sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O jogo esquenta

O PPS parece que vai pedir a saída do Ministro Celso Amorim. A filiação dele ao PT seria incompatível com o cargo. Para além da óbvia tolice, da jogadinha para a torcida, sugiro ao partido que dê uma palavra com os republicanos. A Hillary é filiada ao Partido Democrata. Se tivermos uma imprensa minimamente competente, amanhã já teremos um quadro com os Chanceleres de diversos países e eventuais filiações. Creio que haverá inúmeras. Se o Ministro quiser ser candidato, após décadas servindo, como Chanceler e Embaixador nos principais Postos, os Governos Itamar, FHC e Lula, não vejo o menor problema. Pelo contrário, bom para o país, para uma sociedade que sempre reclama do baixo nível dos políticos. Enfim, isso é espuma.

A filiação do Meirelles é um lance que dá uma conversa mais legal. Tem a ver com um monte de coisa que já escrevi. O Gustavo Franco saiu do governo e virou administrador da riqueza dos muito muito ricos, de pessoas que fazem parte do estrato que compreende, sei lá, 0,3% da população brasileira. Tornou-se milionário após sair do governo, apesar de ter ajudado a quebrar o país (dobrou a dívida externa em 4 anos, nos deixou 6 anos na UTI do FMI). O Pérsio Arida esteve no Itaú e hoje tem seu próprio clubinho de investidores. O Malan foi para o Conselho do Unibanco, hoje está no Itaú-Unibanco. O Toros, o Mesquita e um ou outro de hoje em dia vieram e voltarão para o mercado financeiro. Assim como o Azevedo, o Professor de Deus, o Ilan, tem aquele que posava como o mais radicalzinho e que acabou indo trabalhar para o Daniel Dantas, pois bem, há uma vasta lista. Não posso deixar de comentar que o genro do FHC, antigo chefão da ANP, passou a dar consultoria a empresas estrangeiras na área petrolífera. Nada ilegal, tudo bem.

Já o Meirelles não pode sinalizar que vai voltar para a política. O mercado não gosta da política, associa eleições a riscos, o legal é ganhar dinheiro na esfera financeira negociando os títulos da dívida, arbitrando, captando a custo quase zero e aplicando com retornos por volta de 10% mais a valorização do câmbio.

Parte de nossa elite supostamente bem pensante, cosmopolita, com amigos nos grandes centros financeiros de NY, Londres, Frankfurt, Paris e Tóquio, associa a política a algo ruim. Fico por aqui, não sem reparar que na hora de financiar campanhas eles costumam ser bem participativos.

O Meirelles vai ter que pagar pedágio e bancar uma alta desnecessária nos juros. Será?

As eleições se aproximam e o jogo esquenta. Vem mais por aí. Procuro não baixar o nível. O Brasil está acima de picuinhas pessoais. Cada um faz o que quer da sua vida. O fato de vir do mercado financeiro não impede ninguém de separar as atividades e ser um administrador público isento. Da mesma forma, ser funcionário público de carreira não garante nada. E uma filiação partidária geralmente é apenas isso: uma filiação, uma carteirinha, mesmo porque os partidos atualmente não tem uma ideologia muito coerente, são geléias, circunstâncias, agrupamentos provisórios não muito ancorados em idéias e práticas.

Estou entrando em zonas muito perigosas. Não devia estar aqui falando de coisas do dia-dia, muito menos insinuando palpitar no jogo sujo que cresce conforme se aproximam as eleições. É bom mesmo que eu vá para longe, vou ler os clássicos, tirar um descanso merecido.

Retomo: o Brasil está acima de tudo isso, acima de PT x PSDB, Estado x Mercado, notinhas em jornais e posts em blogs. Vazamentos, espionagens, relações promíscuas na imprensa, etc...

Nem sei porque desci tanto a essas coisas, a Honduras também. Havia prometido falar sobre o "Na Real do Real" (nada a ver com o Plano Real), sobre a obra maravilhosa de Teresa Pires do Rio Caldeira, sobre Mariana Fix, enfim, mudar um pouco o foco para a questão do urbanismo. E fiquei só nessas pataquadas. Lamento e talvez me arrependa. Mas taí, não vou apagar não. Foda-se.

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