segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O retorno do mestre

Hehehe, o mestre não sou eu. É Keynes, na pena de Skidelsky, comentado pelo Belluzzo, que hoje deve estar triste com mais uma derrota do Palestra, que sucumbiu ao Petkovic, que é sérvio mas ama o Rio, que ganhou a disputa em Copenhagen, que sediará ao final do ano a Conferência sobre mudanças climáticas, que dizem ameaça a todos nós especialmente certas ilhas como as Maldivas, cujo Presidente assinou uns documentos hoje debaixo do mar, que estava azul e límpido como em Noronha, que me lembra como gosto de mergulhar, que me leva ao eterno ponto de partida e de chegada das últimas semanas, que é o fato de eu estar novamente com perna detonada me sentido um incapaz, fraco, sob constante risco de ter um piripaque coagular, que seria uma tragédia, um saco, fato absolutamente lamentável.

Enfim, esse blog não é para ser algo pessoal, mas no momento é inevitável comentar, fiquei sem disposição para postar, escrever, depois do baque sanguíneo vem o baque físico e depois o psicológico, estou melhorando mas não é fácil, tudo muito lento.

Tantas coisas interessantes para comentar:

a) As Olimpíadas, a marolinha, o pré-sal, o G-20 e certo ufanismo com o Brasil. O caderno Mais da FSP e diversos outros artigos têm discutido essa questão. O interessante é que a esquerda sempre combateu o ufanismo, considerado meio para as elites reforçarem seu controle sobre as massas, etc..., aí dá uma longa e fantástica digressão. O governo é mesmo de esquerda? Está errado ser otimista? Isso é ignorar nossas dificuldades? O otimismo da esquerda é decorrente da aprovação nacional e internacional do Lula, do bom momento do Brasil, da desmoralização das teses privatistas, da crescente autonomia brasileira (energética, alimentar, financeira, etc...), da presença mais forte da política externa, da redução da pobreza e das desigualdades?

b) Obama conseguiu algumas vitórias preliminares no Congresso, mas a coisa ainda está tímida. Ele está enfrentando dificuldades excepcionais. Seu governo declarou guerra à Fox News. As relações entre a mídia e o poder têm evoluído (involuído?) em diversos países. Lula e a Veja/Globo/Estadão/FSP. Os Kirchner e a mídia na argentina. Berlusconi. Dá um post gigantesco, um livro, um compêndio. A mídia deixando de ser um quarto poder, fiscalizador, vigilante, para se tornar quase um partido político, curiosamente atuando contra a própria política, enfim, seriam devaneios ótimos para se elaborar.

c) O Brasil vai colocar alguma areia na engrenagem do carry trade, nos capitais que ameaçam nos afogar? Como, quando, onde, de que forma? Como estou atualizando/corrigindo/reescrevendo o post, vi agora no uol que saiu a medida de taxação de 2% do capital estrangeiro em bolsa e renda fixa. A chiadeira do mercado será enorme.

d) Teremos COPOM na próxima semana. O juro deve ser mantido. A pressão de alguns setores espertalhões do mercado financeiro foi arrefecida. Prevalece, por enquanto, certo bom senso.

e) As eleições em 2010. A oposição patina, o governo acelera.

f) A política externa brasileira definitivamente está se tornando tema de política interna. Os debates na ONU, sobre clima e direitos humanos especialmente, estão por aí. As questões na América Latina. Infelizmente, a cobertura tem sido pautada pela parcela neocon de nossa imprensa. Há muita desinformação. O Presidente do Irã vem aí, aguardemos. Em Honduras, felizmente, os caras lá devem chegar a algum acordo em breve.

g) A seleção sub-20 vacilou na final, mas acompanhei os jogos e vi que temos uma bela safra para 2014. A seleção principal mostrou que sente a falta do cracaço Robinho.

h) Ontem, inspirado pelo post sobre Glauber-Di, revi o filme sobre nosso gênio do cinema novo. De Silvio Tendler, um filmaço sobre uma grande figura.

i) A questão da Vale, poxa, eu poderia fazer um post sobre isso. A Vale não pode ser tratada como uma empresa privada qualquer. Por várias razões. Duas principais: o governo detém enorme participação acionária e a financia via BNDES; ela extrai minérios do sub-solo, que constitucionalmente são da União, ou seja, a Vale é uma concessão. Um dia escrevo sobre isso.

j) A economia global: segue em pasmaceira, apesar do otimismo dos mercados. É preciso regular as finanças, elas continuam sem controle. Estamos nos arriscando com novas bolhas, sucessivos descolamentos entre a esfera financeira e o lado produtivo, o emprego e a renda do trabalho.

Mais um textinho do Belluzzo, com algum destaque em negrito para coisas que já comentei aqui.

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

O retorno do mestre


DIZEM POR aí que Keynes voltou à moda. Autor de três volumes sobre a vida e obra do célebre economista, Robert Skidelsky entregou à praça recentemente o livro "The Return of the Master". Digo ao leitor que o livro, um ensaio, nos apresenta um Keynes mais revolucionário e inovador do que revelado na alentada biografia. Nos três magníficos volumes da biografia, Skidelsky cuidou de demonstrar que a crítica de Keynes ao capitalismo liberal era menos radical do que parece.
A responsabilidade pela transfiguração do economista-defunto nas mãos de seu biógrafo mais badalado cabe à derrocada intelectual da teoria econômica dominante nas última quatro décadas. Os "economistas clássicos" criticados por Keynes em tantas ocasiões eram tão razoáveis quanto modestos se comparados aos desatinos "científicos" das últimas quatro décadas. A escola Nova Clássica, por exemplo, levou ao paroxismo, para não dizer ao ridículo, as hipóteses construídas a partir do comportamento racional e da tendência ao reequilíbrio "espontâneo" dos mercados. Na concepção dos novos economistas, a sociedade é formada por indivíduos racionais e maximizadores, partículas obcecadas pelo cálculo utilitarista, que jamais alteram seu comportamento na interação com outras partículas carregadas de racionalidade. Skidelsky vai fundo ao argumentar que os economistas definem o comportamento racional como aquele consistente com seus próprios modelos. Todas as outras formas de comportamento são tratadas como irracionais, configurando um enorme projeto ideológico incumbido de redefinir os humanos como pessoas que acreditam nas coisas que os economistas pensam sobre eles.
Keynes construiu uma teoria das decisões privadas em condições de incerteza. Alegava que não é possível a avaliação inequívoca dos resultados mais vantajosos mediante o cálculo de probabilidade. As pessoas, diz o economista Athol Fitzggibons, agem movidas pelo autointeresse inteligente, mas apoiadas no conhecimento não quantificável; as teorias do comportamento racional pressupõem que os agentes são movidos pelo autointeresse e pelo conhecimento quantificável. Eles fazem escolhas inteligentes entre vários futuros possíveis, o que permite à teoria das expectativas racionais concluir que eles podem convergir para apenas um futuro possível.
Na vida real dos mercados, os empresários tangidos pelo otimismo quanto aos resultados dos novos empreendimentos atropelam o medo do futuro incognoscível e decidem produzir nova riqueza. Mas o sucesso não aplaca, senão excita o desejo, suscitando a febre de investimentos, o crédito imprudente e bolhas especulativas.
Por isso, Keynes insistia "na direção inteligente pela sociedade dos mecanismos profundos que movem os negócios privados". A instabilidade inerente à economia monetária da produção só pode ser amenizada mediante a ação jurídica e política do Estado e pela atuação de "corpos coletivos intermediários", como um Banco Central dedicado à gestão consciente e socialmente responsável da moeda e do crédito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário