segunda-feira, 31 de agosto de 2009

COPOM

Sobre o COPOM dessa semana, eu até tenho um pouco de preguiça de falar. Reportagem no Estadão de hoje ouve apenas o pessoal do mercado financeiro. Fiquei muito surpreso ao ver que eles não querem mais quedas, impressionante. Alguns pedem uma pausa para avaliar melhor a situação. Um ou outro afirma, contrariando fatos, dados, números, tabelas, gráficos, estudos, relatórios, modelos e projeções, que há um problema fiscal, que a demanda irá crescer demais, que isso assusta e pode fazer a inflação voltar. Figuras mais delirantes já chegam a dizer que até 2011 não devemos ter mudanças. Falam como se esgrimissem uma verdadeira ciência, são cheios de certezas. Um último ponto curioso é aquele que coloca que a ata passada do COPOM indicou o fim do ciclo de baixa, que não houve nenhuma sinalização em contrário e que é importante o COPOM não pregar surpresas no mercado. Se entendi bem, a coisa deve ser combinada direitinho, senão não vale.

Realmente, esse povo é brilhante.

Os últimos números da inflação mostram novas quedas. Não há problema no setor externo. Tampouco na posição fiscal. O mundo vive a mais grave crise desde a Grande Depressão. Nossa taxa de juros real é a 3a maior do mundo. O câmbio tem se valorizado com operações de arbitragem. O crédito é apenas 43% do PIB. Precisamos aumentar a taxa de investimentos, públicos e privados. Precisamos crescer. Produzir. Exportar.

Estimativas de meados de 2008 indicavam que 1% de aumento nos juros nos custava uns R$ 13 bilhões anuais, ou seja, o orçamento do Bolsa Família. Os juros são direcionados para os credores da dívida, cujo grosso se concentra em 20 ou 30 mil famílias. O Bolsa Família vai para cerca de 11 milhões de lares, creio, atingindo mais de 40 milhões de pessoas.

E ainda dizem que é importante um BC "independente", "técnico", pois assim ficaria longe de influências políticas. Porra, como despolitizar a administração da moeda? Do valor do dinheiro? Do preço do câmbio? São decisões com ganhadores e perdedores. A própria idéia de que o único objetivo de um BC deve ser a estabilidade de preços, utilizando um único instrumento, que são os juros de curto prazo, é política. Por que não mira o nível de emprego? Por que não mira a formação de bolhas em determinados ativos? Quem disse que o hiato do produto é um conceito consagrado, científico? Como medi-lo? Cade o modelito furado?

A idéia de um BC independente é um pouco como as agências reguladoras. Retira-se o poder de um governo eleito pelo voto sobre determinada esfera de atuação. A democracia fica de lado para supostamente se privilegiar o reino da técnica, dos experts. Só que os técnicos, os experts, são capturados pelo setor privado. É de lá que eles vêm, é com eles que conversam, é para lá que eles irão.

Mas, enfim, o BC vai manter os juros onde estão. Que novidade. Depois de iniciar a subida da taxa em meados de abril de 2008, num movimento realmente brilhante, o BC viu a crise explodir em setembro e só começou a baixar os juros se não me engano em dezembro, ou mesmo janeiro. Demorou 4 meses para se convencer. Seria fácil fazer as contas e ver quantos bilhões de reais a mais foram pagos em juros da dívida. Mais difícil é saber quantos quebram por não honrarem financiamentos, quantos são demitidos, quanto o câmbio valoriza, etc... Porém há muita gente que diz que isso não existe, que o BC é técnico e despolitizado, que deve mirar apenas a inflação, que há risco de descontrole fiscal, que o hiato do produto da segunda hipotenusa cartesiana derivada da integralização de curvas equidistantes justifica que tenhamos a 3a maior taxa de juros real do mundo.

Sem mais sobre o COPOM, aguardarei em silêncio o veredito, tranquilo. A taxa real ao menos não está nem perto de 10%. Ficarei me divertindo com as reportagens que sairão em jornais e TVs dos grandes grupos tentando dar uma aparência de seriedade, de prudência, de responsabilidade, do reino da técnica, a decisões que são políticas, meramente políticas e que, como tais, derivam para a incerteza que requer bom senso, um pouco de arte. Menas para os arrogantes que afirmam falar em nome de uma suposta ciência, de um modelo consagrado, os arautos do totalitarismo liberal de mercado.

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