quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Leminski e Brasilia

Pesquisando sobre Paulo Leminski, filho de polonês com negra, poeta curitibano, escritor, tradutor e professor. Recordava-me da poesia abaixo. Ela faz sentido, sempre fez. Atualmente faz mais, pois estou me despedindo de muita gente. É hora de dizer, caso contrário carregarei coisas dentro de mim que poderão ocupar muito espaço. O tempo é precioso, não volta, sem chance. Ás vezes nos chama a olhar para trás. Pode incomodar. Por que não olhá-lo de frente?

"É tarde, sai daqui", poderão redarguir até com raiva. "E daí", poderão falar... e como é dura a indiferença! Isso quando eu conseguir ser devidamente ouvido... faz tempo, né, para que mexer?

Mas acho importante tentar, fazer o gesto, colocar para jogo, se abrir. Às vezes dói. Pode doer bastante. Falo porque já estive lá. Mas vale.

E por isso, se possível, não custa procurar aprender a tornar tais movimentos parte do dia-dia, exercitar o diálogo, evitar grandes choques, se colocar de forma mais aberta, tranquila, construtiva. Deixar o sentimento fluir. Tô tentando.

Fiquemos com a poesia de nosso amigo Leminski.

PERGUNTE AO PÓ

cresce a vida
cresce o tempo
cresce tudo
e vira sempre
esse momento

cresce o ponto
bem no meio
do amor seu centro
assim como
o que a gente sente
e não diz
cresce dentro



E agora essa abaixo tirei de um blog, muito interessante, Leminski em Brasilia...

"Paulo Leminski durante sua visita a Brasília em 1984, após um almoço numa pensão na W3S,. com Ivan "Presença", Nicholas Behr e Alice Ruiz, deixou o manuscrito com o também poeta Nicholas Behr. Originalmente publicado em “Tira Prosa” a revista cultural do Feitiço Mineiro, Número 11 out. / nov. / 1998."

claro calar
sobre uma cidade
sem ruínas
Em Brasília admirei
Não a niemeyer lei,
admirei a vida das pessoas
penetrando nos esquemas,
tinta sangue no mata borrão,
vermelho gente
entre pedra e pedra
pela terra a dentro
Em Brasília, admirei
Admirei o pequeno restaurante
Oculto,
Criminoso por estar fora
Da quadra permitida
Sim, Brasília
Admirei o tempo
Que já cobre de anos
Tuas impecáveis matemáticas
Sim, Brasília,
O erro sim, não a lei
Muito me admiraste,
Muito te admirei

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