segunda-feira, 12 de julho de 2010

Perguntas em Pequim

Chaoyang Park. Não me pergunte quem foi Chaoyang. O que é Chaoyang. Qual exatamente a localização do Chaoyang Park. É mais ou menos perto daqui, uns 20 minutos de bicicleta. Chovia no domingo. Garoava, parava. Clima paulistano.

Lá vai Robinho. Pela esquerda, pela direita, dribla os carros, pedestres, ônibus e umas coisas cujo nome não conheço. Veículos de transporte. Chineses. E entre eles pedala Robinho. Com a camisa da seleção. Amarela. Não a que perdeu contra a Holanda.

O Chaoyang Park não deixa bicicletas entrarem. Como o Ritan Park. Como todos parques de Pequim, creio. Como o Parque Olhos D´água em Brasília. Então fiquei de fora. Na verdade, tentara entrar por portarias laterais. Mas nada. Não rolou. Guardinhas, cancelas, grades. Bom, nessas tentativas fui circundando o parque. Entrando nuns caminhos aí. Uma rua para dentro. Do parque? Outra entrada? Não sei.

Sei que noto algo. Noto alguém. Há uma estátua meio escondida atrás da grade lateral. Numa rua em que não passa ninguém. Num beco do parque, totalmente só.



Um chinês. Um homem em seus 50 ou 60 anos. Parece vestido como um inglês, não? Fuma como um inglês, não? Sua pose, parece que observa cavalos saltando obstáculos, sorri depois da caça, saboreia um chá. Chá chinês? Chá inglês? Não sei bem. Estranha a estátua ali, sob a vista de ninguém.

Há uma lápide em frente à estátua. Lápide? É assim que se fala? Uma placa, que seja. Deve haver alguma explicação. Em chinês? Caracteres em chinês. Deve haver alguma explicação. Mas não entendo. Deixa pra lá.

Logo à frente, fazendo a curva, uma construção imponente, às margens de um lago. Bela vista. Grandes estátuas de leões. Talvez hoje um hotel, um restaurante, não sei. Branca, colunas, em estilo clássico. Europeu. Inglês? Seria aquela a antiga mansão de nosso amigo apreciador de charutos. Seriam charutos? De ópio? Seria esse chinês-inglês um vencedor da guerra do ópio? Our man in Beijing?

Vou investigar qualé, qual foi. O que é Chaoyang? Quem foi Chaoyang?

Perguntas. Na China, fica-se sempre um pouco com aquele ar de não entendi. A gente acaba se acostumando com isso. E promete investigar depois. Vai pra estante.

Mais à frente, estou retornando pra casa. Passeio menor, na véspera me cansara. Almoçar. Ler. Esticar as pernas.

Estou ao lado do Estádio dos Trabalhadores. Um belo estádio. Demorou para eu ir lá. Há um time em Pequim. Vestem verde, porcada na fita. Mas vou ao jogo com a camisa do Santos, evidentemente. Em agosto.

Paro no cruzamento. Aguardo o sinal. Às vezes dá pra ir no vermelho, mas tem que ter cuidado. O melhor seria não ir no vermelho. Mas a gente vai pegando o jeito, já viu. Dessa vez parei, há uns cruzamentos em que não dá pra brincar. Não dá nem para pensar na malandragem. Há vezes inclusive que procuro ir escoltado por pedestres. Eles vão na frente, eu sigo ao lado da barreira humana. Se der zica, tem uns 5 que vão antes de mim.

Estou parado no cruzamento. Os arredores do estádio são verdes, há um lago por perto, é um lugar legal. Domingo de leve chuva. São Paulo. Ruas meio vazias. Há um senhor com um saco na mão. Olha pro mato, parado, não sei se procura algo. Catando lixo?



Num primeiro momento, achei que fosse morador de rua. Suas vestes contrastam com a do distinto lorde acima, se é que me entendem. Mas olhando agora a foto, penso que talvez seja funcionário da municipalidade de Beijing. Sua calça combina com uma capa, acho, que está no guidão da bicicleta. Não sei bem. Laranja, para ser visto, para evitar acidentes.

Reparem na sua bicicleta. Há várias desse tipo em Pequim. Bicicletas-carretas. Precárias. Entre vários outros tipos de transporte. Já disse isso. E muitos pedestres. Chineses. Muito metrô, mas o metrô é lotado. Chineses. Maior zona. Chinês não tem muito a manha com fila. Um dia comento sobre isso.

Quem é nosso amigo? Como se chama, onde vive? Família, filhos?

E o que faz um outro cara, atrás da bicicleta, agachado, de costas, meio escondido atrás da árvore?

Não dá para saber.

Nunca se está totalmente por dentro do que acontece a seu redor. No dia-dia, às vezes no trabalho, na observação da política local, para comprar qualquer coisa, parafusar a bicicleta. A China exerce grande fascínio. Vai te picando. Deu pra transmitir um pouco da sensação?

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