terça-feira, 28 de maio de 2013

Passei 3 dias em SP. Meio sem-querer, deparei-me na Paulista com a Marcha das Vadias, muito legal. Forca aas meninas.

Vi o documentario produzido por um ex-Ministro da Fazenda sobre o Brasil, a estabilizacao, loas aa sua turma, numa interpretacao bem pitoresca da historia economica do Brasil. Bom, qualquer producao que se dedique a discutir de onde viemos, onde estamos e para onde vamos conta com minha simpatia, mas nao necessariamente com minha paciencia. Enfim, sobre esse ex-Ministro tenho uma historia reveladora que um dia contarei.

Vi tambem a exposicao do glorioso Khalil Gibran no Memorial da America Latina. Uma figura espetacular nosso amigo Khalil. O Profeta. Almas Rebeldes. Gloria e honra ao povo libanes.

Memorial, Darcy, Niemeyer (para que tanto concreto, meu amigo, por que nao um gramadao...), e me deparo com a Avenida Senador Auro de Moura Andrade, personagem de triste memoria dos idos de abril de 1964: "Declaro vaga a Presidencia da Republica..." . Fraquejou, acovardou-se. Valeria um esculacho nessa avenida?

Vi tambem o documentario "O dia que durou 21 anos", tambem sobre o golpe. O documentario eh interessante, sem grandes novidades, mas legal de assistir, registro historico de algo que nao pode mais ser negado. No mesmo dia em que eu embarcaria para Washington.

Oh vida, oh ceus, quantas responsabilidades, o que fazer, que tenha forcas para avancar, como estao sendo dificeis estes ultimos meses, como serao ainda mais dificeis os proximos.

"Quando a caminhada fica dura, soh os duros seguem na caminhada". O Tempo eh Rei e assim eu sigo. Tentando ignorar o tititi, o papo furado, a mediocridade geral, apenas me concentrando em cumprir mais uma missao, fazer o certo, correr pelo certo, e deixa que diguem, deixe que falem... Paciencia, serenidade, forca, so mais um pouco e devo concluir uma etapa importante.

Nesses breves longos dias de reflexoes diversas, ao ir de encontro a uma amiga nos Jardins, deparo-me com as placas da Alameda Casa Branca esculachadas: "Marighella". Tirei fotos. Dos grafites tambem. Fotos e fotos de sampa. Alguma coisa acontece no meu coracao.

Tudo tao referencial. E voltei no aviao, apos uma bela folheada num Economist discutindo a fraqueza de Obama, que se confirma mesmo apenas um sub-produto do establishment, li atentamente os primeiros capitulos de Paulo Francis em "Trinta Anos esta Noite". Tambem sobre o golpe. Com a verve que tanto me admira e quanto estilo e quanta genialidade e quanta elegancia e as muitas vezes em que gargalhei no aviao com seu texto... Os que supostamente o sucederam sao tao pequenos, tao mediocres, nao da nem para comparar. Genio.

Por que Jango nao reagiu? Essa eh uma das questoes centrais, talvez a principal. O discurso de 13 de marco. Outro dia vi o video. O final acachapante. E tudo mais que se seguiu.

A Comissao da Verdade: necessaria, fundamental, cheguei a ter duvidas, mas hoje estou convencido: imprescindivel.

A farsa da anistia / Coluna / Vladimir Safatle
Motivada por afirmações de membros da Comissão da Verdade referentes à necessidade de reinterpretação da Lei da Anistia, esta Folha abriu mais uma vez espaço importante para o debate a respeito do problema. Artigos assinados e editoriais apareceram nos últimos dias mostrando como esta é uma discussão da qual o Brasil não pode escapar.
Neste momento, a Comis-são da Verdade começa a desmontar antigas mentiras veiculadas pelo regime militar, como assassinatos travestidos de suicídios e desaparecimentos ou aquela afirmação pa- tética de que as ações de tortura não eram uma políti-ca de Estado decidida pela alta cúpula militar. Ela também colocou à luz a profunda relação entre empresariado e militares na elaboração e gestão do golpe.
No entanto, uma das maiores mentiras herdadas da- quele período é a história de que existiu uma anistia resultante de ampla negociação com setores da sociedade civil e da oposição. Aquilo que chamamos de "Lei da Anistia" foi e continua sendo uma mera farsa.
Primeiro, não houve negociação alguma, mas pura e simples imposição das condições a partir das quais os militares esperavam se autoanistiar.
O governo de então recusou a proposta do MDB de anistia ampla, geral e irrestrita, enviando para o Congresso Nacional o seu próprio projeto, que andava na contramão daquilo que a sociedade civil organizada exigia.
Por não ter representatividade alguma, o projeto passou na votação do Congresso por míseros 206 votos contra 201, sendo todos os votos favoráveis vindos da antiga A- rena. Ou seja, só em um mundo paralelo alguém pode chamar de "negociação" a um processo no qual o partido governista aprova um projeto sem acordo algum com a oposição. Há de se parar de ignorar compulsivamente a história brasileira.
Segundo, mesmo essa Lei da Anistia era clara a respeito de seus limites. No segundo parágrafo do seu primeiro artigo lê-se: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, de assalto, de sequestro e atentado pessoal". Por isso, a maioria dos presos políticos não foi solta em 1979, ano da promulgação da lei (por favor, leia a frase mais uma vez). Eles permaneceram na cadeia e só foram liberados por diminuição das penas.
Os únicos anistiados, contra a letra da lei que eles próprios aprovaram, foram os militares que praticaram terrorismo de Estado, sequestro, estupro, ocultação de cadá- ver e assassinato. A Lei da Anistia consegue, assim, a proeza de ser, ao mesmo tempo, ilegítima na sua origem e desrespeitada exatamente pelos que a impuseram.