domingo, 11 de julho de 2010

Rolê em Pequim







Rolê na chuva ontem. Chove chuva. Paciência. Vamos às ruas. Pedalar. Interagir um pouco. Foi uma boa aventura.

Na Praça da Paz Celestial, mais conhecida como Tianamen. Cidade Proibida, Congresso, Ministérios, Partido, Mausoléu de Mao Tse Tung. Há um brasileiro lá. Na chuva. De óculos. Com o guidão da bicicleta solto.

Uns turistas chineses me pediram para tirar foto com eles. Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Eu, um ET, um bichinho estranho. Achei engraçado.

Saí procurando um lugar para consertar o guidão. Pergunta daqui, pergunta dali, com meu pobre chinês mimicando para todos os lados. Falaram para seguir reto e virar à direita em algum lugar. Yoguai. Due, respondo. Fui indo. Vi um Hutong à direita. Entrei. Mimica daqui, mímica dali, me indicaram uma birosca à frente. Due. Na China sinto-me tão em casa que passei em frente ao lugar e não reparei. Numa rua com três metros de largura... Voltei, desanimado.

Achei. Logo na entrada, dois chineses jogam xadrez. Xadrez chinês, por supuesto. Fui falar com um deles. Sem camisa, pançudão, com um shorts sussa modelando a silhueta, chinelão, que beleza, nem aí com nada que não fosse o tabuleiro. Mimiquei. Ele me mandou passear, não deu a menor bola. Tava jogando, não ia parar, não tava preocupado comigo, muito concentrado. Saí andando para dentro do Hutong. Nada. Voltei. Fiquei observando o jogo. Lances rápidos, uma batalha. Fiquei curioso para entender as regras. Vou estudar isso, pensei.

Terminaram. E agora? Vai consertar o guidão? Nada. Acendeu o segundo cigarro. Começou mais uma partida. Tirei uma foto, ele de costas. Mas tem flash, o adversário reparou. Aí Zé Pancinha virou o pescoço. Estendeu a perna pro lado. Meio que se virou. Pensei que fosse reclamar. Começou a rir. Olhou pra bicicleta. Olhou pra mim. Pedi-lhe com os olhos, indiquei que bastava parafusar dois pinos, coisa rápida, coisa fácil. Ele continuou a rir. Gesticulou e criptografou algo como "vaza, meu filho, não enche o saco, não vai rolar". Reclamei por reclamar, meio conformado, meio rindo, gesticulando, mas saí numa boa, devagar, feliz pela foto.

A chuva parou. Então, mesmo com o guidão solto, dava para arriscar a pedalar. Com cuidado. E assim fiz. Com cuidado. Alguns quase tombos. Até chegar a outra lojinha de bicicletas, mais pros lados de onde moro. Uma hora depois. Mimiquei e então tava tudo parafusado. De graça, foi na simpatia.

Começo a simpatizar bastante com os chineses. Povo bom. Depois do estranhamento inicial, conforme os encontramos em situações cotidianas, momentos, reações, bate aquela simpatia. Esses chineses tão humanos em uma China tão misteriosa. O Império do Meio e sua capital, Pequim deve ser explorada de bicicleta, não tenho dúvida disso. Você vai entrando nos becos, passa pelos Hutongs, pedala pelas avenidas, tudo tranquilo, tudo plano, tudo em paz, viva o rolezinho despretensioso, instituição do bem viver.

Depois do post pesado de ontem, melancólico, inquieto, veio então esse passeio, vento e muita água na cabeça, mpb no Ipod, na verdade Nina Simone, confesso, para esquecer os tempos difíceis, nem pensar nisso, olhar nos olhos das pessoas, reparar em seu andar, no detalhe, na circunstância dos pequenos problemas, nos casais, velhos e jovens, amigos, sorrisos, bobagens, as delícias de uma vida pequeno burguesa, outras coisas, a chuva que cai e molha tudo a seu redor.

Pois já cantava Caetano: Onde queres Leblon, sou Pernambuco. Onde queres um lar, revolução.

Um comentário:

  1. Genial, eu tb ando de bike direto aqui. Só não ando mais pq a patroa não anda, então nos fds tenho que deixá-la encostada (a bike, é claro!).

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