domingo, 16 de agosto de 2009

Os EUA e a ONU

Aqui temos a transcrição da Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Susan Rice, em palestra na New York University nessa semana. Segundo nossa amiga, os EUA têm hoje outra postura, mais proativa, com relação à ONU. Não está errada, os exemplos são vários, resta saber se seguirão nessa direção, ou se logo a realpolitik prevalecerá e tornará tudo seco novamente.

Há um looongo caminho para que os EUA legitimem a liderança que esperam exercer. Por enquanto, foram dados alguns passos positivos, mas navegar é preciso, ainda é cedo. E vejam como as questões prioritárias para eles são mesmo as vinculadas à segurança. O discurso, em todo o caso, aponta para o diálogo, a disposição para o debate e certo reforço da ONU.

Destaco duas coisas:

1) Ela não cita questões econômico-financeiras. Os EUA não consideram a ONU um foro adequado para tratar desses temas. Preferem instituições nas quais tenham certo controle, como o FMI e o Banco Mundial, ou então fóruns mais técnicos como o Conselho de Estabilidade Financeira, o Comitê da Basiléia. O G-20 é uma novidade que vem funcionando e os EUA, jogando em casa, têm maior responsabilidade pelos resultados da próxima Cúpula em Pittsburgh. Vamos ficar de olho aí também.

2) Interessante a questão do trabalho dos EUA em montar novas coalizões na ONU, ou melhor, desmontar a rigidez das atuais coalizões. Possivelmente se refere ao G-77, que na área econômico-financeira, por exemplo, opera coeso, ou a grupos com afinidades geográficas e mecanismos mais consolidados de concertação política em outras áreas do mundo multilateral. Eu até concordo que certa inflexibilidade pode dificultar às vezes o consenso, do ponto de vista dos outros, especialmente dos mais fortes, mas os membros dos grupos sabem que a unidade confere peso às suas deliberações. Os EUA jogam na velha tática de dividir para melhor governar, como não poderia deixar de ser. Os países mais poderosos preferem, na maioria das questões, um tratamento diretamente bilateral ou mais restrito.

Um detalhe é que o Brasil é um dos grandes arquitetos da atual geometria variável da política internacional, participando da formação de grupos específicos para um série de questões. G-20 comercial, G-20 financeiro, IBAS, BRICs, Mercosul, UNASUL, CALC, Cúpula Aspa, Cúpula ASA, Aliança das Civilizações, CPLP, e mais vários outros por aí.

Bom, novidade alguma, muito já se escreveu sobre isso. Apenas iniciando um longo vôo nesse campo, espero desenvolver idéias mais precisas quando tiver mais experiência.

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