sexta-feira, 8 de novembro de 2013
terça-feira, 28 de maio de 2013
Passei 3 dias em SP. Meio sem-querer, deparei-me na Paulista com a Marcha das Vadias, muito legal. Forca aas meninas.
Vi o documentario produzido por um ex-Ministro da Fazenda sobre o Brasil, a estabilizacao, loas aa sua turma, numa interpretacao bem pitoresca da historia economica do Brasil. Bom, qualquer producao que se dedique a discutir de onde viemos, onde estamos e para onde vamos conta com minha simpatia, mas nao necessariamente com minha paciencia. Enfim, sobre esse ex-Ministro tenho uma historia reveladora que um dia contarei.
Vi tambem a exposicao do glorioso Khalil Gibran no Memorial da America Latina. Uma figura espetacular nosso amigo Khalil. O Profeta. Almas Rebeldes. Gloria e honra ao povo libanes.
Memorial, Darcy, Niemeyer (para que tanto concreto, meu amigo, por que nao um gramadao...), e me deparo com a Avenida Senador Auro de Moura Andrade, personagem de triste memoria dos idos de abril de 1964: "Declaro vaga a Presidencia da Republica..." . Fraquejou, acovardou-se. Valeria um esculacho nessa avenida?
Vi tambem o documentario "O dia que durou 21 anos", tambem sobre o golpe. O documentario eh interessante, sem grandes novidades, mas legal de assistir, registro historico de algo que nao pode mais ser negado. No mesmo dia em que eu embarcaria para Washington.
Oh vida, oh ceus, quantas responsabilidades, o que fazer, que tenha forcas para avancar, como estao sendo dificeis estes ultimos meses, como serao ainda mais dificeis os proximos.
"Quando a caminhada fica dura, soh os duros seguem na caminhada". O Tempo eh Rei e assim eu sigo. Tentando ignorar o tititi, o papo furado, a mediocridade geral, apenas me concentrando em cumprir mais uma missao, fazer o certo, correr pelo certo, e deixa que diguem, deixe que falem... Paciencia, serenidade, forca, so mais um pouco e devo concluir uma etapa importante.
Nesses breves longos dias de reflexoes diversas, ao ir de encontro a uma amiga nos Jardins, deparo-me com as placas da Alameda Casa Branca esculachadas: "Marighella". Tirei fotos. Dos grafites tambem. Fotos e fotos de sampa. Alguma coisa acontece no meu coracao.
Tudo tao referencial. E voltei no aviao, apos uma bela folheada num Economist discutindo a fraqueza de Obama, que se confirma mesmo apenas um sub-produto do establishment, li atentamente os primeiros capitulos de Paulo Francis em "Trinta Anos esta Noite". Tambem sobre o golpe. Com a verve que tanto me admira e quanto estilo e quanta genialidade e quanta elegancia e as muitas vezes em que gargalhei no aviao com seu texto... Os que supostamente o sucederam sao tao pequenos, tao mediocres, nao da nem para comparar. Genio.
Por que Jango nao reagiu? Essa eh uma das questoes centrais, talvez a principal. O discurso de 13 de marco. Outro dia vi o video. O final acachapante. E tudo mais que se seguiu.
A Comissao da Verdade: necessaria, fundamental, cheguei a ter duvidas, mas hoje estou convencido: imprescindivel.
A farsa da anistia / Coluna / Vladimir Safatle
Vi o documentario produzido por um ex-Ministro da Fazenda sobre o Brasil, a estabilizacao, loas aa sua turma, numa interpretacao bem pitoresca da historia economica do Brasil. Bom, qualquer producao que se dedique a discutir de onde viemos, onde estamos e para onde vamos conta com minha simpatia, mas nao necessariamente com minha paciencia. Enfim, sobre esse ex-Ministro tenho uma historia reveladora que um dia contarei.
Vi tambem a exposicao do glorioso Khalil Gibran no Memorial da America Latina. Uma figura espetacular nosso amigo Khalil. O Profeta. Almas Rebeldes. Gloria e honra ao povo libanes.
Memorial, Darcy, Niemeyer (para que tanto concreto, meu amigo, por que nao um gramadao...), e me deparo com a Avenida Senador Auro de Moura Andrade, personagem de triste memoria dos idos de abril de 1964: "Declaro vaga a Presidencia da Republica..." . Fraquejou, acovardou-se. Valeria um esculacho nessa avenida?
Vi tambem o documentario "O dia que durou 21 anos", tambem sobre o golpe. O documentario eh interessante, sem grandes novidades, mas legal de assistir, registro historico de algo que nao pode mais ser negado. No mesmo dia em que eu embarcaria para Washington.
Oh vida, oh ceus, quantas responsabilidades, o que fazer, que tenha forcas para avancar, como estao sendo dificeis estes ultimos meses, como serao ainda mais dificeis os proximos.
"Quando a caminhada fica dura, soh os duros seguem na caminhada". O Tempo eh Rei e assim eu sigo. Tentando ignorar o tititi, o papo furado, a mediocridade geral, apenas me concentrando em cumprir mais uma missao, fazer o certo, correr pelo certo, e deixa que diguem, deixe que falem... Paciencia, serenidade, forca, so mais um pouco e devo concluir uma etapa importante.
Nesses breves longos dias de reflexoes diversas, ao ir de encontro a uma amiga nos Jardins, deparo-me com as placas da Alameda Casa Branca esculachadas: "Marighella". Tirei fotos. Dos grafites tambem. Fotos e fotos de sampa. Alguma coisa acontece no meu coracao.
Tudo tao referencial. E voltei no aviao, apos uma bela folheada num Economist discutindo a fraqueza de Obama, que se confirma mesmo apenas um sub-produto do establishment, li atentamente os primeiros capitulos de Paulo Francis em "Trinta Anos esta Noite". Tambem sobre o golpe. Com a verve que tanto me admira e quanto estilo e quanta genialidade e quanta elegancia e as muitas vezes em que gargalhei no aviao com seu texto... Os que supostamente o sucederam sao tao pequenos, tao mediocres, nao da nem para comparar. Genio.
Por que Jango nao reagiu? Essa eh uma das questoes centrais, talvez a principal. O discurso de 13 de marco. Outro dia vi o video. O final acachapante. E tudo mais que se seguiu.
A Comissao da Verdade: necessaria, fundamental, cheguei a ter duvidas, mas hoje estou convencido: imprescindivel.
A farsa da anistia / Coluna / Vladimir Safatle
Motivada por afirmações de membros da Comissão da Verdade referentes à necessidade de reinterpretação da Lei da Anistia, esta Folha abriu mais uma vez espaço importante para o debate a respeito do problema. Artigos assinados e editoriais apareceram nos últimos dias mostrando como esta é uma discussão da qual o Brasil não pode escapar.
Neste momento, a Comis-são da Verdade começa a desmontar antigas mentiras veiculadas pelo regime militar, como assassinatos travestidos de suicídios e desaparecimentos ou aquela afirmação pa- tética de que as ações de tortura não eram uma políti-ca de Estado decidida pela alta cúpula militar. Ela também colocou à luz a profunda relação entre empresariado e militares na elaboração e gestão do golpe.
No entanto, uma das maiores mentiras herdadas da- quele período é a história de que existiu uma anistia resultante de ampla negociação com setores da sociedade civil e da oposição. Aquilo que chamamos de "Lei da Anistia" foi e continua sendo uma mera farsa.
Primeiro, não houve negociação alguma, mas pura e simples imposição das condições a partir das quais os militares esperavam se autoanistiar.
O governo de então recusou a proposta do MDB de anistia ampla, geral e irrestrita, enviando para o Congresso Nacional o seu próprio projeto, que andava na contramão daquilo que a sociedade civil organizada exigia.
Por não ter representatividade alguma, o projeto passou na votação do Congresso por míseros 206 votos contra 201, sendo todos os votos favoráveis vindos da antiga A- rena. Ou seja, só em um mundo paralelo alguém pode chamar de "negociação" a um processo no qual o partido governista aprova um projeto sem acordo algum com a oposição. Há de se parar de ignorar compulsivamente a história brasileira.
Segundo, mesmo essa Lei da Anistia era clara a respeito de seus limites. No segundo parágrafo do seu primeiro artigo lê-se: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, de assalto, de sequestro e atentado pessoal". Por isso, a maioria dos presos políticos não foi solta em 1979, ano da promulgação da lei (por favor, leia a frase mais uma vez). Eles permaneceram na cadeia e só foram liberados por diminuição das penas.
Os únicos anistiados, contra a letra da lei que eles próprios aprovaram, foram os militares que praticaram terrorismo de Estado, sequestro, estupro, ocultação de cadá- ver e assassinato. A Lei da Anistia consegue, assim, a proeza de ser, ao mesmo tempo, ilegítima na sua origem e desrespeitada exatamente pelos que a impuseram.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
No Olimpo
http://youtu.be/H6jcSnT8mrQ
Nação Zumbi - No Olimpo
2013 na humildade
não sei a razão, mas não tenho conseguido embedar os vídeos mais...
Nação Zumbi - No Olimpo
2013 na humildade
não sei a razão, mas não tenho conseguido embedar os vídeos mais...
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Cinema Paradiso
Cidadao Kane, Josue de Castro, Cinema Paradiso. Com bolsas de agua quente na perna, em meio a sessoes de fisioterapia e repouso, passei um fim-de-semana cinematografico. Ha males que vem para bem. Estou revendo tambem Il Bidone, Fellini no comeco da carreira.
Com o perdao de Orson Welles, Silvio Tendler, Josue de Castro e Fellini, sobre os quais poderei falar mais e mais um outro dia, certamente com enorme prazer e largos e admirados sorrisos, mas Cinema Paradiso eh uma obra muito marcante. Revi a versao ampliada. Eh um baque. Sem palavras.
http://www.youtube.com/watch?v=nXjjy-EGmb0
Com o perdao de Orson Welles, Silvio Tendler, Josue de Castro e Fellini, sobre os quais poderei falar mais e mais um outro dia, certamente com enorme prazer e largos e admirados sorrisos, mas Cinema Paradiso eh uma obra muito marcante. Revi a versao ampliada. Eh um baque. Sem palavras.
http://www.youtube.com/watch?v=nXjjy-EGmb0
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Vida Dura
A vida eh desafio, estou me tornando um cara mais espiritualizado. Isso eh bom, mas tambem reflexo de que esta sendo necessario um suporte, uma forca externa, ou melhor, uma forca interna :)
Eu gosto de ouvir os raps das antigas, rap nacional em geral, faz meus problemas ficarem menores.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
terça-feira, 17 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
Dança Chinesa
Simplesmente genial.
Na semana em que perdemos Chico Anisio e Millôr Fernandes, descobri Dilermando. Grandes lembranças, grandes personagens, grandes criações, que estejam em paz.
quarta-feira, 28 de março de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
Dilermando Reis
Para iniciar o ano, para comemorar a primavera chinesa, uma descoberta recente, grande mestre do chorinho, mestre da música popular brasileira, Dilermando Reis.
domingo, 4 de dezembro de 2011
domingo, 30 de outubro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
Reorientação no macro
Pois bem, no post abaixo sobre as notícias da crise comprometi-me a escrever sobre a reorientação programática na política econômica. O nome é péssimo, eu sei. Reorientação programática. Mas é porque não tem nome. Tem sido executada sem fanfarra. A despeito de ser um lance político de grande importância. Talvez mais para a frente tenhamos um nome, um sentido geral para essa mudança.
Enfim, prometi escrever a respeito e nada ainda. Nada ainda? Há diversos, inúmeros e repetitivos posts sobre a economia política da dobradinha câmbio baixo-juro alto. Vêm desde o início do blog. Quem ganha, quem perde.
Quero comentar mais para frente. Entretanto, no entanto, por enquanto, deixo trechos de recente entrevista do Bresser, que escreve tanto. Um cara prolífico, está aí guerreando nos meandros acadêmicos e das idéias. Entrevista muito boa. Disserta sobre vários assuntos, com aquela confiança de quem tem a experiência de antigas batalhas, o desprendimento de quem não está associado a projetos políticos específicos, muito menos projetos de ganho monetário. Há sim uma orientação geral pró indústria e mercado interno. Mas, enfim, qual país de porte no planeta não busca reforçar sua indústria e seu mercado interno? É bom senso.
Antes, apenas um comentário rápido sobre os movimentos Occupy Wall Strett, ocupem não-sei-aonde, sentem-se na praça, façam-se ouvir, discutam, satirizem. Creio que são muito positivos e vêm no momento certo. É claro que os problemas estão muito além da capacidade de articulação teórica e tradução em um projeto político concreto dessas manifestações. Mas é simbólico, é político, faz parte da caminhada. Deve crescer, será interessante observar seu desenvolvimento. Divertido também.
É no entrelaçamento entre a alta finança e a política que se encontra a chave para a compreensão de uma parte de nossas atuais dificuldades. É a máquina do sistema. Criar crédito, tomar do futuro para gastar e investir no presente. Gastar em que? Investir no que? E quem se apropria das rendas geradas por esse capital? E quem não se apropria? De que forma esses setores percebem esse processo? E como traduzem suas preocupações em propostas de políticas públicas? E como as instituições as recebem? Seu processamento, sua execução? Os resultados? Occupy Wall Street.
Vamos a trechos da entrevista do Bresser:
....
CARTA MAIOR: Com que o Brasil deve tomar cuidado nessa crise?
BRESSER: Dois problemas são dominantes no Brasil desde que a inflação foi controlada, em 1994: a alta taxa de juros e a taxa de câmbio sobreapreciada.
CARTA MAIOR: A inflação não voltou a preocupar?
BRESSER: A inflação não é um problema fundamental. Claro que temos sempre de estar preocupados com isso, mas este, hoje, não é nosso problema principal. É importante apenas para quem gosta de juros altos. Como tínhamos problemas para resolver a inflação entre 1980 e 1994, desde 1994 nosso problema passou a ser uma taxa de juros e uma taxa de câmbio anormais. A boa notícia é que o governo, nesses últimos meses, resolveu afinal dar uma guinada para uma política keynesiano-estruturalista, ou desenvolvimentista, o que dá esperanças.
...
CARTA MAIOR: Existe, por parte do governo, algum plano estruturado de desenvolvimento, ou as coisas estão acontecendo por erro e acerto?
BRESSER: Nas economias capitalistas como a nossa, não faz sentido ter um plano integral. O que é fundamental é que o governo planeje duas áreas: infraestrutura e indústria de base, ou indústria pesada. E administre com mão de ferro o setor financeiro. São esses três setores que exigem planejamento. As decisões sobre infraestrutura, como as hidrelétricas que estamos fazendo, demoram anos para serem colocadas em funcionamento e grandes somas de capital. Isso exige um planejamento que o mercado não tem a menor condição de fazer. O resto da economia – a indústria de transformação, a agricultura em geral, o comércio etc –, isso é mercado, e mais mercado, e mais mercado. Porque aí nós temos empresários, profissionais e trabalhadores competentes. Aí, funciona. A regulação e o planejamento são fundamentais nesses três setores.
CARTA MAIOR: O Banco Central de Alexandre Tombini tem esse perfil?
BRESSER: O Banco Central é um banco do governo, é parte do governo e tem que fazer a política do governo. Essa história de autonomia do Banco Central não faz nenhum sentido. O objetivo do BC é manter o sistema financeiro como um todo sob controle. Ou seja, não só combater a inflação, mas impedir que exista crise financeira. O BC dos Estados Unidos (o Fed) fracassou ao não evitar uma crise bancária. Além da crise bancária, o Brasil tem que evitar a crise de balanço de pagamentos. E por que nós temos crise no balanço de pagamentos, e eles não? Porque eles tomam emprestado na sua própria moeda – não apenas os Estados Unidos, mas os países ricos, com essa exceção maluca que são os países da Zona do Euro, que não é propriamente a sua moeda. Enquanto nós crescermos com poupança externa, estamos tomando emprestado em outra moeda, que não temos condições de emitir. Por isso, além de contribuir para o equilíbrio econômico, o Banco Central tem essas três funções: controlar a inflação e evitar esses dois tipos de crises financeiras.
CARTA MAIOR: Essa quase concordância que se percebe hoje entre Banco Central e Ministério da Fazenda, então, não é ruim para a economia?
BRESSER: Não coloca nada em risco. Nós temos um bom economista no BC – ou bons economistas, no plural. O Tombini me parece muito seguro, eu não o conheço pessoalmente mas causa boa impressão. Ele se baseia na experiência recente da Turquia. Aquele país, durante muitos anos, manteve uma grande competição com o Brasil para ver quem tinha juros mais altos. Geralmente a gente ganhava, é lógico, mas a Turquia chegava perto (risos). Até que, há uns quatro ou cinco anos, aproveitou um certo desaquecimento da economia e fez uma baixa de juros firme, levando-os para níveis internacionais. E aí a inflação não se moveu, a taxa de câmbio depreciou 40% e a economia turca está bombando. Essa coisa eu não estou inventando. Eu li isso numa entrevista que o Tombini deu para a Folha há umas três semanas.
CARTA MAIOR: E a questão fiscal, que continua a ser discutida como se fosse o fim do mundo?
BRESSER: Existem dois tipos de economistas horríveis: os ortodoxos, para os quais todos os problemas do mundo se resolvem com mais ajuste fiscal, e os keynesianos vulgares, para quem tudo se resolve com mais gasto público. É uma burrice. O Brasil atingiu todos os seus objetivos fiscais nesses anos todos – exceto em 2009, o que estava perfeitamente correto – acordados, combinados etc, e no entanto continuam reclamando. Não é esse o problema.
CARTA MAIOR: Esse é um discurso politico, então?
BRESSER: Também é um discurso politico, mas é um discurso burro. A burrice ortodoxa é a formulinha pronta: qualquer problema resolve-se cortando a despesa pública. Tem um movimento ideológico, simpático, porque se diz que com a redução do Estado os impostos vão diminuir. E aí o keynesiano vulgar pensa: todos os problemas se resolvem aumentando o gasto público. Às vezes o problema é a área fiscal mesmo, que nunca pode ser desleixada. Mas, no Brasil, nós não estamos descuidando disso. Desde 1998 o Brasil vem adotando uma política fiscal correta.
CARTA MAIOR: O problema, então, são os juros e o câmbio?
BRESSER: O problema macro, sim. Existem outros também. O país tem mil problemas do lado da oferta. Mas o fundamental, que mudaria o quadro do Brasil de maneira enorme em pouco tempo, é o ajuste de juros e câmbio. Oferta é muito importante, tem efeito de médio prazo, não de curto prazo, e está sendo cuidada.
CARTA MAIOR: Não na velocidade que se desejaria.
BRESSER: De fato. Eu tenho dito que o Brasil, depois da redemocratização, caminhou muito fortemente na própria democracia, e portanto nas liberdades, e melhorou muito na área social. E a parte econômica foi devagar. O nosso desenvolvimento social foi substancialmente melhor do que o nosso desenvolvimento econômico. Os dois caminham mais ou menos juntos, mas às vezes um vai na frente e o outro, atrás. No tempo dos militares, o econômico ia na frente do social. Nós invertemos. Foi bom, mas eu gostaria que os bons resultados na área social fossem acompanhados por bons resultados na area econômica.
CARTA MAIOR: Na parte econômica, estamos na direção certa?
BRESSER: A questão internacional é muito importante e tem repercussão sobre o Brasil. E refletirá principalmente sobre o Brasil conforme atingir a China. A China acabou de tomar medidas de intervenção, comprando mais ações dos grandes bancos, que já são estatais, porque sua bolsa de valores está caindo. E isso é preocupante.
Os analistas estão dizendo que a China vai reduzir seu crescimento de 11% para 9%. Isso está bom ainda, mas se for de 9% para 5% nós estamos mal-arrumados. O bom foi que o governo brasileiro percebeu isso e se antecipou. A dona Dilma, o seu ministro da Fazenda e o seu presidente do Banco Central estão de parabéns.
Comentário rápido sobre um ponto, o penúltimo. Bresser avalia que após a redemocratização o econômico andou mais lento que o político e o social. É um comentário interessante e a princípio tendo a concordar. Talvez com a crise da dívida nos anos 1980, o problema inflacionário, complicamo-nos logo de início. Depois com o Plano Real desperdiçamos uma excepcional oportunidade e nos deixamos levar por interesses de curto prazo muito estreitos. Avanços sim por alguns lados, com retrocessos em outros aspectos, como Bresser aponta no caso do câmbio e dos juros e dos interesses por trás disso. Nosso amigo regozija-se com a aparente correção de rota que Dilma e as autoridades econômicas vêm ensaiando empreender. Eu também acho positiva, vamos aguardar mais.
E, claro, não posso deixar de apontar a referência para riscos na economia chinesa na última resposta. Poderia escrever 10 páginas a respeito. Mas não aqui, hoje, né? No futuro sim, certamente.
Enfim, prometi escrever a respeito e nada ainda. Nada ainda? Há diversos, inúmeros e repetitivos posts sobre a economia política da dobradinha câmbio baixo-juro alto. Vêm desde o início do blog. Quem ganha, quem perde.
Quero comentar mais para frente. Entretanto, no entanto, por enquanto, deixo trechos de recente entrevista do Bresser, que escreve tanto. Um cara prolífico, está aí guerreando nos meandros acadêmicos e das idéias. Entrevista muito boa. Disserta sobre vários assuntos, com aquela confiança de quem tem a experiência de antigas batalhas, o desprendimento de quem não está associado a projetos políticos específicos, muito menos projetos de ganho monetário. Há sim uma orientação geral pró indústria e mercado interno. Mas, enfim, qual país de porte no planeta não busca reforçar sua indústria e seu mercado interno? É bom senso.
Antes, apenas um comentário rápido sobre os movimentos Occupy Wall Strett, ocupem não-sei-aonde, sentem-se na praça, façam-se ouvir, discutam, satirizem. Creio que são muito positivos e vêm no momento certo. É claro que os problemas estão muito além da capacidade de articulação teórica e tradução em um projeto político concreto dessas manifestações. Mas é simbólico, é político, faz parte da caminhada. Deve crescer, será interessante observar seu desenvolvimento. Divertido também.
É no entrelaçamento entre a alta finança e a política que se encontra a chave para a compreensão de uma parte de nossas atuais dificuldades. É a máquina do sistema. Criar crédito, tomar do futuro para gastar e investir no presente. Gastar em que? Investir no que? E quem se apropria das rendas geradas por esse capital? E quem não se apropria? De que forma esses setores percebem esse processo? E como traduzem suas preocupações em propostas de políticas públicas? E como as instituições as recebem? Seu processamento, sua execução? Os resultados? Occupy Wall Street.
Vamos a trechos da entrevista do Bresser:
....
CARTA MAIOR: Com que o Brasil deve tomar cuidado nessa crise?
BRESSER: Dois problemas são dominantes no Brasil desde que a inflação foi controlada, em 1994: a alta taxa de juros e a taxa de câmbio sobreapreciada.
CARTA MAIOR: A inflação não voltou a preocupar?
BRESSER: A inflação não é um problema fundamental. Claro que temos sempre de estar preocupados com isso, mas este, hoje, não é nosso problema principal. É importante apenas para quem gosta de juros altos. Como tínhamos problemas para resolver a inflação entre 1980 e 1994, desde 1994 nosso problema passou a ser uma taxa de juros e uma taxa de câmbio anormais. A boa notícia é que o governo, nesses últimos meses, resolveu afinal dar uma guinada para uma política keynesiano-estruturalista, ou desenvolvimentista, o que dá esperanças.
...
CARTA MAIOR: Existe, por parte do governo, algum plano estruturado de desenvolvimento, ou as coisas estão acontecendo por erro e acerto?
BRESSER: Nas economias capitalistas como a nossa, não faz sentido ter um plano integral. O que é fundamental é que o governo planeje duas áreas: infraestrutura e indústria de base, ou indústria pesada. E administre com mão de ferro o setor financeiro. São esses três setores que exigem planejamento. As decisões sobre infraestrutura, como as hidrelétricas que estamos fazendo, demoram anos para serem colocadas em funcionamento e grandes somas de capital. Isso exige um planejamento que o mercado não tem a menor condição de fazer. O resto da economia – a indústria de transformação, a agricultura em geral, o comércio etc –, isso é mercado, e mais mercado, e mais mercado. Porque aí nós temos empresários, profissionais e trabalhadores competentes. Aí, funciona. A regulação e o planejamento são fundamentais nesses três setores.
CARTA MAIOR: O Banco Central de Alexandre Tombini tem esse perfil?
BRESSER: O Banco Central é um banco do governo, é parte do governo e tem que fazer a política do governo. Essa história de autonomia do Banco Central não faz nenhum sentido. O objetivo do BC é manter o sistema financeiro como um todo sob controle. Ou seja, não só combater a inflação, mas impedir que exista crise financeira. O BC dos Estados Unidos (o Fed) fracassou ao não evitar uma crise bancária. Além da crise bancária, o Brasil tem que evitar a crise de balanço de pagamentos. E por que nós temos crise no balanço de pagamentos, e eles não? Porque eles tomam emprestado na sua própria moeda – não apenas os Estados Unidos, mas os países ricos, com essa exceção maluca que são os países da Zona do Euro, que não é propriamente a sua moeda. Enquanto nós crescermos com poupança externa, estamos tomando emprestado em outra moeda, que não temos condições de emitir. Por isso, além de contribuir para o equilíbrio econômico, o Banco Central tem essas três funções: controlar a inflação e evitar esses dois tipos de crises financeiras.
CARTA MAIOR: Essa quase concordância que se percebe hoje entre Banco Central e Ministério da Fazenda, então, não é ruim para a economia?
BRESSER: Não coloca nada em risco. Nós temos um bom economista no BC – ou bons economistas, no plural. O Tombini me parece muito seguro, eu não o conheço pessoalmente mas causa boa impressão. Ele se baseia na experiência recente da Turquia. Aquele país, durante muitos anos, manteve uma grande competição com o Brasil para ver quem tinha juros mais altos. Geralmente a gente ganhava, é lógico, mas a Turquia chegava perto (risos). Até que, há uns quatro ou cinco anos, aproveitou um certo desaquecimento da economia e fez uma baixa de juros firme, levando-os para níveis internacionais. E aí a inflação não se moveu, a taxa de câmbio depreciou 40% e a economia turca está bombando. Essa coisa eu não estou inventando. Eu li isso numa entrevista que o Tombini deu para a Folha há umas três semanas.
CARTA MAIOR: E a questão fiscal, que continua a ser discutida como se fosse o fim do mundo?
BRESSER: Existem dois tipos de economistas horríveis: os ortodoxos, para os quais todos os problemas do mundo se resolvem com mais ajuste fiscal, e os keynesianos vulgares, para quem tudo se resolve com mais gasto público. É uma burrice. O Brasil atingiu todos os seus objetivos fiscais nesses anos todos – exceto em 2009, o que estava perfeitamente correto – acordados, combinados etc, e no entanto continuam reclamando. Não é esse o problema.
CARTA MAIOR: Esse é um discurso politico, então?
BRESSER: Também é um discurso politico, mas é um discurso burro. A burrice ortodoxa é a formulinha pronta: qualquer problema resolve-se cortando a despesa pública. Tem um movimento ideológico, simpático, porque se diz que com a redução do Estado os impostos vão diminuir. E aí o keynesiano vulgar pensa: todos os problemas se resolvem aumentando o gasto público. Às vezes o problema é a área fiscal mesmo, que nunca pode ser desleixada. Mas, no Brasil, nós não estamos descuidando disso. Desde 1998 o Brasil vem adotando uma política fiscal correta.
CARTA MAIOR: O problema, então, são os juros e o câmbio?
BRESSER: O problema macro, sim. Existem outros também. O país tem mil problemas do lado da oferta. Mas o fundamental, que mudaria o quadro do Brasil de maneira enorme em pouco tempo, é o ajuste de juros e câmbio. Oferta é muito importante, tem efeito de médio prazo, não de curto prazo, e está sendo cuidada.
CARTA MAIOR: Não na velocidade que se desejaria.
BRESSER: De fato. Eu tenho dito que o Brasil, depois da redemocratização, caminhou muito fortemente na própria democracia, e portanto nas liberdades, e melhorou muito na área social. E a parte econômica foi devagar. O nosso desenvolvimento social foi substancialmente melhor do que o nosso desenvolvimento econômico. Os dois caminham mais ou menos juntos, mas às vezes um vai na frente e o outro, atrás. No tempo dos militares, o econômico ia na frente do social. Nós invertemos. Foi bom, mas eu gostaria que os bons resultados na área social fossem acompanhados por bons resultados na area econômica.
CARTA MAIOR: Na parte econômica, estamos na direção certa?
BRESSER: A questão internacional é muito importante e tem repercussão sobre o Brasil. E refletirá principalmente sobre o Brasil conforme atingir a China. A China acabou de tomar medidas de intervenção, comprando mais ações dos grandes bancos, que já são estatais, porque sua bolsa de valores está caindo. E isso é preocupante.
Os analistas estão dizendo que a China vai reduzir seu crescimento de 11% para 9%. Isso está bom ainda, mas se for de 9% para 5% nós estamos mal-arrumados. O bom foi que o governo brasileiro percebeu isso e se antecipou. A dona Dilma, o seu ministro da Fazenda e o seu presidente do Banco Central estão de parabéns.
Comentário rápido sobre um ponto, o penúltimo. Bresser avalia que após a redemocratização o econômico andou mais lento que o político e o social. É um comentário interessante e a princípio tendo a concordar. Talvez com a crise da dívida nos anos 1980, o problema inflacionário, complicamo-nos logo de início. Depois com o Plano Real desperdiçamos uma excepcional oportunidade e nos deixamos levar por interesses de curto prazo muito estreitos. Avanços sim por alguns lados, com retrocessos em outros aspectos, como Bresser aponta no caso do câmbio e dos juros e dos interesses por trás disso. Nosso amigo regozija-se com a aparente correção de rota que Dilma e as autoridades econômicas vêm ensaiando empreender. Eu também acho positiva, vamos aguardar mais.
E, claro, não posso deixar de apontar a referência para riscos na economia chinesa na última resposta. Poderia escrever 10 páginas a respeito. Mas não aqui, hoje, né? No futuro sim, certamente.
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