrás, sei lá.
Nada contra, também gostaria de saber porque a Lina foi demitida. Gostaria. Muito. Vocês não sabem como. Mas há outras questões tão ou mais importantes. De fato, Lina, embora importante, é menor diante dos atuais desafios do país.
E assim segue a novelização da política, capítulos sucessivos de ataques concatenados, denúncias selecionadas, a manipulação, manadas de bits, links, ondas, a espetacularização, a hipocrisia. O detalhe, o acessório, o escandaloso, em detrimento do todo, do fundamental. A credibilidade, assim, numa nação mais consciente de seus interesses, se esvai.
Ao menos as famílias que controlam os grandes meios de comunicação têm hoje dificuldades para pautar o país. É um alívio ver isso. Isso decorre do aprofundamento da democracia, da figura de Lula, um mito, mas também de nossa autonomia energética, alimentar, financeira, certo desejo de afirmação cultural, quem sabe civilizacional. Tais pequenos grupos se julgam no direito de interpretar nossa realidade. É curiosa e exagerada a autoridade moral que eles se propõem a representar. No entanto, hoje, vejam só que dureza, estão meio desorientados, escravos de pequenos jogos, perderam a direção. É difícil fazer algo melhor, a audiência, o mercado, a publicidade, os negócios, tanta coisa, tanta grana. Não têm capacidade nem disposição de analisar estruturas, discuti-las, questioná-las, porque são parte da rede de poder no Brasil. Se estivessem dispostas a destrinchá-lo, se entregariam, hahha, não sobraria nada. Pois são parte do poder, exercem o poder, constróem e alimentam o centro do poder.
E este poder centralizado, hierárquico, concentrador, arrogante, está em xeque. Maravilha de momento que vivemos.
Eu tenho mil motivos para criticar o Lula, seus aliados, seu pragmatismo, a esquizofrenia de seu governo, seu comodismo, sua lábia fácil, etc... etc... e tal. Também tenho vários motivos para elogiá-lo, a moderação, a conversa, o entendimento, a sorte, a inteligência, a habilidade, o pragmatismo, e aprecio bastante as políticas sociais e a política externa. Mas esses são aspectos. Aspectos que não cabem em molduras simplórias. Não dá para julgar assim com tantas certezas, raiva, desprezo. É preciso humildade com a história, sabedoria na leitura da nossa história, é o Brasil procurando um ponto de equilíbrio, conflitos, contradições, dificuldades.
Talvez seja mesmo um certo relativismo, talvez, poxa, um certo generalizado relativismo, que só não se aplica ao processo democrático. À orientação nacional, popular e de esquerda.
Há um horizonte para todos. Mas não me agrada o branco e preto, a oposição grosseira. O Fla-Flu. A manipulação. O engodo. O preconceito. A luta política, não com idéias, mas com hipocrisia e mentiras. A desqualificação de pessoas, quando na verdade vemos disputas de poder entre grupos sociais, construções discursivas, premissas políticas, filosóficas, a herança do estranhamento cultural, herança, a colônia, a escravidão, o mandonismo e a subserviência, de baixo acima de cima abaixo.
A grande imprensa está no fundo do poço. Cada vez menos pessoas dão bola para o que faz, para o que fala. Está sendo fustigada por um processo de amadurecimento, inconstante, inseguro, mas espero inevitável, da sociedade brasileira. Isso me deixa satisfeito. Mas não resolve, tá longe disso.
Nada contra, também gostaria de saber porque a Lina foi demitida. Gostaria. Muito. Vocês não sabem como. Mas há outras questões tão ou mais importantes. De fato, Lina, embora importante, é menor diante dos atuais desafios do país.
E assim segue a novelização da política, capítulos sucessivos de ataques concatenados, denúncias selecionadas, a manipulação, manadas de bits, links, ondas, a espetacularização, a hipocrisia. O detalhe, o acessório, o escandaloso, em detrimento do todo, do fundamental. A credibilidade, assim, numa nação mais consciente de seus interesses, se esvai.
Ao menos as famílias que controlam os grandes meios de comunicação têm hoje dificuldades para pautar o país. É um alívio ver isso. Isso decorre do aprofundamento da democracia, da figura de Lula, um mito, mas também de nossa autonomia energética, alimentar, financeira, certo desejo de afirmação cultural, quem sabe civilizacional. Tais pequenos grupos se julgam no direito de interpretar nossa realidade. É curiosa e exagerada a autoridade moral que eles se propõem a representar. No entanto, hoje, vejam só que dureza, estão meio desorientados, escravos de pequenos jogos, perderam a direção. É difícil fazer algo melhor, a audiência, o mercado, a publicidade, os negócios, tanta coisa, tanta grana. Não têm capacidade nem disposição de analisar estruturas, discuti-las, questioná-las, porque são parte da rede de poder no Brasil. Se estivessem dispostas a destrinchá-lo, se entregariam, hahha, não sobraria nada. Pois são parte do poder, exercem o poder, constróem e alimentam o centro do poder.
E este poder centralizado, hierárquico, concentrador, arrogante, está em xeque. Maravilha de momento que vivemos.
Eu tenho mil motivos para criticar o Lula, seus aliados, seu pragmatismo, a esquizofrenia de seu governo, seu comodismo, sua lábia fácil, etc... etc... e tal. Também tenho vários motivos para elogiá-lo, a moderação, a conversa, o entendimento, a sorte, a inteligência, a habilidade, o pragmatismo, e aprecio bastante as políticas sociais e a política externa. Mas esses são aspectos. Aspectos que não cabem em molduras simplórias. Não dá para julgar assim com tantas certezas, raiva, desprezo. É preciso humildade com a história, sabedoria na leitura da nossa história, é o Brasil procurando um ponto de equilíbrio, conflitos, contradições, dificuldades.
Talvez seja mesmo um certo relativismo, talvez, poxa, um certo generalizado relativismo, que só não se aplica ao processo democrático. À orientação nacional, popular e de esquerda.
Há um horizonte para todos. Mas não me agrada o branco e preto, a oposição grosseira. O Fla-Flu. A manipulação. O engodo. O preconceito. A luta política, não com idéias, mas com hipocrisia e mentiras. A desqualificação de pessoas, quando na verdade vemos disputas de poder entre grupos sociais, construções discursivas, premissas políticas, filosóficas, a herança do estranhamento cultural, herança, a colônia, a escravidão, o mandonismo e a subserviência, de baixo acima de cima abaixo.
A grande imprensa está no fundo do poço. Cada vez menos pessoas dão bola para o que faz, para o que fala. Está sendo fustigada por um processo de amadurecimento, inconstante, inseguro, mas espero inevitável, da sociedade brasileira. Isso me deixa satisfeito. Mas não resolve, tá longe disso.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Voltando...
Após algumas semanas de ausência, volto rapidamente com o compromisso de postar com frequência, aprender a usar mais ferramentas do blog, colocar outras informações, enfim, dar vida pro movimento revolucionário cultural informacional. Eu acho que esse negócio de blog tem um futuro brilhante heheh. Não o meu, já que a disciplina aqui costuma ser fraca e talvez o conteúdo não seja muito interessante, não me vejo criando nada de excepcional. Mas os blogs abrem portas para a imprensa alternativa via internet, democratização e diversificação da informação, o contraponto, a resposta sem edição, outros panoramas, ângulos, vértices, vertentes, sintonias, fotografias de uma realidade que não é tão simples quanto alguns tentam nos vender.
A grande imprensa, aqui e no mundo, está numa lama só. Neste nosso Brasil, no qual poucas famílias controlam os grandes meios de comunicação e a manipulação é frequente, creio que a blogosfera poderá fazer muita diferença. Devagarzinho, de mansinho, assim, muito de leve, tentarei fazer a minha parte, um pequeno jardim.
A grande imprensa, aqui e no mundo, está numa lama só. Neste nosso Brasil, no qual poucas famílias controlam os grandes meios de comunicação e a manipulação é frequente, creio que a blogosfera poderá fazer muita diferença. Devagarzinho, de mansinho, assim, muito de leve, tentarei fazer a minha parte, um pequeno jardim.
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