sábado, 29 de maio de 2010

Guerra e Paz

Em homenagem à realização da Conferência de 2012 para um Oriente Médio livre de armas nucleares, decisão recentemente tomada em NY com a conclusão dos trabalhos de revisão do TNP.

Indigência intelectual de nossa elite escravocrata

Teria alguns pequenos reparos, bem marginais, ao que vem sendo feito, portanto talvez não carregasse tanto nas tintas quanto o Leandro, mas a reação da grande imprensa à política externa brasileira está mesmo beirando o ridículo. Não sei o que farão caso se confirmem as expectativas de que nas próximas pesquisas Dilma já apareça com alguma vantagem mais concreta sobre o Serra.

Do blog do Leandro Fortes

"Em linhas gerais, Luís Fernando Veríssimo disse, em artigo recente, que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de, no presente que se apresenta, um presidente da República tão popular como Luiz Inácio Lula da Silva ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira. Em suma, Veríssimo colocou em perspectiva histórica uma questão que, distante no tempo, contará com a vantagem de poder ser discutida a frio, mas nem por isso deixará de ser, talvez, o ponto de análise mais intrigante da vida política do Brasil da primeira década do século XXI.

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar a força histórica do momento e suas conseqüências para a consolidação daquilo que se anuncia, finalmente, como civilização brasileira. O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado, fruto de uma incompreensão histórica que só pode ser justificada pelo distanciamento dos donos da mídia em relação ao mundo real, e da disponibilidade quase infinita de seus jornalistas para fazer, literalmente, qualquer trabalho que lhe mandarem os chefes e patrões, na vã esperança de um dia ser igual a eles.

Assim, enquanto a imprensa mundial se dedica a decodificar as engrenagens e circunstâncias que fizeram de Lula o mais importante líder mundial desse final de década, a imprensa brasileira se debate em como destituí-lo de toda glória, de reduzí-lo a um analfabeto funcional premiado pela sorte, a um manipulador de massas movido por programas de bolsas e incentivos, a um demagogo de fala mansa que esconde pretensões autoritárias disfarçadas, aqui e ali, de boas intenções populares. Tenta, portanto, converter a verdade atual em mentiras de registro, a apagar a memória nacional sobre o presidente, como se fosse possível enganar o futuro com notícias de jornal.

Destituídos de poder e credibilidade, os barões dessa mídia decadente e anciã se lançaram nessa missão suicida quando poderiam, simplesmente, ter se dedicado a fazer bom jornalismo, crítico e construtivo. Têm dinheiro e pessoal qualificado para tal. Ao invés disso, dedicaram-se a escrever para si mesmos, a se retroalimentar de preconceitos e maledicências, a pintarem o mundo a partir da imagem projetada pela classe média brasileira, uma gente quase que integralmente iletrada e apavorada, um exército de reginas duartes prestes a ter um ataque de nervos toda vez que um negro é admitido na universidade por meio de uma cota racial.

Ainda assim, paradoxalmente, uma massa beneficiada pelo crescimento econômico, mas escrava da própria indigência intelectual."

terça-feira, 25 de maio de 2010

Geithner, Hillary e Bernanke em Pequim

2a rodada do Diálogo Econômico e Estratégico China-Estados Unidos em Pequim. High Politics. No comments allowed.

Falando em Transe...

O que dizer dessa session de nosso amigo Fela Kuti? Nigéria pós guerra civil, Calabar, à noite, sob chuva... um lance meio espiritual. Ginger Baker narrando. E há aqueles que criticam, do alto de seus momentos inesquecíveis em Londres ou Paris, a abertura de Embaixadas na África. Basta ver esse vídeo, basta ver a ginga, a música e os sorrisos, o calor humano, basta isso, para termos a certeza dos laços que unem o povo brasileiro aos povos africanos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Desafios

Sem Lula, sem FHC, num quadro de instabilidade internacional, dependência de base fisiológica no Congresso, dificuldades de manutenção de um modelo de crescimento via consumo, com baixa taxa de investimentos, dependência da exportação de commodities aumento do passivo externo líquido, como ficarão os rumos do país in the short term, I mean, in the next 5 years?

A dialética da conciliação
Do Valor
A novela da sucessão
Luiz Werneck Vianna
24/05/2010


Em uma democracia de massas, uma sucessão presidencial suspende a marcha ordinária da política, põe sob tela de juízo o script até então estabelecido e se abre às promessas da novidade. Como em uma novela, esse é um momento em que se começa a delinear o esboço de um próximo capítulo a partir da interpretação do que acaba de se viver. Toda história tem um autor, em princípio o senhor da trama que tece, mas todos já ouvimos falar da experiência de escritores que se surpreenderam quando viram personagens, nascidos da sua imaginação, ganharem animação autônoma, passando como que a agir por conta própria.

Quando há um processo de sucessão institucionalizado, mesmo em regimes políticos autoritários, como ocorreu aqui em tempos recentes, a mudança no comando político nunca é trivial – a passagem do bastão nos governos dos generais-presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, cada um deles levado ao poder por um círculo homogêneo de eleitores muito restrito, como se sabe, não desconheceu o conflito e a mudança de rumos.

No entanto, a presente sucessão transcorre, ao menos até aqui, de acordo com as estratégias dos dois principais candidatos, a de Serra e a de Dilma, como se o próximo capítulo – inevitavelmente, mais uma vez, sob a égide dos partidos de hegemonia paulista, o PT e o PSDB -, já estivesse comprometido a reprisar, com retoques, os anteriores. Tanto a retórica de Serra quanto a de Dilma apontam para essa direção, os dois reivindicando para si o papel de melhor intérprete para continuar um roteiro supostamente consagrado.

As diferenças se resumiriam a questões operacionais na condução da economia, como, por exemplo, na questão de juros e no grau de relativa autonomia a ser desfrutada pelo Banco Central diante das autoridades governamentais. Serra, como Aécio Neves preconizava, não seria um candidato de oposição, definindo-se como um pós-Lula. Dilma, por sua vez, seria Lula como um outro corpo do Rei, em vigília fiel de quatro anos à espera que seu verdadeiro titular reocupe seu lugar. Nesse jogo de simulações, o que importa, para uma candidatura, é a herança da popularidade de Lula, e, para a outra, não confrontá-la. Não importa que o cenário do mundo esteja mudando à frente de todos, como bem atesta a profundidade da crise da União Europeia, logo em seguida à crise financeira de fins de 2008. Como que indiferente a ele, a pauta dos candidatos segue obedecendo aos cálculos do marketing político.

Mas há algo nesse enredo que não encaixa. Se Dilma pode ser eleita pelo lulismo, não poderá governar com ele, na medida em que ele é atributo intransferível do carisma do seu inventor. Ela terá de governar com o PT e com a coalizão política que a eleger, na qual está o PMDB, com um dos seus cardeais instalado na Vice-Presidência da República. Por outro lado, o bordão nacional-popular não é próprio para a nova inscrição internacional do país e para as aspirações de projetar o capitalismo brasileiro na economia-mundo, que requer uma gramática dominada pelo pragmatismo.

Uma indicação disso está nas abdicaçôes de José Eduardo Dutra presidente do PT, e de Antonio Palocci, um condestável da política econômica, das suas pretensões eleitorais a fim de assumirem posições de comando na campanha eleitoral de Dilma. Caso ela seja eleita, não há outra leitura possível, ambos serão guindados ao seu ministério, além, é claro, do Henrique Meireles. De outra parte, Serra, mesmo que não confronte com o governo atual, para que seja um candidato competitivo, terá de sustentar outro andamento à história em que estamos há 16 anos envolvidos, apresentando alternativas persuasivas que garantam continuidade a ela, em especial em matérias como a da questão social e a do crescimento econômico. Nessa agenda, deve ser incluída a valorização de uma vida civil ativa e autônoma, uma vez que não são compatíveis com a nova democracia política brasileira as tendências que aí estão de estatalização dos movimentos sociais, inclusive dos sindicatos.

A novela que nos tem como seu público obrigatório, a essa altura incapaz de mobilizar paixões, destituída de suspense, com suas reviravoltas e artimanhas nossas velhas conhecidas, não deve passar pelo hiato da Copa do Mundo. Depois dela, cairão as máscaras da dissimulação, e o enredo ficará tenso e cheio de surpresas: é ainda possível manter, na frente agrária, o agronegócio sob a pressão dos movimentos sociais do tipo MST; como compatibilizar, com os dois lados ganhando, os interesses dos chamados ruralistas com um vigoroso movimento ambientalista, hoje identificado com uma candidatura presidencial?

Noutra ponta: o nacional-desenvolvimentismo, com seus imperativos políticos de projeção do poder nacional, pode encontrar lugar em uma economia conduzida pelo eixo Henrique Meirelles-Antonio Palocci? Qual a dialética que poderá sustentar a política externa atual com as necessidades, a essa altura inarredáveis, do país ocupar uma posição entre os grandes do mundo? As demandas pelas reformas trabalhista e previdenciária, desejadas pelo empresariado, como se haverão com a resistência dos sindicatos, hoje, em franco processo de recuperação da sua força de outrora? Lula, no seu tempo, que já não é o de agora, pôde conciliar esses antagonismos. Alguém mais pode?

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Relatividade social

Jessé Souza já foi citado nesse blog. Tenho alguns livros dele. É um bom analista, um desses caras que sai do lugar comum, não fica nos clichês. Quem lê a chamada, pode ficar com a impressão de que ele critica o Bolsa Família. Mas não é verdade. Cito parte de sua resposta: "O programa Bolsa Família tem extraordinário impacto social, econômico e político, com investimento público relativamente muito baixo. É incrível que não se tenha pensado nisso antes. Mais incrível ainda que exista gente contra." Porém, como ele salienta, o programa é limitado em termos mais estruturais. Mas reitero: é incrível que haja gente contrária. Entre os bem nascidos, especialmente. É inacreditável. E vamos à mini-entrevista...

Para sociólogo, Brasil ainda vive um abismo social
Jessé Souza afirma que Bolsa Família não consegue incluir mais pobres e resolver questão da desigualdade

Especialista é autor de "A Ralé Brasileira", em que estuda parcela da população que vive como "subgente"

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

Na contramão dos estudos que apontam melhora da distribuição de renda no Brasil, o sociólogo Jessé Souza afirma que o país ainda vive uma "desigualdade abissal" em sua sociedade.
Coordenador do Centro de Pesquisa sobre Desigualdade Social da Universidade Federal de Juiz de Fora, Souza lançou recentemente o livro "A Ralé Brasileira", em que estuda as características dessa "parcela da população que vive como subgente".
A seguir, trechos da entrevista concedida por Souza.

Folha - A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu nos últimos anos. Em seu último livro, o sr. diz ser falsa a tese de que a desigualdade brasileira está desaparecendo. Por quê?

Jessé Souza - Esses índices mostram apenas que a pobreza absoluta diminuiu. Mas a desigualdade é um conceito relacional.
O Brasil é uma das sociedades complexas mais desiguais do planeta. Entre 30% e 40% de sua população tem inserção precária no mercado e na esfera pública.
Somos uma sociedade altamente conservadora, que aceita conviver com parcela significativa da população vivendo como "subgente".
Essa classe social, que chamamos provocativamente de "ralé", é a mão de obra barata para as classes média e alta que podem -contando com o exército de empregadas, motoboys, porteiros, carregadores, babás e prostitutas- se dedicar às ocupações rentáveis e com alto retorno em prestígio.
É isso que chamo de "desigualdade abissal" como nosso problema central.

Qual sua avaliação sobre o Bolsa Família?

O programa Bolsa Família tem extraordinário impacto social, econômico e político, com investimento público relativamente muito baixo. É incrível que não se tenha pensado nisso antes. Mais incrível ainda que exista gente contra.
Por outro lado, o Bolsa Família não tem condições, sozinho, de reverter o quadro de desigualdade e "incluir" e "redimir" a "ralé".
Esse é um desafio de toda a sociedade, e não apenas do Estado. É claro que houve avanços nas duas últimas décadas, mas mudança social é muito mais do que condições econômicas favoráveis.

O senhor tem argumentado que não é possível limitar a discussão de classe à questão da renda e que é necessária uma nova compreensão das classes sociais.

A redução das classes sociais ao seu substrato econômico implica perceber apenas os aspectos materiais, como dinheiro, e "esquecer" a transmissão de valores imateriais, como as formas de agir no mundo.
E são esses valores imateriais que constituem os indivíduos como indivíduos de classe, com comportamentos típicos incutidos desde a mais tenra infância.
Como regra, as virtudes são todas do "espírito", como a inteligência. Os vícios são ligados ao "corpo". As classes superiores "incorporam" as virtudes espirituais, e as inferiores, as virtudes ambíguas do corpo.
As virtudes do espírito recebem bons salários, prestígio e reconhecimento social. As classes do "corpo" tendem a ser animalizadas, podendo ser usadas e até mortas por policiais sem que ninguém se comova com isso.

E o senhor afirma que mesmo a educação é insuficiente?

É claro que a educação é um fator fundamental. O problema é que a competição social não começa na escola.
Sem considerar que crianças de classes diversas já chegam à escola como vencedoras ou perdedoras, o que teremos é uma escola que só vai oficializar o engodo do mérito caído do céu de uns e legitimar, com a autoridade do Estado e a anuência da sociedade, o estigma de outros.

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

Chinesas

1) Três meses e meio depois, hoje fui cortar o cabelo. Tava sinistro. Elisa falando que tava pior que época do Rio Branco. Cheguei no lugar e ninguém falava inglês. Fui preparado, levei passaporte e duas carteiras com foto, mostrei pro cara, expliquei com a velha mímica, ele só mandando o "haode", que é o ok deles (pronuncia-se raodã), todo espertalhão.

Poucos minutos se passaram antes que eu soltasse o "pára, pára, pára, tá bom, haode." Antes que o estrago ficasse maior. Os caras são sem noção. Welcome to China.

2) Visitei uma cadeia nos arredores de Pequim. Há dois brasileiros presos lá. Tio e sobrinho. O crime? Roubaram um celular de uma loja durante as Olimpíadas. Tudo filmado. A sentença? 5 anos pro tio, 3 anos e pouco pro sobrinho. Comem arroz sem tempero e repolho todos os dias. Welcome to China.

Depois quem sabe escreverei mais sobre o drama de nossos amigos. Fiquei tocado, vou ajudá-los com um monte de coisas. As famílias nunca vieram visitá-los. A mulher do mais novo abandonou-o. O mais velho, marmanjo, passou a conversa toda, por telefone, com aqueles vidros no meio, segurando o choro. Tentei dar muita força moral, fazê-los olhar pra frente. Minha prioridade, além de levar frutas, tempero, chocolate em pó, vitaminas, livros, uma bola de volei e notícias do Corinthians (piada pronta), é conseguir que lhes permitam ver os jogos da seleção. Para isso, pretendo fazer uma visitinha ao Diretor do Presídio. Tô montando o esquema. Mais notícias nas próximas semanas.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Abre Aspas

Pro Alon, em seu blog hoje. O mundo não é branco nem preto. Tá tudo tão cinza, tão complicado.

"Orfandade

A pátria operacional do liberalismo, os Estados Unidos, está na bica de aprovar uma revolução no sistema financeiro, aumentando drasticamente a regulação e os controles sobre ele. Isso depois de Barack Obama passar no Congresso uma também revolucionária reforma na Saúde, para incluir os excluídos da cobertura estatal.

O primeiro presidente negro dos Estados Unidos avança em sua agenda progressista, em todas as frentes. Na teoria, deveria estar sendo saudado pela esquerda latino-americana, incluída a brasileira. Mas a turma anda amuada porque Obama não lhes deu colher de chá em Honduras e agora aperta o cerco ao Irã.

O limite de Obama é o interesse nacional americano. Diferente do que alguns possam ter imaginado, ele não se elegeu para organizar a retirada, mas para continuar a hegemonia. Que hoje exige novos parâmetros.

Tem algo de humorístico a esquerda tupiniquim, Luiz Inácio Lula da Silva à frente, precisar falar mal do presidente americano bem no momento em que ele enfrenta interesses e grupos de pressão que aqui dentro o governo do PT nem pensa em criticar.

É dura a vida."

Psicologia do futebol

Gosto dos textos do Xico Sá. Na Folha de hoje.

XICO SÁ

Dr. Freud Futebol Clube

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São Paulo e Grêmio exibiram como o inconsciente das equipes pode agir para o bem ou para o mal nos gramados --------------------------------------------------------------------------------

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, uma das coisas mais belas e clicherosas do futebol é que os times agem como se pessoas fossem altamente impressionáveis pelo que dizem deles, por suas caricaturas ou imagens públicas. Diria até, se os freudianos mais chatos me permitem um trago do vosso cachimbo, que o jogo é jogado mais com o inconsciente das equipes do que com os esquemas táticos e com os pés.
Repare no São Paulo. Fez um Paulistinha medíocre, começou engatinhando como uma débil criança na Libertadores da América, aí, do nada, veio o estalo, epa, e o tricolor derruba o favorito Cruzeiro. Sem querer tirar mérito profissional de ninguém, mas aí agiu o inconsciente são-paulino como esquadrão vencedor-mor desta copa cucaracha.
Tudo bem, o amigo pode dizer que o Fernandão é um gênio, um craque -só Fernandão salva!-, e sozinho arrumou um bando desconjuntado que não vinha bem das pernas. É a tese óbvia dos cavalheiros das mesas-redondas. Faz um pequeno sentido, mas não explica. O SPFC renasceu e recobrou o inconsciente de vencedor latino-americano na hora de um grande aperto, como nós, homens de todos os quilates.
Foi no triunfo dos pênaltis, em que Rogério Ceni dialogou com a tragédia e a glória nas cobranças, que o tricampeão sentiu que podia de novo, de novo e de novo, pedir o bis. A torcida sofreu e voltou para a vida junto, inconsciente coletivo no grau último, mr. Jung.
O inconsciente, amigo, insisto qual um mala de balcão de boteco, nos faz dizer ou fazer coisas sobre as quais não temos o total controle, porém são coisas que estavam ali guardadas, quicando na marca do pênalti do nosso cocoruto, pedindo "me chuta, me chuta". Para o bem ou para o mal, me chuta, desgraçado.
Repare, amigo, no que aconteceu ao Grêmio. Nem vou falar hoje do Santos, minhas retinas estão fatigadas de tanta beleza e videoteipe. O time gaúcho, sob o comando do Silas, jogou bonito e para cima, moçada, no primeiro tempo da batalha decisiva na Vila Belmiro. Era o Grêmio do técnico, não era o clube e o seu repertório da força bruta de quem peleia cegamente.
Aí veio o segundo tempo. O honrado tricolor do alegre porto caiu no conto inconsciente da braveza, rebateu bolas para as margens do Guaíba, sentou a pua nos meninos, acreditou na lenda que se esconde sob a falsa premissa de que "futebol arte é coisa de viado", como diz meu amigo Eduardo Bueno, o Peninha, no começo do livro sobre o Grêmio (coleção Camisa 13, ed. Ediouro).
Era o inconsciente gremista sabotando a Copa do Brasil, ao contrário do que desejava o bom Silas, como nós, pobres guiados pela mesma doideira latente no juízo, sabotamos amor, trabalho, amizade, histórias.
O Santos levar aquele golzinho também diz tudo. Dracena e Durval, caubóis envelhecidos nos barris de tantos faroestes, jogaram bem, incríveis. Quem pode, porém, com a mística de que o Peixe é um time que, na história, sempre fez muitos gols, mas inevitavelmente leva?
É a cabeça, irmão, é a cabeça irmão, como cantava o Silvio Brito.
Seja isolada ou coletiva, é a cabeça, irmão, é a cabeça, irmão, quem manda no jogo da vida.

Lições chinesas

Almocei nesta semana com colegas da Embaixada e um sujeito muito interessante, Arthur Kroeber. É o editor-chefe do Dragonomics, um centro de pesquisas econômicas e também um pouco sociais e políticas a respeito da China. A formação original dele é teologia. Inteligentíssimo, bem articulado, raciocínio lógico, embora às vezes um pouco mais complexo.

Falou-se sobre muita coisa, discutiu-se, exploraram-se idéias, perspectivas, foram repassados fatos e dados recentes e outros nem tanto. Ao final, saiu a sensação de que tive duas horas realmente proveitosas.

O melhor foi dito no começo. Logo ao iniciar sua exposição sobre como via as transformações econômicas, sociais e políticas que a China vem implementando, em particular aquelas que ela necessita para manter o ritmo de desenvolvimento e certa coesão social, nosso amigo Artur veio com a seguinte pérola:

"In the short term, I mean, in the next 5 or 10 years, ...."

Fantástico. Essa é a lição número 1 em termos de China. O tempo é dilatado. E assim deve ser observada também a política internacional. Por isso, quando me perguntam sobre o Irã ou Honduras, ou outra manchetezinha de jornal, ou alguma análise de alguns bem nascidos que estão ouriçados com o upgrade recente de nosso país, eu costumo não falar muito, não me comprometo, não compro briga.

Não sabem nada. Não entendem. Dá trabalho, e requer inteligência, raciocinar como nosso amigo Kroeber. No curto prazo, quer dizer, os próximos 5 ou 10 anos. O tempo é dilatado. Não cabe na moldura da edição do jornal ou do calendário eleitoral.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lance Espiritual

Um lance espiritual, Jorge Ben e Gilberto Gil em 1975 fazendo uma session, Filhos de Gandhi. Hoje me encaminhava para um evento daqueles formais, cheio de autoridades, discursos (em chinês) e aplausos, nos arredores de Pequim logo pela manhã, e fui ouvindo pelo caminho o CD inteiro, essa Filhos de Gandhi me levou pra longe, muito longe, talvez pro Brasil, cheguei zen ao local, recepção com pompa e circunstância, eu sorria mansamente em uma bela manhã de sol.

Um clássico, sensacional, vídeo ainda por cima com belas imagens. Vejam a descrição que está no youtube:

1975 in Rio, session of studio, way jam acoustic between two giants of Afro Brazilian, Jorge Ben, pope of the soul samba and Gilberto Gil, heavyweight of the groove of Bahia. Around the hymn of "the sons of gandhi", Afro block of bahia, Jorge and Gil get out the filling, invent a tongue.

Minimalist ten minutes in music but almost trance in the spirit.


Divirtam-se. Viva Gandhi. Viva o Brasil. A paz, a alegria e o amor. O diálogo. A serenidade. Elogio da Serenidade: Bobbio. Fica a dica.

sábado, 15 de maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

da Piauí


Num derradeiro esforço “em nome da governabilidade”, Sarney propôs ao partido que vier a governar com o apoio do PMDB que considere a possibilidade de Elizabeth II ser substituída por Marly I.

PMDB se oferece para formar governo de coalizão na Inglaterra

SÃO LUIZ, LONDRES – Diante do impasse das eleições inglesas desta última quinta-feira, cujo resultado não produziu um vencedor com maioria parlamentar, o senador José Sarney ligou para os líderes dos partidos Conservador, Trabalhista e Liberal oferecendo a cada um deles o apoio do PMDB para formar um governo de coalizão. “Eu mesmo já apoiei Jânio Quadros, Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Itamar, FHC e Lula. Diferenças programáticas não são empecilho para uma ação política madura e coerente”, disse Sarney, diante de um organograma do Estado britânico no qual assinalou em vermelho as expressões “Royal Mail”, “National Health Service”, “Bank of England” e “Monarchy”.

O entusiasmo de Sarney ficou algo arrefecido ao ouvir do conservador David Cameron que a British Petroleum não é estatal, o que impede o governo de conseguir uma diretoria para o namorado da sua filha. “E nem um lugarzinho para o Lobão?”, teria perguntado o Senador, surpreso com a falta de influência dos líderes políticos do Reino Unido. O golpe de misericórdia foi dado pelo liberal Nick Clegg, que assegurou ao senador que a Inglaterra não tem uma “gráfica do Parlamento”.

Viva a música brasileira

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Adendos

1) No post sobre a Lei de Anistia e o STF, havia escrito que a lei foi pactuada, aprovada pelo Congresso. É uma meia-verdade e, como se sabe, as meias-verdades podem ser as piores mentiras. O regime militar tinha a maioria na Comissão. Houve diversos votos contrários. Naquela situação, naquele tempo, fica difícil dizer que havia clima, ou legitimidade, para uma solução diferente. Não sei se seria o caso, mesmo assim, de abrir a janela para punição, 30 anos depois, dos torturadores. Pois fica a pergunta fundamental: e os mandantes? e quem estava por cima? e quem se fez pelas graças do regime militar? Estão aí: políticos, bancos, empresários, meios de comunicação poderosos. Eles também serão punidos? Como não acredito nisso, não sei, acho melhor olhar para frente. Talvez por não ter vivido esse tempo, por não conhecer ninguém que tenha sofrido nas mãos do regime, eu não esteja tão ligado assim a isso.

2) No post sobre os 90 anos de Fellini, falei sobre a cena da montanha russa. Mas revi 8 e Meio recentemente. Essa cena é de outro filme dele, não me lembro qual. Ou é fruto de algum sonho meu.

3) Sonho meu, sonho meu. Quem conhece esse samba pode imaginar minha alegria ontem no Brazil Cultural Day em Pequim. Estava sol, pessoal animado, gringaiada compareceu, foi bem legal. O Brasil tá na moda. O vira-lata se tornou chique.

Sob as barbas de Gengis Khan



Sob as barbas do grande guerreiro Gengis Khan, num restaurante mongol, com tenda nômade mongol, show de música e dança mongol, comida mongol, cachaça mongol e uma mina mongol.

A estória é simples: a corretora que me ajudou a descolar o ape me disse que eu trabalhava demais, que sou legal e bonito, mas que tava muito sozinho, reclamando do frio, precisava me distrair mais, me engendrar com moças locais, até para desatolar o aprendizado de chinês. Portanto, vejam que idéia genial, ela sugeriu me apresentar a uma amiga dela da Mongólia, de onde, segundo ela, viriam as mais belas mulheres da China. Desconfiei, desconfiei, desconfiei, mas aí pensei: por que não? E lá fui eu...

O detalhe é que a moça em questão, que é mesmo bonita, não falava praticamente nada de inglês. Levou um dicionário chinês-inglês, que beleza, super preparada. E eu ainda não consigo trocar muita idéia em chinês, praticamente nada, é difícil. Então, amigo, haja cachaça. E para minha surpresa, ela bebia muito, muito mais do que eu. O resto eu deixo para a imaginação de vocês.

sábado, 8 de maio de 2010

Templo de Confúcio & Lama Temple (Yong He Gong) Palace of Peace and Harmony

Pois é. Hoje fui então ao Templo de nosso amigo Confúcio em Pequim. A vida e os ensinamentos do Mestre dão uma grande história sobre a qual ainda não estou preparado para escrever. Portanto, vou me limitar aos fatos. E o primeiro deles é que não tenho fotos do passeio de hoje, que incluiu também o magnífico Lama Temple, Palace of Peace and Harmony, o maior Templo budista de Pequim. Lamentável e velha bagunça e desorganização, levei a máquina mas havia me esquecido de carregá-la. Podem imaginar minha felicidade ao perceber isso...

Cheguei facilmente ao local. Estou ficando bom na comunicação com os taxistas. Por vezes falo em português e parece que eles entendem. A mímica vai ficando para trás. O Templo de Confúcio fica numa das ruas mais antigas de Pequim. Foi construído no começo do Século XV, quase 2 mil anos após a morte dele. De fato, apenas a partir da Dinastia Han, por volta de hmmmm... no começo da Era Cristã, acho, Confúcio foi elevado á condição oficial de figura reverenciada, inclusive, e principalmente, pelos Imperadores. Mas, como sabemos, no Século XV reinava a Dinastia Ming. Tá confuso, né? Pois é, voltemos ao relato.

Fazia um belo dia de cinza (ironia). Está mais quente. Andou chovendo. As árvores reviveram. Há flores. Até alguns pássaros. A cidade tá ficando mais bonita. A rua do Templo, então, como eu dizia, é bem antiga. Há 4 grandes arcos chineses nela, parece que nenhuma rua da capital tem essa quantidade. Há muitas lojinhas de artefatos filosóficos/religiosos por ali. Vendedores ambulantes. Abacaxis no palitinho, até experimentei um, muito bom. Vários itens budistas também. O Templo abrange na verdade uma série de construções não muito grandes. Há uma bela estátua de nosso amigo logo na entrada. Há um mini-museu bem interessante ao leste (chinês não fala direita, esquerda, frente, trás: somente leste, oeste, sul e norte). O lugar é bem tranquilo, sem aquela muvucada de turistas. Ficam umas pessoas lendo. Árvores de centenas de anos, dizem, como é mesmo o nome? Esqueci. Elas estão em todos os grandes locais antigos de Pequim, são reverenciadas. Ao lado do Templo, um grande colégio, também com uns 700 anos. Lá se estudava a obra do Mestre. Benevolência. Os ritos. O caminho. Bom, tem o vídeo abaixo. Dêem uma olhada. Voltarei ao Templo, certamente.

Pertinho do Templo de Confúcio, bem pertinho, fica o glorioso Lama Temple, construído a partir de 1694, Dinastia Qing. Servia de residência a um Príncipe que depois de tornou Imperador. Depois, foi definitivamente transformado em Templo.

Buda, Buda, Buda. Budismo. Fica num espaço bem maior, com um agradável jardim na entrada. São também diversos espaços, com várias estátuas de Buda, imagens associadas ao budismo, monges, incensos, turistas e chineses. Ao norte, bem no final do espaço, há um último Templo com, atenção, uma enorme estátua de Buda de 18 metros. Folheada a ouro. Majestosa, muito legal. Nosso amigo Buda está com uma face bem tranquila, de boa, zen mesmo. Parece que a pronúncia de Buda, em chinês, é a mesma de felicidade. Vou averiguar.

Lama Temple, portanto, é outra parada imperdível de Pequim. Abaixo postei um vídeo do lugar. Tentem entender chinês. Tem legenda em inglês. Estou lendo um livro, "Chinese Religions" de Julia Ching, uma cientista política de origem chinesa que leciona nos EUA. Belo livro. Começa lá atrás, com o misticismo antigo, o Tao, depois vem o Confucionismo, mais pra frente o Budismo. Ela discorre sobre diversas coisas muito interessantes. Estou no início. Tenho mania de ler várias coisas ao mesmo tempo. E sou muito indisciplinado. Isso prejudica. Mas devagarzinho vou juntando os pedaços, pequenos pedaços, desse monumental e insolúvel quebra-cabeças chamado China.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Só o fim

O petróleo jorra do fundo do Golfo do México. Não há acordo a vista na área de mudança climática. A regulação do sistema financeiro também enfrenta dificuldades, a ciranda prossegue aceleradamente. Pressões protecionistas aumentam. O multilateralismo aprofunda sua crise, a ONU se enfraquece ainda mais. Os EUA forçam em cima do Irã enquanto desenvolvem novas armas de destruição em massa. Terroristas planejam atentados, às vezes bem sucedidos. Israel constrói casas e ergue muros. Os países se armam, os gastos vêm aumentando. A Europa é comida pelas beiradas e a coisa vai se aprofundar. Japão, China, Taiwan, Coréia do Sul e Coréia do Norte prosseguem num equilíbrio meio precário. A Rússia e a Índia observam seu entorno. O Paquistão observa a Índia, mas também o Afeganistão ocupado pelos EUA. E a África, bem, a África... Às vezes me pergunto se não vivemos um período semelhante aos anos que antecederam a I Guerra Mundial. Sonho que vira tragédia.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ganso herói do título

Jogou muita bola. Quanta elegância, quanta categoria. Teve personalidade. Atitude. Brilhou no drama santista da madrugada de Pequim. Se o futebol é mesmo um imenso teatro, Ganso assumiu com maestria o papel de ator principal.

O necessário aumento da estrutura diplomática

Ministério avalia que Brasil precisa ampliar seu quadro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

Embora o Brasil tenha aberto novos postos de representação no exterior e ampliado o número de diplomatas nos últimos anos, a avaliação do Ministério das Relações Exteriores é que o país ainda precisa fazer um aumento "expressivo e contínuo" no seu quadro de funcionários.
"Eram cerca de mil diplomatas em 2005. Neste ano [2009], seremos 1.400. O acréscimo foi mais que oportuno: foi necessário. Na realidade, foi pouco", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em discurso no Dia do Diplomata no ano passado.
Ele fez a comparação com os Estados Unidos. Disse que o governo Obama também elevou em 40% o quadro de diplomatas, mas, no caso deles, eles passam de 10 mil para 14 mil.
Foi a pedido do próprio Amorim que o departamento de promoção comercial e investimento do MRE fez um estudo para identificar onde poderiam ser criados novos setores. A lista fechada tem 50 cidades.
O número desses setores de promoção comercial já cresceu desde o ano passado, afirma Norton Rapesta, diretor do departamento. Eram 65 em 2009 e, hoje, são 84 em 71 países. Por questões orçamentárias, não há prazo para que os 50 novos setores sejam implementados.
Segundo Rapesta, países que já têm núcleos comerciais, como Alemanha e Canadá, devem ser reforçados. E países que representam novos mercados devem ser melhor explorados.
Segundo a Folha apurou, a expectativa é ampliar "em breve" o número de diplomatas na China. A embaixada no país tem 13 diplomatas. Os chineses têm pouco mais de 20 aqui e devem expandir o quadro."Acredito que no futuro bem próximo vamos reforçar a equipe econômica, nos consulados e na embaixada", disse Pan Mingtao, representante da Embaixada da China.

Crescente interesse

Países turbinam suas embaixadas no Brasil
Mercado aquecido e projetos de infraestrutura fazem com que o país vire alvo da diplomacia das principais economias

Feiras de negócios, visitas de ministros e contratação de especialistas estão entre os exemplos do entusiasmo com o Brasil no pós-crise


ÁLVARO FAGUNDES
VERENA FORNETTI
DA REDAÇÃO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com grandes projetos de infraestrutura e estimativas favoráveis de crescimento, o Brasil se tornou alvo da atenção de algumas das principais economias do mundo.
O interesse em elevar as exportações para o país, estimular associações com empresas brasileiras, fazer e também atrair investimentos motivam países do G7 (grupo dos sete mais ricos) e emergentes a ampliar o número de diplomatas e de especialistas em comércio nas embaixadas brasileiras.
Exemplos desse entusiasmo com o Brasil são recorrentes no pós-crise. O Reino Unido, por exemplo, criou um setor de ciência e inovação em São Paulo e um de mudanças climáticas em Brasília. A Alemanha planeja instalar uma Casa da Ciência e Inovação na capital paulista.
O ministro de economia alemão acaba de vir ao país com executivos de 50 empresas. E os compromissos no país da ministra da economia francesa ficaram mais frequentes.
EUA, Alemanha e França (que juntos representam 35% do PIB global) recentemente divulgaram comunicados manifestando o desejo de aumentar o comércio com o Brasil.
O governo Obama informou, em fevereiro, que elevará o número de especialistas em comércio no Brasil, na China e na Índia para que "defendam e encontrem consumidores para as companhias dos EUA".

Segundo Abina Dann, cônsul-geral do Canadá em São Paulo, o Brasil ganha espaço nas relações comerciais. "Até agora, tínhamos mais experiência com China e Índia, mas o Brasil está esquentando." O Canadá abriu escritórios no Nordeste e no Sul para facilitar parcerias nessas regiões.
E o país deve quase dobrar, em relação a 2004, o número de especialistas e diplomatas até o ano que vem. Segundo Dann, a meta é não só incrementar importações e exportações, mas estimular joint ventures e fomentar investimentos.
Em 2008 (último dado disponível), especialmente por conta da brasileira Vale, os investimentos do país no Canadá já eram maiores que os canadenses no Brasil -US$ 12 bilhões ante US$ 9,2 bilhões.
O embaixador da Itália, Gherardo La Francesca, afirma que o país europeu está "redescobrindo" o Brasil. "O Brasil ganhou importância econômica e política. Passou a ser um interlocutor muito interessante."
Segundo ele, um novo especialista em economia foi recrutado -sinal de prestígio do Brasil, diz. "A Itália está seguindo uma redução de gastos rigorosa. Aqui, ao contrário de outras embaixadas, os funcionários não estão sendo reduzidos."
Em abril, o presidente Lula assinou acordo com a Itália para incrementar as parcerias em áreas como defesa e energia.
A embaixada francesa no Brasil também foi poupada da redução mundial de postos, afirmou Dominique Mauppin, chefe da missão econômica em São Paulo. Ele destaca que o investimento no Brasil ganha relevância na comparação com outros emergente. "Há um número maior de empresas francesas trabalhando na China, mas os investimentos franceses no Brasil estão maiores."
Especialistas dizem que a estabilidade macroeconômica do país dá segurança ao investidor.
Para o secretário-adjunto de Comércio dos Estados Unidos, Suresh Kumar, que veio ao Brasil semana passada com cem empresas para promover negócios, a função do Estado seria como a de uma parteira, que auxilia o casal (no caso, as empresas dos dois países) a gerar frutos -ou seja, negócios.
Como outros dirigentes, Kumar destaca a importância da Olimpíada e da Copa. Alemanha, Coreia do Sul e Reino Unido dizem que suas empresas usarão a experiência em Mundiais para fazer negócios.
A Coreia do Sul mira projetos envolvendo o setor naval, o petrolífero e o de transporte. O país deve disputar o leilão do trem de alta velocidade.
O Japão também está interessado na área de infraestrutura. Segundo o consulado do Japão em São Paulo, o número de empresas japonesas no Brasil está crescendo rapidamente.

Política Externa e Eleições

Política externa, eleições e academia/opinião

José Flávio Sombra Saraiva

A política externa do Estado democrático é expressão ampliada da interna, embora a primeira não seja simplesmente extensão da segunda. A externa deve expor as áreas de consenso dos interesses nacionais, os valores históricos da nação e agir de forma mais dilatada no tempo. Move-se a política externa, primordialmente, no campo do mediato. Atua com mais racionalidade operacional que as paixões domésticas das lutas partidárias internas.

A política doméstica, mais nervosa e superficial, está mais sujeita às turbulências da pólis. É mais profana que os altos interesses e valores ensaiados pelo Estado em sua inserção internacional. A política externa, no entanto, está mais dependente das condições ambientais do cosmo, do mapa-mundi, das mudanças do sistema internacional.

Área em geral sob o controle do príncipe, a política externa não é boa de voto. Os súditos estão em geral preocupados com matérias tangíveis e imediatas. Mesmo em regimes democráticos modernos, a política externa não engorda carreiras políticas de postulantes aos cargos eletivos do Estado, seja no Legislativo, seja nos governos nacionais ou subnacionais. Isso se verifica na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil.

O Brasil tem acumulado positivo na simbiose do jogo político interno com o externo. Aqui o regime político e o líder de plantão quase não tiveram papel internacional além das possibilidades do país, dos anseios da nação e dos meios objetivos que dispomos. Os militares mantiveram, na ditadura, os padrões pendulares entre uma inserção autonomista e desenvolvimentista com a abertura associativista aos interesses das grandes companhias internacionais. Mas nem o regime autoritário nem a democracia recente de 25 anos atentaram contra o padrão de inserção global do Brasil. Seguiu sendo área responsável.

País novo, calmo, desconfiado de protagonismo sem meios, a ensaiar sua maturidade de dois séculos de soberania no sistema das relações internacionais, o Brasil soube glosar a construção da nação com a busca de autonomia externa por cooperação. É um patrimônio a ser conservado e renovado com ousadia e grande prudência.

Não houve mudança radical nos parâmetros na ação internacional do Estado nacional nas relações internacionais no século 20 e início do novo século. Soubemos mover o Brasil para um desenvolvimento econômico bastante original ao sul a linha do Equador, uma experiência industrialista razoável, respeito internacional por não sermos um país que se alinha de forma automática às hegemonias dos grandes e por termos construído a fronteira mais pacífica da Terra, desde o encerramento da última guerra de fronteira, há 140 anos.

No momento atual, como em outras quadras históricas, a política externa do Brasil está muito mesclada com a política interna. As razões são múltiplas. Oscilam da visibilidade internacional do chefe de Estado, passam pela ampliação do raio de ação dos interesses brasileiros e da internacionalização de suas empresas, ou mesmo até pela “compra do Brasil” pelo capital global, ou por novas formas de vulnerabilidade nacionais como a fraqueza doméstica para financiar novo ciclo altruísta de investimento de futuro.

Valeria, portanto, uma olhada acerca do que a academia brasileira vem estudando, pesquisando e escrevendo acerca do lugar do Brasil no mundo. Há uma extraordinária produção brasileira de relações internacionais, alimentada por quatro programas de doutorado nessa área, de elevado patamar, além da criação da Associação Brasileira de Relações Internacionais (Abri), da renovação da Revista Brasileira de Política Internacional e da implantação dos 120 cursos de graduação em relações internacionais no país. Valeria mesmo ver o que pensam os professores nos grandes debates.

Os debates, lamentavelmente, vêm sendo dominados pelas paixões da política interna e das legendas partidárias. Estão concentrados nas comprometidas opiniões de atores corporativos em disputa por cargos na manutenção ou na alternância de poder com as eleições que se avizinham. As deformações de avaliação chamam a atenção. É hora de mais reflexão, de mais política externa e de menos política interna quando o tema é o Brasil no mundo.

domingo, 2 de maio de 2010

Entre a retórica e a dura realidade do poder

Quando Lula comparou o acordo Rússia-EUA com algo como descartar remédios velhos, foi ridicularizado pela crítica rasteira de sempre, mas estava correto. Nessas horas, vai ao ponto com simplicidade, ganha o jogo das palavras porque é mestre. Gosto do Obama, mas ele é refém de uma máquina muito poderosa. Não nos iludamos.

A política de desarmamento do governo Obama
Ao contrário das aparências, em plena crise econômica, o presidente Obama decidiu mudar o foco e dedicar-se à consolidação do poder militar dos EUA em todo mundo, demonstrando plena consciência de que este poder militar é indispensável à reconstrução da economia norteamericana e da própria liderança mundial do dólar. Deste ponto de vista, o que Obama está propondo, de fato, é uma espécie de congelamento da atual hierarquia do poder militar mundial, com a manutenção do direito e da obrigação americana de aumentar continuamente os seus próprios arsenais.

José Luis Fiori

“America´s interests and role in the world require armed forces with unmatched capabilities and a willingness on the part of the nation to employ them in defense of our interests and the common good. The United States remains the only nation able to protect and sustain large-scale operations over extended distances. This unique position generates an obligation to be responsible stewards of the power and the influence that history, determination and circumstance have provided”
(Department of Defense, USA, Quadrennial Defense Review Report, February 2010)

Depois de quinze meses de discursos e indecisões, o presidente Barak Obama conseguiu transformar em fatos, o que deseja ser a marca de sua política externa, voltada para o desarmamento e o controle nuclear. No inicio do mês de abril, Obama redefiniu a estratégia nuclear dos Estados Unidos, prometendo não utilizar mais armas atômicas contra países que não as possuam, e que assinem e cumpram com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Logo em seguida, no dia 8 de abril, Barak Obama, assinou - em Praga - um acordo com o presidente russo Dmitry Mevedev, com o objetivo de reduzir o arsenal nuclear duas maiores potências atômicas do mundo. E quatro dias depois, Barak Obama liderou a reunião da Cúpula de Segurança Nuclear, reunindo em Washington, 47 chefes de Estado, para discutir a sua própria proposta de controle da proliferação nuclear, ao redor do mundo. Com vistas à reunião qüinqüenal de reexame do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que se realizará no próximo mês de maio, na cidade de New York, com a participação dos 189 estados assinantes do TNP.

Até aqui, a retórica e a encenação foram perfeitas, mas os limites e contradições desta nova proposta de desarmamento do presidente Obama, são muito visíveis. Em primeiro lugar, o que ele chamou de “nova estratégia nuclear americana”, não passa de uma decisão e de um compromisso verbal que pode ser revertido e abandonado em qualquer momento, dependendo das circunstâncias e de uma decisão arbitrária dos próprios EUA. Em segundo lugar, o acordo entre os presidentes Obama e Mevedev, envolve uma redução insignificante e quase só simbólica, dos seus arsenais atômicos, permitindo ao mesmo tempo, a substituição e modernização das cabeças nucleares dos vetores já existentes.

Além disto, o novo acordo de desarmamento não incluiu nenhuma discussão a respeito do aumento exponencial dos gastos militares norte-americanos nos últimos anos, nem a respeito do aperfeiçoamento dos novos vetores X 51 da Boeing, com capacidade nuclear e que entrarão em ação em 30 meses, sendo capazes de alcançar qualquer pais do mundo, em menos de uma hora. Nem tampouco se falou dos novos submarinos russos Yassen, que tem capacidade de transportar 24 mísseis a bordo, cada um com seis bombas atômicas. Em terceiro lugar, em nenhum momento e em nenhuma destas reuniões se mencionou o armamento atômico da OTAN, localizado secretamente, na Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Turquia. Nem muito menos se incluiu na discussão os arsenais atômicos de Israel e Paquistão, que estão hoje sob o controle de governos com forte presença de forças fundamentalistas e belicistas, e que atuam sob a batuta dos próprios norte-americanos.

Por fim, é lógico que não aparece, em nenhum momento, nesta agenda pacifista de Barak Obama, o aprofundamento recente da Guerra do Afeganistão, e os preparativos dos Estados Unidos e de Israel, para um ataque arrasador contra o Irã, que é um país que não possui armamento atômico, e que assinou o Tratado de Não Proliferação, ao contrário de Israel.

Estas contradições não são novas nem surpreendentes, fazem parte da política externa dos Estados Unidos, desde o fim da Guerra Fria. O importante, neste caso, é que os demais países envolvidos entendam e assimilem a lição, e saibam se posicionar em função dos seus próprios interesses. Os Estados Unidos são um “poder global”, e os “interesses nacionais” de um poder global envolvem posições a defender em todo mundo, o que diminuiu muito sua capacidade de sustentar princípios e valores universais. Por isto, depois do fracasso do fundamentalismo quase religioso do governo Bush, o presidente Obama vem surpreendendo alguns analistas com o realismo pragmático e relativista de sua política externa. Mas o seu objetivo central segue sendo o mesmo, ou seja, a primazia mundial dos Estados Unidos. Além disto, ao contrário das aparências, em plena crise econômica, Barak Obama decidiu mudar o foco e dedicar-se à consolidação do poder militar americano em todo mundo, sem grandes preocupações com diretos humanos ou com a difusão da democracia, e demonstrando plena consciência de que este poder militar é indispensável à reconstrução da economia americana e da própria liderança mundial do dólar. Deste ponto de vista, o que o presidente Obama está propondo, de fato, é uma espécie de congelamento da atual hierarquia do poder militar mundial, com a manutenção do direito e da obrigação americana de aumentar continuamente os seus próprios arsenais.

Os reveses econômicos e militares dos Estados Unidos, na primeira década do século XXI, atingiram o projeto de poder global dos EUA, mas ele não foi abandonado. Hoje, está em curso um realinhamento interno de forças dentro do establishment americano - como ocorreu na década de 70 - e desta luta interna poderá surgir uma nova estratégia internacional, como aconteceu nos anos 80, com o governo Reagan. Mas estes processos de realinhamento costumam ser lentos e seus resultados dependerão da própria luta interna, e dos desdobramentos dos conflitos externos em que os Estados Unidos estão envolvidos.

De qualquer maneira, o que é importante compreender é que seja qual for o resultado desta disputa interna, os EUA não abdicarão voluntariamente do poder global que já conquistaram e não renunciarão à sua expansão futura. A política externa das potências globais tem uma lógica própria, e por isto mesmo, com ou sem política de desarmamento, os EUA deverão seguir aumentando sua capacidade militar de forma contínua, e numa velocidade que deverá crescer nos próximos anos, na medida em que se aproxime a hora da ultrapassagem da economia americana, pela economia chinesa.

O avanço do yuan

Devagar, sem ruído, passo a passo, no ritmo chinês.

China is undermining the dollar by the back-door
By Gerard Lyons

Published: April 27 2010 15:50 | Last updated: April 27 2010 15:50

There is a ticking time bomb under the dollar. When it explodes depends not just on the US economy but also on policy actions in Beijing and Washington. Over the last year the Chinese have undermined the dollar by the back-door, questioning it as a store of value and medium-of-exchange.

Although the Chinese are not advocating the renminbi as the alternative to the dollar this may be only a matter of time. One needs to focus on what the Chinese do, as well as listen to what they say. A key development is China’s encouragement of international use of the renminbi, although they prefer to call it invoicing.

This may be from a low starting point but one Chinese saying may be worth bearing in mind: “A march of 10,000 miles begins with one small step”. Early signs are promising.

China is encouraging exporters to invoice in the renminbi and is setting up systems to allow trade payments in renminbi. This make sense. China’s trade is soaring. New trade corridors may soon require new means of payment. When the Chinese and Brazilian Presidents met last year they agreed to use their own currencies to settle more of their bilateral trade, rather than invoicing in dollars. Although viewed as symbolic, it is a sign of things to come.

The crisis also saw China sign a host of bilateral currency swap agreements with countries ranging from Indonesia to Belarus and Argentina. China’s growing trade and financial links with the rest of the world will make the renminbi more acceptable.

Gradualism dictates the Chinese approach to most policy measures. The process is logical. Look at the theory, examine the pros and cons, debate the issue, implement slowly and observe. If the project works, roll it out. On that basis, there is more to come.

Since a pilot programme started in July 2009 the volume of international trade settled in the Chinese currency has totalled Rmb11.6bn ($1.7bn). Although only 0.1 per cent of Chinese trade in that time, it has gathered momentum. This has encouraged the authorities to expand the programme.

Renminbi invoicing has been restricted to 400 mainland companies in five cities: Shanghai, Shenzhen, Guangzhou, Dongguan and Zhuhai. It will soon widen to cover thousands of mainland companies and more provinces, including Heilongjiang in northeast China which has sought approval to settle trade with Russia in renminbi.

These are still early days and China will need to clear a few technical hurdles to make the renminbi widely acceptable. For instance, guidelines for invoicing and settling trade in renminbi need to be harmonised.

Hong Kong is the main beneficiary as the renminbi gains acceptance abroad. It has the natural advantage of a renminbi deposit base, well-established trade links with China and a head-start in developing renminbi financial products. The city’s regulators are ensuring it retains its edge.

Since February, the Hong Kong Monetary Authority has made it easier for its banks to process trade transactions in renminbi, to develop renminbi based financial products such as bonds, and to extend loans to and take deposits from local companies in renminbi.

In January, China implemented a free-trade agreement with ASEAN, the Southeast Asian grouping of 10 countries. Rising Chinese trade with the rest of Asia will boost renminbi settlement in Hong Kong.

There will be future tipping points. Convertibility of the renminbi on both trade and capital accounts would be the ultimate hurdle to cross for China to make its currency globally acceptable. This will eventually happen. China also needs to develop its capital markets and financial infrastructure.

As international reserves soar I detect among reserve managers a desire to shift away from the dollar. Yet they do not want to actively sell the dollar, lest it triggers the crisis they fear. Instead fewer net new reserves are being placed in the dollar. I call this passive diversification but until the renminbi becomes convertible it is unlikely to take its rightful place in reserve holdings.

International use of the renminbi will also rise as Chinese firms invest overseas and its government increases support to other countries. This is already happening. For instance, China recently signed a $20bn financing deal with Venezuela, half to be paid in renminbi.

Furthermore, renminbi use has increased despite the currency’s peg to the dollar. Once the renminbi starts to appreciate it may receive an additional boost as a store of value. This de-pegging of the renminbi to the dollar could occur soon, but it is more likely to be a gradual and ongoing shift than a big one-off move. It would signal a trend appreciation of the renminbi. “Made in China”, the three most common words of the last decade, may soon be joined by “Paid in renminbi”.

Dr Gerard Lyons is Head of Global Research and Chief Economist at Standard Chartered Bank

O STF e a Lei da Anistia

Concordo com o Alon transcrito abaixo, foi boa a decisão do STF. Pensando no futuro, claro. Entendo a mágoa e a revolta dos que lutaram contra a ditadura. Mas acho que nesse momento não faria bem ao país essa expiação. E a Anistia foi pactuada, para todos, acho que em termos legais não havia dúvidas. Lógico que moralmente me ressinto, abomino e repudio a tortura institucionalizada. Mas se for para punir os torturadores, porque não correr atrás dos que estiveram por cima, dos que se beneficiaram, financiaram-na. Vi no ano passado o excelente filme Cidadão Boyle. E aí, vão correr atrás dos empresários? Dos políticos de outrora que continuam aí?

Entendo que o STF contribuiu para certa pacificação. Se quiseremos garantir que não haverá mais tortura, basta aperfeiçoarmos o regime democrático, lutar por seu amadurecimento. E, evidentemente, atuar com mais vigor com relação ao atual sistema carcerário a e policial. A ONU vive nos condenando, com razão. Segue o texto do Alon:

domingo, 2 de maio de 2010
A transição está concluída (02/05)

Ao validar integralmente a Lei de Anistia, o STF fez justiça aos batalhadores da democracia nos anos 1970 e reafirmou que não é admissível adotar a Lei da Selva para combater a selvageria

Qual o modo mais eficaz de evitar que a tortura volte a ser usada como arma de combate político no Brasil? Uns dirão “a punição exemplar dos torturadores”. Outros —como este colunista—, “a preservação rigorosa do estado de direito democrático”.

Quem torturou na ditadura merece ser punido? De um ângulo moral, não resta a menor dúvida. Assim como, de um ângulo estritamente moral, talvez o sujeito que violenta sexualmente e mata uma criança “mereça” o linchamento.

A sentença do Supremo Tribunal Federal esta semana, validando completamente a Lei de Anistia proposta pelo governo militar de João Figueiredo em 1979, lei negociada com a oposição e a sociedade civil da época e aprovada naquele mesmo ano pelo Congresso Nacional, tem este mérito: reafirma o estado de direito na plenitude.

Quando aqueles fatos aconteceram, a tortura não era catalogada na legislação como crime hediondo. Nem o sequestro. Aliás crime nenhum era. Nem havia a categoria. E o Brasil não era signatário dos textos internacionais que servem também de fundamento a quem pede agora punir os torturadores de 30 anos atrás. E tem o aspecto da prescrição. Todos pontos bem abordados nos votos dos juízes.

Assim, o tribunal estava diante de uma escolha: fazer apenas o juízo moral da tortura ou também aplicar a lei. Escolheu, e bem, o segundo caminho. A tortura foi condenada, mas a lei não foi desrespeitada. É doloroso ver torturadores impunes? Sim, mas é o preço a pagar. Seguir a lei quando ela nos beneficia é fácil. Assim como é confortável pedir ao STF que ignore a lei e passe a fazer juízos exclusivamente morais quando dela discordamos.

Outro vetor importante da sentença foi a reafirmação política da transição democrática, produto de muita luta e negociação naqueles anos. É algo bizarro que o STF tenha precisado tomar a si a tarefa. Um sintoma do caráter divisivo da política brasileira nestes tempos. Infelizmente, partícipes e herdeiros das correntes então contrárias ao caminho que a transição percorreu de 1978 a 1985 tentam hoje desqualificar aquele processo, para buscar dividendos políticos e eleitorais.

Políticos importantes hoje na ativa foram beneficiados pela Anistia. Se a política fosse um instituto construído a partir de juízos morais e da ética, deveriam prestar homenagem aos homens e mulheres que arrancaram da ditadura aquela conquista. Mas política é política. Desde então, parece convir mais a eles atacar os arquitetos e operários da transição democrática como gente que supostamente “conciliou” com o regime.

O que é apenas bobagem. Mas uma bobagem que manteve certo fôlego, até ser enterrada pelo STF na quarta-feira. Com a participação decisiva da maioria de ministros indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.

A sessão do STF talvez tenha marcado o final definitivo daquela transição, tecnicamente falando. Num país conhecido pela progressividade dos processos, este deve ter batido o recorde.

Verdade

Outro aspecto positivo da decisão do STF é ter ajudado a desobstruir a busca da verdade histórica. Arquivada a polêmica sobre a Anistia, as energias podem agora voltar-se para a procura de informações sobre os desaparecidos no combate contra a ditadura.

90 minutos

não resisto... o detalhe é que o jogo é às 3 da manhã no horário daqui. Isso tem prejudicado minhas 2as, mas amanhã é feriado aqui, tranquilo.

Insônia em Pequim

"Shanti", em mandarim, é saúde. Wo shanti hen hao = estou bem.

Pronunciando-a um pouco diferente (tudo é complicado), talvez "Shenti", é a palavra para Deus, aquilo que está no céu.

No idioma do autor da música, um famoso indiano, significa "paz". Shanti Mantra é o Hino do Paz. Será que há alguma conexão entre os idiomas?


Hoje fui jantar num restaurante Mongoliano. Comi o rango da Mongólia. Tomei cachaça da Mongólia. Com show de música e dança da Mongólia. E uma mina da Mongólia. Dormi um pouco e acordei 2 da manhã. Insônia, onde vim parar, que faço aqui? Qual o sentido de tudo isso? Estou tentando responder.

Alegria do Povo

sábado, 1 de maio de 2010

Um pouco da China

Música tradicional, dá para ouvir, relaxar e até meditar... com imagens do grande Império do Meio.