sexta-feira, 23 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Fim da corneta
Bom, chega de cornetar no blog, já reclamei demais, vamos mostrar coisas legais, talvez uma cara de cansaço de fim de expediente, mas aquele cansaço bom de missão cumprida, de força para os dias seguintes, algum otimismo, bola pra frente, todo dia um pouco como Didi na final de 58, busca a bola lá dentro e caminhe lentamente, passe confiança, acredite...
mas não consigo dar o glorioso upload na foto... lamento, é uma foto tirada hoje na saída do trabalho: a estética é mais ou menos, a luz tá ruim, o enquadramento tá errado, mas o momento foi captado, depois tento colocá-la aqui
agora sim... e o blog sai de férias, já de cabelo cortado, retorno em meados de agosto
mas não consigo dar o glorioso upload na foto... lamento, é uma foto tirada hoje na saída do trabalho: a estética é mais ou menos, a luz tá ruim, o enquadramento tá errado, mas o momento foi captado, depois tento colocá-la aqui
agora sim... e o blog sai de férias, já de cabelo cortado, retorno em meados de agosto
Que beleza!
Aviso aos navegantes: o Ninho de Pássaro, aqui em Pequim, é hoje um enorme elefante branco. E lá vamos nós, rumo à Copa 2014... no DF, devemos somar ainda os gastos com o glorioso VLT, a reforma do estádio do Gama, a ampliação do aeroporto e também esse tal sistema de comunicações. Mas quem conhece as cidades satélites e quem acompanhou os recentes atos da política distrital sabe que não há outras prioridades, imagina, vamos lá, que boa notícia, foi assinado o contrato!!!
DF ASSINA CONTRATO DE R$ 696 MI PARA ESTÁDIO
O governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), assinou ontem o contrato para a reforma do Mané Garrincha para a Copa-2014. A obra ampliará a capacidade para 70 mil lugares, o que coloca Brasília como uma das candidatas para abrir a Copa-2014 - enquanto São Paulo patina para definir se disputará a abertura do evento. A obra de R$ 696 milhões, contudo, não contempla o sistema de telecomunicações.
DF ASSINA CONTRATO DE R$ 696 MI PARA ESTÁDIO
O governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), assinou ontem o contrato para a reforma do Mané Garrincha para a Copa-2014. A obra ampliará a capacidade para 70 mil lugares, o que coloca Brasília como uma das candidatas para abrir a Copa-2014 - enquanto São Paulo patina para definir se disputará a abertura do evento. A obra de R$ 696 milhões, contudo, não contempla o sistema de telecomunicações.
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terça-feira, 20 de julho de 2010
Desânimo
Recentemente, após a suposta pressão inflacionária que fazia com que o mercado clamasse por nova elevação dos juros, pressão bem sucedida, ora pois, começaram a sair análises, na maior cara-de-pau, dizendo que as perspectivas de aumento da inflação eram baixas. Os números não mentem, diariamente temos novas indicações de que não há problema inflacionário, está tudo tranqüilo. Mesmo assim, os gênio$ ainda clamam por mais elevações. E possivelmente vão levar, é inacreditável.
Sabe-se bem qual é a desse jogo. Teatrinho mal montado mas eficiente que busca a captura de recursos públicos por uma pequena minoria. Isso se repete faz longos anos sob os olhares de todos. Os candidatos, com medo do mercado financeiro, necessitando arrecadar recursos para as campanhas, apenas insinuam mudanças, ou as dissimulam.
Segundo matéria do Estadão de ontem, entraram desde janeiro US$ 12 bilhões de capital externo apenas na renda fixa. Apenas na renda fixa. Juros. O juro em todo o mundo está próximo de zero. Aqui, os nacionais levam por baixo uns 4% reais, gringos tiram o dobro, sem mencionar eventual valorização do câmbio, para desespero das contas externas, que preocupam cada vez mais. Caso o governo não tivesse colocado o IOF, a farra seria muito maior. Isso bate no orçamento, bate na dívida pública, é um teatro, repito, tenebroso.
Abaixo sugiro a leitura de alguns textos. Por que? Ora, porque se relacionam com essa dura lenga-lenga mercado-Banco Central de diversas maneiras. Ideologia, interesses. A supremacia de determinada forma de pensamento, supostamente técnica, presumivelmente neutra, ancorada no bom senso científico dos modelos e certezas neoclássicas.
Todo nosso modelo político e econômico, meus caros, não nos iludamos, baseia-se em premissas filosóficas. E as premissas que vêm sendo utilizadas no gerenciamento do sistema financeiro nacional, e mundial, em boa medida, atendem a interesses muito particulares dos estratos rentistas dos diferentes países.
Eu tenho preguiça, me cansa escrever sobre isso. Já foram uns duzentos posts. Lula não teve coragem de enfrentar esse jogo. Obama sofreu para aprovar uma reforma meia boca, ainda que positiva. Espero, sinceramente, que Dilma, Serra ou Marina ponham limites na esbórnia. É dinheiro público, uma catástrofe, dá desânimo seguir escrevendo sobre esse assunto, peço até desculpas a meus poucos e fiéis seguidores.
Leiam os textos a seguir de dois digníssimos lorde inglêses, se tiverem interesse. Skidelsky é autor de famosa biografia de Keynes. Turner é o chefe do órgão regulador britânico, o mesmo já citado aqui lá atrás, quando ousar mencionar a possibilidade de taxação dos fluxos internacionais, levando às reações já esperadas da City londrina.
Coisa fina. A crítica à economia política dos barões das finanças globais.
Sabe-se bem qual é a desse jogo. Teatrinho mal montado mas eficiente que busca a captura de recursos públicos por uma pequena minoria. Isso se repete faz longos anos sob os olhares de todos. Os candidatos, com medo do mercado financeiro, necessitando arrecadar recursos para as campanhas, apenas insinuam mudanças, ou as dissimulam.
Segundo matéria do Estadão de ontem, entraram desde janeiro US$ 12 bilhões de capital externo apenas na renda fixa. Apenas na renda fixa. Juros. O juro em todo o mundo está próximo de zero. Aqui, os nacionais levam por baixo uns 4% reais, gringos tiram o dobro, sem mencionar eventual valorização do câmbio, para desespero das contas externas, que preocupam cada vez mais. Caso o governo não tivesse colocado o IOF, a farra seria muito maior. Isso bate no orçamento, bate na dívida pública, é um teatro, repito, tenebroso.
Abaixo sugiro a leitura de alguns textos. Por que? Ora, porque se relacionam com essa dura lenga-lenga mercado-Banco Central de diversas maneiras. Ideologia, interesses. A supremacia de determinada forma de pensamento, supostamente técnica, presumivelmente neutra, ancorada no bom senso científico dos modelos e certezas neoclássicas.
Todo nosso modelo político e econômico, meus caros, não nos iludamos, baseia-se em premissas filosóficas. E as premissas que vêm sendo utilizadas no gerenciamento do sistema financeiro nacional, e mundial, em boa medida, atendem a interesses muito particulares dos estratos rentistas dos diferentes países.
Eu tenho preguiça, me cansa escrever sobre isso. Já foram uns duzentos posts. Lula não teve coragem de enfrentar esse jogo. Obama sofreu para aprovar uma reforma meia boca, ainda que positiva. Espero, sinceramente, que Dilma, Serra ou Marina ponham limites na esbórnia. É dinheiro público, uma catástrofe, dá desânimo seguir escrevendo sobre esse assunto, peço até desculpas a meus poucos e fiéis seguidores.
Leiam os textos a seguir de dois digníssimos lorde inglêses, se tiverem interesse. Skidelsky é autor de famosa biografia de Keynes. Turner é o chefe do órgão regulador britânico, o mesmo já citado aqui lá atrás, quando ousar mencionar a possibilidade de taxação dos fluxos internacionais, levando às reações já esperadas da City londrina.
Coisa fina. A crítica à economia política dos barões das finanças globais.
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Pobre revista
Num mundo em transformação, num país em transformação, em meio a tantos possíveis debates interessantes e construtivos, questões em aberto, dilemas, possibilidades, algumas publicações insistem em protagonizar seguidos vexames. Cheias de certezas em sua visão simplificadora, tacanha, mesquinha das coisas. Se fosse apenas isso, tudo bem, fazer o que? O problema é o constante recurso a afirmações fora de contexto, a ilações diversas a partir daí, à montagem de reportagens com um objetivo definido, ao uso de linguagem infantil, imbecilizada, ao abuso de adjetivos, a fontes não identificadas, a dossiês do submundo, enfim, ao que de pior poderia haver no jornalismo. Isso quando não avançam para ataques de caráter pessoal nos quais o preconceito se torna arma política, tudo isso sem direito de defesa, lama plena. E eles têm recursos, poderiam chamar massa crítica, debates, polemizar, enfim, ajudar a construir...
Mas não é isso que preferem. E na próxima semana, teremos em destaque os perigos de tomar sol sem protetor ou as novas técnicas que revolucionam o mercado de cirurgia estética...
Revista Veja - Lula na África/seção leitores
Em geral, não me manifesto sobre textos de imprensa, até por entender que a discordância e o debate fazem parte da democracia. Mas, desta vez, VEJA passou dos limites ao ofender-me com a caracterização de "imoral" em matéria sobre a recente visita do presidente Lula à África. Citou a minha frase "negócios são negócios” fora de contexto e fez daí uma ciranda de inferências e distorções. Para o bem da informação e pelo respeito às normas de uma imprensa responsável, resumo o ocorrido, uma vez que a revista não enviou jornalista para acompanhar a visita a África. Quando me perguntaram, em Malabo, por que o Brasil fazia negócios com a Guiné Equatorial, respondi efetivamente que "negócios são negócios", e que bastava ver a origem da manteiga consumida nos hotéis da cidade (francesa) ou a nacionalidade das principais empresas que exploram petróleo no país (americana) para saber que perseguir interesses comerciais não significa dar apoio político.
Acrescentei que "o isolamento e a distância só fazem com que eles (guineanos) dependam mais de outros e fiquem mais longe daquilo que nós desejamos”. Disse ainda que a aproximação da Guiné Equatorial com a CPLP "vai contribuir para que estas práticas que nós apreciamos sejam também adotadas pelos outros" (a Guiné Equatorial já é, de resto, membro pleno da Francofonia, liderada pela França). Nenhuma dessas declarações – referentes ao interesse na melhoria da situação interna daquele país - foi reproduzida por VEJA. A revista limitou-se a atribuir-me o adjetivo injurioso, que nunca conferiu a autoridades dos demais países que fazem negócios com a Guiné Equatorial ou com qualquer país de regime não democrático. O debate democrático e mesmo a crítica pressupõem um mínimo de respeito. Da mesma maneira que VEJA discorda das minhas opiniões, freqüentemente discordo das visões da revista, mas nunca me referi a ela de forma ofensiva e injuriosa.
CELSO AMORIM
Ministro das Relações Exteriores
Mas não é isso que preferem. E na próxima semana, teremos em destaque os perigos de tomar sol sem protetor ou as novas técnicas que revolucionam o mercado de cirurgia estética...
Revista Veja - Lula na África/seção leitores
Em geral, não me manifesto sobre textos de imprensa, até por entender que a discordância e o debate fazem parte da democracia. Mas, desta vez, VEJA passou dos limites ao ofender-me com a caracterização de "imoral" em matéria sobre a recente visita do presidente Lula à África. Citou a minha frase "negócios são negócios” fora de contexto e fez daí uma ciranda de inferências e distorções. Para o bem da informação e pelo respeito às normas de uma imprensa responsável, resumo o ocorrido, uma vez que a revista não enviou jornalista para acompanhar a visita a África. Quando me perguntaram, em Malabo, por que o Brasil fazia negócios com a Guiné Equatorial, respondi efetivamente que "negócios são negócios", e que bastava ver a origem da manteiga consumida nos hotéis da cidade (francesa) ou a nacionalidade das principais empresas que exploram petróleo no país (americana) para saber que perseguir interesses comerciais não significa dar apoio político.
Acrescentei que "o isolamento e a distância só fazem com que eles (guineanos) dependam mais de outros e fiquem mais longe daquilo que nós desejamos”. Disse ainda que a aproximação da Guiné Equatorial com a CPLP "vai contribuir para que estas práticas que nós apreciamos sejam também adotadas pelos outros" (a Guiné Equatorial já é, de resto, membro pleno da Francofonia, liderada pela França). Nenhuma dessas declarações – referentes ao interesse na melhoria da situação interna daquele país - foi reproduzida por VEJA. A revista limitou-se a atribuir-me o adjetivo injurioso, que nunca conferiu a autoridades dos demais países que fazem negócios com a Guiné Equatorial ou com qualquer país de regime não democrático. O debate democrático e mesmo a crítica pressupõem um mínimo de respeito. Da mesma maneira que VEJA discorda das minhas opiniões, freqüentemente discordo das visões da revista, mas nunca me referi a ela de forma ofensiva e injuriosa.
CELSO AMORIM
Ministro das Relações Exteriores
domingo, 18 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Red China Blues
Separei duas colunas de opinião, uma do China Daily, outra do Estadão, para tentar escrever um texto sobre liberdade de expressão. Ao contrário do que indica o senso comum, a China não é tão fechada quanto pensamos de longe. Não há uma máquina central determinando o que se escreve e o que não se escreve. Discute-se bastante, sobre vários assuntos, vivo me surpreendendo. Mas é evidente que há limitações importantes, não quero dar uma de ingênuo.
Por outro lado, no Brasil a liberdade de imprensa é um conceito muito mal utilizado. A defesa de desregulamentação em um ambiente oligopolizado, e com propriedades cruzadas, não se pode confundir com a defesa de liberdade de expressão. Os exemplos do setor financeiro e petrolífero são suficientes para atentarmos quanto aos riscos do que se convencionou chamar de autoregulação. A questão do direito de resposta também é fundamental.
Estou entrando em terreno arriscado. Vou pensar em como ou o que escrever.
Miles Davis é sensacional, não? Achei outro vídeo dele no youtube, na verdade só a música e seu rosto genial, Red China Blues, o nome me instigou a postá-lo, mas não apenas por isso, é sonzeira mesmo.
Por enquanto é só. Vou descansar, tenho trabalhado demais. Amanhã 8 horas é a estréia de Alan Patrick no Santos. A santástica fábrica de craques.
Por outro lado, no Brasil a liberdade de imprensa é um conceito muito mal utilizado. A defesa de desregulamentação em um ambiente oligopolizado, e com propriedades cruzadas, não se pode confundir com a defesa de liberdade de expressão. Os exemplos do setor financeiro e petrolífero são suficientes para atentarmos quanto aos riscos do que se convencionou chamar de autoregulação. A questão do direito de resposta também é fundamental.
Estou entrando em terreno arriscado. Vou pensar em como ou o que escrever.
Miles Davis é sensacional, não? Achei outro vídeo dele no youtube, na verdade só a música e seu rosto genial, Red China Blues, o nome me instigou a postá-lo, mas não apenas por isso, é sonzeira mesmo.
Por enquanto é só. Vou descansar, tenho trabalhado demais. Amanhã 8 horas é a estréia de Alan Patrick no Santos. A santástica fábrica de craques.
In a Silent Way
Viagem de Miles Davis remixada e com um vídeo muito maneiro, bem feito, viagem em cima de viagem, arte gráfica, música, silêncio, reflexão.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Perguntas em Pequim
Chaoyang Park. Não me pergunte quem foi Chaoyang. O que é Chaoyang. Qual exatamente a localização do Chaoyang Park. É mais ou menos perto daqui, uns 20 minutos de bicicleta. Chovia no domingo. Garoava, parava. Clima paulistano.
Lá vai Robinho. Pela esquerda, pela direita, dribla os carros, pedestres, ônibus e umas coisas cujo nome não conheço. Veículos de transporte. Chineses. E entre eles pedala Robinho. Com a camisa da seleção. Amarela. Não a que perdeu contra a Holanda.
O Chaoyang Park não deixa bicicletas entrarem. Como o Ritan Park. Como todos parques de Pequim, creio. Como o Parque Olhos D´água em Brasília. Então fiquei de fora. Na verdade, tentara entrar por portarias laterais. Mas nada. Não rolou. Guardinhas, cancelas, grades. Bom, nessas tentativas fui circundando o parque. Entrando nuns caminhos aí. Uma rua para dentro. Do parque? Outra entrada? Não sei.
Sei que noto algo. Noto alguém. Há uma estátua meio escondida atrás da grade lateral. Numa rua em que não passa ninguém. Num beco do parque, totalmente só.
Um chinês. Um homem em seus 50 ou 60 anos. Parece vestido como um inglês, não? Fuma como um inglês, não? Sua pose, parece que observa cavalos saltando obstáculos, sorri depois da caça, saboreia um chá. Chá chinês? Chá inglês? Não sei bem. Estranha a estátua ali, sob a vista de ninguém.
Há uma lápide em frente à estátua. Lápide? É assim que se fala? Uma placa, que seja. Deve haver alguma explicação. Em chinês? Caracteres em chinês. Deve haver alguma explicação. Mas não entendo. Deixa pra lá.
Logo à frente, fazendo a curva, uma construção imponente, às margens de um lago. Bela vista. Grandes estátuas de leões. Talvez hoje um hotel, um restaurante, não sei. Branca, colunas, em estilo clássico. Europeu. Inglês? Seria aquela a antiga mansão de nosso amigo apreciador de charutos. Seriam charutos? De ópio? Seria esse chinês-inglês um vencedor da guerra do ópio? Our man in Beijing?
Vou investigar qualé, qual foi. O que é Chaoyang? Quem foi Chaoyang?
Perguntas. Na China, fica-se sempre um pouco com aquele ar de não entendi. A gente acaba se acostumando com isso. E promete investigar depois. Vai pra estante.
Mais à frente, estou retornando pra casa. Passeio menor, na véspera me cansara. Almoçar. Ler. Esticar as pernas.
Estou ao lado do Estádio dos Trabalhadores. Um belo estádio. Demorou para eu ir lá. Há um time em Pequim. Vestem verde, porcada na fita. Mas vou ao jogo com a camisa do Santos, evidentemente. Em agosto.
Paro no cruzamento. Aguardo o sinal. Às vezes dá pra ir no vermelho, mas tem que ter cuidado. O melhor seria não ir no vermelho. Mas a gente vai pegando o jeito, já viu. Dessa vez parei, há uns cruzamentos em que não dá pra brincar. Não dá nem para pensar na malandragem. Há vezes inclusive que procuro ir escoltado por pedestres. Eles vão na frente, eu sigo ao lado da barreira humana. Se der zica, tem uns 5 que vão antes de mim.
Estou parado no cruzamento. Os arredores do estádio são verdes, há um lago por perto, é um lugar legal. Domingo de leve chuva. São Paulo. Ruas meio vazias. Há um senhor com um saco na mão. Olha pro mato, parado, não sei se procura algo. Catando lixo?
Num primeiro momento, achei que fosse morador de rua. Suas vestes contrastam com a do distinto lorde acima, se é que me entendem. Mas olhando agora a foto, penso que talvez seja funcionário da municipalidade de Beijing. Sua calça combina com uma capa, acho, que está no guidão da bicicleta. Não sei bem. Laranja, para ser visto, para evitar acidentes.
Reparem na sua bicicleta. Há várias desse tipo em Pequim. Bicicletas-carretas. Precárias. Entre vários outros tipos de transporte. Já disse isso. E muitos pedestres. Chineses. Muito metrô, mas o metrô é lotado. Chineses. Maior zona. Chinês não tem muito a manha com fila. Um dia comento sobre isso.
Quem é nosso amigo? Como se chama, onde vive? Família, filhos?
E o que faz um outro cara, atrás da bicicleta, agachado, de costas, meio escondido atrás da árvore?
Não dá para saber.
Nunca se está totalmente por dentro do que acontece a seu redor. No dia-dia, às vezes no trabalho, na observação da política local, para comprar qualquer coisa, parafusar a bicicleta. A China exerce grande fascínio. Vai te picando. Deu pra transmitir um pouco da sensação?
Lá vai Robinho. Pela esquerda, pela direita, dribla os carros, pedestres, ônibus e umas coisas cujo nome não conheço. Veículos de transporte. Chineses. E entre eles pedala Robinho. Com a camisa da seleção. Amarela. Não a que perdeu contra a Holanda.
O Chaoyang Park não deixa bicicletas entrarem. Como o Ritan Park. Como todos parques de Pequim, creio. Como o Parque Olhos D´água em Brasília. Então fiquei de fora. Na verdade, tentara entrar por portarias laterais. Mas nada. Não rolou. Guardinhas, cancelas, grades. Bom, nessas tentativas fui circundando o parque. Entrando nuns caminhos aí. Uma rua para dentro. Do parque? Outra entrada? Não sei.
Sei que noto algo. Noto alguém. Há uma estátua meio escondida atrás da grade lateral. Numa rua em que não passa ninguém. Num beco do parque, totalmente só.
Um chinês. Um homem em seus 50 ou 60 anos. Parece vestido como um inglês, não? Fuma como um inglês, não? Sua pose, parece que observa cavalos saltando obstáculos, sorri depois da caça, saboreia um chá. Chá chinês? Chá inglês? Não sei bem. Estranha a estátua ali, sob a vista de ninguém.
Há uma lápide em frente à estátua. Lápide? É assim que se fala? Uma placa, que seja. Deve haver alguma explicação. Em chinês? Caracteres em chinês. Deve haver alguma explicação. Mas não entendo. Deixa pra lá.
Logo à frente, fazendo a curva, uma construção imponente, às margens de um lago. Bela vista. Grandes estátuas de leões. Talvez hoje um hotel, um restaurante, não sei. Branca, colunas, em estilo clássico. Europeu. Inglês? Seria aquela a antiga mansão de nosso amigo apreciador de charutos. Seriam charutos? De ópio? Seria esse chinês-inglês um vencedor da guerra do ópio? Our man in Beijing?
Vou investigar qualé, qual foi. O que é Chaoyang? Quem foi Chaoyang?
Perguntas. Na China, fica-se sempre um pouco com aquele ar de não entendi. A gente acaba se acostumando com isso. E promete investigar depois. Vai pra estante.
Mais à frente, estou retornando pra casa. Passeio menor, na véspera me cansara. Almoçar. Ler. Esticar as pernas.
Estou ao lado do Estádio dos Trabalhadores. Um belo estádio. Demorou para eu ir lá. Há um time em Pequim. Vestem verde, porcada na fita. Mas vou ao jogo com a camisa do Santos, evidentemente. Em agosto.
Paro no cruzamento. Aguardo o sinal. Às vezes dá pra ir no vermelho, mas tem que ter cuidado. O melhor seria não ir no vermelho. Mas a gente vai pegando o jeito, já viu. Dessa vez parei, há uns cruzamentos em que não dá pra brincar. Não dá nem para pensar na malandragem. Há vezes inclusive que procuro ir escoltado por pedestres. Eles vão na frente, eu sigo ao lado da barreira humana. Se der zica, tem uns 5 que vão antes de mim.
Estou parado no cruzamento. Os arredores do estádio são verdes, há um lago por perto, é um lugar legal. Domingo de leve chuva. São Paulo. Ruas meio vazias. Há um senhor com um saco na mão. Olha pro mato, parado, não sei se procura algo. Catando lixo?
Num primeiro momento, achei que fosse morador de rua. Suas vestes contrastam com a do distinto lorde acima, se é que me entendem. Mas olhando agora a foto, penso que talvez seja funcionário da municipalidade de Beijing. Sua calça combina com uma capa, acho, que está no guidão da bicicleta. Não sei bem. Laranja, para ser visto, para evitar acidentes.
Reparem na sua bicicleta. Há várias desse tipo em Pequim. Bicicletas-carretas. Precárias. Entre vários outros tipos de transporte. Já disse isso. E muitos pedestres. Chineses. Muito metrô, mas o metrô é lotado. Chineses. Maior zona. Chinês não tem muito a manha com fila. Um dia comento sobre isso.
Quem é nosso amigo? Como se chama, onde vive? Família, filhos?
E o que faz um outro cara, atrás da bicicleta, agachado, de costas, meio escondido atrás da árvore?
Não dá para saber.
Nunca se está totalmente por dentro do que acontece a seu redor. No dia-dia, às vezes no trabalho, na observação da política local, para comprar qualquer coisa, parafusar a bicicleta. A China exerce grande fascínio. Vai te picando. Deu pra transmitir um pouco da sensação?
domingo, 11 de julho de 2010
Rolê em Pequim
Rolê na chuva ontem. Chove chuva. Paciência. Vamos às ruas. Pedalar. Interagir um pouco. Foi uma boa aventura.
Na Praça da Paz Celestial, mais conhecida como Tianamen. Cidade Proibida, Congresso, Ministérios, Partido, Mausoléu de Mao Tse Tung. Há um brasileiro lá. Na chuva. De óculos. Com o guidão da bicicleta solto.
Uns turistas chineses me pediram para tirar foto com eles. Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Eu, um ET, um bichinho estranho. Achei engraçado.
Saí procurando um lugar para consertar o guidão. Pergunta daqui, pergunta dali, com meu pobre chinês mimicando para todos os lados. Falaram para seguir reto e virar à direita em algum lugar. Yoguai. Due, respondo. Fui indo. Vi um Hutong à direita. Entrei. Mimica daqui, mímica dali, me indicaram uma birosca à frente. Due. Na China sinto-me tão em casa que passei em frente ao lugar e não reparei. Numa rua com três metros de largura... Voltei, desanimado.
Achei. Logo na entrada, dois chineses jogam xadrez. Xadrez chinês, por supuesto. Fui falar com um deles. Sem camisa, pançudão, com um shorts sussa modelando a silhueta, chinelão, que beleza, nem aí com nada que não fosse o tabuleiro. Mimiquei. Ele me mandou passear, não deu a menor bola. Tava jogando, não ia parar, não tava preocupado comigo, muito concentrado. Saí andando para dentro do Hutong. Nada. Voltei. Fiquei observando o jogo. Lances rápidos, uma batalha. Fiquei curioso para entender as regras. Vou estudar isso, pensei.
Terminaram. E agora? Vai consertar o guidão? Nada. Acendeu o segundo cigarro. Começou mais uma partida. Tirei uma foto, ele de costas. Mas tem flash, o adversário reparou. Aí Zé Pancinha virou o pescoço. Estendeu a perna pro lado. Meio que se virou. Pensei que fosse reclamar. Começou a rir. Olhou pra bicicleta. Olhou pra mim. Pedi-lhe com os olhos, indiquei que bastava parafusar dois pinos, coisa rápida, coisa fácil. Ele continuou a rir. Gesticulou e criptografou algo como "vaza, meu filho, não enche o saco, não vai rolar". Reclamei por reclamar, meio conformado, meio rindo, gesticulando, mas saí numa boa, devagar, feliz pela foto.
A chuva parou. Então, mesmo com o guidão solto, dava para arriscar a pedalar. Com cuidado. E assim fiz. Com cuidado. Alguns quase tombos. Até chegar a outra lojinha de bicicletas, mais pros lados de onde moro. Uma hora depois. Mimiquei e então tava tudo parafusado. De graça, foi na simpatia.
Começo a simpatizar bastante com os chineses. Povo bom. Depois do estranhamento inicial, conforme os encontramos em situações cotidianas, momentos, reações, bate aquela simpatia. Esses chineses tão humanos em uma China tão misteriosa. O Império do Meio e sua capital, Pequim deve ser explorada de bicicleta, não tenho dúvida disso. Você vai entrando nos becos, passa pelos Hutongs, pedala pelas avenidas, tudo tranquilo, tudo plano, tudo em paz, viva o rolezinho despretensioso, instituição do bem viver.
Depois do post pesado de ontem, melancólico, inquieto, veio então esse passeio, vento e muita água na cabeça, mpb no Ipod, na verdade Nina Simone, confesso, para esquecer os tempos difíceis, nem pensar nisso, olhar nos olhos das pessoas, reparar em seu andar, no detalhe, na circunstância dos pequenos problemas, nos casais, velhos e jovens, amigos, sorrisos, bobagens, as delícias de uma vida pequeno burguesa, outras coisas, a chuva que cai e molha tudo a seu redor.
Pois já cantava Caetano: Onde queres Leblon, sou Pernambuco. Onde queres um lar, revolução.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Tempos Difíceis
Tempos difíceis, mundo complicado, em transformação, hierarquias lentamente se movem através de relações cruzadas, geometrias variáveis, retas e curvas multidimensionais, coalizões, grupos de interesse nacionais, setoriais, regionais, locais, familiares, históricos, étnicos, raciais, socioambientais.
Estava relendo o post abaixo, refletindo sobre seu sentido, a possível exacerbação do nacionalismo chinês, indiano, dos nacionalismos em geral. A emergência de guerras em períodos de transição no sistema internacional.
Eu fico preocupado.
A ordem atual é injusta, isso é fato. Transformá-la é uma necessidade. Mas esse período de transformação é difícil, perigoso, andamos por uma trilha escura sinuosa com lama sob chuva rumo a lugar desconhecido, lugar algum, à noite, é noite, sim, é noite no Mar da China e aproximam-se quatro submarinos nucleares da Classe Ohio, máquinas de dissimulação e destruição, sob os olhares plácidos do USS George Washington, not the Founding Father, no, nein, non, não certa ideologia mítica, mas sim sua transfiguração séculovinteum, super porta-aviões descansando na Coréia do Sul, vigiando, monitorando, como o servidor central de uma rede, a rede militar, a hierarquia do poder mundial, entre nações, países, empresas, partidos, famílias, indivíduos.
Estou viajando aqui, mas só uma grande viagem para tentar transmitir os desafios à nossa frente, é a história se desenrolando sob nossos próprios olhos e seu rumo me preocupa, esse texto acima me assustou, a naturalidade, a obviedade do movimento, sonho com uma pequena jangada singrando o rio Caraíva mas observo estupefato um porta-aviões monumental encarando Pequim, fazendo o que?, indo aonde?, pra que, amigo?.
O trágico dos nossos tempos, meus caros leitores, é, ao reler o texto abaixo, dar-me conta de que Washington e Bruxelas não estão exatamente alinhados, pelo contrário, não sabem bem o que querem. Há um ponto em comum, fato, fundamental, ambos desejam manter seus privilégios no sistema internacional, resistem, dobram as apostas. Mas divergem entre si quanto aos meios, a dosagem, prioridades.
Nos EUA e na Europa, vamos reconhecer, a confusão interna é grande. Ainda se digere um processo de enorme redistribuição de riqueza em suas sociedades. A crise financeira se traduziu em perdas e ganhos para os diferentes segmentos do setor privado, para as burocracias e o Estado como um todo. O Estado perde, divide-se a conta. Jogam-na para as futuras gerações, que não entendem bem o que se passa. É a socialização das perdas dos ricos, não tenham dúvida disso, um processo brutal. Mas também a socialização das perdas de uma geração.
O Estado perde. O setor privado e as famílias também. O sistema político arbitrou e segue arbitrando quem leva e quem não leva. Ativos financeiros, liquidez, prazos, taxas de juros, câmbio, prêmios de desconto. Dívida pública, dívida privada, garantias. Penso que compreender essa mecânica é fundamental para uma análise política mais crítica como as que os tempos atuais sugerem ser necessária.
Já estava para escrever sobre certo cinismo das classes abastadas norte-americanas e européias que hoje clamam por uma redução dos déficits públicos. Acumularam enormes lucros na fase altista, quando da formação da bolha. Aí veio a crise, causada pela ganância, pela desregulamentação que promoveram, pela irresponsabilidade, pela crença em sua própria superiodade, demasiada arrogância, des noveaux économistes, a picaretagem de muitos intelectuais. Foram resgatados pelo Estado, que evitou que os ativos privados virassem pó. O resgate multiplicou a dívida pública.
Os culpados de ontem elegem novos culpados para hoje. "Os governos gastam demais". "É preciso austeridade". Lucram na alta, quebram o Estado, obrigado a socializar perdas, e agora forçam o peso do ajuste nos mais pobres. Corte de gastos é menos crescimento, mais desemprego, menos proteção social. Seu argumento é fraco, poxa, enviesado, ideologicamente tão óbvio, vejam só: "Uma trajetória sustentável para as contas públicas aumentará a confiança. As taxas de juros poderão permanecer baixas por mais algum tempo. A confiança nas contas do governo levará as famílias a gastar mais, o setor privado a investir. Retomaremos assim o crescimento, que facilitará o processo de redução do endividamento público." Esse argumento, amigo, é bastante questionável, para dizer o mínimo. Discussão técnica chata, pode se tornar longa, mas politicamente muito clara, pois límpido está quem ganha e quem perde, não é difícil adivinhar.
Curiosamente, ao adentrarmos as rubricas da qualidade do corte de gastos demandado pelas grandes elites ocidentais, vemos que não há menção aos custos da enorme máquina militar naval que se deslocou para a costa da China, perto de Pequim, vejam só, tampouco demandam redução das despesas das forças que ocupam parte do Oriente Médio. É tudo muito engraçado, um teatro sensacional, mas na verdade dramático e profundamente lamentável, não nos iludamos.
Garantia é confiança, credibilidade é crédito, segurança é paz.
A guerra. Moedas reservas. A expansão da dívida pública. A hierarquia do poder mundial. A máquina para matar, a máquina para imprimir dinheiro, a pressão diplomática, os títulos da dívida pública, o controle dos meios de comunicação.
China. Índia. Ásia. Brasil? Desafios às potências dominantes. Civilizações. Visões de mundo. Há possibilidade de acomodação entre as elites mundiais ou se jogarão mesmo na insanidade da guerra? Jogar-se-ão, serão jogadas, jogarão o jogo da destruição?
"Como pôde isso acontecer? Como deixamos acontecer?" É uma loucura, eu sei, esse post está a maior viagem.
Eu me preocupo. Nenhuma transição do poder mundial em larga escala ocorreu sem a emergência de grandes guerras. E hoje observamos claramente um desses períodos de transformação. Tensões diversas. Acomodações provisórias. Alianças, blocos, coalizões.
Somemos a isso a questão ambiental. O crescimento populacional (seremos 9 bi em 2050). A disputa por fontes de energia e alimentos. Por água.
O petróleo segue jorrando nas profundezas do Golfo do México. A regulamentação do setor financeiro ficou no fetiche. Mesmo a reforma dos norte-americanos, algum avanço, é bastante tímida. Os lobbies de certa forma venceram, ganharam tempo, não sei bem. O G-20, reforçado em certo sentido para dividir a culpa na hora da crise, é alvo atualmente de ceticismo. O G-8 se esforça para manter as rédeas de um mundo que não mais lhe pertence, procura dividir os emergentes. Em 2011, a gloriosa França presidirá o G-8 e o G-20, atenção aos franceses, herdeiros da revolução, Vive la France, Vive la Republique, seus caminhos serão os nossos.
A ONU segue fraca. Doha está inconsciente na UTI. Copenhaguen ficou na promessa. EUA e Rússia anunciaram um acordo de desarmamento. Que beleza, sobraram apenas umas 2 mil ogivas. Como bem disse o Presidente Lula, jogaram fora uns remedinhos com validade vencida. O Brasil e a Turquia trazem o Irã de volta à mesa. Nobody cares, que ousadia desses caras. Viva Hillary, anjo da guerra, há orgasmos na imprensa brasileira! Eles querem sanções, estão dispostos à guerra, não desejam tentativas de diálogo. Não sabem o que falam, perdoai-vos, meu pai. A coisa tá complicada, Tempos Difíceis, como já cantavam os Racionais no início da década de 90.
Eu me preocupo, não estou brincando. Essa frota norte-americana nos arredores de Pequim me assustou, é sério. Demonstração explícita de poder, recado, intimidação. Os descalabros na esfera das finanças internacionais também são impressionantes. Plutocracias sequestram os ideais democráticos, a República, o mundo que li e não vivi. As burocracias internacionais são impotentes, inertes, acomodadas, submissas. De que vale uma carreira brilhante numa estrutura que parece se encaminhar para a desintegração? Dilemas pessoais, dilemas profissionais.
Esse post foi uma reação, um desabafo silencioso aos sobreviventes que de vez em quando passam por esse humilde e distante blog. Também resultado da manhã chuvosa em Pequim. O passeio de bicicleta até a Praça da Paz Celestial teve que ser adiado. Esse é um rolê magistral que faz tempo venho planejando. Ficou para a próxima. Segue a vida, vida que segue. Espero estar exagerando em meu negativismo. Pessimismo no pensamento, otimismo na ação. Paz aos homens de bem. Zaijian!
Estava relendo o post abaixo, refletindo sobre seu sentido, a possível exacerbação do nacionalismo chinês, indiano, dos nacionalismos em geral. A emergência de guerras em períodos de transição no sistema internacional.
Eu fico preocupado.
A ordem atual é injusta, isso é fato. Transformá-la é uma necessidade. Mas esse período de transformação é difícil, perigoso, andamos por uma trilha escura sinuosa com lama sob chuva rumo a lugar desconhecido, lugar algum, à noite, é noite, sim, é noite no Mar da China e aproximam-se quatro submarinos nucleares da Classe Ohio, máquinas de dissimulação e destruição, sob os olhares plácidos do USS George Washington, not the Founding Father, no, nein, non, não certa ideologia mítica, mas sim sua transfiguração séculovinteum, super porta-aviões descansando na Coréia do Sul, vigiando, monitorando, como o servidor central de uma rede, a rede militar, a hierarquia do poder mundial, entre nações, países, empresas, partidos, famílias, indivíduos.
Estou viajando aqui, mas só uma grande viagem para tentar transmitir os desafios à nossa frente, é a história se desenrolando sob nossos próprios olhos e seu rumo me preocupa, esse texto acima me assustou, a naturalidade, a obviedade do movimento, sonho com uma pequena jangada singrando o rio Caraíva mas observo estupefato um porta-aviões monumental encarando Pequim, fazendo o que?, indo aonde?, pra que, amigo?.
O trágico dos nossos tempos, meus caros leitores, é, ao reler o texto abaixo, dar-me conta de que Washington e Bruxelas não estão exatamente alinhados, pelo contrário, não sabem bem o que querem. Há um ponto em comum, fato, fundamental, ambos desejam manter seus privilégios no sistema internacional, resistem, dobram as apostas. Mas divergem entre si quanto aos meios, a dosagem, prioridades.
Nos EUA e na Europa, vamos reconhecer, a confusão interna é grande. Ainda se digere um processo de enorme redistribuição de riqueza em suas sociedades. A crise financeira se traduziu em perdas e ganhos para os diferentes segmentos do setor privado, para as burocracias e o Estado como um todo. O Estado perde, divide-se a conta. Jogam-na para as futuras gerações, que não entendem bem o que se passa. É a socialização das perdas dos ricos, não tenham dúvida disso, um processo brutal. Mas também a socialização das perdas de uma geração.
O Estado perde. O setor privado e as famílias também. O sistema político arbitrou e segue arbitrando quem leva e quem não leva. Ativos financeiros, liquidez, prazos, taxas de juros, câmbio, prêmios de desconto. Dívida pública, dívida privada, garantias. Penso que compreender essa mecânica é fundamental para uma análise política mais crítica como as que os tempos atuais sugerem ser necessária.
Já estava para escrever sobre certo cinismo das classes abastadas norte-americanas e européias que hoje clamam por uma redução dos déficits públicos. Acumularam enormes lucros na fase altista, quando da formação da bolha. Aí veio a crise, causada pela ganância, pela desregulamentação que promoveram, pela irresponsabilidade, pela crença em sua própria superiodade, demasiada arrogância, des noveaux économistes, a picaretagem de muitos intelectuais. Foram resgatados pelo Estado, que evitou que os ativos privados virassem pó. O resgate multiplicou a dívida pública.
Os culpados de ontem elegem novos culpados para hoje. "Os governos gastam demais". "É preciso austeridade". Lucram na alta, quebram o Estado, obrigado a socializar perdas, e agora forçam o peso do ajuste nos mais pobres. Corte de gastos é menos crescimento, mais desemprego, menos proteção social. Seu argumento é fraco, poxa, enviesado, ideologicamente tão óbvio, vejam só: "Uma trajetória sustentável para as contas públicas aumentará a confiança. As taxas de juros poderão permanecer baixas por mais algum tempo. A confiança nas contas do governo levará as famílias a gastar mais, o setor privado a investir. Retomaremos assim o crescimento, que facilitará o processo de redução do endividamento público." Esse argumento, amigo, é bastante questionável, para dizer o mínimo. Discussão técnica chata, pode se tornar longa, mas politicamente muito clara, pois límpido está quem ganha e quem perde, não é difícil adivinhar.
Curiosamente, ao adentrarmos as rubricas da qualidade do corte de gastos demandado pelas grandes elites ocidentais, vemos que não há menção aos custos da enorme máquina militar naval que se deslocou para a costa da China, perto de Pequim, vejam só, tampouco demandam redução das despesas das forças que ocupam parte do Oriente Médio. É tudo muito engraçado, um teatro sensacional, mas na verdade dramático e profundamente lamentável, não nos iludamos.
Garantia é confiança, credibilidade é crédito, segurança é paz.
A guerra. Moedas reservas. A expansão da dívida pública. A hierarquia do poder mundial. A máquina para matar, a máquina para imprimir dinheiro, a pressão diplomática, os títulos da dívida pública, o controle dos meios de comunicação.
China. Índia. Ásia. Brasil? Desafios às potências dominantes. Civilizações. Visões de mundo. Há possibilidade de acomodação entre as elites mundiais ou se jogarão mesmo na insanidade da guerra? Jogar-se-ão, serão jogadas, jogarão o jogo da destruição?
"Como pôde isso acontecer? Como deixamos acontecer?" É uma loucura, eu sei, esse post está a maior viagem.
Eu me preocupo. Nenhuma transição do poder mundial em larga escala ocorreu sem a emergência de grandes guerras. E hoje observamos claramente um desses períodos de transformação. Tensões diversas. Acomodações provisórias. Alianças, blocos, coalizões.
Somemos a isso a questão ambiental. O crescimento populacional (seremos 9 bi em 2050). A disputa por fontes de energia e alimentos. Por água.
O petróleo segue jorrando nas profundezas do Golfo do México. A regulamentação do setor financeiro ficou no fetiche. Mesmo a reforma dos norte-americanos, algum avanço, é bastante tímida. Os lobbies de certa forma venceram, ganharam tempo, não sei bem. O G-20, reforçado em certo sentido para dividir a culpa na hora da crise, é alvo atualmente de ceticismo. O G-8 se esforça para manter as rédeas de um mundo que não mais lhe pertence, procura dividir os emergentes. Em 2011, a gloriosa França presidirá o G-8 e o G-20, atenção aos franceses, herdeiros da revolução, Vive la France, Vive la Republique, seus caminhos serão os nossos.
A ONU segue fraca. Doha está inconsciente na UTI. Copenhaguen ficou na promessa. EUA e Rússia anunciaram um acordo de desarmamento. Que beleza, sobraram apenas umas 2 mil ogivas. Como bem disse o Presidente Lula, jogaram fora uns remedinhos com validade vencida. O Brasil e a Turquia trazem o Irã de volta à mesa. Nobody cares, que ousadia desses caras. Viva Hillary, anjo da guerra, há orgasmos na imprensa brasileira! Eles querem sanções, estão dispostos à guerra, não desejam tentativas de diálogo. Não sabem o que falam, perdoai-vos, meu pai. A coisa tá complicada, Tempos Difíceis, como já cantavam os Racionais no início da década de 90.
Eu me preocupo, não estou brincando. Essa frota norte-americana nos arredores de Pequim me assustou, é sério. Demonstração explícita de poder, recado, intimidação. Os descalabros na esfera das finanças internacionais também são impressionantes. Plutocracias sequestram os ideais democráticos, a República, o mundo que li e não vivi. As burocracias internacionais são impotentes, inertes, acomodadas, submissas. De que vale uma carreira brilhante numa estrutura que parece se encaminhar para a desintegração? Dilemas pessoais, dilemas profissionais.
Esse post foi uma reação, um desabafo silencioso aos sobreviventes que de vez em quando passam por esse humilde e distante blog. Também resultado da manhã chuvosa em Pequim. O passeio de bicicleta até a Praça da Paz Celestial teve que ser adiado. Esse é um rolê magistral que faz tempo venho planejando. Ficou para a próxima. Segue a vida, vida que segue. Espero estar exagerando em meu negativismo. Pessimismo no pensamento, otimismo na ação. Paz aos homens de bem. Zaijian!
quinta-feira, 8 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Ponto de Vista
É muito interessante a leitura da imprensa chinesa. Os editoriais e os artigos de opinião, especialmente. É claro para eles que há uma disputa de poder entre os países que tem se exacerbado nesse momento de crise e reconfiguração do sistema internacional. Que a China foi humilhada no passado. Que o interesse do Ocidente pode não ser o interesse da China, ou da Ásia. Que o modelo ocidental não é o modelo asiático. Batem pesado às vezes. São diretos.
Hoje, no China Daily, há um artigo de um pensador indiano na página de opinião. O título é "G8 must make way for the new system". Eu teria alguns reparos no detalhe, especialmente ao dizer que o G8 coordena posições antes do G20. Não é tão simples. Os temas não se misturam, a princípio. E mesmo entre o G8 há divergências várias quando o assunto se relaciona à matéria econômico-financeira.
Mas o que gostaria de reiterar é a noção, que deveria ser óbvia, de que o interesse norte-americano, ou europeu, não é necessariamente o interesse chinês, ou da Ásia, ou dos países emergentes. O ponto de vista de um pensador, por exemplo, preocupado com o Brasil, deve ser o Brasil. Nada mais, nada menos. Nossa perspectiva. Nossos interesses. Isso infelizmente não está claro para parte influente de muitos analistas e jornalistas brasileiros, especialmente os funcionários das famílias que controlam os grandes grupos no país. Ao menor sinal de divergência com as velhas potências, eles imediatamente se colocam do lado de lá. Afirmam que o Brasil "tem se metido onde não é chamado"... que "a política externa é megalomaníaca" e "há traços infantis em determinadas atitudes".
Curiosamente, esses mesmos analistas são rápidos ao pedirem que sejamos mais duros com a Bolívia, o Equador, a Argentina, que esqueçamos a África, que não faz sentido ampliarmos nossa representação em países "sem peso". Ou então se esmeram em provar que o BRIC é cheio de divergências. Que o Mercosul não funciona. Que a Unasul é uma piada. "Hillary ignora acordo turco-iraniano-brasileiro e leva pedido de sanções ao Conselho de Segurança". Aí eles têm orgasmos. O Brasil teria se dado mal. Os EUA são o máximo. "Quem mandou se meter onde não é chamado, viu só, a Hillary é quem manda".
São elites decadentes que cresceram mirando os norte-americanos. Hoje a coisa tá confusa. E esse povo perdeu a bússula. Passam ridículo, por vezes. Chega a ser apenas lamentável.
Li que na última edição da Revista Interesse Nacional haveria um artigo do Carlos Eduardo Lins Silva sobre a política externa do próximo governo. Parece-me, sem ter lido o artigo, que ele assinala algo com o qual concordo, e que por absoluta preguiça não havia escrito aqui. Independente de quem ganhar as eleições, as grandes linhas da política externa, nossas posições, nossa atitude perante o mundo, não deve mudar muito. Quase nada. O resto é trolóló, bravata.
Será como o tripé macroeconômico de FHC, mantido por Lula, ampliando as fragilidades criadas por alguns de seus defeitos mas se beneficiando da alta de nossos produtos de exportação. Antes da eleição, muito chôroro. Depois, ao sentar na cadeira, a coisa muda. Plus ça change, plus c'est la même chose.
No caso da política externa, prometo buscar o texto do nosso amigo Carlos Eduardo para aprofundar essa discussão. Estão fazendo falta alguns textos mais opinativos aqui. Muito samba e pouco futebol, como me disse uma amiga espanhola durante o jogo contra Portugal. A ver.
Segue abaixo a introdução do texto do pensador indiano publicado hoje no China Daily. Vejam como vai direto ao ponto. Lição básica de política externa. Da defesa do interesse nacional.
"Over the years, there has been a crescendo of voices from the US and the EU urging that large emerging economies such as India and China be "responsible stakeholders in the international system".
What is left unsaid is that such voices expect Delhi and Beijing to be responsible to Washington and Brussels."
Hoje, no China Daily, há um artigo de um pensador indiano na página de opinião. O título é "G8 must make way for the new system". Eu teria alguns reparos no detalhe, especialmente ao dizer que o G8 coordena posições antes do G20. Não é tão simples. Os temas não se misturam, a princípio. E mesmo entre o G8 há divergências várias quando o assunto se relaciona à matéria econômico-financeira.
Mas o que gostaria de reiterar é a noção, que deveria ser óbvia, de que o interesse norte-americano, ou europeu, não é necessariamente o interesse chinês, ou da Ásia, ou dos países emergentes. O ponto de vista de um pensador, por exemplo, preocupado com o Brasil, deve ser o Brasil. Nada mais, nada menos. Nossa perspectiva. Nossos interesses. Isso infelizmente não está claro para parte influente de muitos analistas e jornalistas brasileiros, especialmente os funcionários das famílias que controlam os grandes grupos no país. Ao menor sinal de divergência com as velhas potências, eles imediatamente se colocam do lado de lá. Afirmam que o Brasil "tem se metido onde não é chamado"... que "a política externa é megalomaníaca" e "há traços infantis em determinadas atitudes".
Curiosamente, esses mesmos analistas são rápidos ao pedirem que sejamos mais duros com a Bolívia, o Equador, a Argentina, que esqueçamos a África, que não faz sentido ampliarmos nossa representação em países "sem peso". Ou então se esmeram em provar que o BRIC é cheio de divergências. Que o Mercosul não funciona. Que a Unasul é uma piada. "Hillary ignora acordo turco-iraniano-brasileiro e leva pedido de sanções ao Conselho de Segurança". Aí eles têm orgasmos. O Brasil teria se dado mal. Os EUA são o máximo. "Quem mandou se meter onde não é chamado, viu só, a Hillary é quem manda".
São elites decadentes que cresceram mirando os norte-americanos. Hoje a coisa tá confusa. E esse povo perdeu a bússula. Passam ridículo, por vezes. Chega a ser apenas lamentável.
Li que na última edição da Revista Interesse Nacional haveria um artigo do Carlos Eduardo Lins Silva sobre a política externa do próximo governo. Parece-me, sem ter lido o artigo, que ele assinala algo com o qual concordo, e que por absoluta preguiça não havia escrito aqui. Independente de quem ganhar as eleições, as grandes linhas da política externa, nossas posições, nossa atitude perante o mundo, não deve mudar muito. Quase nada. O resto é trolóló, bravata.
Será como o tripé macroeconômico de FHC, mantido por Lula, ampliando as fragilidades criadas por alguns de seus defeitos mas se beneficiando da alta de nossos produtos de exportação. Antes da eleição, muito chôroro. Depois, ao sentar na cadeira, a coisa muda. Plus ça change, plus c'est la même chose.
No caso da política externa, prometo buscar o texto do nosso amigo Carlos Eduardo para aprofundar essa discussão. Estão fazendo falta alguns textos mais opinativos aqui. Muito samba e pouco futebol, como me disse uma amiga espanhola durante o jogo contra Portugal. A ver.
Segue abaixo a introdução do texto do pensador indiano publicado hoje no China Daily. Vejam como vai direto ao ponto. Lição básica de política externa. Da defesa do interesse nacional.
"Over the years, there has been a crescendo of voices from the US and the EU urging that large emerging economies such as India and China be "responsible stakeholders in the international system".
What is left unsaid is that such voices expect Delhi and Beijing to be responsible to Washington and Brussels."
segunda-feira, 5 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
Derrotas
Derrota da seleção na Copa é sempre algo marcante. A gente se lembra de onde estava, como, com quem, dos lances, do sentimento. É um fato histórico. Para o país, para nossas vidas.
Esse é um vídeo bem legal. Gols e mais gols de Romário pela seleção brasileira. Grande craque, grande artilheiro, genioso, figura, Romário deu muitas alegrias para o povo brasileiro.
Esse é um vídeo bem legal. Gols e mais gols de Romário pela seleção brasileira. Grande craque, grande artilheiro, genioso, figura, Romário deu muitas alegrias para o povo brasileiro.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Feliz Ano Velho
Hoje retornei à prisão (ver post anterior). Levamos vitaminas, tempero, bola de volei, dois pares de tênis, notícias do corinthians e da seleção, revistas várias, até revista Caras. Mais importante, levamos livros. Estou incentivando-os a escreverem um livro sobre a experiência. É bom. Em 1o lugar, por lembrá-los de que há futuro, de que o dia da liberdade chegará, de que eles podem fazer planos e não só ficar amargurando o dia-dia. Em 2o lugar, porque têm uma história única e devem contá-la. Em 3o lugar, para passar o tempo e refletirem sobre muita coisa, tirarem lições.
Para isso, presenteei-lhes com Estação Carandiru, onde se descreve uma prisão, os personagens, a hierarquia, o dia-dia. Também lhes dei o Feliz Ano Velho, grande livro do Marcelo Rubens Paiva. A história é semelhante a deles: era feliz, curtia a vida, tava de boa, de repente um dia, um belo dia, um momento, um erro, uma cagada, e tudo mudou. No caso do Marcelo, foi um pulo de cabeça num lago que o deixou paraplégico. No caso deles, uma idéia idiota de roubar um celular numa loja. Um segundo... e sua vida mudou. Pois bem, o livro do Marcelo é muito bom. Descreve a dor, as memórias e como fez para superar as dificuldades da nova vida.
Um terceiro livro, Obras-Primas do Conto Universal, é para a alma deles. Pequenas histórias dos maiores mestres da literatura mundial.
Não consegui ser recebido pelo Diretor do Presídio, mas sim por um subordinado que é responsável diretamente pelos dois brasileiros. Fiz discurso, dei livros e DVDs sobre o Brasil. Um texto do Lula "O Futuro dos Seres Humanos é o que Importa", o Plano de Ação Conjunta Brasil-China, livro com poesias do Mario Quintana traduzidas para o chinês, texto em chinês, com CD, de música brasileira.
E uma camisa da seleção, hehehe. A número 9, amarela, de Luis Fabiano, herdeiro de Vává, Amarildo, Tostão, Careca e Ronaldo (e Romário, que jogava com a 11). Os brasileiros têm conseguido assistir aos jogos das 22hs. Hoje, no difícil duelo com a Holanda, será às 22hs, beleza. Mas a final será às 2:30hs. Creio que consegui convencer nosso amigo a lhes permitir ver a final, caso o Brasil se classifique.
Tudo aqui na China tem um certo protocolo. Tiramos fotos, a entrega dos presentes foi até filmada. Fiz discurso sobre a amizade Brasil-China, a importância do futebol no Brasil, como o Presidente gosta de futebol, o bom comportamento dos presos, o fato de que reconhecem o erro, os agradecimentos pelo bom tratamento que a Embaixada e os presos recebem por parte da Direção do presídio, etc... Deitei falação. Pedi também que fossem transferidos para a mesma cela para diminuir a solidão. Por fim, pedi ainda que encaminhassem o mais velho para um dentista, pois ele usa aparelho e faz dois anos que não ajusta nada, e consta que está incomodando bastante.
Quanto ao dentista, pediu pra esperar, pois estariam instalando equipamentos para tanto no presídio. Quanto à transferência para a mesma cela, disseram ser contra a orientação geral, pois a idéia é que se socializem com os outros. Devem entrar nos cursos de línguas. Quanto à seleção, a resposta foi positiva, mas não deram um ok assim definitivo. A ver. De todo modo, valeu.
Abaixo, a cena inicial do filme que fizeram sobre o livro do Marcelo Rubens Paiva. É um filmaço. História de vida. Recomendo.
Para isso, presenteei-lhes com Estação Carandiru, onde se descreve uma prisão, os personagens, a hierarquia, o dia-dia. Também lhes dei o Feliz Ano Velho, grande livro do Marcelo Rubens Paiva. A história é semelhante a deles: era feliz, curtia a vida, tava de boa, de repente um dia, um belo dia, um momento, um erro, uma cagada, e tudo mudou. No caso do Marcelo, foi um pulo de cabeça num lago que o deixou paraplégico. No caso deles, uma idéia idiota de roubar um celular numa loja. Um segundo... e sua vida mudou. Pois bem, o livro do Marcelo é muito bom. Descreve a dor, as memórias e como fez para superar as dificuldades da nova vida.
Um terceiro livro, Obras-Primas do Conto Universal, é para a alma deles. Pequenas histórias dos maiores mestres da literatura mundial.
Não consegui ser recebido pelo Diretor do Presídio, mas sim por um subordinado que é responsável diretamente pelos dois brasileiros. Fiz discurso, dei livros e DVDs sobre o Brasil. Um texto do Lula "O Futuro dos Seres Humanos é o que Importa", o Plano de Ação Conjunta Brasil-China, livro com poesias do Mario Quintana traduzidas para o chinês, texto em chinês, com CD, de música brasileira.
E uma camisa da seleção, hehehe. A número 9, amarela, de Luis Fabiano, herdeiro de Vává, Amarildo, Tostão, Careca e Ronaldo (e Romário, que jogava com a 11). Os brasileiros têm conseguido assistir aos jogos das 22hs. Hoje, no difícil duelo com a Holanda, será às 22hs, beleza. Mas a final será às 2:30hs. Creio que consegui convencer nosso amigo a lhes permitir ver a final, caso o Brasil se classifique.
Tudo aqui na China tem um certo protocolo. Tiramos fotos, a entrega dos presentes foi até filmada. Fiz discurso sobre a amizade Brasil-China, a importância do futebol no Brasil, como o Presidente gosta de futebol, o bom comportamento dos presos, o fato de que reconhecem o erro, os agradecimentos pelo bom tratamento que a Embaixada e os presos recebem por parte da Direção do presídio, etc... Deitei falação. Pedi também que fossem transferidos para a mesma cela para diminuir a solidão. Por fim, pedi ainda que encaminhassem o mais velho para um dentista, pois ele usa aparelho e faz dois anos que não ajusta nada, e consta que está incomodando bastante.
Quanto ao dentista, pediu pra esperar, pois estariam instalando equipamentos para tanto no presídio. Quanto à transferência para a mesma cela, disseram ser contra a orientação geral, pois a idéia é que se socializem com os outros. Devem entrar nos cursos de línguas. Quanto à seleção, a resposta foi positiva, mas não deram um ok assim definitivo. A ver. De todo modo, valeu.
Abaixo, a cena inicial do filme que fizeram sobre o livro do Marcelo Rubens Paiva. É um filmaço. História de vida. Recomendo.
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