Um pouco de economia política & política internacional. Três bons artigos, dois sobre os EUA, um sobre o quadro geopolítico atual.
Aqui, Krugman fala sobre alguns mortos-vivos que vagam nos altos círculos norte-americanos. O comentário de Sachs segue a mesma linha geral, porém é menos conceitual, abrindo as cortinas de jogos de interesses, alternativas, opções de suas elites, no enorme teatro que rege a política norte-americana. Por fim, José Luis Fiori elabora sobre o que habilmente compara a um calesdocópio mundial, o jogo político internacional mais amplo, a retomada de um certo balanço ainda incerto, cheio de riscos, processo que reconfigura para caminhos mais vastos e desconhecidos o cenário global e as perspectivas para o século.
chamo a atenção para o post logo abaixo, música para ouvir e apreciar, boa hora...
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Feliz 2011
Guiomar Novaes, música para Dilma Rousseff
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Jacob do Bandolim
Grande Mestre, tenho ouvido muito Jacob do Bandolim nessas últimas semanas.
Assanhado, música excelente, num vídeo muito interessante.
Assanhado, música excelente, num vídeo muito interessante.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Rap do conflito cambial China-EUA
Sensacional.
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domingo, 28 de novembro de 2010
Se entrega, Corisco!
Estava lendo aqui sobre o cerco ao Complexo do Alemão. Tropa de elite III? A invasão da Normandia? Canudos? Carandiru?
Nada disso. Curiosamente, lembrei-me de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Não estou querendo comparar uma situação com a outra, de forma alguma. Essa história do cerco, do se entrega ou não se entrega, foi só isso, lembrei-me da cena final do filme de Glauber, especialmente da música.
Perseguição
(Sergio Ricardo e Glauber Rocha)
Se entrega Corisco
Eu não me entrego não
Eu não sou passarinho
Pra viver lá na prisão
Se entrega Corisco
Eu não me entrego não
Não me entrego ao tenente
Não me entrego ao capitão
Eu me entrego só na morte de parabelo na mão
Se entrega Corisco (se entrega Corisco)
Eu não me entrego não
Eu não me entrego não
Eu não me entrego não
Nada disso. Curiosamente, lembrei-me de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Não estou querendo comparar uma situação com a outra, de forma alguma. Essa história do cerco, do se entrega ou não se entrega, foi só isso, lembrei-me da cena final do filme de Glauber, especialmente da música.
Perseguição
(Sergio Ricardo e Glauber Rocha)
Se entrega Corisco
Eu não me entrego não
Eu não sou passarinho
Pra viver lá na prisão
Se entrega Corisco
Eu não me entrego não
Não me entrego ao tenente
Não me entrego ao capitão
Eu me entrego só na morte de parabelo na mão
Se entrega Corisco (se entrega Corisco)
Eu não me entrego não
Eu não me entrego não
Eu não me entrego não
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Breves não bravas sem bravatas brovidênciais
Não é que não esteja com vontade de escrever. É que meu programinha fura-firewall está meio ruim. É preciso paciência e no frio a minha acaba rapidamente. Pois é. Esfriou pacas em Pequim.
Não falta assunto. China-EUA, EUA-China. Desafios macroeconômicos. Rearranjos políticos. Transição Lula-Dilma. Desafios macroeconômicos. Rearranjos políticos. Pretendo escrever sobre o governo Dilma, mas acho melhor esperar a montagem do ministério. A eleição foi fraca em termos de conteúdo. O governo Dilma só terá uma cara assim mais definida com a montagem do ministério. As linhas gerais prosseguem, mas o cenário externo e interno exigirá grande habilidade. Serão escolhas difíceis, testes vários. A artilharia dos de sempre já está apontada para Dilma. Ela terá que vencer sua mais difícil batalha.
Reforma política. Ajustes macroeconômicos. Comentarei-os, quem sabe, depois. Regulação dos artigos 220, 221 e 222 da Constituição, será que ela vai jogar esse jogo? Lula não jogou. A reincorporação do Banco Central ao aparelho de Estado. Essa parece estar melhor encaminhada. A política externa: não vejo grandes mudanças, provavelmente de estilo, talvez ajustes aqui e ali. É fato, porém, que o cenário externo se deteriora. A macroeconomia e a política externa terão que jogar com as circunstâncias. Então volto ao início do parágrafo. Reforma política só sai no começo do mandato. E a regulação dos artigos 220-222 dependerá de solidez na macroeconomia e na base política. Enfim, num mundo interdependente, numa institucionalidade interdependente, num todo que não se divide em partes, há um mosaico de desafios à frente que deverão ter como pano de fundo o processo de redução das desigualdades sociais, ampliação de oportunidades, alargamento da esfera pública em meio às novas velhas questões do ambientalismo, da segurança, da qualidade educacional, etc...
Tô falando complicado. Faz frio aqui. Comentário final: na China, os desafios da elite dirigente também não são poucos. Iludem-se os que pensam que o regime daqui facilita as coisas. Há desequilíbrios, conflitos, disputas. Nossos amigos chineses estão cada dia mais fortes, mas seus desafios não devem ser subestimados.
O festival de cinema brasileiro em Pequim. Um sucesso. Hoje vi O Homem que Engarrafava Nuvens. "Dirigido por Lírio Ferreira, o premiado diretor de Árido Movie, Cartola e Baile Perfumado, esse documentário musical conta a história de Humberto Teixeira, o Doutor do Baião, o compositor por trás de clássicos como Asa Branca, uma das canções mais populares do Brasil".
Fiquei arrepiado e passado de vontade de ir ao Brasil. E os chineses, poxa, ficam boquiabertos. Os gringos presentes também. O baião, o forró. Luiz Gonzaga. A música, a cultura, a arte brasileira. A melhor maneira que temos para ajudar os chineses nessa difícil transição.
Não falta assunto. China-EUA, EUA-China. Desafios macroeconômicos. Rearranjos políticos. Transição Lula-Dilma. Desafios macroeconômicos. Rearranjos políticos. Pretendo escrever sobre o governo Dilma, mas acho melhor esperar a montagem do ministério. A eleição foi fraca em termos de conteúdo. O governo Dilma só terá uma cara assim mais definida com a montagem do ministério. As linhas gerais prosseguem, mas o cenário externo e interno exigirá grande habilidade. Serão escolhas difíceis, testes vários. A artilharia dos de sempre já está apontada para Dilma. Ela terá que vencer sua mais difícil batalha.
Reforma política. Ajustes macroeconômicos. Comentarei-os, quem sabe, depois. Regulação dos artigos 220, 221 e 222 da Constituição, será que ela vai jogar esse jogo? Lula não jogou. A reincorporação do Banco Central ao aparelho de Estado. Essa parece estar melhor encaminhada. A política externa: não vejo grandes mudanças, provavelmente de estilo, talvez ajustes aqui e ali. É fato, porém, que o cenário externo se deteriora. A macroeconomia e a política externa terão que jogar com as circunstâncias. Então volto ao início do parágrafo. Reforma política só sai no começo do mandato. E a regulação dos artigos 220-222 dependerá de solidez na macroeconomia e na base política. Enfim, num mundo interdependente, numa institucionalidade interdependente, num todo que não se divide em partes, há um mosaico de desafios à frente que deverão ter como pano de fundo o processo de redução das desigualdades sociais, ampliação de oportunidades, alargamento da esfera pública em meio às novas velhas questões do ambientalismo, da segurança, da qualidade educacional, etc...
Tô falando complicado. Faz frio aqui. Comentário final: na China, os desafios da elite dirigente também não são poucos. Iludem-se os que pensam que o regime daqui facilita as coisas. Há desequilíbrios, conflitos, disputas. Nossos amigos chineses estão cada dia mais fortes, mas seus desafios não devem ser subestimados.
O festival de cinema brasileiro em Pequim. Um sucesso. Hoje vi O Homem que Engarrafava Nuvens. "Dirigido por Lírio Ferreira, o premiado diretor de Árido Movie, Cartola e Baile Perfumado, esse documentário musical conta a história de Humberto Teixeira, o Doutor do Baião, o compositor por trás de clássicos como Asa Branca, uma das canções mais populares do Brasil".
Fiquei arrepiado e passado de vontade de ir ao Brasil. E os chineses, poxa, ficam boquiabertos. Os gringos presentes também. O baião, o forró. Luiz Gonzaga. A música, a cultura, a arte brasileira. A melhor maneira que temos para ajudar os chineses nessa difícil transição.
sábado, 20 de novembro de 2010
Dia da Consciência Negra
Belíssima montagem de vídeo de um som também dos melhores.
Em homenagem ao dia da consciência negra.
Meus olhos coloridos me fazem refletir. Em homenagem à primeira grande meta anunciada pelo novo governo: erradicar a miséria nos próximos 4 anos, acelerando o plano original que previa isso para os próximos 6 anos. Vejam que beleza, erradicar a miséria! A mera possibilidade de se discutir isso concretamente é um marco neste nosso Brasil erguido sob o jugo dos processos de colonização, escravidão, massacre dos índios, discriminação das mulheres e distanciamento do povo das grandes decisões nacionais.
Em homenagem ao dia da consciência negra.
Meus olhos coloridos me fazem refletir. Em homenagem à primeira grande meta anunciada pelo novo governo: erradicar a miséria nos próximos 4 anos, acelerando o plano original que previa isso para os próximos 6 anos. Vejam que beleza, erradicar a miséria! A mera possibilidade de se discutir isso concretamente é um marco neste nosso Brasil erguido sob o jugo dos processos de colonização, escravidão, massacre dos índios, discriminação das mulheres e distanciamento do povo das grandes decisões nacionais.
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Cinema Brasileiro em Pequim
Festival de cinema brasileiro em Pequim. Sensacional! Vai lotar, não tenho a menor dúvida.
20/nov (Sábado)
15:00 Conferência: “Panorama do Cinema Brasileiro Contemporâneo” - Anamaria Boschi
15:40 Projeção: “Cinematic Tales of Brazil” (16 Min)
16:00 Documentário: “Além da Luz” (legendas em inglês e chinês) 82 min.
17:30 Conversa com o Diretor Ivy Goulart
19:30 Filme: “Além da Luz” (legendas em espanhol e chinês) 82 min.
21/nov (Domingo)
14:00 Filme: “Canta Maria” (legendas em espanhol e chinês) 95 min.
16:30 Filme: “O Contador de Histórias” (legendas em inglês e chinês) 100 min.
19:00 Filme: “Estômago” (legendas em inglês e chinês) 112 min.
21:00 Conversa com o Roteirista Lusa Silvestre (via videoconferência)
22/nov (Segunda-feira)
14:00 Filme: “O Contador de Histórias” (legendas em espanhol e chinês) 100 min.
16:30 Filme: “Estômago” (legendas em espanhol e chinês) 112 min.
19:00 Documentário: “O Homem que Engarrafava Nuvens” (legendas em inglês e chinês) 106 min.
23/nov (Terça-feira)
14:00 Documentário: “O Homem que Engarrafava Nuvens” (legendas em espanhol e chinês) 106 min.
16:30 Filme: “Canta Maria” (legendas em inglês e chinês) 95 min.
19:00 Filme: “Chega de Saudade” (legendas em inglês e chinês) 92 min.
21:00 Anúncio do melhor filme escolhido pelo público
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
G-20, Dilma, Viagens em Sichuan, poeta Tu Fu, Mongóis, Japas, Li Bo, etc...
A reunião do G-20, como previsto, não deu em muita coisa nova, apenas confirmou o que já se sabia. A despeito de um pequeno avanço no FMI e de questionáveis aperfeiçoamentos no arcabouço da Basiléia, a economia e a política internacional, em sua dimensão multilateral, estão em grande crise. Os capitais prosseguem voando desvinculados da produção. As dívidas soberanas européias são um grande problema. Os sistemas financeiros norte-americano e europeu prosseguem sendo umas porcarias sustentadas pelos Estados. É provável que os problemas se aprofundem.
O Brasil deve se precaver. Jogo pra gente grande. Tenho uma teoria sobre o Governo Dilma. Mas vou aguardar um pouco para escrever. Adianto que talvez seja possível que ela inverta a equação usada por Jânio e em alguma medida por Lula. Ousadia no exterior, certo conservadorismo na política interna. Dilma de repente pode trocar de lado algumas variáveis, mudar nuances. A ver. Especulações.
Sichuan, como já escrevi, é uma província de vastas e férteis planícies cercadas por montanhas, bem no interior da China. Terra de florestas. Terra dos pandas. Irrigadas pelos rios que descem do teto do mundo.
Os mongóis a conquistaram durante o Século XIII. À época, os chineses estavam divididos entre duas dinastais, os Song, mais ao sul, e os Jin, mais ao norte. Os Song se aliaram aos mongóis para derrotar os Jin. Derrotaram-nos. Mas os mongóis gostaram da China. E aí invadiram os territórios dos Song. Ficaram até 1368, pouco mais de 100 anos de domínio. Iniciou-se então a Dinastia Ming.
Já os japoneses não conseguiram invadir essa região durante a II Guerra. Conquistaram a Manchúria, Pequim, Xangai, toda a costa leste. Chegaram perto de Chongqing, mas de lá não passaram. A resistência aos japoneses uniu os comunistas e os nacionalistas. Logo após a II Guerra, derrotados os japoneses, foi retomada a guerra civil chinesa.
Bom, o post tá meio bagunçado. Fotos do Museu de Sichuan e do parque onde viveu o Poeta Tu Fu, mestre da Dinastia Tang (600-900 d.C.), Poeta-Historiador, Poeta-Sábio. A estátua é de nosso amigo Tu Fu que, segundo o pessoal que conhece, é um dos grandes poetas chineses ao lado de Li Bo. Ambos viveram durante a Dinastia Tang (618-907), considerada o auge da poesia chinesa. Até teriam se encontrado duas vezes. Enfim, viajando no post, mas mostrando que devagarzinho vou aprendendo umas coisas sobre a China antiga. Viajar é preciso.
Então, em primeiro lugar, nosso amigo Tu Fu.
pois é, não consigo fazer o upload das fotos... separei 10... vai ficar pra outro dia...
O Brasil deve se precaver. Jogo pra gente grande. Tenho uma teoria sobre o Governo Dilma. Mas vou aguardar um pouco para escrever. Adianto que talvez seja possível que ela inverta a equação usada por Jânio e em alguma medida por Lula. Ousadia no exterior, certo conservadorismo na política interna. Dilma de repente pode trocar de lado algumas variáveis, mudar nuances. A ver. Especulações.
Sichuan, como já escrevi, é uma província de vastas e férteis planícies cercadas por montanhas, bem no interior da China. Terra de florestas. Terra dos pandas. Irrigadas pelos rios que descem do teto do mundo.
Os mongóis a conquistaram durante o Século XIII. À época, os chineses estavam divididos entre duas dinastais, os Song, mais ao sul, e os Jin, mais ao norte. Os Song se aliaram aos mongóis para derrotar os Jin. Derrotaram-nos. Mas os mongóis gostaram da China. E aí invadiram os territórios dos Song. Ficaram até 1368, pouco mais de 100 anos de domínio. Iniciou-se então a Dinastia Ming.
Já os japoneses não conseguiram invadir essa região durante a II Guerra. Conquistaram a Manchúria, Pequim, Xangai, toda a costa leste. Chegaram perto de Chongqing, mas de lá não passaram. A resistência aos japoneses uniu os comunistas e os nacionalistas. Logo após a II Guerra, derrotados os japoneses, foi retomada a guerra civil chinesa.
Bom, o post tá meio bagunçado. Fotos do Museu de Sichuan e do parque onde viveu o Poeta Tu Fu, mestre da Dinastia Tang (600-900 d.C.), Poeta-Historiador, Poeta-Sábio. A estátua é de nosso amigo Tu Fu que, segundo o pessoal que conhece, é um dos grandes poetas chineses ao lado de Li Bo. Ambos viveram durante a Dinastia Tang (618-907), considerada o auge da poesia chinesa. Até teriam se encontrado duas vezes. Enfim, viajando no post, mas mostrando que devagarzinho vou aprendendo umas coisas sobre a China antiga. Viajar é preciso.
Então, em primeiro lugar, nosso amigo Tu Fu.
pois é, não consigo fazer o upload das fotos... separei 10... vai ficar pra outro dia...
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Avanços
Abri a internet agora e vejo que o Mantega propõe ampliar o uso dos SDRs. O Brasil deseja ainda menções mais firmes a controles de capitais. Muito boa. Os porta-vozes de sempre hão de questioná-lo, já se sabe. Mas é um bom sinal para o futuro Governo da Dilma. Quando devem ser aprofundadas políticas bem sucedidas do governo Lula. Entre elas, domar a sanha dos mercados.
Tô devendo muita coisa pra escrever, se é que alguém tem interesse em ler. O fato é que sigo trabalhando muito. E agora o inverno chegou e já estou meio doente. A ver.
Post chapa branca, ficamos com os discursos de despedida das cerimônias de formatura do Rio Branco do Ministro Celso Amorim e do Presidente Lula.
Tô devendo muita coisa pra escrever, se é que alguém tem interesse em ler. O fato é que sigo trabalhando muito. E agora o inverno chegou e já estou meio doente. A ver.
Post chapa branca, ficamos com os discursos de despedida das cerimônias de formatura do Rio Branco do Ministro Celso Amorim e do Presidente Lula.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Antonioni na China
Michelangelo Antonioni esteve na China em 1972, em plena Revolução Cultural, e deixou-nos esse curioso e fascinante documentário. No trecho inicial do vídeo, temos imagens da Praça da Paz Celestial, a entrada da Cidade Proibida, retratos de Lenin e Stalin, nossos amigos chineses, tudo bem interessante.
Abaixo, mais imagens da China em 1972, por coincidência, que encontrei no youtube. Não há narração, não sei quem é ou são os autores. A trilha sonora é ótima. As imagens são muito bonitas e incluem a Grande Muralha, as Tumbas da Dinastia Ming, Províncias do Interior do País, muita coisa legal.
Abaixo, mais imagens da China em 1972, por coincidência, que encontrei no youtube. Não há narração, não sei quem é ou são os autores. A trilha sonora é ótima. As imagens são muito bonitas e incluem a Grande Muralha, as Tumbas da Dinastia Ming, Províncias do Interior do País, muita coisa legal.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Drama argentino
Vejam o vídeo: os argentinos, sempre dramáticos, exagerados, apaixonados.
Lula está correto. Apesar das dificuldades, Kirchner recuperou parte do orgulho argentino. Nossos vizinhos foram massacrados por uma aliança que gostaria, se tivesse tido oportunidade, de ter feito o mesmo com o Brasil. Quando os rentistas se apropriam da agenda e do discurso político, em contexto de liberdade nos movimentos de capitais, câmbio fixo e déficit externo, a tragédia está dada. Foi o que aconteceu na Argentina. Foi desse ponto que Kirchner trabalhou para recuperar parte da auto-estima de seu povo. Justa homenagem.
Lula está correto. Apesar das dificuldades, Kirchner recuperou parte do orgulho argentino. Nossos vizinhos foram massacrados por uma aliança que gostaria, se tivesse tido oportunidade, de ter feito o mesmo com o Brasil. Quando os rentistas se apropriam da agenda e do discurso político, em contexto de liberdade nos movimentos de capitais, câmbio fixo e déficit externo, a tragédia está dada. Foi o que aconteceu na Argentina. Foi desse ponto que Kirchner trabalhou para recuperar parte da auto-estima de seu povo. Justa homenagem.
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Nocaute técnico
No vídeo abaixo, a então Ministra Dilma, com amplo conhecimento, e mantendo a calma, desmonta a pseudo-jornalista Miriam Leitão, uma porta-voz de baixa qualificação dos mercados financeiros. Nocaute técnico, a infeliz foi derrubada várias vezes. Parênteses: Miriam está tão atrasada que até do Serra tomou paulada. A garotinha de recados dos money managers deve se ressentir do tempo em que tinha acesso à alta cúpula econômica do governo, quando acreditava piamente, até o fim, que 1 real valia 1 dólar.
Essa foi outra entrevista na qual Dilma foi mostrando a que veio. Ela sempre se saiu melhor assim, quando é mais espontânea, livre da marquetagem.
Essa foi outra entrevista na qual Dilma foi mostrando a que veio. Ela sempre se saiu melhor assim, quando é mais espontânea, livre da marquetagem.
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
O "lançamento" da candidatura
O distinto Senador Agripino Maia, ao questionar a então Ministra Dilma, numa CPI, sobre o fato de ter afirmado uma vez que mentiu durante a ditadura, ou seja, que sabia e estava acostumada a mentir, levou uma invertida que o trucidou. Abaixo então temos Dilma em um de seus melhores momentos. Creio que mesmo na campanha ela não chegou a ir tão bem quanto nesse depoimento espontâneo. Alguns analistas consideram essa ocasião um lançamento "informal", não planejado, um fato político que alavancou sua candidatura.
Nocaute, como lembram alguns comentaristas.
Nocaute, como lembram alguns comentaristas.
Oráculo
Em 5 de outubro, escrevi que Dilma deveria vencer com 55% contra 45%. Pois bem, com uns 93% dos votos apurados, o placar é esse mesmo. A diferença talvez aumente um pouquinho.
Depois escrevo sobre o resultado.
Depois escrevo sobre o resultado.
domingo, 31 de outubro de 2010
31 de outubro
31 de outubro de 2010 é dia de celebração da democracia brasileira. Na China, a brincadeira começa daqui a pouco. Deixo a Aquarela Brasileira para celebrar mais esse momento histórico.
João Bosco, num clássico do "meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil"
E o Zé Carioca numa peça fantástica. Eu sei, eu sei, Disney tem toda uma polêmica envolvida, wo jidou, tenho algumas várias reservas, mas não contaminemos toda arte com política.
João Bosco, num clássico do "meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil"
E o Zé Carioca numa peça fantástica. Eu sei, eu sei, Disney tem toda uma polêmica envolvida, wo jidou, tenho algumas várias reservas, mas não contaminemos toda arte com política.
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sábado, 30 de outubro de 2010
Os 77 anos de Mané Garrincha / Boitatá
De volta a Dongguan para o 2o turno das eleições. Solzinho bom por aqui. Mas fico no hotel trabalhando. E não vou falar nada do cenário político. Depois, é provável que escreva bastante, a ver. Na China, muita coisa interessante acontecendo. Podia escrever muito. Mas também não estou com vontade de navegar por essas praias.
Então vou falar de Garrincha. E depois coloco um vídeo que me matou de saudade, vídeo muito legal do Cordão do Boitatá, no Carnaval do Rio, bagunça boa da qual já participei. Garrincha, Boitatá, Brasil, muito a ver. Mas pouco a ver com a China.
Bom, sobre Garrincha já escrevi algo logo no começo do blog, o sensacional documentário do mestre Joaquim Pedro de Andrade, Garrincha, a Alegria do Povo. Deixo então essa foto acima de outro de nossos gênios da raça, cercado por 8 mexicanos, vejam só. E um texto de Mario de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade
A necessidade brasileira de esquecer os problemas agudos do país, difíceis de encarar, ou pelo menos de suavizá-los com uma cota de despreocupação e alegria, fez com que o futebol se tornasse a felicidade do povo. Pobres e ricos param de pensar para se encantar com ele. E os grandes jogadores convertem-se numa espécie de irmãos da gente, que detestamos ou amamos na medida em que nos frustram ou nos proporcionam o prazer de um espetáculo de 90 minutos, prolongado indefinidamente nas conversas e mesmo na solidão da lembrança.
Mané Garrincha foi um desses ídolos providenciais com que o acaso veio ao encontro das massas populares e até dos figurões responsáveis periódicos pela sorte do Brasil, ofertando-lhes o jogador que contrariava todos os princípios sacramentais do jogo, e que no entanto alcançava os mais deliciosos resultados. Não seria mesmo uma indicação de que o país, despreparado para o destino glorioso que ambicionamos, também conseguiria vencer suas limitações e deficiências e chegar ao ponto de grandeza que nos daria individualmente o maior orgulho, pela extinção de antigos complexos nacionais? Interrogação que certamente não aflorava ao nível da consciência, mas que podia muito bem instalar-se no subterrâneo do espírito de cada patrício inquieto e insatisfeito consigo mesmo, e mais ainda com o geral da vida.
Garrincha, em sua irresponsabilidade amável, poderia, quem sabe?, fornecer-nos a chave de um segredo de que era possuidor e que ele mesmo não decifrava, inocente que era da origem do poder mágico de seus músculos e pés. Divertido, espontâneo, inconseqüente, com uma inocência que não excluía espertezas instintivas de Macunaíma — nenhum modelo seria mais adequado do que esse, para seduzir um povo que, olhando em redor, não encontrava os sérios heróis, os santos miraculosos de que necessita no dia-a-dia. A identificação da sociedade com ele fazia-se naturalmente. Garrincha não pedia nada a seus admiradores; não lhes exigia sacrifícios ou esforços mentais para admirá-lo e segui-lo, pois de resto não queria que ninguém o seguisse. Carregava nas costas um peso alegre, dispensando-nos de fazer o mesmo. Sua ambição ou projeto de vida (se é que, em matéria de Garrincha, se pode falar em projeto) consistia no papo de botequim, nos prazeres da cama, de que resultasse o prazer de novos filhos, no descompromisso, afinal, com os valores burgueses da vida.
Não sou dos que acusam dirigentes do esporte, clubes, autoridades civis e torcedores em geral, de ingratidão para com Garrincha. Na própria essência do futebol profissional se instalam a ingratidão e a injustiça. O jogador só vale enquanto joga, e se jogar o fino. Não lhe perdoam a hora sem inspiração, a traiçoeira indecisão de um segundo, a influência de problemas pessoais sobre o comportamento na partida. É pago para deslumbrar a arquibancada e a cadeira importante, para nos desanuviar a alma, para nos consolar dos nossos malogros, para encobrir as amarguras da Nação. Ele julga que entrou em campo a fim de defender o seu sustento, mas seu negócio principal será defender milhões de angustiados presentes e ausentes contra seus fantasmas particulares ou coletivos. Garrincha foi um entre muitos desses infelizes, dos quais só se salva um ou outro predestinado, de estrela na testa, como Pelé.
A simpatia nacional envolveu Mané em todos os lances de sua vida, por mais desajustada que fosse, e isso já é alguma coisa que nos livra de ter remorso pelo seu final triste. A criança grande que ele não deixou de ser foi vitimada pelo germe de autodestruição que trazia consigo: faltavam-lhe defesas psicológicas que acudissem ao apelo de amigos e fãs. Garrincha, o encantador, era folha ao vento. Resta a maravilhosa lembrança de suas incríveis habilidades, que farão sempre sorrir a quem as recordar. Basta ver um filme dos jogos que ele disputou: sente-se logo como o corpo humano pode ser instrumento das mais graciosas criações no espaço, rápidas como o relâmpago e duradouras na memória. Quem viu Garrincha atuar não pode levar a sério teorias científicas que prevêem a parábola inevitável de uma bola e asseguram a vitória — que não acontece.
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
Então vou falar de Garrincha. E depois coloco um vídeo que me matou de saudade, vídeo muito legal do Cordão do Boitatá, no Carnaval do Rio, bagunça boa da qual já participei. Garrincha, Boitatá, Brasil, muito a ver. Mas pouco a ver com a China.
Bom, sobre Garrincha já escrevi algo logo no começo do blog, o sensacional documentário do mestre Joaquim Pedro de Andrade, Garrincha, a Alegria do Povo. Deixo então essa foto acima de outro de nossos gênios da raça, cercado por 8 mexicanos, vejam só. E um texto de Mario de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade
A necessidade brasileira de esquecer os problemas agudos do país, difíceis de encarar, ou pelo menos de suavizá-los com uma cota de despreocupação e alegria, fez com que o futebol se tornasse a felicidade do povo. Pobres e ricos param de pensar para se encantar com ele. E os grandes jogadores convertem-se numa espécie de irmãos da gente, que detestamos ou amamos na medida em que nos frustram ou nos proporcionam o prazer de um espetáculo de 90 minutos, prolongado indefinidamente nas conversas e mesmo na solidão da lembrança.
Mané Garrincha foi um desses ídolos providenciais com que o acaso veio ao encontro das massas populares e até dos figurões responsáveis periódicos pela sorte do Brasil, ofertando-lhes o jogador que contrariava todos os princípios sacramentais do jogo, e que no entanto alcançava os mais deliciosos resultados. Não seria mesmo uma indicação de que o país, despreparado para o destino glorioso que ambicionamos, também conseguiria vencer suas limitações e deficiências e chegar ao ponto de grandeza que nos daria individualmente o maior orgulho, pela extinção de antigos complexos nacionais? Interrogação que certamente não aflorava ao nível da consciência, mas que podia muito bem instalar-se no subterrâneo do espírito de cada patrício inquieto e insatisfeito consigo mesmo, e mais ainda com o geral da vida.
Garrincha, em sua irresponsabilidade amável, poderia, quem sabe?, fornecer-nos a chave de um segredo de que era possuidor e que ele mesmo não decifrava, inocente que era da origem do poder mágico de seus músculos e pés. Divertido, espontâneo, inconseqüente, com uma inocência que não excluía espertezas instintivas de Macunaíma — nenhum modelo seria mais adequado do que esse, para seduzir um povo que, olhando em redor, não encontrava os sérios heróis, os santos miraculosos de que necessita no dia-a-dia. A identificação da sociedade com ele fazia-se naturalmente. Garrincha não pedia nada a seus admiradores; não lhes exigia sacrifícios ou esforços mentais para admirá-lo e segui-lo, pois de resto não queria que ninguém o seguisse. Carregava nas costas um peso alegre, dispensando-nos de fazer o mesmo. Sua ambição ou projeto de vida (se é que, em matéria de Garrincha, se pode falar em projeto) consistia no papo de botequim, nos prazeres da cama, de que resultasse o prazer de novos filhos, no descompromisso, afinal, com os valores burgueses da vida.
Não sou dos que acusam dirigentes do esporte, clubes, autoridades civis e torcedores em geral, de ingratidão para com Garrincha. Na própria essência do futebol profissional se instalam a ingratidão e a injustiça. O jogador só vale enquanto joga, e se jogar o fino. Não lhe perdoam a hora sem inspiração, a traiçoeira indecisão de um segundo, a influência de problemas pessoais sobre o comportamento na partida. É pago para deslumbrar a arquibancada e a cadeira importante, para nos desanuviar a alma, para nos consolar dos nossos malogros, para encobrir as amarguras da Nação. Ele julga que entrou em campo a fim de defender o seu sustento, mas seu negócio principal será defender milhões de angustiados presentes e ausentes contra seus fantasmas particulares ou coletivos. Garrincha foi um entre muitos desses infelizes, dos quais só se salva um ou outro predestinado, de estrela na testa, como Pelé.
A simpatia nacional envolveu Mané em todos os lances de sua vida, por mais desajustada que fosse, e isso já é alguma coisa que nos livra de ter remorso pelo seu final triste. A criança grande que ele não deixou de ser foi vitimada pelo germe de autodestruição que trazia consigo: faltavam-lhe defesas psicológicas que acudissem ao apelo de amigos e fãs. Garrincha, o encantador, era folha ao vento. Resta a maravilhosa lembrança de suas incríveis habilidades, que farão sempre sorrir a quem as recordar. Basta ver um filme dos jogos que ele disputou: sente-se logo como o corpo humano pode ser instrumento das mais graciosas criações no espaço, rápidas como o relâmpago e duradouras na memória. Quem viu Garrincha atuar não pode levar a sério teorias científicas que prevêem a parábola inevitável de uma bola e asseguram a vitória — que não acontece.
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
Giant Buddha - Leshan/Sichuan
Bom, consegui colocar mais fotos no post abaixo sobre os pandas e parece que agora a coisa normalizou. Mas estou com preguiça de escrever sobre o Giant Buddha, então deixo esse link aqui. Início da construção: meados de 713, uns quinhentos anos depois do budismo chegar à China. Fotos a seguir... (lamento que não estejam tão boas, sugiro olhar as fotos do link acima;)
Giant Panda Breeding Base
domingo, 24 de outubro de 2010
China-Brasil, razão e paixão
O título é meio pretensioso, mas o post, como o blog, non troppo.
Saudade do Brasil. Mas não queria estar no Brasil nessas semanas. Muitas calúnias, agressões, é uma guerra de torcidas movida a demagogia e hipocrisia. As grandes questões para os próximos não estão sendo discutidas. O debate é superficial, a marquetagem domina. Enfim, o jogo é baixo. Fla-Flu, ou nós ou eles, amor e ódio.
Tenho dito aqui, o Brasil não precisa de confronto, mas sim de diálogo. Há um cenário externo muito complicado e perigoso para os próximos anos, temos que nos prepararmos, infelizmente perdemos a oportunidade de discutir uma série de coisas nessas eleições. Tenho receio de que o clima de batalha perdure mesmo passada a eleição, isso não será nada bom.
Prefiro então, por enquanto, ficar por aqui, auto-exilado em meio aos pandas da Província de Sichuan, passeando pela herança do Reino de Shu, conquistado pela Dinastia Chin, que se desenvolveu aproveitando-se das belas planícies irrigadas pelo Yangtzé, que desce do topo no mundo, no alto do Himalaia, onde deve fazer uma friaca da porra. Descobri também que nessa região resiste uma sociedade matriarcal às margens do lado Lugu, na fronteira com a Província de Yunnan, depois quem sabe eu escrevo sobre isso.
Na China, quanto mais a gente vai mexendo, mais coisa aparece. Tudo muito interessante, o mistério, o fascínio, as descobertas, aventuras. Mas volto e retorno de onde nunca saí, fico com o Brasil tropical, estou com saudade do Brasil, tenho pensado sobre o Brasil e compartilho vídeos selecionados cheios de Brasil. São entrevistas, declarações, feitas por brasileiros e para os brasileiros, parte de nossa história, de onde bebemos o futuro, fontes de inspiração e força, Glauber, Darcy, Freire, Milton Santos, pensadores, sonhadores, é sempre um refresco ouvi-los.
Saudade do Brasil. Mas não queria estar no Brasil nessas semanas. Muitas calúnias, agressões, é uma guerra de torcidas movida a demagogia e hipocrisia. As grandes questões para os próximos não estão sendo discutidas. O debate é superficial, a marquetagem domina. Enfim, o jogo é baixo. Fla-Flu, ou nós ou eles, amor e ódio.
Tenho dito aqui, o Brasil não precisa de confronto, mas sim de diálogo. Há um cenário externo muito complicado e perigoso para os próximos anos, temos que nos prepararmos, infelizmente perdemos a oportunidade de discutir uma série de coisas nessas eleições. Tenho receio de que o clima de batalha perdure mesmo passada a eleição, isso não será nada bom.
Prefiro então, por enquanto, ficar por aqui, auto-exilado em meio aos pandas da Província de Sichuan, passeando pela herança do Reino de Shu, conquistado pela Dinastia Chin, que se desenvolveu aproveitando-se das belas planícies irrigadas pelo Yangtzé, que desce do topo no mundo, no alto do Himalaia, onde deve fazer uma friaca da porra. Descobri também que nessa região resiste uma sociedade matriarcal às margens do lado Lugu, na fronteira com a Província de Yunnan, depois quem sabe eu escrevo sobre isso.
Na China, quanto mais a gente vai mexendo, mais coisa aparece. Tudo muito interessante, o mistério, o fascínio, as descobertas, aventuras. Mas volto e retorno de onde nunca saí, fico com o Brasil tropical, estou com saudade do Brasil, tenho pensado sobre o Brasil e compartilho vídeos selecionados cheios de Brasil. São entrevistas, declarações, feitas por brasileiros e para os brasileiros, parte de nossa história, de onde bebemos o futuro, fontes de inspiração e força, Glauber, Darcy, Freire, Milton Santos, pensadores, sonhadores, é sempre um refresco ouvi-los.
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sábado, 23 de outubro de 2010
Ausência do maestro
Estava lendo agora que o técnico do Santos acha que com seis vitórias, nos oito jogos restantes, o time será campeão brasileiro pela nona vez. Bom, não é fácil ganhar 6 dos oito jogos finais, muitos deles contra times ameaçados pelo rebaixamento. É preciso combinar com os adversários, heheh.
De todo modo, seria um título surpreendente. O Santos já ganhou tudo esse ano, conforme previ em janeiro, hehe, e teve atuações memoráveis. Fez mais gols que o esquadrão de 2004 e até mais do que em alguns anos da Era Pelé. Até por já ter feito tanto, e por estar se preparando para a Libertadores em 2011, pensei que fôssemos ficar num chove não molha de 5o a 10o lugar. Mais importante, perdemos Ganso, nosso maestro, faz uns dois meses numa jogada boba contra a freguesia gremista.
Ganso joga o fino da bola. Estilo clássico, cadenciado. Muito habilidoso, canhotinha genial. É um cara tranquilo, legal. Até no momento de sua contusão, para quem quiser rever, verá que ele se contunde, arrebenta o joelho, com muita serenidade. Pois bem, ele tá fazendo falta. Para todos que gostam do bom futebol, da arte. Para os santistas, principalmente. A seguir uma seleção de lances do maestro. E vamos ver se o Peixe leva mais esse título.
De todo modo, seria um título surpreendente. O Santos já ganhou tudo esse ano, conforme previ em janeiro, hehe, e teve atuações memoráveis. Fez mais gols que o esquadrão de 2004 e até mais do que em alguns anos da Era Pelé. Até por já ter feito tanto, e por estar se preparando para a Libertadores em 2011, pensei que fôssemos ficar num chove não molha de 5o a 10o lugar. Mais importante, perdemos Ganso, nosso maestro, faz uns dois meses numa jogada boba contra a freguesia gremista.
Ganso joga o fino da bola. Estilo clássico, cadenciado. Muito habilidoso, canhotinha genial. É um cara tranquilo, legal. Até no momento de sua contusão, para quem quiser rever, verá que ele se contunde, arrebenta o joelho, com muita serenidade. Pois bem, ele tá fazendo falta. Para todos que gostam do bom futebol, da arte. Para os santistas, principalmente. A seguir uma seleção de lances do maestro. E vamos ver se o Peixe leva mais esse título.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
Metamorfose Ambulante
Pra descontrair, versão reggae de metamorfose ambulante. Som, imagem e banda bem roots, mas taí, metamorfose ambulante é um som que fica bem com reggae.
Mais dois artigos
Prometo parar de falar a respeito. Mas seguem aí mais dois artigos sobre o vazio programático do processo eleitoral brasileiro. Pra não ocupar muito espaço, ficam os links. Walter Maierovitch comenta sobre a ausência de debate sobre a questão prisional. Vitor Soares comenta sobre o jogo pesado e superficial da reta final da campanha. É o Fla-Flu que eu tanto temia.
Eles estão surdos
FERNANDA TORRES
Eles estão surdos
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Candidatos fecham o ouvido para o discurso do adversário até transformá-lo numa massa sonora sem relevância --------------------------------------------------------------------------------
HORÁCIO, o amigo confidente de Hamlet, passa toda a tragédia de Shakespeare servindo de ouvido para as angústias do príncipe. No fim, recebe a incumbência de contar às futuras gerações a história do herói, mas a peça termina antes que possa fazê-lo.
Preencher os longos momentos de silêncio, testemunhando todos os dias as mesmas palavras, é exercício fino de atuação. Horácio conduz a poesia por meio de sua atenção e ajuda a fazer a ponte entre Hamlet e o espectador.
O ator Pedro Cardoso costuma dizer que o mundo é feito de monólogos. Segundo ele, ninguém presta realmente atenção no que o outro está dizendo. O ouvinte, no fundo, só espera a pausa do interlocutor para sair falando o que pensava enquanto o parceiro gastava o verbo.
O virulento debate entre os dois candidatos que restaram é um exemplo típico da teoria do Pedro.
Com apenas dois lutadores na arena, a necessidade de contrapor as diferenças triplicou. É forçoso impedir que o recado do oponente chegue ao eleitor. Cada um enaltece sua versão absoluta da realidade e despreza a do concorrente. Qualquer possibilidade que não seja a própria vitória é apresentada como uma catástrofe de proporções bíblicas.
Como sofro de pessimismo crônico e desconfio das vacas gordas, tendo a concordar com as previsões funestas.
A descrição de José Serra do que será o Brasil nas mãos de Dilma Rousseff, tomado por barganhas políticas de cargos nos setores estratégicos e perseguido pela execução sumária dos opositores, me causa arrepios.
Da mesma maneira, tremo quando Dilma prevê o fim da justa distribuição de renda pelas mãos do PSDB ou recorda o processo de privatização no reinado tucano.
Meu impulso é sair estocando comida, água e papel higiênico para me preparar para o dilúvio eminente.
Eu sei que é ingenuidade achar que uma corrida eleitoral acontece na gentileza, mas estou com dificuldade de discernir o real do imaginário, a justiça da calúnia, e me preocupa a falta de perspectiva de diálogo futuro entre os dois oponentes.
Nas edições compactas do debate da Band na internet, o vírus da incomunicabilidade se mostra mais agressivo.
A montagem que favorece Dilma é extraordinária. Editaram apenas o início das respostas de Serra ao final de cada uma das assertivas intervenções da petista. Dilma desanca a suposta intenção de privatização da Petrobras por parte do opositor e Serra responde lacônico: "Sempre voltam a essa questão."
Ponto. E Dilma cai novamente de sola em cima do passivo adversário.
O corte é tão cirúrgico que consegue fazer com que Serra concorde com todas as acusações de Dilma.
O vídeo exemplifica a maneira como os candidatos preparam a escuta na corrida eleitoral. Ao contrário do que se exige do ator que encarna Horácio, o candidato deve fechar o ouvido para o discurso do adversário até transformá-lo, também para o eleitor, em uma massa sonora sem relevância.
Como dizia o rei Roberto: eles estão surdos!
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FERNANDA TORRES é atriz
Eles estão surdos
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Candidatos fecham o ouvido para o discurso do adversário até transformá-lo numa massa sonora sem relevância --------------------------------------------------------------------------------
HORÁCIO, o amigo confidente de Hamlet, passa toda a tragédia de Shakespeare servindo de ouvido para as angústias do príncipe. No fim, recebe a incumbência de contar às futuras gerações a história do herói, mas a peça termina antes que possa fazê-lo.
Preencher os longos momentos de silêncio, testemunhando todos os dias as mesmas palavras, é exercício fino de atuação. Horácio conduz a poesia por meio de sua atenção e ajuda a fazer a ponte entre Hamlet e o espectador.
O ator Pedro Cardoso costuma dizer que o mundo é feito de monólogos. Segundo ele, ninguém presta realmente atenção no que o outro está dizendo. O ouvinte, no fundo, só espera a pausa do interlocutor para sair falando o que pensava enquanto o parceiro gastava o verbo.
O virulento debate entre os dois candidatos que restaram é um exemplo típico da teoria do Pedro.
Com apenas dois lutadores na arena, a necessidade de contrapor as diferenças triplicou. É forçoso impedir que o recado do oponente chegue ao eleitor. Cada um enaltece sua versão absoluta da realidade e despreza a do concorrente. Qualquer possibilidade que não seja a própria vitória é apresentada como uma catástrofe de proporções bíblicas.
Como sofro de pessimismo crônico e desconfio das vacas gordas, tendo a concordar com as previsões funestas.
A descrição de José Serra do que será o Brasil nas mãos de Dilma Rousseff, tomado por barganhas políticas de cargos nos setores estratégicos e perseguido pela execução sumária dos opositores, me causa arrepios.
Da mesma maneira, tremo quando Dilma prevê o fim da justa distribuição de renda pelas mãos do PSDB ou recorda o processo de privatização no reinado tucano.
Meu impulso é sair estocando comida, água e papel higiênico para me preparar para o dilúvio eminente.
Eu sei que é ingenuidade achar que uma corrida eleitoral acontece na gentileza, mas estou com dificuldade de discernir o real do imaginário, a justiça da calúnia, e me preocupa a falta de perspectiva de diálogo futuro entre os dois oponentes.
Nas edições compactas do debate da Band na internet, o vírus da incomunicabilidade se mostra mais agressivo.
A montagem que favorece Dilma é extraordinária. Editaram apenas o início das respostas de Serra ao final de cada uma das assertivas intervenções da petista. Dilma desanca a suposta intenção de privatização da Petrobras por parte do opositor e Serra responde lacônico: "Sempre voltam a essa questão."
Ponto. E Dilma cai novamente de sola em cima do passivo adversário.
O corte é tão cirúrgico que consegue fazer com que Serra concorde com todas as acusações de Dilma.
O vídeo exemplifica a maneira como os candidatos preparam a escuta na corrida eleitoral. Ao contrário do que se exige do ator que encarna Horácio, o candidato deve fechar o ouvido para o discurso do adversário até transformá-lo, também para o eleitor, em uma massa sonora sem relevância.
Como dizia o rei Roberto: eles estão surdos!
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FERNANDA TORRES é atriz
Chengdu, Província de Sichuan
Chengdu, de onde blog transmitirá na próxima semana, é a capital da Província de Sichuan, que fica numa bacia subtropical no centro-sul da China, porta de entrada para as vastas e relativamente poucos populosas regiôes do oeste. "Terra da abundância", banhada por rios que descem das cordilheiras que cercam a província, suas férteis planícies possibilitaram o surgimento de antigas civilizações chinesas muito avançadas para os padrões daqueles tempos.
É região com florestas, terra dos pandas, de macacos dourados, comida apimentada, belas chinesas. Há universidades de ponta, particularmente nos setores de alta tecnologia e engenharia. Diversas empresas multinacionais lá se encontram. Altos investimentos em infra-estrutura, logística, urbanização e indústria pesada comandam o crescimento local. Por não ter saídas para o mar, Sichuan, ao contrário das provínciais costeiras, não se desenvolve com base em exportações. Ao contrário, é considerada um laboratório das reais possibilidades de uma China mais voltada ao mercado interno.
Com 91 milhões de habitantes, PIB de quase US$ 200 bilhões, renda per capita similar à do Egito, Sichuan ainda tem um longo caminho. A urbanização é menos de 40%, embora cresça em ritmo acelerado. Há três linhas de trens de alta velocidade, uma quarta está sendo construída. O aeroporto é muito moderno. A província teve que ser em parte reconstruída após o terremoto de 2008, que matou dezenas de milhares de pessoas. Enfim, mais uma grande viagem ao interior desse misterioso e fascinante universo chinês.
É região com florestas, terra dos pandas, de macacos dourados, comida apimentada, belas chinesas. Há universidades de ponta, particularmente nos setores de alta tecnologia e engenharia. Diversas empresas multinacionais lá se encontram. Altos investimentos em infra-estrutura, logística, urbanização e indústria pesada comandam o crescimento local. Por não ter saídas para o mar, Sichuan, ao contrário das provínciais costeiras, não se desenvolve com base em exportações. Ao contrário, é considerada um laboratório das reais possibilidades de uma China mais voltada ao mercado interno.
Com 91 milhões de habitantes, PIB de quase US$ 200 bilhões, renda per capita similar à do Egito, Sichuan ainda tem um longo caminho. A urbanização é menos de 40%, embora cresça em ritmo acelerado. Há três linhas de trens de alta velocidade, uma quarta está sendo construída. O aeroporto é muito moderno. A província teve que ser em parte reconstruída após o terremoto de 2008, que matou dezenas de milhares de pessoas. Enfim, mais uma grande viagem ao interior desse misterioso e fascinante universo chinês.
Entrevista com Wen Jiabao
Entrevista raríssima: o Primeiro-Ministro Wen Jiabao conversou recentemente com o jornalista Fareed Zakaria da CNN. A última vez que havia concedido uma entrevista a um jornalista ocidental foi para o mesmo Zakaria em 2008. Não entrarei em detalhes, mas há diversos movimentos bastante interessantes ocorrendo no opaco sistema político chinês. Tudo que temos são pistas, sinais esparsos, mas parece estar ocorrendo intenso debate da elite local com vistas aos rumos do país e à sucessão prevista para 2012.
Para quem se interessar, sugiro ver os outros 4 vídeos da entrevista.
Para quem se interessar, sugiro ver os outros 4 vídeos da entrevista.
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sábado, 16 de outubro de 2010
Gonzaga, Carrilho, Clara, Bosco, Azevedo
Um blog nacional, democrático e popular.
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O Idiota
Estive ausente por excesso de trabalho e problemas no programinha que uso para acessar o youtube e blogs em geral. Tenho acompanhado bastante o processo eleitoral no Brasil. Tenho visto os programas eleitorais, vi o debate de domingo na Band, gostei bastante, os dois foram bem, o segundo turno os obriga a se mexer. Espero que se mostrem ainda mais, que sejam questionados, que se abram.
Lógico que há temas, como já comentei aqui, que não deveriam fazer parte do debate eleitoral. Há demagogia, inverdades, algumas calúnias, acusações pessoais, familiares, dos dois lados a coisa deu uma degringolada chata. Questões como as contas externas, o meio ambiente, o pré-sal, a reforma política, itens como o trem-bala, os investimentos para a Copa e as Olimpíadas, tudo isso é pouco discutido, e muito muito no geral, quando não estão ausentes do debate. O clima esquentou muito, perde a esfera pública, ganham as claques.
Eu não votei no primeiro turno. Não votarei no segundo turno. Explico: trabalhei numa seção eleitoral no sul da China, no segundo turno voltarei a trabalhar lá. Na verdade, fui e serei o representante da justiça eleitoral na seção, que beleza. Mas meu título eleitoral é de Pequim. Então não posso votar. Lamento, pois queria.
Por razões familiares, e por comodismo, não deveria escrever o que vem a seguir. Até por oportunismo, pois pode ser que haja uma virada. Mas vejo que o momento é delicado e há uma polarização. Aqueles que se interessam por política estão sendo chamados a se manifestar. Aqueles que, como eu, já votaram dos dois lados, e em outras circunstâncias em Ciro Gomes, Cristovam Buarque, e nessa provavelmente em Marina, estão tendo que pular para um dos lados. Apesar dos pesares, do baixo nível que a campanha atual apresenta por vezes, muitas vezes. E apesar de ambos candidatos, na minha opinião, terem história e competência para conduzir o Brasil.
Explico: não sou daqueles que vê o fim do mundo em nenhum dos casos. Independente de quem ganhar, temos que investir no diálogo, não no confronto. Torcer. Acreditar. Trata-se do processo democrático, mais do que a vitória de A ou de B.
Bom, vamos lá. Se pudesse votar, de maneira alguma seria branco ou nulo, não iria me eximir. Meu voto iria para a candidata que representa, sem sombra de dúvida, a continuidade de um projeto nacional, democrático e popular. Como bem poderia imaginar quem acompanha esse blog. Que de chapa branca não tem muita coisa, apesar de seguidos elogios à política externa brasileira. Basta ver meus comentários sobre os gênios do Banco Central. Ou sobre questões ligadas à Copa e às Olimpíadas. Assuntos sérios, fundamentais.
Enfim, meus pouquíssimos leitores hão de reconhecer que sou um idiota, eu sei. Não devia ter escrito isso, e muitas outras coisas, eu sei. Talvez alguns parentes vão querer me enforcar. Amigos vão comentar. Hewentalittlefunnyinthehead. Sei, sei bem, que o clima é de guerra, particularmente em SP. Mas fiquem tranquilos. Quase ninguém lê esse blog. Eu tenho os números. É coisa de 3 por dia, às vezes 5, e creio que muitas vezes os mesmos. Mas foi crescendo um sentimento e não dá pra esconder. É preciso descer do muro.
Meu voto seria para Dilma Rousseff, por certamente representar a continuidade de um projeto maior de nação. É claro que me preocupo com sua falta de experiência administrativa, com sua possível inabilidade, com denúncias de corrupção que não são devidamente conduzidas, com a maneira como o Congresso é e será levado, com seu temperamento forte, e as pressões que sofrerá, num Brasil que precisa de diálogo. Mas votaria nela, não tenho dúvidas disso.
Sou um idiota, eu sei. No curto prazo, em termos profissionais, que no meu caso são quase termos pessoais, o melhor seria a vitória do Serra.
Enfim, na China também há um idiota que ousou falar o que pensa. Ganhou o Nobel, mas tem apenas uma hora de sol por dia e está afastado de sua mulher. Estarei bem, para onde quer que a onda vá. Assim espero com o Brasil.
Falei outra coisa que não devia falar... fim.
Lógico que há temas, como já comentei aqui, que não deveriam fazer parte do debate eleitoral. Há demagogia, inverdades, algumas calúnias, acusações pessoais, familiares, dos dois lados a coisa deu uma degringolada chata. Questões como as contas externas, o meio ambiente, o pré-sal, a reforma política, itens como o trem-bala, os investimentos para a Copa e as Olimpíadas, tudo isso é pouco discutido, e muito muito no geral, quando não estão ausentes do debate. O clima esquentou muito, perde a esfera pública, ganham as claques.
Eu não votei no primeiro turno. Não votarei no segundo turno. Explico: trabalhei numa seção eleitoral no sul da China, no segundo turno voltarei a trabalhar lá. Na verdade, fui e serei o representante da justiça eleitoral na seção, que beleza. Mas meu título eleitoral é de Pequim. Então não posso votar. Lamento, pois queria.
Por razões familiares, e por comodismo, não deveria escrever o que vem a seguir. Até por oportunismo, pois pode ser que haja uma virada. Mas vejo que o momento é delicado e há uma polarização. Aqueles que se interessam por política estão sendo chamados a se manifestar. Aqueles que, como eu, já votaram dos dois lados, e em outras circunstâncias em Ciro Gomes, Cristovam Buarque, e nessa provavelmente em Marina, estão tendo que pular para um dos lados. Apesar dos pesares, do baixo nível que a campanha atual apresenta por vezes, muitas vezes. E apesar de ambos candidatos, na minha opinião, terem história e competência para conduzir o Brasil.
Explico: não sou daqueles que vê o fim do mundo em nenhum dos casos. Independente de quem ganhar, temos que investir no diálogo, não no confronto. Torcer. Acreditar. Trata-se do processo democrático, mais do que a vitória de A ou de B.
Bom, vamos lá. Se pudesse votar, de maneira alguma seria branco ou nulo, não iria me eximir. Meu voto iria para a candidata que representa, sem sombra de dúvida, a continuidade de um projeto nacional, democrático e popular. Como bem poderia imaginar quem acompanha esse blog. Que de chapa branca não tem muita coisa, apesar de seguidos elogios à política externa brasileira. Basta ver meus comentários sobre os gênios do Banco Central. Ou sobre questões ligadas à Copa e às Olimpíadas. Assuntos sérios, fundamentais.
Enfim, meus pouquíssimos leitores hão de reconhecer que sou um idiota, eu sei. Não devia ter escrito isso, e muitas outras coisas, eu sei. Talvez alguns parentes vão querer me enforcar. Amigos vão comentar. Hewentalittlefunnyinthehead. Sei, sei bem, que o clima é de guerra, particularmente em SP. Mas fiquem tranquilos. Quase ninguém lê esse blog. Eu tenho os números. É coisa de 3 por dia, às vezes 5, e creio que muitas vezes os mesmos. Mas foi crescendo um sentimento e não dá pra esconder. É preciso descer do muro.
Meu voto seria para Dilma Rousseff, por certamente representar a continuidade de um projeto maior de nação. É claro que me preocupo com sua falta de experiência administrativa, com sua possível inabilidade, com denúncias de corrupção que não são devidamente conduzidas, com a maneira como o Congresso é e será levado, com seu temperamento forte, e as pressões que sofrerá, num Brasil que precisa de diálogo. Mas votaria nela, não tenho dúvidas disso.
Sou um idiota, eu sei. No curto prazo, em termos profissionais, que no meu caso são quase termos pessoais, o melhor seria a vitória do Serra.
Enfim, na China também há um idiota que ousou falar o que pensa. Ganhou o Nobel, mas tem apenas uma hora de sol por dia e está afastado de sua mulher. Estarei bem, para onde quer que a onda vá. Assim espero com o Brasil.
Falei outra coisa que não devia falar... fim.
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domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
Santa ingenuidade
No post abaixo, manifestei a esperança de que no segundo turno pudessem ser discutidos temas mais substantivos, propostas, projetos, rumos mais estruturais do país. Mencionei as contas externas, cheguei a citar a PNAD, tive devaneios com pacto federativo e estrutura tributária, delirei com a reforma política.
Santa ingenuidade. Pelo que vi até agora, teremos um apelo barato a emoções, à mistura de política com religião, boatos, o denuncismo, comparações enviesadas entre governos ignorando um sentido de continuidade na democracia da Nova República, enfim, é guerra, é o duelo de versões, a superficialidade, uma espécie de vale-tudo maquiado pela marquetagem.
O blog provavelmente retornará, portanto, a seu habitual silêncio sobre as idas e vindas da batalha e confortavelmente, confesso, procurará discutir um pouco mais da desordem econômica e política internacional, mostrar um pouco da China que me fascina, e às vezes assusta, além de pitadas de respiros musicais, cinematográficos e etcéteras.
Para uns, o muro é tucanagem e tudo mais que se associa ao termo. Para outros, o muro é condescender com ameaças à democracia e à familia brasileira, ai ai ai...
A meus poucos e valorosos leitores, uma poesia para refrescar a alma.
Rudyard Kipling
If
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!
Tradução de Guilherme de Almeida
Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!
Santa ingenuidade. Pelo que vi até agora, teremos um apelo barato a emoções, à mistura de política com religião, boatos, o denuncismo, comparações enviesadas entre governos ignorando um sentido de continuidade na democracia da Nova República, enfim, é guerra, é o duelo de versões, a superficialidade, uma espécie de vale-tudo maquiado pela marquetagem.
O blog provavelmente retornará, portanto, a seu habitual silêncio sobre as idas e vindas da batalha e confortavelmente, confesso, procurará discutir um pouco mais da desordem econômica e política internacional, mostrar um pouco da China que me fascina, e às vezes assusta, além de pitadas de respiros musicais, cinematográficos e etcéteras.
Para uns, o muro é tucanagem e tudo mais que se associa ao termo. Para outros, o muro é condescender com ameaças à democracia e à familia brasileira, ai ai ai...
A meus poucos e valorosos leitores, uma poesia para refrescar a alma.
Rudyard Kipling
If
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!
Tradução de Guilherme de Almeida
Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Clima chinês
Nesses últimos dias, e em particular hoje, o clima está muito agradável em Pequim, uma brisa gostosa vem de longe e areja corpos, mentes e almas. A previsão para amanhã é de muito sol e poucas nuvens, 25 graus sem possibilidade de chuva. Bom para passear, ótimo para renovar as energias. É provável, no entanto, que as coisas piorem mais pra frente. Receio que um longo inverno se aproxime.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Economist: a little funny in the head
He went a little funny in the head. O título do blog veio de uma cena do Dr. Strangelove, ou Dr. Fantástico, clássico de Kubrick dos anos 60. Já a postei duas vezes, aqui e aqui. Recuso-me a comentar a respeito da obra, uma de minhas preferidas. Se não viu, apenas recomendo que vá correndo.
Estava eu hoje num aprazível vôo Shenzhen-Beijing (3 horas), cercado de nossos amigos chineses, o único ocidental no trajeto, lendo a digníssima The Economist. Essa última, da capa com reportagem sobre as razões pelas quais acreditam que o crescimento da Índia superará em breve o da China. A propósito, reportagem interessante, mas limitada em sua análise e, por vários motivos, creio que meio empolgadinha demais. Há também matérias sobre o legado de Lula, uma muito boa sobre a relação da China com "valores universais" y otras cositas más, como uma análise de algumas contradições da Guerra da Criméia, no século XIX. É fácil discordar dos editorialistas da Economist, difícil é abandonar sua leitura. Coisa fina.
Bom, enfim, vamos lá. Uma matéria que chamou minha atenção (não sei se o link está aberto para não assinantes). "Gunning for Trident: The coalition government is divided over whether and to what extent Britain should remain a nuclear power"
Pois é. Os ingleses estão quebrados. Cortam custos. Despesas. Realocam. Ajustam. Choques de gestão. Apequenam-se. Coisas da vida. Nessas idas e vindas, que chato, os gastos com "defesa" são sempre um alvo. Sacaram a ironia? Pois é. O tal do Trident é um míssil nuclear, desenhado pelos norte-americanos, feito para submarinos. Parece que o equipamento atualmente em uso terá que ser substituído em 2020. Custo: US$ 32 bilhões. Daí vêm os questionamentos: vale a pena? o país precisa dessa capacidade nuclear? para que mesmo? e a qual custo?
O artigo discute daqui, argumenta dali, contextualiza brevemente as posições políticas internas e então passa a discutir maneiras de manter a mesma capacidade de dissuadir os eventuais inimigos a um custo menor. Dissuadir = preservar o poder da coroa britânica, seu prestígio, sua força política, com base na ameaça de aniquilação instantânea do inimigo da vez. São citados a Rússia, a China e divaga-se sobre outros países em busca de armamento nuclear que seriam hostis ao Ocidente.
E foi aí que me lembrei do Dr. Strangelove. Inevitável. A racionalidade, a técnica, a geopolítica, o cálculo financeiro, as variáveis políticas internas, tudo sob um contexto maior, não questionado, do equilíbrio do terror, da ameça de morte, da chantagem nuclear. Sei que o Economist não é exatamente um veículo para mudar o mundo. Idealismo não é a praia deles. Mas a naturalidade com que discutiram o assunto, e de forma breve e quase passageira, quase um comentário rápido, tomou conta de meus pensamentos e resolvi compartilhar mais um pouco desse sentimento de espanto, e certo receio, que vai tomando conta de mim conforme as disputas na política e na economia internacional vão se aprofundando e tornando-se mais complexas, intrincadas, sem solução aparente. Sabemos como, historicamente, essas disputas se resolvem. Na porrada. Quando os poetas se calam, cessa a música e jorra o sangue dos inocentes.
Seguem abaixo duas outras cenas do Dr. Strangelove. The Doomsday Machine; Mein Fuhrer, I can walk! Para pensar...
PS: Leitores mais atentos poderão recordar posts, como o 2o citado lá em cima, que é seguido por um debate Samuel x Ricupero sobre o TNP, nos quais defendo que o Brasil não assine o protocolo adicional do TNP. Contradição minha? Incoerência do blog? Pode ser. Em política, certezas demais são perigosas. É preciso dar chance ao diálogo. E mudar de opinião, se for o caso. Sei lá.
Mundo, mundo, vasto mundo. Mais vasto é meu coração.
Estava eu hoje num aprazível vôo Shenzhen-Beijing (3 horas), cercado de nossos amigos chineses, o único ocidental no trajeto, lendo a digníssima The Economist. Essa última, da capa com reportagem sobre as razões pelas quais acreditam que o crescimento da Índia superará em breve o da China. A propósito, reportagem interessante, mas limitada em sua análise e, por vários motivos, creio que meio empolgadinha demais. Há também matérias sobre o legado de Lula, uma muito boa sobre a relação da China com "valores universais" y otras cositas más, como uma análise de algumas contradições da Guerra da Criméia, no século XIX. É fácil discordar dos editorialistas da Economist, difícil é abandonar sua leitura. Coisa fina.
Bom, enfim, vamos lá. Uma matéria que chamou minha atenção (não sei se o link está aberto para não assinantes). "Gunning for Trident: The coalition government is divided over whether and to what extent Britain should remain a nuclear power"
Pois é. Os ingleses estão quebrados. Cortam custos. Despesas. Realocam. Ajustam. Choques de gestão. Apequenam-se. Coisas da vida. Nessas idas e vindas, que chato, os gastos com "defesa" são sempre um alvo. Sacaram a ironia? Pois é. O tal do Trident é um míssil nuclear, desenhado pelos norte-americanos, feito para submarinos. Parece que o equipamento atualmente em uso terá que ser substituído em 2020. Custo: US$ 32 bilhões. Daí vêm os questionamentos: vale a pena? o país precisa dessa capacidade nuclear? para que mesmo? e a qual custo?
O artigo discute daqui, argumenta dali, contextualiza brevemente as posições políticas internas e então passa a discutir maneiras de manter a mesma capacidade de dissuadir os eventuais inimigos a um custo menor. Dissuadir = preservar o poder da coroa britânica, seu prestígio, sua força política, com base na ameaça de aniquilação instantânea do inimigo da vez. São citados a Rússia, a China e divaga-se sobre outros países em busca de armamento nuclear que seriam hostis ao Ocidente.
E foi aí que me lembrei do Dr. Strangelove. Inevitável. A racionalidade, a técnica, a geopolítica, o cálculo financeiro, as variáveis políticas internas, tudo sob um contexto maior, não questionado, do equilíbrio do terror, da ameça de morte, da chantagem nuclear. Sei que o Economist não é exatamente um veículo para mudar o mundo. Idealismo não é a praia deles. Mas a naturalidade com que discutiram o assunto, e de forma breve e quase passageira, quase um comentário rápido, tomou conta de meus pensamentos e resolvi compartilhar mais um pouco desse sentimento de espanto, e certo receio, que vai tomando conta de mim conforme as disputas na política e na economia internacional vão se aprofundando e tornando-se mais complexas, intrincadas, sem solução aparente. Sabemos como, historicamente, essas disputas se resolvem. Na porrada. Quando os poetas se calam, cessa a música e jorra o sangue dos inocentes.
Seguem abaixo duas outras cenas do Dr. Strangelove. The Doomsday Machine; Mein Fuhrer, I can walk! Para pensar...
PS: Leitores mais atentos poderão recordar posts, como o 2o citado lá em cima, que é seguido por um debate Samuel x Ricupero sobre o TNP, nos quais defendo que o Brasil não assine o protocolo adicional do TNP. Contradição minha? Incoerência do blog? Pode ser. Em política, certezas demais são perigosas. É preciso dar chance ao diálogo. E mudar de opinião, se for o caso. Sei lá.
Mundo, mundo, vasto mundo. Mais vasto é meu coração.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Um trem para as estrelas
O blog tá muito pesado, posts em sequência sobre política interna, política externa, economia & finanças, guerra e paz, entre partidos, entre países. Chove em Hong Kong e estou trancado no hotel dando um tempo para quem sabe passear mais tarde.
Num trem para as estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas. Cazuza & Gil, cenas do filme, que recomendo.
São 7 horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Num trem para as estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas. Cazuza & Gil, cenas do filme, que recomendo.
São 7 horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Dois Pesos...
Maria Rita Kehl, no Estadão (parece que foi demitida por causa do artigo)
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
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Comparações perigosas
Outro dia li num artigo interessante, que não me lembro, que o leste asiático atual lembra, de alguma forma, a Europa antes da I Guerra Mundial. Já havia escrito sobre isso e fiquei satisfeito em ver a comparação feita por alguém mais renomado (mas não me lembro quem).
Nos últimos dias, a respeito da bagunça atual no sistema monetário internacional, têm crescido as comparações com o período entre-guerras da década de 1930. Também já havia escrito sobre isso, embora pense que a comparação é válida a título de ilustração, pois hoje as coisas estão bem diferentes.
Isso vale para o leste asiático e para o sistema monetário. No 1o caso, creio que a situação política ainda não é tão delicada, embora o armamento hoje seja infinitamente mais destrutivo. O fato positivo é que os nacionalismos não são tão radicais quanto no passado, há uma integração cultural mais forte, pontes, contatos diversos. No 2o caso, talvez o contexto nos dias que correm seja pior, embora também haja algum chão antes da coisa degringolar de vez. E, vale ressaltar, o "armamento" financeiro hoje é também muito mais destrutivo: enorme liquidez, fluxos de capitais descontrolados sem vínculo com o sistema produtivo, sistemas informatizados, alta alavancagem generalizada, competição entre polos monetários regionais com modelos político-sociais e estruturas produtivas mais fragmentadas.
O texto está uma confusão ambiciosa, eu sei, tentarei elaborar mais pra frente. Porém, fica o enésimo alerta: o cenário internacional se deteriora, não há dúvida disso. Vivemos em um mundo que apresenta contornos bastante perigosos.
Nos últimos dias, a respeito da bagunça atual no sistema monetário internacional, têm crescido as comparações com o período entre-guerras da década de 1930. Também já havia escrito sobre isso, embora pense que a comparação é válida a título de ilustração, pois hoje as coisas estão bem diferentes.
Isso vale para o leste asiático e para o sistema monetário. No 1o caso, creio que a situação política ainda não é tão delicada, embora o armamento hoje seja infinitamente mais destrutivo. O fato positivo é que os nacionalismos não são tão radicais quanto no passado, há uma integração cultural mais forte, pontes, contatos diversos. No 2o caso, talvez o contexto nos dias que correm seja pior, embora também haja algum chão antes da coisa degringolar de vez. E, vale ressaltar, o "armamento" financeiro hoje é também muito mais destrutivo: enorme liquidez, fluxos de capitais descontrolados sem vínculo com o sistema produtivo, sistemas informatizados, alta alavancagem generalizada, competição entre polos monetários regionais com modelos político-sociais e estruturas produtivas mais fragmentadas.
O texto está uma confusão ambiciosa, eu sei, tentarei elaborar mais pra frente. Porém, fica o enésimo alerta: o cenário internacional se deteriora, não há dúvida disso. Vivemos em um mundo que apresenta contornos bastante perigosos.
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
Palpite
Pedem-me um palpite, então vamos lá. Dilma segue favoritíssima e deve levar com alguma folga, do tipo 55% a 45%. A democracia não estará ameaçada, o país seguirá avançando e a oposição terá quatro anos para se renovar e apresentar um novo discurso que atualize seu programa para 2014.
E aproveitando que supostamente estou no encontro do Ocidente com o Oriente, arrisco alguma filosofia política barata.
Há riscos para Dilma, que nunca foi testada nas urnas: na política, como na vida, há muito mais de paixão do que de razão. E a paixão, como sabemos, tem idas e vindas, é surpreendente, afortunada ou traiçoeira. A distância entre o amor e o ódio pode se mostrar pequena, a depender das circunstâncias.
E no caso de argumentos mais racionais, os quais não vou enumerar aqui, há diversas variáveis novas nesse jogo do segundo turno. Portanto, é possível arriscar, mas não asseguro nada. Garanto apenas que a democracia brasileira sairá mais forte independente de quem vencer as eleições. Não se brinca com a soberania popular. Os perdedores que se reciclem para 2014.
E aproveitando que supostamente estou no encontro do Ocidente com o Oriente, arrisco alguma filosofia política barata.
Há riscos para Dilma, que nunca foi testada nas urnas: na política, como na vida, há muito mais de paixão do que de razão. E a paixão, como sabemos, tem idas e vindas, é surpreendente, afortunada ou traiçoeira. A distância entre o amor e o ódio pode se mostrar pequena, a depender das circunstâncias.
E no caso de argumentos mais racionais, os quais não vou enumerar aqui, há diversas variáveis novas nesse jogo do segundo turno. Portanto, é possível arriscar, mas não asseguro nada. Garanto apenas que a democracia brasileira sairá mais forte independente de quem vencer as eleições. Não se brinca com a soberania popular. Os perdedores que se reciclem para 2014.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Segundo turno
Segundo turno nas eleições presidenciais. Marina Silva, adorada Marina de tempos atrás, está aí com quase 20 milhões de votos e deu esse presente para a democracia brasileira, a oportunidade de aprofundarmos a discussão, forçar os candidatos a debaterem com mais responsabilidade o Brasil que desejamos e o que farão para alcançá-lo. Aqui, aqui, aqui, ali, acolá, acá, seis posts em meados de agosto de 2009 sobre a importância da candidatura de nossa Rainha Marina, como a chamei no último desses seis posts. O blog antecipa tendências, heheh, é um oráculo da política nacional ho ho ho.
Da parte do Serra, espero que deixe de lado o vitimismo sigiloso, as conversas sobre Farc, exageros sobre o Irã, que ignore a política do medo defendida por parte de seus aliados, com direito a vídeos apócrifos, boatos, temas como aborto, a suposta ameaça à democracia, às liberdades e aos direitos individuais. Essas supostas ameaças não existem e dificultam a discussão dos rumos do país, desviam do assunto. O Governo Lula foi bem sucedido, Dilma é uma mulher com uma grande história, por favor gostaria que Serra se limitasse a debater com ela os rumos do país em 2011-2014. E também como espera governar sem ter maioria no Congresso (já sabemos, o PMDB vira a casaca rapidinho, mas a qual preço?).
Da parte de Dilma, espero que não fique olhando para o passado, mas sim para o futuro. Nem tudo começou em 2003, nem tudo voltará a 1995 caso Serra seja eleito. O mundo mudou, o país mudou, é tempo de olhar para frente. Penso que ela deveria aprofundar-se nos desafios do Brasil de 2010 sem, é claro, deixar de destacar avanços trazidos pelo Governo Lula, mas apontando quais rumos manterá e o que alterará. Pois é fato que o Brasil de Dilma não será o Brasil de Lula. E o mundo de Dilma não será o mundo de Lula. Venho alertando: o cenário internacional se deteriora a olhos vistos. Dilma não tem experiência na chefia do executivo e terá que lidar com muitas cascas de banana e armadilhas, da oposição, mas também de seus próprios aliados (aliados? ou sanguesugas?).
Da parte de Marina, espero que não fique em cima do muro. Barganhe e dê apoio ao candidato que assumir o compromisso mais firme com sua agenda ambiental.
Segue lista não exaustiva, e sem ordem de prioridade, de temas/questões para os dois:
--> Os dados da PNAD 2009, uma enorme fotografia sobre o Brasil que oferece diversas pistas de coisas que devem ser melhoradas como, por exemplo, o acesso a saneamento básico, educação, desigualdades sociais e regionais diversas.
--> O financiamento da economia brasileira. O déficit externo, o nível de juros, o câmbio, a relação entre Estado e Mercado. Creio que uma medida simples, que já seria extremamente positiva, seria gravar as reuniões do COPOM e tornar suas atas públicas em 2 anos. Isso já faria com que os diretores do BC fossem mais cautelosos. Outra medida importante seria jogar mais areia, muita areia, na ciranda dos recursos externos que entram para ganhar na dobradinha câmbio-juros. Isso não se anuncia assim, mas pode-se comprometer de maneira mais firme com a interrupção desse processo vicioso.
--> O financiamento público eleitoral, a reforma política. As relações com o Congresso. Em que bases serão feitas as coalizões e como pretendem torná-la mais propositiva e menos distributiva, se é que me entendem.
--> A estrutura tributária regressiva, o pacto federativo.
--> Esses dois itens acima são altamente problemáticos. Todos reconhecem que algo deve ser feito, mas todos têm suas próprias reformas, o que impede que a questão saia do lugar.
--> A justiça brasileira. O que acham do CNJ, o papel do STF, a nomeação de juízes para os tribunais superiores.
--> A estrutura de poder, os gastos, as responsabilidades para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Estamos repetindo os erros do Pan. Dinheiro público, lucros privados.
--> A questão ambiental, o desmatamento na Amazônia, mas também no cerrado, a prevalência de automóveis, a abertura de novas rodovias, os incêndios que todo ano devastam os parques nacionais (a Chapada e os Parques Nacionais do DF foram detonados de novo esse ano).
--> O financiamento das atividades culturais, a relação entre cultura e educação. Vide Gil e Caetano abaixo.
--> Os impactos do aumento da extração de minérios e combustíveis sobre o meio-ambiente.
--> Os dois deveriam assumir compromissos de que, uma vez na oposição, não se comportarão como o PT em 1995-2002 e o PSDB-DEM em 2003-2010. Isso é fundamental.
Ficamos hoje com mais um vídeo da Aquarela do Brasil, Gil & Caetano, Caetano & Gil, viva a Bahia, viva o Brasil.
Da parte do Serra, espero que deixe de lado o vitimismo sigiloso, as conversas sobre Farc, exageros sobre o Irã, que ignore a política do medo defendida por parte de seus aliados, com direito a vídeos apócrifos, boatos, temas como aborto, a suposta ameaça à democracia, às liberdades e aos direitos individuais. Essas supostas ameaças não existem e dificultam a discussão dos rumos do país, desviam do assunto. O Governo Lula foi bem sucedido, Dilma é uma mulher com uma grande história, por favor gostaria que Serra se limitasse a debater com ela os rumos do país em 2011-2014. E também como espera governar sem ter maioria no Congresso (já sabemos, o PMDB vira a casaca rapidinho, mas a qual preço?).
Da parte de Dilma, espero que não fique olhando para o passado, mas sim para o futuro. Nem tudo começou em 2003, nem tudo voltará a 1995 caso Serra seja eleito. O mundo mudou, o país mudou, é tempo de olhar para frente. Penso que ela deveria aprofundar-se nos desafios do Brasil de 2010 sem, é claro, deixar de destacar avanços trazidos pelo Governo Lula, mas apontando quais rumos manterá e o que alterará. Pois é fato que o Brasil de Dilma não será o Brasil de Lula. E o mundo de Dilma não será o mundo de Lula. Venho alertando: o cenário internacional se deteriora a olhos vistos. Dilma não tem experiência na chefia do executivo e terá que lidar com muitas cascas de banana e armadilhas, da oposição, mas também de seus próprios aliados (aliados? ou sanguesugas?).
Da parte de Marina, espero que não fique em cima do muro. Barganhe e dê apoio ao candidato que assumir o compromisso mais firme com sua agenda ambiental.
Segue lista não exaustiva, e sem ordem de prioridade, de temas/questões para os dois:
--> Os dados da PNAD 2009, uma enorme fotografia sobre o Brasil que oferece diversas pistas de coisas que devem ser melhoradas como, por exemplo, o acesso a saneamento básico, educação, desigualdades sociais e regionais diversas.
--> O financiamento da economia brasileira. O déficit externo, o nível de juros, o câmbio, a relação entre Estado e Mercado. Creio que uma medida simples, que já seria extremamente positiva, seria gravar as reuniões do COPOM e tornar suas atas públicas em 2 anos. Isso já faria com que os diretores do BC fossem mais cautelosos. Outra medida importante seria jogar mais areia, muita areia, na ciranda dos recursos externos que entram para ganhar na dobradinha câmbio-juros. Isso não se anuncia assim, mas pode-se comprometer de maneira mais firme com a interrupção desse processo vicioso.
--> O financiamento público eleitoral, a reforma política. As relações com o Congresso. Em que bases serão feitas as coalizões e como pretendem torná-la mais propositiva e menos distributiva, se é que me entendem.
--> A estrutura tributária regressiva, o pacto federativo.
--> Esses dois itens acima são altamente problemáticos. Todos reconhecem que algo deve ser feito, mas todos têm suas próprias reformas, o que impede que a questão saia do lugar.
--> A justiça brasileira. O que acham do CNJ, o papel do STF, a nomeação de juízes para os tribunais superiores.
--> A estrutura de poder, os gastos, as responsabilidades para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Estamos repetindo os erros do Pan. Dinheiro público, lucros privados.
--> A questão ambiental, o desmatamento na Amazônia, mas também no cerrado, a prevalência de automóveis, a abertura de novas rodovias, os incêndios que todo ano devastam os parques nacionais (a Chapada e os Parques Nacionais do DF foram detonados de novo esse ano).
--> O financiamento das atividades culturais, a relação entre cultura e educação. Vide Gil e Caetano abaixo.
--> Os impactos do aumento da extração de minérios e combustíveis sobre o meio-ambiente.
--> Os dois deveriam assumir compromissos de que, uma vez na oposição, não se comportarão como o PT em 1995-2002 e o PSDB-DEM em 2003-2010. Isso é fundamental.
Ficamos hoje com mais um vídeo da Aquarela do Brasil, Gil & Caetano, Caetano & Gil, viva a Bahia, viva o Brasil.
domingo, 3 de outubro de 2010
Nem tudo são flores...
...no Brasil em 3 de outubro de 2010. É evidente que avançamos. É evidente que em comparação com a maior parte dos países do mundo, estamos bem na foto. Mas há muitos problemas, há uma longa estrada, passo a passo, com calma, respiração pausada e prolongada, ponderação, bom senso. Os dados da PNAD 2009, recém divulgados, nos dão uma série de pistas. E as questões da estrutura política, dos sistemas judiciário e eleitoral, do financiamento da economia brasileira, da prevalência de um setor rentista, da violência urbana, da (falta de) convivência social, da educação, são todas de fundamental importância.
Sim, brindemos à democracia brasileira, à melhoria das condições de vida da população, ao aumento do emprego e da renda, à queda da desigualdade, à importância de um Brasil presente nos grandes temas da política internacional. Mas não nos percamos em perigosas euforias. Por ora, cansado após um longo e bem sucedido dia, fico com uma frase de hoje no jornal que de tão pitoresca e cômica parece coisa de frasista, de humorista, mas é uma constatação de um cientista político, no microcosmo da realidade cotidiana, na qual nossa mais alta Corte divaga por longas horas em linguagem hermética para concretizar, num labirinto de interpretações, o nada (ficha limpa vale ou não vale agora?)ou mesmo a negação do que havia sido aprovado pelo Poder Legislativo no ano passado (exigência de título eleitoral, mas qual a razão de terem aprovado isso?).
O ponto é: faltando dias para a eleição? Por que tanta demora? Quais os caminhos, ou descaminhos, da piada pronta?
Apesar de tudo, avançamos. Mas há muito o que fazer. Bom, enfim, fiquei na obviedade. Até amanhã.
"O Brasil é um país tão excêntrico que, a três dias da eleição, ninguém sabia como votar, e, hoje, não sabemos direito em quem podemos votar."
DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, analisando a reviravolta quanto à documentação necessária para votar e a indefinição sobre os atingidos pela Lei da Ficha Limpa.
Sim, brindemos à democracia brasileira, à melhoria das condições de vida da população, ao aumento do emprego e da renda, à queda da desigualdade, à importância de um Brasil presente nos grandes temas da política internacional. Mas não nos percamos em perigosas euforias. Por ora, cansado após um longo e bem sucedido dia, fico com uma frase de hoje no jornal que de tão pitoresca e cômica parece coisa de frasista, de humorista, mas é uma constatação de um cientista político, no microcosmo da realidade cotidiana, na qual nossa mais alta Corte divaga por longas horas em linguagem hermética para concretizar, num labirinto de interpretações, o nada (ficha limpa vale ou não vale agora?)ou mesmo a negação do que havia sido aprovado pelo Poder Legislativo no ano passado (exigência de título eleitoral, mas qual a razão de terem aprovado isso?).
O ponto é: faltando dias para a eleição? Por que tanta demora? Quais os caminhos, ou descaminhos, da piada pronta?
Apesar de tudo, avançamos. Mas há muito o que fazer. Bom, enfim, fiquei na obviedade. Até amanhã.
"O Brasil é um país tão excêntrico que, a três dias da eleição, ninguém sabia como votar, e, hoje, não sabemos direito em quem podemos votar."
DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, analisando a reviravolta quanto à documentação necessária para votar e a indefinição sobre os atingidos pela Lei da Ficha Limpa.
sábado, 2 de outubro de 2010
Aproximam-se as eleições
Oito horas antes do início das eleições na China, é chegada a hora de dormir para um longo dia que se aproxima. Não resisto e coloco mais dois vídeos celebrando o Brasil por meio dois grandes Joões, Joãos, Gilberto e Bosco, obrigado caros mestres, sua obra, sua história, nossas vidas. De troco, Novos Baianos, o Pandeiro, o Acarajé, iôiô e iáiá, batucada, iluminai os terreiros que nós queremos sambar.
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Faz sol e calor no sul da China
Em cerca de 14 horas, começam as eleições presidenciais brasileiras no Sul da China, de onde a reportagem estará transmitindo diretamente.
Abre a cortina do passado.
Ouve essas fontes murmurantes.
Para comemorar, Ary Barroso, Aquarela do Brasil, talvez nossa mais bela música, em algumas versões:
Abre a cortina do passado.
Ouve essas fontes murmurantes.
Para comemorar, Ary Barroso, Aquarela do Brasil, talvez nossa mais bela música, em algumas versões:
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sexta-feira, 1 de outubro de 2010
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