quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Arquitetura da Segregação

Na semana passada, mais incêndios em favelas paulistanas. O Kassab também anunciou a "remoção" de milhares de famílias das margens do córrego Águas Espraiadas. Pretende fazer nada mais nada menos que um túnel entre a saída da Berrini/Morumbi e a Imigrantes. Mais uma obra bilionária para automóveis, não para os seres humanos. Coisa leve, fácil, baratinha, para que os ricos possam chegar mais rapidamente à praia e, tá bom, que os caminhões desçam melhor para o porto de Santos.

Por cima do túnel, o projeto promete um parque e, segundo o plano de marketing, moradias razoavelmente populares. Sei, ãhãn, acredita nele, moradias populares. Justo Kassab e seus vereadores, amplamente financiados pelo setor imobiliário. Esse blog já vai direto ao ponto: é mais uma obra faraônica, enormes investimentos públicos, para privilégio dos automóveis e a viabilização da valorização imobiliária. Um túnel para a especulação. E os pobres favelados serão expulsos para recantos longínquos das zonas leste e sul. E a estória do parque é como o Setor Noroeste em Brasília (bairro sustentável): busca dar uma roupagem verde, "sustentável", para um empreendimento socialmente segregador, concentrador de renda e com parcos requisitos do que se pode entender como desenvolvimento urbano de qualidade.

A cidade que cresce e enriquece não é para eles, que estão lá longe, alagados nas marginais, na zona leste ou nas cidades satélite. São Paulo é a "cidade dos muros", conforme falou a maravilhosa Teresa Pires do Rio Caldeira. Uma cidade segregada, privatizada, com espaços públicos degradados. E tome obras para carros, especulação imobiliária, remoção de favelas, etc... E Brasília é a Ilha da Fantasia, uma distribuição espacial burocraticamente hierarquizada, distante, inalcançável. Aliás, deverei voltar a comentar em breve, mas apenas adianto que em Brasília explodem as contratações de empresas de segurança, vigilância privada, câmeras e luzes bem fortes. O pesadelo privatista ensaia novos avanços na capital do país.

A continuar...

PS: Abro aspas para recentes mudanças no Orçamento 2010 da Prefeitura de SP:

"Ultimo Segundo/Agência Estado
Câmara de São Paulo corta verba contra enchentes, e garante a da publicidade

Votado em segunda discussão menos de quatro horas após ser apresentado aos líderes de bancada, a terceira versão do Orçamento de São Paulo para 2010 veio com uma redução de R$ 70,4 milhões na verba destinada à canalização de córregos, de R$ 30 milhões na coleta de lixo e de R$ 1 milhão para obras em áreas de risco.

O corte de R$ 1 bilhão feito de última hora pelo relator Milton Leite (DEM), contudo, não afetou os R$ 126 milhões reservados para a publicidade oficial da gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e a verba recorde da própria Câmara, fixada em R$ 399 milhões, um crescimento de 29% para o ano eleitoral, em relação aos recursos gastos deste ano (R$ 310,3 milhões)."

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