quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Comentários Adicionais

Putz, tinha prometido não falar de Honduras, tinha prometido não me deixar levar pelas novelas que são instantaneamente criadas para logo serem esquecidas pela mídia, mas, enfim, alguns adendos.

Um seguimento mais delirante da curiosa interpretação que os herdeiros da UDN espalham é o seguinte: o Brasil estaria insuflando uma guerra civil, isso teria sido cuidadosamente planejado. O Brasil estaria no bolso dos planos bolivarianos de Hugo Chavez.

Sim, sim, claro. Os comunistas comem criancinhas e o ouro de Moscou financiava um Jango que planejava uma iminente revolução quando foi derrubado pelas forças democráticas.

Voltando: o Brasil e todo o resto do mundo condenaram o golpe. Se não me engano, foi por unanimidade na Assembléia-Geral da ONU, algo raríssimo. Creio também que nenhum país, nenhum, reconhece o "governo de facto". Aí o homem aparece na nossa Embaixada. (Ninguém tem o menor indício de prova de que teríamos sido avisados muito menos coniventes com isso. O resto é especulação, ou torcida.) Queriam que não deixássemos ele entrar para ser preso, humilhado ou até morto?

De resto, eu concordo inteiramente. A situação é complicada. A solução não está dada nem é simples. Zelaya se comporta de maneira não adequada. Em hipótese alguma ele deveria se manifestar politicamente. Mas também parece ser impossível controlá-lo. Vamos fazer o que, expulsá-lo?

Parece que o governo do Micheletti se recusa a negociar, barrou o Plano Arias, não quer conversar e declarou até o Estado de Sítio. O cara era aliado do Zelaya. Parece que há uma birra pessoal forte entre os dois. Digo "parece" porque não tenho acesso algum a qualquer inside information. Nem quero, tenho mais o que fazer. E se tivesse, não escreveria aqui, mesmo que tenha apenas 3 leitores.

Então é isso, a situação é complicada. A comunidade internacional está inteiramente unida, havendo as óbvias divergências de tom sobre a questão. Nenhum encaminhamento agora será simples. Vamos ver. Bom senso ajuda. Olhar para o futuro também.

Enquanto isso, no G-20, novo órgão decisório mundial, ao qual o FMI e o Banco Mundial estão subordinados, começam tratativas para a institucionalização do grupo. A imprensa alemã, francesa, australiana, inglesa, norte-americana e outras apontam uma grande vitória dos BRICs, que atuaram com estreita coordenação.

Lula vai receber mais alguns prêmios internacionais nas próximas semanas. Ouve-se por aí que pode ganhar o Nobel da Paz.

Mas, enfim, a política externa é um fracasso e envergonha o país. Certas estão algumas famílias que monopolizam o noticiário nacional. Eles não se conformam com o que vem acontecendo. Devem ter se matado de raiva quando o Serra indicou concordar com o modelo do pré-sal.

Isso me faz rir. Há grupos que estão órfãos, coitados, que pena. Perderam o poder de fazer a cabeça das pessoas. Estão desacreditados, desmoralizados.

O Brasil vai amadurecendo para um difícil século XXI. O pós-Lula será nosso grande desafio, para além de um setor financeiro à parte da economia produtiva, dos efeitos da ação do homem sobre o meio-ambiente e do constante perigo de eclosão de alguma guerra desestabilizadora. Ameaças que, evidentemente, dependem para sua superação de uma estreita e eficaz coordenação internacional.

Mas, voltando a nosso querido Brasil, Ciro Gomes vem alertando, corretamente, que só a figura mítica do Presidente Lula consegue conciliar interesses tão diversos, trabalhar com forças tão complicadas quanto o PMDB, sindicatos, bancos, empresários, a esquerda, o agribusiness, os movimentos sociais, a feroz mídia nativa, etc... e tal. Qual será o modelo político em 2011, como os interesses serão balanceados, que forças irão sustentar uma nova coalizão? São algumas das questões fundamentais. É pena que não estarei aqui para presenciar in loco a transição.

Ars longa,
vita brevis,
occasio praeceps,
experimentum periculosum,
iudicium difficile.

2 comentários:

  1. Meu preclaro amigo,
    o blog está muito bom (mesmo!). Apesar de discordar de alguns pontos sobre nossa política externa, que sempre se pautou pela total não-ingerência em assuntos alheios, hei de reconhecer o valor das opiniões aqui emitidas. De resto, um grande e saudoso abraço vindo das terras ditas "Santas".

    P.S. Estamos esperando a tão propalada visita.

    ResponderExcluir
  2. Graaaaande figuraça. Hoje encontrei sua irmã no refeitório. Está quebrando um galho no SAMS. Hoje também vi Dona Selma no elevador, após vários meses sem encontrá-la. A velhinha quase chorou e saiu me beijando na frente de todo o mundo.

    Como estão as coisas aí no que se convencionou chamar de Terra Santa? Vou visitá-lo, hein? E o Fogão, não vai cair não, né? O Santos deu uma força com um empatezinho arrumado na Vila. Vai rolar Copa Robinho, quer dizer, Copa Dinamite. Estou cavando uma vaguinha no time da segurança.

    Estou fechando minha remoção. Vou te escrever um email. Boa sorte aí. Valeu por passar por aqui. Não vejo ingerência brasileira não. Mas concordo que há uma linha tênue entre defesa da democracia e intervenção. É um debate muito complicado, difícil despolitizá-lo.

    Grande abraço,
    Antonio

    ResponderExcluir