Não. Não vou escrever sobre Honduras. Só se fala em Honduras. Na TV e nos jornais. A versão mais inteligente, se é que me entendem, divulgada por alguns sábios muito bem informados, é a de que o Chavez estaria manipulando o Brasil. Que armamos a volta do Zelaya. Que a política externa envergonha o país e é contrária aos nossos princípios históricos de atuação.
Olha, não nego que a entrada do Zelaya, um cara meio fanfarrão, com dezenas de seguidores, na Embaixada brasileira, tenha sido um negócio chato. Chato demais. A situação hoje não é simples nem confortável. Mas ele é o Presidente eleito e foi deposto, expulso do país. A OEA, a União Européia, a União Africana, todos se manifestaram por unanimidade. A ONU. Dizer que o Brasil está isolado e viajou é um baita exagero. É preciso ser muito cínico. Isso não quer dizer que a situação atual seja simples nem confortável. Mas daí a estrebuchar, é sinal de que está faltando assunto.
Assunto que na verdade não faltava. Meu Deus, durante décadas o Brasil demandou acesso ao núcleo do poder mundial. Saímos da Liga das Nações por não aceitarmos um papel menor. Estamos firmes na articulação por uma necessária reforma no Conselho de Segurança. E nessa última semana, quando só se falou de Honduras, caramba, o Brasil conseguiu um resultado ótimo no G-20. O país, na linha de frente das negociações, viu ser confirmada a proeminência do grupo, o agendamento de duas outras Cúpulas para 2010 e mais diversos avanços regulatórios, em matéria de coordenação e de reformas institucionais que poderão se materializar com o tempo.
Como em Londres, colocaram o Pres. Lula ao lado do anfitrião na foto oficial de Pittsburgh. A imagem vale tudo. A diplomacia é feita de detalhes. O Presidente é o cara. A Newsweek o comparou ao Mandela. O Times, o Independent, a Economist, o International Herald Tribune, todos tecem loas ao novo papel do Brasil. E por aqui só se lê que a diplomacia é um fracasso. Será que os leitores de algumas publicações não enxergam o óbvio?
Poucas análises têm captado o que vem se passando. O poder mundial escorrendo e sendo agarrado, reconstruído, pelos grandes países em desenvolvimento. Mas os caras só falam de Honduras e tentam criar uma novelinha de uma história reconhecidamente complexa, mas com uma certeza que só os fanáticos políticos possuem, proclamam que a diplomacia brasileira é um fracasso, nos envergonha e tal. Que culpa temos se o fanfarrão deposto, mas democraticamente eleito, apareceu na porta da Embaixada. Deixaríamos ele ser morto nas ruas? Preso e humilhado? O cara foi eleito e sofreu um golpe! As eleições ocorreriam ao final de novembro e ele não era candidato, não postulava nada.
É aquela coisa que comentei no post sobre o Jessé: transformam coisas complicadas em caixinhas bem x mal. Supremo cinismo, proclamam que a diplomacia é um fracasso contrariando a mais óbvia realidade.
Enfim, tento não esculachar demais, segurar a indignação. Mas às vezes é difícil. No fim-de-semana estarei em São Paulo Babilônia Selva. Por lá ouvirei mil pessoas bem intecionadas, mas pessimamente informadas, me questionando sobre Honduras, sobre a vergonha que o país passa, etc... Quando na verdade nunca o país esteve tão firme. Com tantos apoios. Responsabilidades, expectativas. Armadilhas. Desafios. Ninguém disse que a coisa é fácil.
O jogo político é muito duro, a verdade é a primeira a perecer. Por aqui, a quinta coluna é forte. Estão sempre prontos a tomarem partido de certos interesses incofessáveis. Herdeiros da UDN. Minoria golpista, rentista, excludente. Não contam com candidato para 2010. Não vejo o Serra nem o Aécio jogando o jogo deles. Assim espero. O Brasil avança.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
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Gostaria muito de compartilhar do seu entusiasmo, Toni. Mas o G-20 me pareceu mais o reconhecimento (tardio) da realidade econômica já posta, do que um "power grab" arquitetado pelos grandes países em desenvolvimento. Ainda torco pela emergencia de uma agenda comum entre os grandes em desenvolvimento, que por enquanto parecem jogar cada um por si. No G-20 e em outros fóruns internacionais.
ResponderExcluirConcordo porém que o Brasil terá responsabilidades cada vez maiores num mundo multipolar. Não foi por acaso que o Zelaya escolheu nossa Embaixada como refúgio. A situacão é delicada, a meu ver era melhor dar asilo político formal e exigir, sob a Convencão de Viena e a Inter-Americana, que o fanfarrão se calasse. Negociar com o Micheletti uma eleicão em janeiro e dar o assunto por encerrado.
Falar é fácil...
Tô gostando muito dos posts opinativos, é isso aí mesmo.
Grande abraco,
P.