quinta-feira, 10 de junho de 2010

Disco Velho

Disco velho, notícia antiga, curioso papo que se repete de uma maneira que nem dá mais vontade de comentar. Aliás, tenho falado pouco de economia política, nacional e internacional. Num outro post comentarei sobre as pressões que agora recaem sobre o governo norte-americano para fazer o aperto fiscal. Por ora, vamos ficar com os sábios do Banco Central do Brasil que subiram novamente os juros.

Saíram números muito significativos sobre o PIB brasileiro no 1o trimestre de 2010. Era esperado. A base de comparação é fraca. E a economia retomou mesmo o ritmo de antes da crise. Com expectativas de mais crescimento, há muito otimismo. Mas os números do 1o trimestre impressionam. Ritmo chinês, cantam as manchetes. E daí seguem os ditos analistas afirmando que é algo insustentável. Há riscos de inflação, alertam. Falta poupança, argumentam. Está aberto o caminho para os gênios justificarem a alta nos juros. A maior taxa real do mundo?

Não vou entrar nas tecnicalidades. Só digo que nosso problema está na conta corrente. Que o investimento gera crescimento e dá condições para o aumento da poupança. Que a posição do câmbio também influencia a formação de poupança. Que o câmbio flutante flutua, é lógico, mas a riquza financeira dos mercados em muito supera o valor da produção global. E são movimentos em geral meramente especulativos, sem relação com emprego, renda, investimento, etc... Portanto, o câmbio flutua, mas não necessariamente devido a fatores reais. E isso distorce o ajuste da conta corrente via câmbio. Hoje li um número assustador, a projeção de déficit na conta corrente de 6% do PIB para 2011. Pagaremos o preço? Há o pré-sal. Mas não devíamos estar contando com isso assim.

Não vou e não quero me alongar. Há uma série de falácias supostamente técnicas que tentam justificar um jogo que é essencialmente político. Dinheiro fácil nos círculos da alta finança. Transferências de renda, acúmulo de riqueza. O rentismo, a hegemonia dos credores da dívida pública, a dobradinha câmbio-juros. Para colocar uma cereja no bolo, o país contribuindo para o crescimento dos países ricos via importações. Tudo que pedem à China, à Alemanha, ao Japão, sem que eles atendam, o Brasil faz por livre e espontânea vontade. Um bom menino. Para deleite dos mercados.

Quando Serra ousou questionar de maneira mais firme uma porta-voz dos credores travestida de jornalista, foi atacado. Curiosamente, Dilma declarou ser favorável a avanços na autonomia do Banco Central. O debate eleitoral é coisa de maluco, não procuremos lógica nem muita profundidade. O mesmo vale para o teatro do aumento dos juros. É tudo política, tudo muito rasteiro. Preocupo-me com o futuro.

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