quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mais sobre o câmbio

É evidente que é possível argumentar que o dólar tem caído com relação a todas as moedas. É fato que as moedas de exportadores de commodities têm se valorizado. Também é verdade que há uma imensa massa de capitais no mundo sem encontrar boas oportunidades de investimentos, com certo medo, e vêem no Brasil um porto seguro, um país dinâmico e cheio de perspectivas.

Mas a valorização tem passado do razoável, mesmo em comparação com a Austrália, o Canadá e outros. Há que se considerar, é óbvio, nosso nível de juros. E o fato de que em alguns anos teremos os dólares do Pré-Sal afastando qualquer risco de crise cambial, hehee. Então o pessoal está apostando a valer, prato cheio para a especulação.

O problema é que num período de baixo crescimento mundial como o que agora se inicia, a disputa será pela demanda dos outros, ou seja, pelos mercados de exportação. O câmbio, nesse contexto, será muito importante para ao menos mantermos mercados e sustentarmos taxas mais altas de crescimento. Além do fato de que é perigoso ficar concentrado em commodities, há todo um desenvolvimento produtivo, tecnológico e industrial que não pode se perder assim. Isso para não falar em questões de sustentabilidade, da exportação de recursos energéticos escassos, da água, etc... Putz, aí eu me alongaria demais.

Mas esse post foi apenas para alertar meus 3 leitores que estou ciente de que o câmbio tem se valorizado também em outros países. Mas não na China, nem na Índia, não na Argentina, possivelmente não na Coréia.

Eles são trouxas. Nós é que somos espertos. Estamos seguindo direitinho o manual do "I win, you lose: private banking and easy money in the modern and integrated open markets of the 21st Century. Special Edition for colonized Brazilians and their independent Central Bank"

Chato é não ter tempo de comentar reportagens como as da página B4 do Caderno de Economia do Estadão de hoje.

A equipe de analistas do glorioso BNP Paribas, que quase quebrou, ho ho ho, gênios, monstros da finança privada, afirmou em relatório que "os mercados começam a ficar divididos em relação à capacidade do BC de resistir às pressões para que continue afrouxando a política monetária." Olha o termo que eles usam, "afrouxar" a política monetária. PQP, é a mais conservadora do mundo! Traduz-se em transferências de mais de R$ 150 bilhões anuais para 20 mil famílias!

Não seria melhor reescrever assim: "a nação brasileira começa a ficar preocupada com as pressões do mercado para que o BC não corte mais a taxa de juros, a 3a maior do planeta em termos reais, em momento no qual não há NENHUMA ameaça de inflação, de crise cambial ou crise fiscal."

Esses caras são os mestres da picaretagem. Aliás, por onde andam os cérebros brilhantes do Merryl Linch, ou seriam do Morgan Stanley, ou do JP Morgan, são todos iguais, que previram em meados de março queda de 4,5% do PIB do Brasil em 2009???? Foram demitidos? Ou era isso mesmo, tá beleza, e a tesouraria tava na ponta operando enquanto o relatório ganhava as páginas da imprensa...

Fico devendo o comentário sobre o que fazer para evitar a entrada excessiva de capitais completamente desvinculados do aparelho produtivo...

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