sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Brasil século XXI

Hoje o Brasil está na capa do Economist. Decolando.

O Presidente de Israel está aqui. Daqui a pouco teremos a Autoridade Palestina. Na sequência, o Presidente do Irã. Uma trinca dessas, vejam só que trinca, atravessa continentes, mares e séculos para avistar-se com os conterrâneos dos trópicos por onde saltitou e brincou Macunaíma, nosso herói sem caráter. Golaço da diplomacia brasileira.

Alguns países e importantes figuras pedem ao Brasil que medie o bafafá entre Colômbia e Venezuela. Nesse meio tempo, teremos Cristina Kirchner aqui. No começo de dezembro, o Presidente Lula será recebido por Angela Merkel. E assim vai, num crescente...

É cada vez mais difícil para setores oposicionistas da grande imprensa taparem o sol com a peneira. Mas eles tentam e há gente que compra o que lê. Estão acostumados a desmerecer seu próprio país para melhor poderem pilhá-lo. Bom, esperar o que de quem jogou pesado para convencer a platéia de que o combate ao crime do colarinho branco é uma ameaça às liberdades e ao Estado de Direito. A ABIN não pode colaborar com a PF, vejam só, é ilegal, anulem todo o processo. Socorro, a República do Grampo, um Estado Totalitário.

E, bem, o rentismo resiste, clamam por uma alta na taxa de juros, querem mais bolhas e o câmbio valorizando. A arbitragem e a intermediação do capital externo são um dinheiro fácil, muito fácil. Uma das consequências, o déficit em conta corrente, que historicamente nos arrebentou, seria a contrapartida de nossa baixa poupança, o necessário complemento aos investimentos que tanto precisamos. Não há o que fazer, não faltará financiamento, nos dizem os arautos da "ciência" econômica e do discurso "técnico". Ficam aí esgrimindo identidades contábeis invertendo relações de causa e efeito. O câmbio, nessa fábula maravilhosa, é variável de ajuste para desequilíbrios mais fundamentais. Fingem ou talvez até acreditem que tais construções discursivas não representam interesses bem concretos. Não há o que fazer, segundo eles, desta vez é diferente. Como diria Kenneth Rogoff, um dos mestres de Harvard, sempre que alguém disser que "desta vez é diferente", não tenha dúvidas, estamos diante de uma bolha.

Os R$ 70 do Bolsa Família farão com que os pobres, esses vagabundos incompetentes que votam errado, se acomodem. E é uma irresponsabilidade aumentar o salário mínimo. As contas vão estourar. Mas espera aí, o mercado vê sinais de inflação em 2010 ou 2011. Há um perigo de descontrole, uma farra, um rombo. É melhor, por precaução, aumentarmos os juros pois os credores da dívida demandam um retorno maior diante de tantos riscos. É o mercado, não se pode enfrentar as forças do mercado, sempre haverá um jeito de burlar regras. As CC5, a lavagem de dinheiro, a evasão fiscal, o planejamento tributário. Os fundos offshore com isenção de impostos. O mar do Caribe, o guarda-chuva da família real em Jersey, a pompa e a circunstância de nossos fleumáticos suíços e seus vizinhos de Luxemburgo.

Se a Dilma ganhar, a democracia estará ameaçada. Profundo. Mas, enfim... Brasil século XXI. A luta continua. E o Brasil seguirá democrático com a vitória de A, B ou C.

Engraçado que finalmente hoje, quando o Economist, na sequência do Financial Times, o NYT, o Herald, bem, toda a imprensa internacional louva o Brasil, eu finalmente resolva postar o vídeo do Na Real do Real. Hoje, justo hoje que li Rodrik defendendo o IOF, mais um dos big shots do mainstream do debate da economia política toma posição em defesa da sinalização que o governo emitiu para os money managers. E após Taiwan ter também adotado precauções contra o afluxo das armas financeiras de destruição em massa, a enorme liquidez em busca de plataformas de valorização.

Favela do Real Parque, Morumbi, ao amanhecer. Em meio às mansões com segurança privada, cercas elétricas e circuitos internos de vigilância informatizados. De frente aos mais modernos prédios da Berrini, onde funcionam as subsidiárias nacionais de algumas das grandes corporações do capital cosmopolita. A modernidade, a tecnologia, uma ponte que brilha, brilha para a especulação. Dinheiro e poder. Poder e dinheiro. Segregação. A Justiça, a PM, às 6 da manhã. Perdoai os nossos erros, Ave Maria, cheia de graça, Olorum.

Ainda ficarei devendo comentários sobre tudo isso. Quem sabe em breve eu vá falar da maravilhosa Teresa Pires do Rio Caldeira. E do texto de Mariana Fix. E dos Conterrâneos Velhos de Guerra. O Setor Noroeste de Brasília. As cidades satélites e a ilha da fantasia, o Plano Piloto.

Brasil século XXI, contradições, desafios, oportunidades.
Amadurecimento.

Pensamento, voz, liberdade, Na Real do Real. A democratização dos meios de comunicação. Perdoai, Ave Maria

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