Num mundo em transformação, num país em transformação, em meio a tantos possíveis debates interessantes e construtivos, questões em aberto, dilemas, possibilidades, algumas publicações insistem em protagonizar seguidos vexames. Cheias de certezas em sua visão simplificadora, tacanha, mesquinha das coisas. Se fosse apenas isso, tudo bem, fazer o que? O problema é o constante recurso a afirmações fora de contexto, a ilações diversas a partir daí, à montagem de reportagens com um objetivo definido, ao uso de linguagem infantil, imbecilizada, ao abuso de adjetivos, a fontes não identificadas, a dossiês do submundo, enfim, ao que de pior poderia haver no jornalismo. Isso quando não avançam para ataques de caráter pessoal nos quais o preconceito se torna arma política, tudo isso sem direito de defesa, lama plena. E eles têm recursos, poderiam chamar massa crítica, debates, polemizar, enfim, ajudar a construir...
Mas não é isso que preferem. E na próxima semana, teremos em destaque os perigos de tomar sol sem protetor ou as novas técnicas que revolucionam o mercado de cirurgia estética...
Revista Veja - Lula na África/seção leitores
Em geral, não me manifesto sobre textos de imprensa, até por entender que a discordância e o debate fazem parte da democracia. Mas, desta vez, VEJA passou dos limites ao ofender-me com a caracterização de "imoral" em matéria sobre a recente visita do presidente Lula à África. Citou a minha frase "negócios são negócios” fora de contexto e fez daí uma ciranda de inferências e distorções. Para o bem da informação e pelo respeito às normas de uma imprensa responsável, resumo o ocorrido, uma vez que a revista não enviou jornalista para acompanhar a visita a África. Quando me perguntaram, em Malabo, por que o Brasil fazia negócios com a Guiné Equatorial, respondi efetivamente que "negócios são negócios", e que bastava ver a origem da manteiga consumida nos hotéis da cidade (francesa) ou a nacionalidade das principais empresas que exploram petróleo no país (americana) para saber que perseguir interesses comerciais não significa dar apoio político.
Acrescentei que "o isolamento e a distância só fazem com que eles (guineanos) dependam mais de outros e fiquem mais longe daquilo que nós desejamos”. Disse ainda que a aproximação da Guiné Equatorial com a CPLP "vai contribuir para que estas práticas que nós apreciamos sejam também adotadas pelos outros" (a Guiné Equatorial já é, de resto, membro pleno da Francofonia, liderada pela França). Nenhuma dessas declarações – referentes ao interesse na melhoria da situação interna daquele país - foi reproduzida por VEJA. A revista limitou-se a atribuir-me o adjetivo injurioso, que nunca conferiu a autoridades dos demais países que fazem negócios com a Guiné Equatorial ou com qualquer país de regime não democrático. O debate democrático e mesmo a crítica pressupõem um mínimo de respeito. Da mesma maneira que VEJA discorda das minhas opiniões, freqüentemente discordo das visões da revista, mas nunca me referi a ela de forma ofensiva e injuriosa.
CELSO AMORIM
Ministro das Relações Exteriores
terça-feira, 20 de julho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário