quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esclarecimentos, comentários, reflexões

Aos sobreviventes do blog,

Estou em processo de mudança. Pequim é bem longe. Maior trabalheira. Trampo. Correria. Lógico que deixei tudo para a última hora. Mas vai rolar, tá indo. As despedidas têm sido maravilhosas. Talvez um dos melhores períodos da minha vida. Nessas, o que já ia atrasar ficou ainda mais atrasado. Correria. Trampo. Por isso o blog tem descansado um pouco.

Aliás, Memórias, Sonhos e Reflexões não é um livro do Jung. É sua autobiografia. São portas que tenho aberto em minha vida. Caminhos. Um dia vou ler.

Comprometo-me a não ficar falando muito do Santos em 2010, senão vai monopolizar o blog. Esse ano vai ser brincadeira. O SP, time montado e experiente, já foi vencido com certa facilidade. E que golaços. E eu lá, em Barueri, feliz... Ganso, Robinho e Neymar são um espetáculo. O melhor ataque do mundo, eu arriscaria. Acorda, Dunga, junta eles com o Elano e levamos a Copa com goleada em cima de goleada.

Para não dizer que não falei das flores, seguem dois posts do nosso amigo Alon sobre o Fla-Flu Lula-FHC. Antes, não posso deixar dizer que considero positiva a candidatura do Ciro, para além da Marina. É importante ampliarmos o debate, novas perspectivas, posicionamentos, questionamentos. Ciro tem estofo, tem idéias, está preocupado com a governabilidade do pós-Lula. Aliás, na Revista Interesse Nacional, em mais uma boa edição, Zé Dirceu combate a idéia de que poderia haver uma convergência PT-PSDB. Não concordo com ele, embora ele tenha seus pontos. Enfim...

do blog do Alon

Demonização em excesso (10/02)
O político pode dar-se ao luxo inclusive de arrepender-se. Desde, é claro, que o arrependimento não implique abrir mão do que conquistou com os meios dos quais agora se arrepende


Um lance arriscado na política é pintar o adversário como algo mais defeituoso do que é. Não há artilharia de marketing que dispense, alguma hora, o uso da infantaria da informação, dos argumentos. Por isso, a longa e maciça campanha do PT para carimbar o governo Fernando Henrique Cardoso como um desastre deverá em certo momento voltar-se contra o criador.

FHC fez um governo com erros e acertos. Talvez mais acertos do que erros. Luiz Inácio Lula da Silva faz um governo melhor que o do antecessor, mas as comparações objetivas não são assim tão contrastantes, tão revolucionárias. O tucano fez privatizações bem criticáveis, como a da Vale, mas o PT no poder não reestatizou a empresa. Nem a candidata do PT diz que vai fazer isso.

A verdade é que o Brasil vem progredindo por etapas, mais rápido ou mais devagar, em especial desde a Revolução de 1930. A obra de cada presidente ergue-se sobre a herança dos anteriores. Depois de Getúlio Vargas é complicado dizer que algum tenha promovido rupturas. Talvez esse gradualismo tenha a ver com o desejo de não terem o destino do gaúcho.

Um americano, Seth Godin, relançou ano passado seu livro "All the Marketers are Liars" para reafirmar que, na opinião dele, todos os marqueteiros são mentirosos. E que o melhor marketing é a autenticidade. O exemplo recente seria Barack Obama (isso digo eu). É o político mais autêntico e transparente disponível, entre os planetariamente conhecidos.

Deu certo na campanha presidencial nos Estados Unidos, mas ainda está por dar certo no governo. A oposição republicana parece discordar radicalmente de Godin. Não propriamente no título do livro, mas na conclusão.

O PT também foi a seu tempo vítima do catastrofismo e da deturpação. Hoje recolhe os frutos de terem falhado os profetas do apocalipse. Diziam tantas barbaridades do que seria um eventual governo federal do PT que quando ele chegou ao poder a surpresa acabou sendo positiva. Aconteceu em 2003, mas teria acontecido antes, caso Lula tivesse subido antes a rampa do Planalto. A regra nos governos locais do PT pré-2002 sempre foi responsabilidade fiscal, gestão equilibrada da máquina pública e foco em benefícios estatais para os pobres. Como é agora em Brasília.

Em São Paulo, aliás, a administração Luiza Erundina (1989-92) acabou sendo tão austera que ela nunca mais conseguiu se eleger para um cargo executivo. Não foi só isso, mas teve a ver.

Prestar atenção excessiva ao que os políticos dizem em público uns dos outros é desperdício de tempo e energia. Nesse campo eles dão razão a Godin, pois mentem de modo compulsivo. O cálculo é simples: quanto mais o sujeito puder atrasar a consciência sobre a realidade dos fatos, melhor.

Se tiver sorte, na hora em que a ficha coletiva cair ele já estará sentado na ambicionada cadeira, e daí passará a administrar em posição de força o fato de ter mistificado no passado. Em geral não é tão difícil assim, pois o público quase tudo perdoa, se as coisas estiverem dando certo.

O político poderá dar-se ao luxo inclusive de arrepender-se . Desde, é claro, que o arrependimento não implique abrir mão do que conquistou com os meios dos quais agora se arrepende.

Por que FHC decidiu escrever o artigo do fim de semana em que se diz disponível para comparações entre o governo dele e o de Lula? Só ele poderá esclarecer. De qualquer modo, por mais desvantagem que o tucano leve, os números serão incapazes de chancelar a demonização promovida pelo PT e pelo governo ao longo destes sete anos. Assim, quando alguma racionalidade acabar introduzida no debate, é possível que FHC e o PSDB colham dividendos político-eleitorais.

A tática do PT é cartesiana. Como os números de Lula são melhores que os de FHC, não vale a pena promover uma volta ao passado. Simples de comunicar, mas não impossível de desconstruir. José Serra não é um fantoche de FHC, assim como Dilma está a anos-luz de ser um marionete de Lula.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (10) no Correio Braziliense.


Marina

É bom ficar de olho em Marina Silva. Seu programa de televisão quinta-feira foi muito bom. Obedeceu a um mandamento vital: autenticidade. Políticos falando no horário eleitoral (ou partidário) dão sempre a ideia de estarem lendo um texto escrito por outros. Parecem fantoches. Marina não. Ela consegue evitar o incômodo (para o telespectador).

Na era da informação abundante e disseminada, a tendência é o marketing eleitoral ser substituído pelo jornalismo. Tem que ter a musiquinha, a lagriminha, mas o central é conhecer o candidato em situação verídica. Olho no olho. É por sinal um combustível de Lula. Você pode concordar ou discordar, mas ele dá a impressão de acreditar no que diz. Mesmo quando diz uma coisa hoje e outra diferente amanhã.

E tem a questão técnica. Se o público estivesse só atrás de apuro técnico, a TV aberta não estaria tendo que trazer o YouTube para a programação. O público quer menos burilação e mais conteúdo.



Quem fez um comentário no post sobre nosso mestre Fellini poderia se identificar. Corro o risco de perder uma amizade, um amor antigo, uma pequena paixão perdida no tempo. Mande um email no antonio.freitas05@gmail.com. 09 de fevereiro. A franqueza é sempre o melhor caminho. Não me lembro, je suis desolé.

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