terça-feira, 28 de setembro de 2010

Incêndios

Tanta coisa interessante para comentar. Tantos perigos no mar revolto da política internacional. Tantas decepções no campo das finanças internacionais. Tantas músicas, tantas pessoas, tantas viagens, tantas tantas que só quem não vive não se espanta!

Descobri que o blog antecipa tendências, hehe. A oposição, em vias de ser derrotada, anuncia perigos para a democracia. Já falei sobre isso lá atrás, no ano passado. Há outros posts também. Mas deixa pra lá. Escreverei sobre isso e outras coisas após o resultado final.

Queria comentar mesmo sobre o incêndio na Favela do Real Parque (Jardim Panorama). Mais um incêndio numa favela em SP. Quantos foram nos últimos 12 meses mesmo? Vários, inúmeros. E como anda o Plano Diretor de SP? A Barra Funda? As marginais? A expansão do mercado imobiliário que banca as campanhas de setores da política paulista?

Tudo muito estranho.

Vocês já ouviram falar do Parque Cidade Jardim? Misto de condomínio residencial, clube e shopping center. Você faz tudo sem sair de dentro dos muros de seu paraíso. Só convive com os de sua classe. Além dos empregados, evidentemente. Segurança informatizada, câmeras, agentes de vigilância bem pagos. Uma ilha de riqueza e segurança. Privacidade, privada, privação. Do convívio com o outro.

A arquitetura da segregação. Na sua essência, a anti-democracia. O fechamento do espaço público.

Pois bem, o Parque Cidade Jardim é vizinho da Favela Real Parque. Já havia postado aqui sobre o Na Real do Real, vídeo dos moradores da favela. Agora posto outro, quando os moradores de lá foram protestar durante o evento de inauguração do Parque Cidade Jardim. Isso foi em 2007, creio.

Show de Caetano, estampa fina para os convidados. O Parque Cidade Jardim. De frente para o Rio Pinheiros. Rio sujo e sem vida. Do outro lado das torres das corporações globais. Espremendo as favelas. Muros, seguranças. Um burgo, tal qual na Idade Média. A arquitetura da segregação.

Eu adoro Caetano. Independente de suas opiniões políticas. Não vamos misturar arte com política. Às vezes pode ser, mas com moderação. Senão fica tudo muito chato, muito radicalizado. A força da grana que ergue e destrói coisas belas.

Fiquemos com o vídeo.

Mas antes, irresistível finalizar: os que hoje clamam por democracia são os que desejam derrubá-la. Foi assim com Vargas. Foi assim em 1964. É assim também, de forma caricata e tosca, que se apresentam nossas vestais do Século XXI. Mas vejam só o povo, esse tal de povo, esses que não conhecem sua própria ignorância, que não conhecem seu lugar, que não se colocam em seu lugar, vejam só, o povo está aprendendo a se manifestar. E parece dispensar interpretações.

E como são numerosos! E como incomodam! E como é perigosa essa democracia! Fogo!



(i) em decorrência da manifestação, foi permitida a uma menina, a que sai chorando ao final do vídeo, a leitura de um manifesto aos brancos de olhos azuis (metáfora) que se deliciavam em seu showzinho privê, num espaço privê, com tudo de graça. uma garrafa servida naquela noite valia mais do que o bolsa família de uma mãe carente. muito ainda se escreverá da psicologia, da sociologia, da falta de filosofia de certo pensamento entranhado em parcela das elites paulistanas na alvorada do século XXI... a arquitetura da segregação é apenas uma forma de manifestação dessa distorção terrível

(ii) às vezes sinto-me um exilado, mas creio que todo exilado carrega em si a vontade de retorno ao meio em que se formou, seja para acomodar-se no aconchego familiar, seja para transformá-lo com base em sua própria evolução. cresci ao lado da Favela do Real Parque e no seio da mentalidade do Parque Cidade Jardim

Um comentário:

  1. Me lembra o Centro, a construção emblemática do livro A Caverna, do Saramago. Por fora um imenso bloco de concreto, cinza e impermeável. Por dentro, o shopping o apartamento o bar o entretenimento tudo que o capitalismo oferece hoje a uma pessoa que nasce cresce e morre na cidade.

    O mais interessante é o que é encontrado nas escavações subterrâneas do Centro, nas obras de expansão de estacionamentos. E o que fazem com a descoberta.

    Abraços!

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