quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Economist: a little funny in the head

He went a little funny in the head. O título do blog veio de uma cena do Dr. Strangelove, ou Dr. Fantástico, clássico de Kubrick dos anos 60. Já a postei duas vezes, aqui e aqui. Recuso-me a comentar a respeito da obra, uma de minhas preferidas. Se não viu, apenas recomendo que vá correndo.

Estava eu hoje num aprazível vôo Shenzhen-Beijing (3 horas), cercado de nossos amigos chineses, o único ocidental no trajeto, lendo a digníssima The Economist. Essa última, da capa com reportagem sobre as razões pelas quais acreditam que o crescimento da Índia superará em breve o da China. A propósito, reportagem interessante, mas limitada em sua análise e, por vários motivos, creio que meio empolgadinha demais. Há também matérias sobre o legado de Lula, uma muito boa sobre a relação da China com "valores universais" y otras cositas más, como uma análise de algumas contradições da Guerra da Criméia, no século XIX. É fácil discordar dos editorialistas da Economist, difícil é abandonar sua leitura. Coisa fina.

Bom, enfim, vamos lá. Uma matéria que chamou minha atenção (não sei se o link está aberto para não assinantes). "Gunning for Trident: The coalition government is divided over whether and to what extent Britain should remain a nuclear power"

Pois é. Os ingleses estão quebrados. Cortam custos. Despesas. Realocam. Ajustam. Choques de gestão. Apequenam-se. Coisas da vida. Nessas idas e vindas, que chato, os gastos com "defesa" são sempre um alvo. Sacaram a ironia? Pois é. O tal do Trident é um míssil nuclear, desenhado pelos norte-americanos, feito para submarinos. Parece que o equipamento atualmente em uso terá que ser substituído em 2020. Custo: US$ 32 bilhões. Daí vêm os questionamentos: vale a pena? o país precisa dessa capacidade nuclear? para que mesmo? e a qual custo?

O artigo discute daqui, argumenta dali, contextualiza brevemente as posições políticas internas e então passa a discutir maneiras de manter a mesma capacidade de dissuadir os eventuais inimigos a um custo menor. Dissuadir = preservar o poder da coroa britânica, seu prestígio, sua força política, com base na ameaça de aniquilação instantânea do inimigo da vez. São citados a Rússia, a China e divaga-se sobre outros países em busca de armamento nuclear que seriam hostis ao Ocidente.

E foi aí que me lembrei do Dr. Strangelove. Inevitável. A racionalidade, a técnica, a geopolítica, o cálculo financeiro, as variáveis políticas internas, tudo sob um contexto maior, não questionado, do equilíbrio do terror, da ameça de morte, da chantagem nuclear. Sei que o Economist não é exatamente um veículo para mudar o mundo. Idealismo não é a praia deles. Mas a naturalidade com que discutiram o assunto, e de forma breve e quase passageira, quase um comentário rápido, tomou conta de meus pensamentos e resolvi compartilhar mais um pouco desse sentimento de espanto, e certo receio, que vai tomando conta de mim conforme as disputas na política e na economia internacional vão se aprofundando e tornando-se mais complexas, intrincadas, sem solução aparente. Sabemos como, historicamente, essas disputas se resolvem. Na porrada. Quando os poetas se calam, cessa a música e jorra o sangue dos inocentes.

Seguem abaixo duas outras cenas do Dr. Strangelove. The Doomsday Machine; Mein Fuhrer, I can walk! Para pensar...



PS: Leitores mais atentos poderão recordar posts, como o 2o citado lá em cima, que é seguido por um debate Samuel x Ricupero sobre o TNP, nos quais defendo que o Brasil não assine o protocolo adicional do TNP. Contradição minha? Incoerência do blog? Pode ser. Em política, certezas demais são perigosas. É preciso dar chance ao diálogo. E mudar de opinião, se for o caso. Sei lá.

Mundo, mundo, vasto mundo. Mais vasto é meu coração.

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