Disco velho, notícia antiga, curioso papo que se repete de uma maneira que nem dá mais vontade de comentar. Aliás, tenho falado pouco de economia política, nacional e internacional. Num outro post comentarei sobre as pressões que agora recaem sobre o governo norte-americano para fazer o aperto fiscal. Por ora, vamos ficar com os sábios do Banco Central do Brasil que subiram novamente os juros.
Saíram números muito significativos sobre o PIB brasileiro no 1o trimestre de 2010. Era esperado. A base de comparação é fraca. E a economia retomou mesmo o ritmo de antes da crise. Com expectativas de mais crescimento, há muito otimismo. Mas os números do 1o trimestre impressionam. Ritmo chinês, cantam as manchetes. E daí seguem os ditos analistas afirmando que é algo insustentável. Há riscos de inflação, alertam. Falta poupança, argumentam. Está aberto o caminho para os gênios justificarem a alta nos juros. A maior taxa real do mundo?
Não vou entrar nas tecnicalidades. Só digo que nosso problema está na conta corrente. Que o investimento gera crescimento e dá condições para o aumento da poupança. Que a posição do câmbio também influencia a formação de poupança. Que o câmbio flutante flutua, é lógico, mas a riquza financeira dos mercados em muito supera o valor da produção global. E são movimentos em geral meramente especulativos, sem relação com emprego, renda, investimento, etc... Portanto, o câmbio flutua, mas não necessariamente devido a fatores reais. E isso distorce o ajuste da conta corrente via câmbio. Hoje li um número assustador, a projeção de déficit na conta corrente de 6% do PIB para 2011. Pagaremos o preço? Há o pré-sal. Mas não devíamos estar contando com isso assim.
Não vou e não quero me alongar. Há uma série de falácias supostamente técnicas que tentam justificar um jogo que é essencialmente político. Dinheiro fácil nos círculos da alta finança. Transferências de renda, acúmulo de riqueza. O rentismo, a hegemonia dos credores da dívida pública, a dobradinha câmbio-juros. Para colocar uma cereja no bolo, o país contribuindo para o crescimento dos países ricos via importações. Tudo que pedem à China, à Alemanha, ao Japão, sem que eles atendam, o Brasil faz por livre e espontânea vontade. Um bom menino. Para deleite dos mercados.
Quando Serra ousou questionar de maneira mais firme uma porta-voz dos credores travestida de jornalista, foi atacado. Curiosamente, Dilma declarou ser favorável a avanços na autonomia do Banco Central. O debate eleitoral é coisa de maluco, não procuremos lógica nem muita profundidade. O mesmo vale para o teatro do aumento dos juros. É tudo política, tudo muito rasteiro. Preocupo-me com o futuro.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
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