sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ensino de economia I

Como havia comentado num post anterior, o Caderno Mais da FSP do dia 13 de setembro, creio, fez uma discussão, na esteira de um ano após a quebra do Lehman, sobre o ensino de economia. A pergunta era: "Há alternativas, novos temas ou enfoques que devam ser incorporados ao ensino de economia?" Foram quatro respostas.

As duas selecionadas abaixo vão no sentido da economia como ciência: modelos probabilísticos, fórmulas, metodologias estatísticas. A economia fechada sobre si mesma. O individualismo, o homo economicus, suas preferências, a racionalidade, a utilidade marginal. Quem lê este blog sabe minha opinião. Eu vejo valor nesses caras, mas a título de curiosidade. Quando buscam aplicar suas teses às políticas públicas, é preciso derrubá-los em suas premissas. Puxar o tapete de todo o edifício ideológico. Questionar a preeminência do indivíduo. Sua suposta racionalidade. A generalização de princípios abstratos. A aparente despolitização das teses. Seu a-historicismo.

Bom, sacanagem né, fiquei de colocar os textos e já saio esculachando. Acho que tenho dificuldade de ser neutro. A neutralidade é um saco. Algo muito pretensioso, está acima de minhas possibilidades. Gosto de ter lado, tomar partido. Talvez, quando ficar mais velho, quem sabe...


2. Ajuste fino dos modelos
VINICIUS CARRASCO

O papel de um economista é avaliar o desempenho de instituições econômicas (por exemplo, mercados, organizações e outros) em mediar a interação de agentes.
Portanto, a suposição feita de que os agentes econômicos são autointeressados e racionais (tomam as melhores decisões para eles) é indispensável:
caso não a fizéssemos, não conseguiríamos identificar se uma determinada ineficiência econômica advém de instituições mal desenhadas ou de ações tomadas por agentes imperfeitos.
Não quero, de maneira nenhuma, subestimar a imperfeição humana. Só acredito que ela não deva ser objeto de análise de economistas (talvez o seja de psicólogos e psi- quiatras).
Usando a crise atual como exemplo, ao supor racionalidade por parte dos agentes, os economistas conseguem identificar de maneira limpa, entre outras, as falhas que houve nos desenhos da regulação financeira e de incentivos dos tomadores de decisão e, com isso, propor mudanças.
Segue daí que não sou entusiasta das abordagens comportamentais e psicológicas à economia, muito em voga em alguns centros nos EUA. Em particular, acredito que, antes de sua incorporação ao currículo de economia, é necessário que incorporemos, tanto aos currículos quanto às agendas de pesquisa, aspectos não psicológicos extremamente relevantes, mas que nossos modelos, especialmente os macroeconômicos e de finanças, ignoram em geral: heterogeneidade, dispersão (e assimetria e imperfeição) de informação entre agentes e falhas de mercado, entre outros.
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VINICIUS CARRASCO é coordenador de graduação do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

3. Aumentar o formalismo
LUIS HENRIQUE BRAIDO

O princípio básico da ciência econômica -denominado individualismo metodológico- enfatiza a liberdade de escolha do indivíduo frente às estruturas sociais. Portanto, não há como iniciar um curso de economia sem ensinar os modelos de escolha individual.
Como a relação entre indivíduos livres é intermediada por mercados ou outros mecanismos sociais, o conhecimento rigoroso sobre equilíbrio geral, teoria dos jogos, desenho de mecanismos, externalidades e assimetria de informação constitui o segundo pilar de qualquer programa na área.
Por fim, como a seleção entre teorias alternativas depende de testes empíricos, o economista moderno necessita de sólida formação quantitativa.
A separação entre temas macroeconômicos e microeconômicos está superada. A profissão dispõe de um corpo teórico consolidado para analisar temas tão diversos quanto finanças; comércio internacional; políticas monetária, fiscal, cambial e industrial; história econômica; regulação e defesa da concorrência; previdência; meio ambiente; desigualdade social; crime e educação.
A abordagem desses temas baseia-se no método científico, que enaltece a dedução lógica formal e o confronto de suas conclusões com fatos observáveis. A utilização desse método permitiu à civilização ocidental alcançar notável progresso tecnológico nos últimos séculos.
Ao dotar seus alunos desse poderoso instrumental analítico, o curso de economia capacita-os a diferentes desafios profissionais. Para tanto, cabe às instituições brasileiras elevar o formalismo no ensino de teoria econômica e ampliar o número de docentes e discentes envolvidos em pesquisas científicas de nível internacional.
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LUIS HENRIQUE BERTOLINO BRAIDO é diretor de ensino da Escola de Economia da FGV-RJ.

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