quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobre o câmbio

Sobre a questão do câmbio, saíram artigos do Loyola e do Belluzzo nos últimos dias no Valor. Acho que guardei os dois, que evidentemente vão em direções contrárias. Vou ver e quem sabe sai um post com mais fôlego.

O ponto central será mais ou menos esse: lá pelas tantas, Loyola coloca que se o BC intervir para desvalorizar artificialmente o real, blablabla

Vou me centrar nessa questão: não há nada de natural, ou de espontâneo, na valorização do real. Trata-se de resultado de decisões políticas que abrangem o regime cambial, a política monetária brasileira, o sistema monetário mundial e o funcionamento dos mercados financeiros internacionais.

São arranjos políticos que permitem que o jogo seja jogado dessa forma. E são atores políticos, países, grupos sociais, classes, indivíduos, que recebem os benefícios ou incorrem nos custos decorrentes dos movimentos que são realizados.

Despolitizar, afirmar que é natural, irreversível, consequência de um modelo que só nos traz ganhos, que não há nada o que se possa fazer e etc... faz parte daquilo que fiquei de desenvolver num dos posts iniciais: o totalitarismo liberal de mercado.

A liberdade de capitais não é algo óbvio, espontâneo, nem historicamente recorrente. Ativos financeiros, no mundo, que superam em dezenas de vezes a produção global e as reservas dos bancos centrais também não são algo que faz parte da ordem natural das coisas. É uma evolução recente, para a qual colaboraram políticas de liberalização e desregulamentação. Os juros brasileiros não são uma necessidade científica para combater a inflação, mas sim a consolidação de um padrão de rentismo conservador das classes dominantes. Não há qualquer razão institucional, cultural, macro- ou microeconômica que justifique níveis de taxas reais tão acima do que se observa em outros cento e noventa e tantos países. O câmbio flutuante, como nos livros texto, é uma exceção, uma abstração teórica, na prática creio que nenhum país deixa esse preço fundamental flutuar ao sabor de fluxos irracionais das manadas do mercado. Vejam a China, a Índia, a Suíça, o leste asiático em geral, leiam sobre os acordos de Bretton Woods, a ruptura realizada por Nixon, os acordos do Plaza, do Louvre, etc...

A moderna ciência econômica. There is no alternative. "Estabeleça regras e o poderoso mercado encontrará formas de burlá-las". O BC imune a "pressões políticas" (como se suas decisões, que implicam enormes ganhos e perdas, pudessem ser despolitizadas). The market as a natural result of individual interactions. O homo economicus. A racionalidade dos agentes. O equilíbrio geral. O pleno emprego ho ho ho. O egoísmo individual promovendo a harmonia de interesses. A desqualificação da crítica: "ele quer mais inflação", "populista", "demagogo".

Uma enganação, uma tolice para consumo da periferia deslumbrada. Seus mantras nunca foram utilizados pelos EUA, Europa, Japão, China e Índia. Recentemente, encontrei em meus arquivos um artigo do Edward Amadeo, de 2002, creio, defendendo que é natural e positivo que tenhamos déficit na conta corrente. Há diversos outros caras que vivem da intermediação do capital estrangeiro que já argumentaram nesse sentido em várias oportunidades. É uma sandice sobre a qual espero escrever aqui também.

Sei que talvez esteja pegando pesado. É que parei de fumar faz alguns dias, hahah. Tá foda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário