Parte de nossa imprensa udenista, sempre os mesmos, está quase para afirmar que torce para uma guerra civil em Honduras. Chegam pertinho. Assim poderão dizer que o Brasil insuflou e é responsável pelas mortes de um monte de gente. Outros se divertem com alguns meneios incoerentes da diplomacia norte-americana para a região. Torcem também para que os EUA retirem o apoio que até agora vêm oferecendo ao governo constitucional do Zelaya, seguindo aliás todos os outros países do mundo. Alguns articulistas mais delirantes propõem a derrubada do Ministro Celso Amorim e o impeachment do Presidente Lula. Nada mais que isso. Segundo eles, o princípio constitucional da não-intervenção não estaria sendo cumprido. Sim, sim, claro, impeachment, fantástico. Adorei ler isso. São os nossos golpistas. Há, evidentemente, uma questão muito interessante que perpassa o tema: onde termina a defesa da democracia e onde começa o intervencionismo? É uma discussão muito legal. Mas daí a propor o impeachment mostra o grau de desespero e revela os laivos golpistas que sobrevivem na nossa UDN do século XXI.
Sobre o tema das agências de risco, para não dizerem que exagero na falta de critérios delas. Comparem os números do México e do Brasil. Todos os números, se quiserem. Vejam o impacto da crise em nossos amigos hermanos do norte, que apresentam severa dependência do mercado norte-americano (como, aliás, nos recomendava parte da UDN na imprensa, que dizia que o Brasil devia focar nos países mais ricos ao invés de trabalhar pela diversificação). Vejam as previsões de crescimento do México. Saibam que o México explorou quase todo seu petróleo nos últimos anos, saiu exportando tudo, e agora está meio que sem, para se tornar importador. Já o Brasil, ehhehe. Agora leiam este trecho sobre as razões pelas quais a Fitch (uma das três agências do oligopólio) coloca o México em melhor posição que o Brasil, dois graus:
Regarding the investment credit rating gap between Mexico and Brazil, Fitch ratings stated that the possibility that Mexico will be downgraded is higher than the likelihood that Brazil will be upgraded. According to Fitch analyst Shelly Shetty “Mexico's BBB-plus rating -- two levels above Brazil's BBB-minus rating -- is supported by the country's institutional strength, including a formally independent central bank and a track record of fiscal responsibility. But Brazil has clearly held up better than Mexico" during the recent economic crisis. (Reuters, 09/29/09)
A força institucional do país: sim, claro, durante décadas o mesmo partido governou. Tiveram (ou ainda tem?) uma insurreição armada em parte do território (Chiapas, Zapateros). Estão em guerra com um narcotráfico descontrolado.
Um Banco Central formalmente independente (da política, mas não do mercado): e desde quando isso é vantagem? e desde quando o nosso BC não tem atuado com enorme independência. Po, por aqui já é dado como certo que irão subir os juros para saciar a sede de sangue dos rentistas, taí, o mercado (em sua versão mais limitada) vai ficar felizão com as próximas decisões de nosso BC "independente". Ver post abaixo sobre o tema.
Um histórico de responsabilidade fiscal: o México, que foi o primeiro a dar o default na década de 80? E o Brasil por acaso não está com as contas em ordem? E bem melhores que as do México?
Com todo o respeito ao México, um país maravilhoso com um povo que considero nossos primos. Que atua conosco em uma série de temas da política internacional. Com uma história magnífica. Com belíssimas, inteligentes e meigas mulheres, especialmente as de sobrenome Valdes. Com praias e lugares fantásticos para mergulhar. Com sol, música e futebol.
Voltando ao tema, ehehe, Viva México, poderia me alongar um pouco, mas esse post é para ser rápido: as agências de risco ficam entrando nessa seara institucional, como se houvesse um "one size fits all model", uma receita de bolo para o desenvolvimento, isso é de uma cretinice grotesca. Trata-se do ramo da "ciência econômica" que se convencionou chamar de institucionalismo neoliberal, muito forte durante a década de 90, aquela que arruinou diversos países da região. Uma tolice, meias-verdades, lugares-comuns, manuais de bom comportamento elaborados nas universidades norte-americanas e em alguns círculos de Washington para uso da periferia deslumbrada. O Brasil já jogou fora a cartilha faz tempo, felizmente. Teremos o nosso modelo. Só o modelo brasileiro serve ao Brasil.
Por isso digo e repito: as agências de risco não sabem muita coisa. Existem, são uma realidade. Mas não devemos dar muita bola para o que nos sugerem. Não têm qualquer compromisso com o desenvolvimento do país. Não foram eleitas por ninguém, não estão sujeitas a nenhuma forma de controle. Caso estivessem, todos seus funcionários já teriam perdido o emprego, pois as agências erraram vergonhosamente nos inúmeros casos de financial meltdown que tivemos nos últimos 15 anos.
Longe vai o tempo em que devíamos nos submeter às avaliações desses caras para evitarmos a perda da "confiança do investidor externo". O Brasil hoje está em outro patamar. Estamos deixando a adolescência e assumindo um lugar mais condizente no jogo das nações. Por mais que haja uma torcida influente no sentido contrário. Dentro e fora do país.
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