A reportagem sobre o Torós, Diretor de Política Monetária do Banco Central, no caderno de sexta-feira do Valor é uma peça que beira o ridículo. O cara não só força a saída de maneira extremamente deselegante, rasteira, canhestra, como abertamente já está distribuindo currículo para o mercado financeiro.
Ele salvou o Brasil da crise. Desmontou a armadilha dos derivativos cambiais. Dirigia pelas ruas de São Paulo pensando nos riscos para a população mais pobre. Torós é o máximo. Viva Torós. Vai voltar para o Santander? Morgan Stanley? Alguma administradora de recursos dos muito muito ricos?
Como sabemos, o BC brasileiro reiniciou a subida dos juros em meados de abril/08, pois havia "riscos de inflação". Se não me engano, o BC até aumentou os juros em setembro/08, pouco antes do Lehman quebrar. E só foi baixar os juros, a maior taxa real do mundo, em janeiro de 2009! Foram realmente geniais. O BC ainda incentivou empresas exportadoras, que perdiam na operação com a valorização do câmbio, a se tornarem meramente financeiras, pois garantiam o seu com os swaps reversos. Trocavam o operacional pelo rendimento no financeiro. Apostas. Fantástico.
Nossos noveaux economistes, ignorando completamente a questão ética do vai-e-vem Estado-mercado, montaram esquemas geniais. Isso vem desde o Plano Real. Todos se tornaram multimilionários, é incrível. São os verdadeiros rent-seeking, os tais interest groups que tanto criticaram quando se referiam às políticas protecionistas do passado. Pois não é que os financistas tomam conta de espaços no aparelho de Estado e estabelecem políticas que apropriam parcela da renda nacional para si próprios e seus amigos?
Acho engraçadíssimo o teatro científico que montam para justificar a predominância rentista. Em primeiro lugar, a criação do inimigo, do grande perigo, que no caso da economia brasileira não é Moscou nem Chavez, mas sim a inflação. Qualquer coisa que aconteça na economia brasileira ou mundial, temos então o risco de inflação. É um problema, não é boa, lógico, mas o superdimensionamento da possibilidade de retomada inflacionária justificou alguns exageros óbvios. Pois bem, esse é o contexto político mais geral. No específico, queria eu ter as chaves do modelo matemático. Discutir sobre a Nairu. Fazer apresentações sobre o produto potencial, o hiato do produto, tudo cheio de fórmulas e gráficos. No fim, defender a alta nos juros. Dizer que o câmbio é livre, que o mercado define seu valor. Afirmar sobejamente que a taxa de poupança interna do Brasil é baixa e, já que o governo não corta gastos, a poupança externa é fundamental, imprescindível, não há problema, é uma necessidade atrai-la.
Deixando de lado a esculhambação, ma non troppo, quando os analistas de mercado defendem a independência do Banco Central, na verdade estão querendo garantir seus amigos por lá. Perguntem a eles se defendem a independência do BC com o Belluzzo, o Ricardo Carneiro, Conceição hehe, ou outro. Aí eles vão dizer: nãããããão. Eles querem independência, mas desde que haja um amigo deles por lá. Muito espertos. Tchau Torós. Viva o Brasil!
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
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